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Análise – Age of Mythology: Retold

Depois de Age of Empires II, também este lendário spin-off com deuses históricos mereceu um retratamento. Age of Mythology: Retold é uma remasterização do clássico, uma nova oportunidade de recontar esta história.

Agora nas mãos das produtoras World’s Edge e Forgotten Empires, com participação da Tantalus Media, CaptureAge e Virtuos Games, este é o mesmo tipo de recuperação técnica que Age of Empires II: Definitive Edition recebeu em 2019. Não se trata apenas de um rejuvenescimento visual, embora seja isso que salta mais à vista, é também uma adaptação à realidade moderna dos jogos de estratégia em tempo real. Acontece que o jogo original que recupera não foi um sucesso da envergadura do jogo de onde originou. Em 2002, o original Age of Mythology foi bem recebido pela crítica, até vendeu muito bem e ganhou alguns prémios, mas quando perguntamos se alguém se lembra dos RTS dos Ensemble Studios, é bem possível que pouca gente se recorde realmente de AoM. Vejamos se agora se faz justiça ao óptimo jogo que foi… e é.

Age of Mythology é um RTS ou um jogo de estratégia em tempo real, que empresta quase todas as lógicas e mecânicas de jogo, até mesmo animações, sons e funcionalidades, de Age of Empires. A diferença é que troca o tema medieval por um de seres e culturas mitológicas de várias civilizações da História. No fundo, gera uma guerra entre a mitologia do antigo Egipto, da antiga Grécia e dos países Nórdicos, incluindo os seus deuses, semi-deuses e algumas figuras históricas para criar uma trama de fantasia, que salta entre várias narrativas. Isto cria uma dinâmica de confronto entre poderes e culturas, patente, sobretudo na campanha a solo mas também evidente na escolha de facções dos vários modos de jogo.

É preciso recordar que não foi só lançado Age of Mythology ao longo do tempo. Em 2003 chegou uma nova expansão Titans, que adicionou uma quarta cultura mitológica, a Atlântida, com três novos deuses e novas unidades e edifícios. Mas, também trouxe uma série de inovações como as filas automáticas de construção e, claro, novos titãs para invocar. Em 2014 também houve uma reedição do jogo com a sua Extended Edition que trouxe tudo isto reeditado para a era moderna. Ainda houve espaço para uma outra expansão em 2016, com Tale of the Dragon, que trouxe a cultura e mitologia Chinesa ao jogo mas que, por qualquer motivo, não figura para já nesta remasterização Retold, estando prevista para mais tarde.

Assim, contem aqui com todo o conteúdo original já lançado para este jogo, inclusive as várias melhorias de qualidade de jogo e até de mecânicas revistas da edição estendida de 2014. Estão também presentes todos os modos de jogo, inclusive a campanha a solo, com vários níveis de dificuldade nas 50 missões, que contam uma história corrida pelas quatro culturas mitológicas, incluindo vários tutoriais específicos para cada uma. Temos, claro, o favorito modo Skirmish com acesso às quatro civilizações e os seus vários deuses e árvores de evolução tecnológica, o modo online para desafiar outros jogadores e ainda o muito cobiçado editor de mapas e missões para os mais criativos.

Futuramente, além da tal expansão para adicionar o panteão Chinês ao jogo, está prevista ainda uma outra expansão de conteúdo, com uma nova cultura por anunciar. Por agora, contem apenas com um pequeno DLC “New Gods Pack: Freyr” que adiciona esse deus à facção Nórdica. Só que este DLC só está disponível na compra da edição Premium do jogo, não sendo vendido em separado. Não é mesmo uma expansão de jogabilidade propriamente dita mas adiciona Freyr e os seus poderes singulares ao jogo. O único DLC que podem comprar em separado é um pack de imagens clássicas para os deuses que, sinceramente, duvido ser do interesse da maioria.

