Análise – Arma III Creator DLC – “S.O.G. Prairie Fire”
O lendário título de acção sandbox Arma III é um fenómeno de popularidade, muito por causa dos mods que acrescentam conteúdo e funcionalidades a um simulador que, verdade seja dita, de outra forma não teria tanto destaque. O Creator DLC S.O.G. Prairie Fire é o segundo mod da comunidade a ser lançado como um pacote de expansão.
Da responsabilidade do grupo Savage Game Design é mais uma modificação completa para Arma III: Apex, envolvendo uma total conversão do jogo, tal como aconteceu com Global Mobilization. Desta vez, o pacote adiciona um mapa e várias unidades dos dois lados do conflito no Vietnam dos anos 60/70. Não foi há muito tempo que tivemos um outro mod (desta vez gratuito), que fazia exactamente o mesmo, acrescentando uma série de unidades, veículos e um cenário completo deste conflito. Chamava-se “Unsung” e, a par de outros mods de total conversão, é um fenómeno de popularidade. Talvez por isso, havia aqui um grande potencial para venda, devidamente aproveitado pela Bohemia Interactive.
Sim, temos de falar nisto. Será que esta é mesmo uma exploração de algo que, no pleno sentido, devia ser gratuito? Quando se começa a cobrar por mods, surgem sempre as vozes da discórdia. Ainda assim, é de assinalar que no caso de Global Mobilization, houve um efeito positivo que pode muito bem transitar para este outro DLC. Muitos dos mods da comunidade Arma III são suportados pela vontade e esforço de voluntários. O que pode significar enormes contributos ao longo do tempo, mas também pode resultar em mods quebrados e sem suporte, especialmente ao fim de um tempo sem contínuo suporte ou se não forem dos mais populares.
Por outro lado, o esforço de criar modelos e dar suporte a missões e campanhas em larga escala depois de actualizações ou adições de conteúdo, pode tornar-se inglório se o talento não é devidamente recompensado. O modding é, na verdade, um “jobby” (job+hobby) para muitos, o que faz com que, a longo prazo, muitos mods simplesmente “parem no tempo” pelas mais diversas razões. Agora, quando um esforço é remunerado e quando os criadores podem ganhar dinheiro com o suporte pós-lançamento, deixa no ar a esperança que mais e melhor seja criado para a expansão.
Notem que não estou a criar uma desculpa para alguém facturar com o que outros fazem de forma gratuita. Entendo perfeitamente os que discordam deste modelo de negócio que desvirtua o que são os mods e a sua comunidade. Estou apenas a objectivar que, se calhar, é uma mais valia que alguns mods mais elaborados sejam pagos, nem que seja pelo trabalho que dão a criar e porque oferecem a devida variedade profunda a um jogo. Agora, também é verdade que, se algo é pago, também não temos o mesmo grau de exigência comparando com algo gratuito. Global Mobilization já teve imensas actualizações e adições de conteúdo por causa disto mesmo. Pagamos, queremos mais.
Neste caso, S.O.G. Prairie Fire tem muito mais para provar que o seu antecessor Creator DLC. Enquanto que o tema da guerra fria dos anos 80 entre as duas Alemanhas até pode ter sido abordado aqui e ali, não tem um pacote de conversão total gratuito com que se possa comparar. Prairie Fire foi e será sempre comparado a Unsung, nem que seja pelo seu tema. E é óbvio que os mais desgostosos de alguma falha técnica vão logo apontar para o mod gratuito, dizendo “notem que temos ali o mesmo e é de borla”. É preciso que este DLC pago justifique o investimento.
Bom, gostarão de saber que alguns modders de Unsung realmente trabalharam para ajudar a Savage Game Design a produzir Prairie Fire. E também gostarão de saber que em breve um outro mod chamado Unsung Redux será lançado, “complementando as unidades de Prairie Fire”. Ou seja, não há bem aqui competição, apenas um incentivo a criar algo memorável para os fãs de Arma III e do tema da guerra do Vietnam. Por isso, deixemo-nos de comparações. Há, sim, um mod gratuito do mesmo tema, igualmente de conversão total mas nem queiram comparar com a qualidade de modelos e amplitude de Unsung perante o que nos oferece S.O.G. Prairie Fire.
