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Análise: Assassin’s Creed – Syndicate

É discutível se a série Assassin’s Creed esteve sempre no caminho certo. Depois da saga de Desmond Miles, a Ubisoft tentou rumar para novos horizontes com resultados mistos. Na esteira da desilusão que AC: Unity foi para muitos, Assassin’s Creed – Syndicate tem a pesada responsabilidade de se tornar o jogo ambicioso que tanto esperávamos.

Não se pode dizer que Unity tivesse sido realmente mau. Foi um jogo repleto de problemas técnicos, sendo, afinal, o primeiro criado de raiz para a mais recente geração de consolas. No entanto, não podemos desperceber que a Ubisoft tinha a ambição de fazer mais e melhor, com um enorme investimento na produção. Se, para muitos, Black Flag ainda é o jogo de eleição da série pelas inovações na jogabilidade e pela qualidade geral do modo carreira, Unity foi um regresso às origens que alegrou muitos na intenção e desapontou muitos mais na performance. Mesmo assim, foi o maior e mais complexo jogo até então, tendo lançado o mote para este novo Syndicate. Agora, só temos de verificar se cumpre os objectivos, sem perder a sua essência e, acima de tudo, se os erros de Unity foram corrigidos.

O enredo deste Assassin’s Creed gira, novamente, em torno de duas realidades. Uma actual, em que somos um agente dos modernos Assassinos a lutar para desvendar os segredos da Abstergo e uma “memória genética”, extraída da linhagem de assassinos ao longo da História, que temos de personificar. Se a parte moderna já não faz muito sentido (até porque se resume, na maior parte das vezes, a algumas cenas intermédias sem interacção), continua lá e até tem até uma revelação interessante numa missão histórica paralela. No entanto, é mesmo a “memória genética” dos protagonistas do enredo principal que nos interessa.

Os irmãos Jacob e Evie Frye, gémeos e filhos de Ethan e Cecily Frye, dois reputados assassinos ao serviço da Irmandade Britânica de Assassinos, decidem que a sua cidade de Crawley já não é suficiente para a sua ambição. Partem “à conquista” de Londres que, por sua vez, tinha sido tomada de assalto pelos Templários. Crawford Starrick, o brutal Grão-Mestre dos Templários e verdadeiro governante da capital Britânica, está prestes a obter uma Maçã do Éden que lhe dará poder incomensurável. Cabe aos gémeos travá-lo e eliminar a sua organização, passo a passo.

Em termos de enredo, esperem o que já conhecem da série. Não é fantástico, mas é cumpridor e cheio de momentos épicos. Gostei particularmente da relação cáustica entre os dois irmãos, das interacções com figuras históricas, desde Charles Dickens, Alexander Graham Bell, Karl Marx, Charles Darwin e tantos outros com missões muito particulares. Até a Rainha Vitória faz a sua aparição. De facto, a Londres de 1868, na esteira da Revolução Industrial, é a “cidade Luz” da sua época e muitas personalidades e acontecimentos históricos podem ser identificados neste jogo.

E é mesmo a cidade de Londres que assume o principal papel. Isto devido à imensidão das ruas de estilo clássico Vitoriano, sempre cheias de vida com cidadãos que circulam a pé ou em carroças, ao rio Tamisa repleto de navios e barcaças que cortam o mapa ao meio, aos pontos históricos como a Estação de Waterloo, ao Palácio de Buckingham, a Casa do Parlamento, o famoso Big Ben, a Catedral de S. Paulo, entre tantos outros pontos de interesse, tão bem recriados. Tal como Paris, Florença ou Veneza nos jogos anteriores, a Ubisoft tem verdadeiro interesse em reproduzir toda a arquitectura e ambiente destas cidades, oferecendo-nos um roteiro histórico sem precedentes. De que outra forma podiam escalar o Big Ben para ver a paisagem? Façam isso só no jogo, a sério.

Mas enquanto apreciamos a beleza deste jogo, eis que somos chamados ao dever. Saibam que há muitas novidades tanto na acção como na interacção com o jogo. A primeira novidade diz respeito à comutação entre os dois irmãos Frye. É possível alternar entre os dois e usufruir das suas características únicas. Evie será mais furtiva, dando preferência ao uso da bengala com faca embutida. Já Jacob será mais brutal preferindo o confronto directo com a sua faca Kukri ou a soqueira. Apesar de ambos poderem usar qualquer arma, é interessante dedicá-los a um estilo de combate e assim ter dois tipos de acção.

Há missões próprias para cada um dos irmãos que até possuem uma árvore de progressão exclusiva para cada um garantido que não negligenciamos um ou outro.. Embora possamos partilhar os desbloqueios de fatos e armas, tal como acontece com o crafting de novos itens, podemos (e devemos) optar por uma progressão mais furtiva para Evie e uma mais “directa ao assunto” para Jacob. A escolha de “perks” dá-se a cada ponto de progressão oferecido sempre que completamos 1000 pontos de experiência. Algo que acontece de forma algo espaçada, a bem da longevidade.

O combate corpo-a-corpo está um pouco mais refinado e desafiante. Continua, no entanto, um pouco longe de ser perfeito. Os momentos onde precisamos de alternar entre ataque e defesa continuam um pouco desfasados, sendo preferível usar o confronto directo como último recurso, sobretudo em dificuldades mais elevadas. Gostei de ver o regresso do assobio como forma de chamar a atenção, a cobertura automática em que as personagens se encostam a paredes ou obstáculos quando estamos em modo furtivo e as brutais animações de finalização, algumas mesmo grotescas.

