Análise – Apex Construct
Desde disparar freneticamente o arco à exploração de um mundo pós-apocalíptico, o título que vamos analisar é um excelente exemplo de como os jogos da Realidade Virtual têm vindo a evoluir nos passados dois anos. Apex Construct é uma experiência única.
Este novo jogo para PlayStation VR entende como a acção deve ser imersiva e com a motivação necessária para o jogador querer voltar a jogá-lo. Mesmo contando com centenas de títulos no seu catálogo, o PS VR até nem tem muitos jogos criados com a realidade virtual como base. Na sua grande maioria são adaptações de jogos convencionais, adaptados ao dispositivo, nem sempre criando uma experiência equilibrada. Contudo, este título foi desenhado e criado de raiz nesta realidade e tem o intuito de ser uma experiência memorável na Realidade Virtual. Vejamos como utiliza o dispositivo VR da Sony.
A aventura começa com uma estranha voz que nos transporta para um mundo em ruínas populado por animais robóticos. Logicamente, estes seres desejam a nossa morte. A voz pertence a uma inteligência artificial chamada de Fathr, criada especialmente antes de um evento crítico chamado de “mudança”. Com o decorrer do jogo, vemo-nos no meio de uma batalha entre duas Inteligências Artificiais com Fathr, aparentemente, a tentar proteger-nos e Mothr a tentar matar-nos. No entanto, ao longo da aventura e pela nossa curiosidade, vamos descobrir o que realmente aconteceu ao mundo como o conhecemos.
A primeira vez que a voz feminina nos contacta, houve uma breve sensação de estar a ouvir novamente Shodan (a IA de System Shock), destacando a grande qualidade da sua performance ao longo do jogo. Sabemos que esta foi criada por uma companhia de tecnologia antes deste mundo ter sofrido a tal “mudança” que tanto falam durante o jogo. Ambas as vozes das IAs estão em desacordo e sentimos imediatamente que estamos no ali no meio, usados como uma espécie de ferramenta.
Há algo especial em títulos com uma forte componente numa voz em narração, tal como aconteceu em Stanley Parable, Portal ou Gone Home. Esta abordagem, quando é bem feita, dá-nos vontade de fazer tudo o que a voz nos ordena sem pensar muito bem nas consequências ou nos porquês de cada acto. Eventualmente, porém, não há como não ficar um pouco desconfiado de algumas coisas que nos vão sendo ditas.
No tutorial inicial, é explicado como nos devemos movimentar e como funcionam todas as mecânicas. Também nesta fase, é-nos dado um arco e algumas flechas que iremos ter sempre connosco ao longo da aventura. Esta é a nossa arma principal, equipada com um escudo de energia que pode ser activado quando não estamos a disparar setas. Apesar de o podermos guardar no nosso inventário, achei mais prático andar sempre com o arco pronto para qualquer eventualidade.
Depois dessa intodução, visitamos a nossa casa segura (safe house), onde podemos comprar melhorias para a nossa arma e escudo ou escolher qual a secção da cidade que nos vamos aventurar de seguida para progredir na história. É também possível repetir alguns níveis para descobrir mais alguns segredos. E acreditem que vão querer encontrá-los. Teremos cerca de cinco horas até ao final da aventura mas é possível demorar bastante mais tempo se optarem por completar o jogo a 100%. Até porque algumas áreas não estão acessíveis da primeira vez que passam a história, portanto, a única coisa que podem fazer é criar uma nota mental para voltar mais tarde.
Na configuração inicial do jogo, depois de ligar os obrigatórios comandos PlayStation Move, podemos escolher se vamos jogar sentados ou em pé (podem mudar mais tarde). Escolhi a última opção, para facilitar o movimento e o acesso a objectos ao meu redor. Em jogos deste género, já tive alguns problemas a jogar sentado, tornando a experiência frustrante. Sugiro também que liguem a opção “smooth movement” para que se possam movimentar livremente mesmo recorrendo ao teleporte típico dos jogos VR. A combinação entre estas opções torna o movimento muito melhor que usando só o teleporte.
Umas das nossas mãos virtuais é robótica. Com ela, temos acesso a um menu que indica a nossa vida e a quantidade de dinheiro de jogo. Também permite usar ou guardar a nossa arma e ainda aceder ao inventário. Esse inventário tem seis espaços onde podem colocar qualquer objecto que encontrem no mundo. A logo do jogo a gestão do inventário torna-se mais interessante com algumas decisões difíceis sobre o que levar e o que deixar. Neste menu, podem ainda escolher o tipo de setas que pretendem, baseando-nos na tarefa que temos em mãos. Algumas seta provocam mais dano e outras são usadas para resolver quebra-cabeças, por exemplo.