No que toca à jogabilidade, se gostaram dos últimos Age of Empires, sabem exactamente o que esperar deste outro RTS tão familiar. É inacreditável como esta fórmula é, ainda hoje, tão apelativa. Nesta remasterização, notem, há ligeiras alterações em algumas lógicas, algumas de encontro ao que esperamos dos RTS modernos. Por exemplo, as habilidades das unidades míticas podem agora ser activadas manualmente, não estando dependentes apenas de uma activação automática. Os poderes divinos continuam relacionados com o favor dos deuses mas alguns podem ser invocados várias vezes, apenas sofrendo um período de cooldown. Há também um novo esquema opcional de selecção de prioridades de desenvolvimento, além de uma série de pequenas alterações que, de um modo geral, são todas positivas.

Contudo, algumas novidades poderão precisar de um ligeiro ajuste. Uma delas é um aumento considerável no nível máximo de população. No passado, o número de unidades máximas em jogo estava claramente limitado pelo hardware de então. Sem essa restrição, o número de soldados e aldeões pode ser amplamente aumentado em mapas maiores, o que parece ser uma óptima ideia. Só que, para ter tanta gente disponível, era bom que os mapas originais pudessem ser ajustados para conter essas unidades a mais, evitando os óbvios estrangulamentos que temos agora. Também se a câmara de jogo pudesse ser ampliada um pouco mais era óptimo. Dei por mim a fazer scroll várias vezes para ver se podia fazer mais zoom out, dada a quantidade de coisas a acontecer no ecrã ou numa necessidade de seleccionar mais unidades.

Por outro lado, há questões não foram propriamente “remasterizadas”. Não tenho nenhuma saudade de como as unidades colocadas em ataque livre gostam de perseguir os inimigos pelo mapa afora. Esta é, aliás, uma mecânica muito usada online para criar emboscadas a jogadores distraídos. Noutros jogos, temos posturas específicas que ditam que a unidade pode atacar mas ao fim de uma distância volta à sua posição. Aqui, as unidades perseguem indefinidamente, que podem muito bem ser iludidas para uma zona cheia de inimigos, por exemplo. Existe um comando “Stand your Ground”, de facto, também não funciona bem, já que essa unidade só ataca se for atacada de perto e é alvo-fácil de unidades de tiro à distância.

Há muitos outros elementos que a produção poderia muito bem, pelo menos, ajustar. Por exemplo, como a Inteligência Artificial gere as suas unidades. Regra geral, tirando os eventos devidamente coreografados, a IA manda poucas unidades de cada vez para atacar-nos, quase a conta-gotas, sendo facilmente rechaçadas. Noutras ocasiões, as lentas unidades de cerco andam pelo mapa sozinhas, sem grande protecção. Enfim, entendo que, ao mexer nestes detalhes na dificuldade, podem acontecer problemas na fluidez do mapa ou na progressão, em particular na campanha, onde tudo está coreografado e tem de correr de uma determinada forma. Também entendo que estas são pequenas questões de lógica relacionadas com a IA e que poderão passar ao lado dos que preferem jogar com outros jogadores.

Contudo, nota-se que a produção não quis mexer muito na jogabilidade, ficando-se por pequenos ajustes de “qualidade de vida” para não estragar a experiência original. Talvez os tempos sejam outros. Quando o título original foi lançado, não gostávamos destas coisas mas aprendemos a lidar com elas, agora temos de, simplesmente, fazer o mesmo. Talvez esteja a pensar na forma como Age of Empires IV trouxe muitas mais inovações, especialmente na IA, mas esse foi um jogo totalmente novo, um reboot para essa outra série, não uma remasterização. Afinal, este não é sequer algum remake do jogo, é mesmo uma reedição do clássico, algo mais técnico. Se bem que, mesmo nesse campo, ficamos a desejar um pouco mais.