A outra novidade diz respeito à locomoção das personagens em jogo. O Parkour regressa muito mais refinado para efectuar free-run, sendo agora possível escalar muito mais paredes do que em qualquer outro jogo da série. Se bem que o Parkour passa para segundo plano assim que desbloquearem a corda com arpão. Qual Batman, podem disparar uma corda para subir fachadas ou criar zip-lines improvisadas, tornando o movimento pelo mapa ainda mais livre. Correr e escalar paredes, afinal o que definiu a série por anos, acontece muito menos.

Também ao nível do solo, a locomoção fica agora facilitada com as carruagens e carroças disponíveis. Qual Grand Theft Auto Victoriano, temos imensos veículos para tomar ou roubar dos incautos condutores. Existem muitas missões cuja rapidez é essencial, por isso, é preciso tomar uma carroça e puxar pelas rédeas. Há até missões de combate em carroças com direito a perseguições e tiroteios.

De resto, esperem mais do mesmo. Imensas missões para desbloquear partes da cidade, até conseguirem mesmo destronar os líderes dos gangues Londrinos e lentamente tomar toda a cidade. Desde assassinatos de figuras-chave, roubos de informação, rapto e transporte de meliantes perigosos, salvamentos e até ajudar as figuras históricas nas suas carreiras, há muito para fazer no enorme mapa disponível, repleto também com imensos coleccionáveis para descobrir.

Resta só falar do que é este Syndicate ao nível gráfico. A beleza gráfica está à vista nas imagens que estão publicadas nesta análise. Na quase demente atenção ao detalhe na construção desta Londres histórica, a nossa Xbox One (versão analisada) portou-se lindamente ao reproduzir gráficos, texturas, efeitos e animações sem grande problema. Bom, até teve alguns.

Há algumas quebras acentuadas de frame-rate, assim como bloqueios temporários (sobretudo entre missões), que a Ubisoft deverá corrigir em breve. Há também animações mal sincronizadas e a Inteligência Artifical possui comportamentos estranhos ao, por exemplo, ficar presa no cenário ou a andar em círculos. Há também cenas em que as bocas das personagens não mexem nas suas falas ou os bonecos estão no local errado, fora do plano. Há também momentos em que o “free-run” não funciona muito bem e o boneco fica imobilizado em vez de subir o obstáculo ou trepar a parede, obrigando-nos a dar um passo ao lado para o desbloquear. Enfim, nada que atrapalhe a acção, realmente, mas é merecedor de uma actualização.

Além destes erros, porém, esperem um Assassin’s Creed ao mais alto nível. Há muito para ver e apreciar nesta recriação histórica de Londres. Há até uma missão que irão desbloquear, lá para a Memória 6, que nos leva para o futuro numa Londres em plena Primeira Guerra Mundial com uma secção exclusiva que inclui a Torre de Londres e a sua Ponte, novamente recriada com imensa atenção ao detalhe e com rigor histórico. Absolutamente fantástico.

Antes do veredicto, tenho de assinalar a única situação que me causa apreensão neste jogo. A progressão mencionada lá em cima é algo morosa e lenta, tornando o jogo desafiante quanto-baste. É normal passarmos largas horas para conseguirmos progredir de um nível para outro. As missões são mais difíceis com armas e armaduras mais fracas, mas temos de as executar se queremos mais pontos de experiência e mais dinheiro virtual.

Para quem não tem paciência, a Ubisoft introduziu micro-transacções. Não são novidade na série, notem. Só que neste Syndicate há um exagero permanente nos menus em anunciar que podemos usar dinheiro real para gastar dentro do jogo e, assim, deixar de o jogar propriamente, num autêntico pay-to-win. Cada um faz o que entende com o seu dinheiro, se não querem jogar e só passar o enredo a correr sem desafio, é convosco. Saibam que tudo pode ser desbloqueado com dinheiro virtual ganho a jogá-lo e a evoluir. Eu só gostava de desligar as constantes notificações que incansavelmente me informam que posso pagar dinheiro real para obter os itens.

Veredicto

Fiquei rendido a este Assassin’s Creed Syndicate. Sim, tem as suas falhas de jogabilidade, de animações e até de lógica e de performance. No entanto, tal como todos os jogos desta série que tive o prazer de jogar, desde Altaïr que a Ubisoft se empenha para nos transmitir uma aventura de contornos históricos em que a realidade se mistura com a ficção de forma habilidosa. Os gémeos Frye serão, garantidamente, a melhor dupla de heróis com a qual irão interagir nos próximos tempos. As novas dinâmicas de movimento fazem da deslocação pelo mapa algo muito mais rápido e fluído, tornando a exploração bem mais interessante. Pena que o combate corpo-a-corpo ainda não esteja com melhor fluidez, lembrando-me da série Batman Arkham como bom exemplo do que poderia ser. Acima de tudo, depois da desilusão que foi para muita gente o anterior Unity, a Ubisoft aprendeu com alguns dos erros e este é, de facto, um fantástico videojogo para vos entreter por longas horas. Só não se esqueçam de poupar nas micro-transacções para, assim, poderem pagar o chá e o chocolate de menta…

  • ProdutoraUbisoft Quebec
  • EditoraUbisoft
  • Lançamento23 de Outubro 2015
  • PlataformasPS4, Xbox One
  • GéneroAventura
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Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Algumas falhas de lógica e performance
  • Micro-transacções omnipresentes
  • Parkour em segundo plano

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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