Claro que há uma importante limitação aqui que não podemos deixar de assinalar. O próprio Arma III há muitos anos que precisava de uma revisão urgente do seu motor gráfico e de lógicas de jogo. E há muitos anos que a Bohemia faz de conta que não é preciso. Por mais que a produção tente recriar os modelos do UH-1 Iroquois, por mais que tente dar-nos uma acção credível de combate na selva, por mais que seja possível criar uma atmosfera muito credível da guerra mortífera retratada, somos constantemente recordados de que Arma III foi lançado em 2013.
Isto resulta em alguns bugs incontornáveis nas animações e na modelação de veículos e unidades. A fraca qualidade dos interiores de alguns veículos neste pacote é um bom exemplo. Também as animações das personagens, a (falta de) inteligência artificial dos inimigos, a ineficácia da detecção de colisões ou de danos, enfim… são tantos detalhes à mistura no jogo base, que simplesmente não posso afixar estas questões apenas ao novo DLC. O que posso fazer é avaliar o que acrescenta, com muito trabalho de bastidores para, onde pode, fazer Arma III actuar, soar e mover-se melhor.
O novo mapa Cam Lao Nam é um excelente exemplo disto que falo. Com os seus 300 km2, é uma recriação semi-fictícia da zona do conflito, com uma série de cidades, vilas, aldeias e bases para os dois lados, devidamente recriadas com elementos históricos e uma série de edifícios personalizados. Contudo, este é também o primeiro mapa de todos os que já tive neste jogo (incluindo mods) em que inevitavelmente tive de reduzir a qualidade e resolução das texturas, sob pena de jogar um mero “slide show”, tal não foi o impacto nos frames. A culpa, acreditem, não é do meu PC.
Desde há algum tempo que Arma III não consegue gerir muito bem o hardware que lhe damos. Em muitos casos, um mapa mais denso ou com mais detalhes “mata” completamente a performance. Ainda assim, com alguma optimização, chegamos aos apetecíveis 60fps ou perto disso. Contudo, online a história é outra. Seja lá o que se passa com o netcode de Arma III, há sempre uma enorme perda de fps no online, o que obriga a “nivelar por baixo” o visual. Não é que a acção perca muito com isso, uma vez que a Inteligência Artifical do jogo tem essa “arte elementar” de conseguir ver através de vegetação densa. Por isso, remover detalhe na folhagem até joga a nosso favor.
Contudo, Cam Lao Nam parece-me uma contradição. Não é que tenha assim muitos edifícios, nem sequer tem muitas áreas assim muito densas, se não contarmos com os milhões de árvores e arbustos, nada acima do que já vimos em termos de mapas. O problema, penso eu, é mesmo do relevo altamente detalhado e das texturas pouco optimizadas para resoluções mais baixas. Uma vez mais, é preciso não culpar a produção que tudo fez para que o jogo tivesse qualidade. Apenas é preciso trabalhar em optimizações futuras de forma urgente.
Por outro lado, a jogabilidade que este pacote oferece não é aconselhada para jogadores solitários. Tudo bem, Arma III até pode conter algumas campanhas a solo mas não creio que alguém o jogue para essa finalidade. O online é e sempre foi o seu trunfo. Mesmo Global Mobilization com o seu extenso modo de campanha, tem o seu devido foco para o online, fornecendo mapa e meios para criar servidores personalizados. O mesmo acontece com S.O.G. Prairie Fire, embora me pareça que a produção se podia esforçar um pouco mais quando coloca no menu a palavra “singleplayer”.
Nesse menu personalizado, temos a opção de escolher modos de jogo multi-jogador ou a solo, sim, mas a campanha para jogar sozinho só tem apenas um punhado de missões e dois showcases simples para experimentar armas e veículos. E mesmo a campanha a solo claramente não foi criada para jogar sozinho, uma vez que não oferece jogadores IA para acompanhar o jogador, mas sim slots para vários jogadores se juntarem e cumprir a campanha em modo cooperativo. No rigor, não é “singleplayer”. Experimentem jogar sozinhos e acabam rodeados de Vietcong numa luta desigual.
