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Análise: Agents of Mayhem

Se acompanham o histórico de jogos da Volition, sobretudo com a lendária série Saints Row, deverão recordar que esta produtora não se leva muito a sério. Agents of Mayhem é mais uma aposta na diversão, caos e muitas explosões. Resta saber se a fórmula ainda funciona.

O primeiros instantes do vosso contacto com este jogo deverão ser bastante familiares. Sobretudo se jogaram o último capítulo de Saints Row, toda esta atmosfera de super-heróis com egos exagerados e a espalhar o caos pelas ruas, parece tirada a papel químico. O que, pelo menos para mim, foi um bom presságio do que se seguiria. Digam o que disserem, essa série trouxe “toneladas” de diversão. Contudo, ao fim de uns minutos, notei que o tom, afinal, não era bem o mesmo. É perfeitamente natural que a Volition quisesse criar todo um novo jogo com outras ideias. Mas então, porque é que tentou buscar tantos elementos a Saints Row, para depois parecer querer descartar-se? Esta é apenas a primeira das questões que ficam no ar nesta nossa análise.

Em termos de enredo, os Agentes da organização M.A.Y.H.E.M. continuam o trabalho de reconstrução de Terra, depois dos eventos terríveis do jogo Saints Row IV com a expansão “Gat out of Hell”. Fundado pela enigmática Persephone Brimstone, este grupo de agentes especiais pretende travar os planos de uma outra organização com planos mais destrutivos. A L.E.G.I.O.N., fundada pelo misterioso Morningstar e orientada pelo irritante Doctor Babylon. O plano destes super-vilões é incrivelmente simples: Destruir todas as nações da Terra. Obviamente que os Agentes da Mayhem terão uma palavra a dizer sobre isso.

Basicamente o enredo não desenvolve muito daqui. Vamos ter sob o nosso controlo um grupo de agentes especiais com especializações e poderes distintos, para lutar contra… um grupo de vilões com especializações e poderes distintos. Se isto vos soar a uma fórmula vinda da Marvel, não estão sozinhos. Há muitas inspirações de diversas fontes e que aproveitam as “modas” do momento, sobre a quais já falarei. Infelizmente, onde este jogo se podia suportar mais, seria neste enredo, talvez desenvolvendo-o com uma história mais interessante. Não é. Diria mesmo que é algo insípida, repleta de clichés e sem grandes surpresas. Talvez o resto do jogo compense pelo enredo meio acessório, certo?

Em termos de jogabilidade, já terão adivinhado que se trata de um jogo de acção na terceira pessoa. Teremos de escolher para cada missão um conjunto de três heróis, de doze disponíveis. Cada um terá armas, poderes e especializações diferentes. Uma personagem pode ser mais eficaz contra inimigos com escudos, ou outra no combate próximo e ainda outra será um trunfo quando é preciso ataques furtivos ou uma infiltração. Podemos alternar entre as 3 personagens durante o jogo com o pressionar de um botão e cada uma pode ficar desactivada se ficar com a energia no mínimo. Percam os três heróis e terão de voltar ao hub inicial para recomeçar a missão. É perfeitamente normal que tenham uma preferência entre os heróis. Porém, pode não ser baseada na sua perícia ou habilidades, mas sim no seu carisma.

Contudo, convém escolher bem cada personagem para cada missão ou vão passar um mau bocado, sobretudo contra alguns bosses com múltiplas fases de combate. Inicialmente, terão apenas três personagens para escolher, mas irão angariar mais, mediante umas quantas missões especiais opcionais. Também haverão missões secundárias que envolvem conhecer melhor cada um destes heróis, já agora. No que toca às missões principais em si, são quase todas em volta de investigação, exploração e muitos tiroteios. Os mapas de jogo são relativamente vastos, mas as zonas de acção são, quase sempre, confinadas a áreas reservadas. Eventualmente, começarão a ver aqui um padrão a surgir ao fim de uma hora, mas já lá vamos…

Embora tenhamos um convite para evoluir cada personagem e mesmo a própria Agência Mayhem, essa evolução é relativamente lenta. Os pontos de experiência são dados ao fim de cada missão e premeiam as três personagens escolhidas de forma igual, usem-nas ou não em combate. A lógica é que quanto mais fiéis somos às personagens, mais poderosas ficam, podendo equipar mais e melhores itens e bónus activos ou passivos. E convém que as usemos bem, porque ao longo da carreira os adversários tornam-se cada vez mais resistentes. Precisamos igualmente de dinheiro ganho em cada missão e largado por inimigos eliminados e há diversos elementos para apanhar de modo a criar para criar novas armas e até novos veículos para nos transportar pelo mapa. Ao longo desse mapa, também encontrarão cofres com alguns destes bónus adicionais, pedaços de cristais e outros coleccionáveis.

Toda esta acção tem uma imagem muito bem desenvolvida pela produção. Não é nada inocente a escolha de um ambiente inspirado na Banda-Desenhada, com um ligeiro efeito de Cell-Shading e brilhantes cenas intermédias de animação 2D. É óbvio que muito do que lemos acima é inspirado em jogos como Overwatch, por exemplo. Assim, a arte do jogo também nos faz lembrar esse título, com claros traços vindos de outros lados, inclusive na destruição possível de Red Faction, também desta produtora. Toda a caracterização, decoração e efeitos visuais é bastante familiar e até é muito bem conseguida. Tirando alguns pormenores menos polidos, de um modo geral, o jogo tem óptimo aspecto. Até mesmo no HUD e menus, devidamente decorados com o lilás, já quase tradicional dos jogos desta produtora.