Em termos visuais, este título foi recuperado para um grafismo muito mais moderno usando o Bang Engine, também usado em AoE III: Definitive Edition. Isto resulta numa óbvia melhoria geral do grafismo, trazendo algo bem mais apurado e visualmente agradável, com resoluções e fluidez melhoradas, fruto de novas texturas e efeitos visuais e de iluminação que foram muito bem feitos. Este é, sem dúvida, um salto tecnológico muito evidente, mantendo o aspecto geral de tudo para ser sempre familiar, mas com o polimento esperado de um jogo de 2024. Tudo isto é devidamente complementado por uma banda-sonora totalmente reeditada para algo ainda mais épico. Esta remasterização visual e sonora funciona muito bem a jogar…

… mas não tanto nas cenas intermédias. A produção podia fazer (bem) mais com os modelos das personagens e animações, parecendo mais um polimento “HD” que uma remasterização. A jogar nos seus vários mapas, especialmente porque estamos sempre tão longe das unidades, não se nota tanto. Todavia, quando chegamos mais perto das personagens, começamos a ver baixos números de polígonos, animações algo “mecânicas” e outras pequenas questões de modelas, particularmente evidentes, claro, nas cenas intermédias em que várias vezes vezes personagens a dialogar. Rapidamente recordamo-nos do ano em que este jogo foi originalmente concebido e que, simplesmente, a remasterização não foi mais longe.

Contudo, o elemento que menos gostei neste jogo foram os seus inexplicáveis bugs. Não me recordo nem em Age of Empires II, nem em Age of Mythology que alguma vez as personagens ficassem bloqueadas no mapa. Podia acontecer uma ou outra vez por causa de edifícios mal posicionados, sim, mas nada ao nível do que aconteceu tantas vezes neste jogo. Aconteceu várias vezes uma unidade ficar presa no cenário ou inexplicavelmente “congelada” no mapa, sem qualquer tipo de interacção possível, nem mesmo pelos inimigos, ficando ali num “limbo”. Isto pode ser particularmente grave se for uma personagem importante, impedindo assim o progresso no enredo. Isso, felizmente, nunca me aconteceu, mas fica o aviso.

Noutros bugs assinaláveis, talvez dos mais “chatos” de todos sejam os momentos em que alguns “triggers” de progresso nas missões da campanha que não se registam como deve ser. Aconteceu-me várias vezes ver que itens opcionais que não se registarem, o que não é muito grave mas frustra tentar cumprir 100% das tarefas. Há também certos “triggers” de posição, tipo “unidade 1 ter de chegar a sítio A” que não se registam facilmente, obrigando-nos a movimentar a unidade várias vezes até, finalmente, lá registar. Parecem questões de controlo de qualidade, que podem também ser mitigadas com correcções mas, novamente, não me lembro disto nos jogos originais.

Veredicto

A viagem ao passado que Age of Mythology: Retold oferece, é inigualável. Temos aqui um regresso ao (outro) “destruidor de produtividade” da nossa juventude, também para mostrar aos que não viveram esse tempo, como eram estes RTS tão viciantes. Aqui a mitologia não parece ser um tema tão interessante como foram as batalhas medievais históricas, mas há aqui espaço para os vários contos de fantasia baseados no mitos das antigas culturas. Esta é uma remasterização visual e sonora, contendo pequenos elementos elementos revistos para também melhorar a qualidade da jogabilidade. Resulta muito bem como uma “edição definitiva”, trazendo ainda perspectivas de mais conteúdo futuro. Só mesmo os pequenos bugs poderão chatear um pouco mas nada que não se resolva com um raio de Zeus no sítio certo.

  • ProdutoraWorld's Edge / Forgotten Empires
  • EditoraXbox Game Studios
  • Lançamento4 de Setembro 2024
  • PlataformasPC, Xbox Series X|S
  • GéneroEstratégia
b
Bom

Equilibrado e com boas ideias, os seus erros não o impedem de brilhar.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Vários bugs de posição e progressão
  • Remasterização podia ir um pouco mais longe

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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