Durante grande parte do jogo, darão por vocês a caminhar, a descobrir pormenores sobre este mundo pós-apocalíptico e a resolver alguns quebra-cabeças. Esta é a melhor parte do jogo, quanto a mim. Há, no entanto, algumas falhas nesta tentativa de imersão. Em algumas secções, é preciso escrever num teclado virtual com um ambiente muito semelhante ao MS-DOS. A experiência torna-se frustrante quando o nosso dedo virtual carrega pela quarta vez em três teclas ao mesmo tempo e temos de ir apagar uma a uma. Infelizmente, não podemos passar estas interacções à frente se quisermos saber mais sobre o jogo. Temos mesmo de aceder a estes computadores e ler os ficheiros que estão no seu interior. O comando PS Move não parecer ter a precisão suficiente para a experiência que a produtora queria passar.
Outra questão com os comandos PlayStation Move está no combate. Já existem alguns jogos com mecânicas bem implementadas com arco e flecha nestes periféricos e Apex Construct até se insere nesse grupo. Contudo, apenas quando a câmara não perde o tracking dos comandos e tenta, não sabemos bem como, colocar o arco na posição que “acha” certa. Então, leva o arco a fugir do nosso campo de visão e é óbvio que falhamos o alvo. Quando funciona, porém, o arco age como deve ser. Derrotar um inimigo à distância com esta arma em ambiente virtual é inexplicavelmente satisfatório, principalmente quando logo o primeiro tiro é certeiro. E olhem que eu não sou nenhum Guilherme Tell.
Por falar em combate, a maior parte do inimigos quando são derrotados dão pontos de experiência, que podem depois ser aglomerados para fazer os tais upgrades às armas e ao escudo. Esta evolução será essencial para completar as missões mais avançadas perto do final da aventura. Também poderão encontrar pontos adicionais escondidos em locais secretos ao longo do jogo. Contudo, se morrerem, perdem todos os pontos que acumularam até à altura, sem a possibilidade de os recuperar. O jogo encoraja a voltar até à safe house para “bancar” os vossos preciosos pontos entre cada um dos níveis. Mas, de bolsos vazios, não farão grande coisa. Lembrem-se de bancar sempre que possível.
Para complicar, na maior parte das vezes, as mortes que irão sofrer não serão por vossa culpa. O jogo tem excelentes opções de locomoção, é certo, mas quando estamos a usar o arco, não é possível movimentar da mesma forma. Isto porque o teleporte é feito para o local que estão a apontar o vosso comando e ficar fixo no mesmo local enquanto disparam, torna-se restritivo. Agora imaginem o que acontece quando alguns inimigos passam para as nossas costas e atacam. Não nos podermos voltar tira-nos capacidade de resposta. O título Farpoint, também para PS VR, coloca os inimigos à nossa frente propositadamente e agora percebemos bem o porquê.
Já elogiei o grande trabalho de vozes feito para este título e tenho também de o fazer na parte técnica no que toca ao seu visual. Joguei com o PSVR numa PlayStation 4 original, mas acredito que a experiência fique ainda melhor com a ajuda de uma PlayStation 4 Pro. O mundo pós-apocalíptico criado para este jogo está cheio de cores vivas, deixando de parte os tons castanhos e os cinzentos quer seriam de esperar. O estilo escolhido tem uma ate muito simples e tem alguns contornos de realismo.
Em termos de áudio, a envolvência também está muito bem conseguida. Por vezes, experimentamos o desconfortável silêncio de um mundo que já viu melhores dias. Subitamente, surge a banda-sonoraa que arranca assim que há um inimigo por perto, dando-nos uma sensação de urgência. Notem que não há nada de realmente assustador no jogo, não há sustos nem cenas mórbidas ou com o intuito de nos chocar. Mesmo assim, passar por túneis com o som ambiente misterioso, dá sempre a sensação que estamos a ser vigiados. Sobretudo quando “estamos lá” na primeira pessoa.
Veredicto
Grande parte da diversão de Apex Construct vem da exploração do seu mundo. A história é cativante o suficiente para nos encorajar a encontrar todos os segredos e perceber o que realmente aconteceu. O combate causa algumas frustrações devido a alguns mecânicas que podiam ser melhores usando os comandos PlayStation Move. Contudo, nenhum dos seus pontos negativos foram suficientes para considerar desistir da aventura. Recomendo que experimentem este que é um dos poucos jogos deste calibre criado de raiz para a Realidade Virtual, mostrando mesmo a suas capacidades.
- ProdutoraFast Travel Games
- EditoraFast Travel Games
- Lançamento20 de Fevereiro 2018
- PlataformasPS4, PS4 Pro, PSVR
- GéneroAcção
Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.
Mais sobre a nossa pontuação- Mundo detalhado e rico em pormenores
- História e personagens
- Muitos segredos para desvendar
- Interacção no computador com dedos virtuais
- Algumas questões com o PS Move
Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.