Com todos estes elementos de evolução em jeito de Role Play Game, a mistura de estilos de cada personagem com todas as suas habilidades, o design bem conseguido e outros pormenores de qualidade, mesmo com um enredo meio cliché, Agents of Mayhem tem tudo para ser um sucesso. Só que, infelizmente, todo este potencial cai por terra quando nos apercebemos que estamos a fazer exactamente o mesmo há algumas horas, em mapas repetidos e sem grande convite à inovação. Sim, Agents of Mayhem é incrivelmente repetitivo, mesmo com missões de diferentes finalidades e inserindo outros aspectos na jogabilidade, como a condução, por exemplo. Vamos executar muitas missões da mesma maneira e com os mesmos objectivos. O que se torna aborrecido muito rapidamente.

Não ajuda nada neste factor de repetição, o tamanho algo reduzido do mapa da acção (a cidade de Seul na Coreia do Sul), comparando com outros jogos do género. É bastante vertical com os seus arranha-céus e possui muitas ruas e estradas para explorar. Mas, acabamos muito rapidamente nos seus limites. Muitas das áreas por onde passamos, repetem a disposição e os objectos, dando-nos uma constante sensação de dejá vu. Também a decoração destes mapas é algo vaga, com poucos objectos em alguns locais. Os transeuntes e veículos parecem estar, literalmente, a “ocupar espaço” e não possuem grande vida de um modo geral. Enfim, tudo começa a parecer sintético à nossa volta.

Para dar um exemplo flagrante da sua repetição, na maioria das missões vamos encontrar algumas consolas para fazer hacking. Esta actividade é composta por uma linha rotativa num círculo que temos de pressionar quando passa numa ou mais áreas assinaladas. É sempre a mesma coisa e baseia-se na “arte” de carregar num botão no tempo certo. Outro exemplo fatídico da repetição, são as áreas conquistadas durante a exploração. Basicamente, erradicamos os inimigos e tomamos posse de pontos estratégicos pela cidade. Só que os inimigos fazem o mesmo, numa espécie de “guerra de atrito”. O resultado é que voltamos inúmeras vezes para recuperar estas mesmas áreas… com os mesmos inimigos… nas mesmas posições! Podia haver aqui alguma variedade, penso eu.

Talvez esteja a ser um pouco duro com este título. Eu sei que este tipo de jogos são mesmo algo repetitivos. Contudo, no género de acção em mundo aberto, não é difícil criar alguma variedade de conteúdo ou de acção. Veja-se a quantidade de jogos de mundo aberto com sucesso, mesmo que o conceito seja sempre o mesmo. Assim de repente, recordo-me de Just Cause. No seu mundo repetitivo consegue dar bem mais variedade de opções e de actividades aos jogadores. E nem vou mencionar a quantidade de actividades diferentes e acessórias que me recordo no próprio Saints Row em que este jogo tanto se inspira. As próprias piadas dos protagonistas começam a repetir-se e a soar forçadas. É uma pena tremenda, porque me ri bastante nas primeiras “bocas”.

E, com muita pena minha, não é só por se repetir que este jogo me desapontou. Infelizmente, tenho de assinalar uma série de problemas de ordem técnica que não me deram a melhor das experiências de jogo. Na versão analisada na Xbox One, tive constantes oscilações de fluidez relacionadas, não só com o rácio de fotogramas por segundo (FPS), como também com uma constante quebra de sincronismo vertical (Vsync), mais evidente nos momentos mais caóticos. Notem que estas questões não são constates e surgem quase sempre só nas cenas com mais explosões ou caos visual. E também é possível que não esteja na plataforma ideal. Talvez a PS 4 Pro ou o PC não sejam tão afectados por estas questões de performance. Estas quebras de FPS até são relativamente normais em jogos de grande envergadura, habilmente corrigidos por actualizações de título.

Só que não foram só estas questões de optimização que me obrigaram a pousar o comando e “contar até 10”. Encontrei constantes bugs de animações das personagens que, podem não ser relevantes como um todo, mas mostram alguma desatenção na programação. Pior ainda, foram alguns momentos caricatos com falhas na detecção de colisões que prendiam personagens dentro de objectos, nas paredes ou debaixo do chão. Segundo parece, a produção já corrigiu uma boa porção destes erros. Contudo, no meu caso, tive de recuperar saves diversas vezes ou porque o carro ficou preso noutro ou porque, num salto, fiquei preso no tecto de alguma sala. Enfim.

Veredicto

Durante a promoção de Agents of Mayhem, tinha muita expectativa por este título. Com todos os bons momentos criados por Saints Row, este jogo, que no fundo é uma sua continuação, acabou por trazer muitos elementos familiares desse e de outros jogos que gostamos. Mas, o deslumbre inicial que experimentei, muito rapidamente cedeu lugar à repetição. E não ajudou nada a falta de optimização em algumas áreas, assim como os erros e bugs que detectei. É pena, porque sempre achei que a Volition tem uma fórmula interessante nos seus jogos. Pode ser que uma ou outra actualização resolva os problemas técnicos, mas pouca coisa irá resolver a sua fatídica repetição. Mesmo que passemos o jogo todo entre a reclamação e o riso por mais uma piada fácil furtiva.

  • ProdutoraVolition
  • EditoraDeep Silver
  • LançamentoAinda sem data de lançamento
  • PlataformasPC, PS4, Xbox One
  • Género
?
Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Enredo pouco inspirado
  • Repetitivo
  • Muitos erros de performance
  • Bugs e detecção de colisões

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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