Não. Prairie Fire foi criado para jogar online, com amigos ou com desconhecidos em servidores PvP ou PvE dedicados. E, para isso, dá-nos muitos modelos e equipamento dedicados, criados com o máximo cuidado dentro das limitações do jogo base. Muitos destes novos elementos foram recriados de raiz e nem sequer usam os objectos do jogo base. Conforme já disse, todos estes novos elementos personalizam completamente o jogo e as missões, sendo possível abrir servidores com 9 missões pré-feitas ou criar missões sandbox com todos estes elementos recorrendo ao robusto editor de mapas, o Eden Editor.
Ao todo, temos quatro facções historicamente fidedignas para os dois lados do conflito, as operações especiais e o exército no lado dos EUA e o exército convencional e os Viet Cong no lado Norte-Vietnamita. Todos possuem armamento e equipamento devidamente personalizado e fiel à época. Em complemento, várias FOBs e cidades foram criadas no mapa, além de termos imensos veículos detalhados, desde jipes e camiões, aos helicópteros e mesmo o caça F-4 Phantom para desancar posições inimigas desde o ar. Nenhum acrescenta nada que já não tivéssemos visto em outros mods ou expansões mas é um bom conjunto de veículos para a desejada imersão.
Também temos aqui alguns elementos modificadores mais profundos. Há novos sons e efeitos sonoros criados de propósito para o jogo são fantásticos. Dada a fraca qualidade sonora geral de Arma III, especialmente no som direccional, é sempre bom quando alguém melhora este importante aspecto da jogabilidade. O mesmo acontece com a música, que é um elemento particularmente imersivo neste tema, com 14 temas únicos que tocam nas várias telefonias disponíveis em jogo e outros 16 canções que são incluídas nas cenas intermédias das várias missões. Digam o que disserem, todos os filmes deste conflito têm excelentes bandas sonoras.
Também há diversas modificações simples mas que conferem algum realismo. Por exemplo, a opção de armar e desarmar os veículos (Master Arm), um módulo de logística para transportar carga ou feridos a bordo, um complexo sistema de túneis em alguns pontos do mapa, uma opção de usar tampões para ouvidos para reduzir o ruído, um sistema de combate próximo usando a coronha da arma e muitos outros modificadores deste género, anteriormente só disponíveis adicionando ainda mais mods (como o famoso ACE, por exemplo). É isto que esperamos numa conversão completa, que quase crie um novo jogo, sem realmente fugir ao que o título base oferece. Só por isso, já merece a nossa apreciação como jogadores.
Uma nota muito positiva antes de terminar e que também já era possível com Global Mobilization (e não só). Saibam que mesmo que não comprem este DLC, poderão, ainda assim usá-lo no modo multi-jogador. Basta que descarreguem o pacote de compatibilidade para não compradores (Compatibility Data for Non-Owners) e poderão juntar-se a servidores que corram este mod em missão. Apenas não poderão usar o mapa e alguns elementos, além de não poderem jogar individualmente as missões cooperativas que são exclusivas do pacote pago. Ainda assim é uma excelente oportunidade de testar tudo antes de comprar.
Veredicto
Este Creator DLC pode não trazer algo realmente novo, uma vez que o tema do Vietnam já era popular em Arma III. Contudo, traz consigo alguns bons argumentos. Como modificação total, S.O.G. Prairie Fire faz um bom trabalho a recriar todo o ambiente dos infames combates no Vietnam. Contudo, a campanha é realmente curta e contraindicada para jogadores a solo. Aliás, o foco é quase por inteiro nos modos multi-jogador. Tecnicamente, o esforço da produção é quase inglório a tentar trazer objectos e modelos que buscam o detalhe e o motor de jogo não acompanha. Se gostam do tema, da música dos anos 60 e jogam Arma III maioritariamente online, este Creator DLC é essencial. Apenas terão de convencer os vossos amigos que o “outro que é gratuito” não lhe faz frente… se tiverem PC à altura, claro.
- ProdutoraSavage Game Design
- EditoraBohemia Interactive
- Lançamento6 de Maio 2021
- PlataformasPC
- GéneroAcção, Simulação
Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.
Mais sobre a nossa pontuação- Os novos veículos
- A unidades fiéis à época, especialmente as SOG
- Os vários elementos modificadores da jogabilidade
- A banda sonora
- A idade do motor gráfico de Arma III
- A falta de optimização de performance do mapa
- A campanha é curta e (tecnicamente) não pode ser jogada a solo
Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.