AstroBot (1)

Análise – Astro Bot

No site da produtora Team Asobi, na secção do seu portfólio de jogos, a frase que introduz de forma exemplar o que se faz neste estúdio nipónico. O novo Astro Bot é mesmo “magia para todas as idades”.

A popularidade do pequeno robot branco e azul é directamente proporcional ao sucesso da própria Team Asobi. O seu primeiro jogo, The Playroom (2013), foi logo aclamado como um óptimo showcase técnico para a consola PS4 e o seu comando DualShock 4. Depois disso, vieram duas experiências VR, com The PlayRoom VR (2016) e Astro Bot Rescue Mission (2018), ambos para o PSVR. Contudo, a consolidação das capacidades da produtora para criar aventuras memoráveis aconteceu com Astro’s Playroom (2020), lançado em cada nova PS5, novamente um óptimo showcase da mais recente consola e do comando DualSense. Este novo título tem, portanto, um óptimo “pedigree”.

Astro Bot, porém, não é apenas uma sequela de algum jogo-conceito. Ainda mantém a sua excelente exploração das capacidades da plataforma onde está mas, acima de tudo, é uma experiência singular, muito bem concebida para aquilo que todos os jogos deviam fazer: entreter todos os que o jogam. Como devem imaginar, como analista de jogos há tantos anos, jogo muita coisa em casa. Contudo, nenhum outro jogo recente que tenha jogado no meu sofá, atraiu tanto a curiosidade de todos lá em casa como Astro Bot. Pensava que só o futebol tinha esta capacidade, mas Astro Bot provou o contrário.

No final do jogo Astro Bot Rescue Mission, um antipático extraterrestre foi aparentemente derrotado. Só que, neste título está de volta e traz uma vingança. Ao surpreender Astro Bot e os seus companheiros, consegue destruir a nave, na verdade uma PlayStation 5 estilizada, roubando o processador principal e ainda espalhando os outros componentes e todos os pequenos robots da tripulação por toda a galáxia. Conseguindo recuperar a sua pequena nave DualSense, Astro Bot parte pelo espaço para recuperar a tipulação, reconstruir a nave principal PS5 e fazer frente ao grande vilão, libertando ainda cada planeta temático que se encontra na sua influência destrutiva.

É preciso primeiro libertar as zonas de jogo, usando satélites especiais que caem num planeta central que serve de Hub. Em cada novo sistema solar temos vários planetas para abordar, assim como pequenas missões abertas por asteróides e até buracos negros que vamos encontrando. Há imensos planetas para descobrir em cada sistema, cada um com um tema único, em muitos casos uma homenagem a um jogo conhecido da história da PlayStation, entre as várias produções internas ou títulos de terceiros. Cada sistema libertado abre depois uma nova área do planeta-Hub para explorar que, por sua vez, nos dá mais um satélite caído para libertar e levar-nos a uma nova peça de hardware da nave PS5, no total de cinco áreas e cinco peças.

Em cada planeta, jogamos com o pequeno robot num título maioritariamente de plataformas, com alguns elementos engenhosos de modificação da acção. Os demais robots que teremos de salvar estão escondidos pelas plataformas, alguns em posições bem complicadas para os alcançar, outros bem à vista. Há 300 ao todo no jogo, entre meros bots iguais ao protagonista e alguns mascarados de personagens dos tais inúmeros jogos que são homenageados. Acreditem que vão perder muitas horas a procurá-los se quiserem mesmo encontrar todos. Não há grandes dicas de onde os encontrar inicialmente, terão mesmo de ficar atentos.

A ideia é reunir o máximo de bots possíveis para finalmente enfrentarmos cada boss, até ao derradeiro grande boss final, o tal extraterrestre. É muito possível que se deixem enganar pelo aspecto “fofinho” do jogo desde o início, pensando que é um título puramente infantil. Mas, quem conhece bem esta série, sabe que não é bem assim. Este não é um jogo realmente facilitador ou básico a nível de jogabilidade, como também não é propriamente um jogo fácil do início ao fim. Há uma oscilação na dificuldade que é bastante desafiante em vários níveis, testando a nossa destreza e os nossos reflexos. Em muitos casos, Astro Bot chega mesmo a ser um jogo difícil, podendo mesmo frustrar alguns. Mas, já lá vamos.

Como já disse, há vários modificadores de jogo em cada novo planeta, assim como existem apetrechos especiais, normalmente confinados a um nível apenas que alteram completamente a acção, tornando cada nível único. Gostei particularmente de um planeta que engenhosamente alterna entre dia e noite para alterar a posição das plataformas. Ou então um nível de casino em que temos um apetrecho para parar o tempo e usar cartas a flutuar como plataformas. Alguns níveis são lineares, outros são abertos à exploração. Alguns são tradicionais nas suas plataformas, outros exigem perícia a usar cada poder único.

Lá mais para a frente, as coisas começam a repetir-se ligeiramente mas nada que se possa dizer ser, de facto, “dejá vu”. Ou seja, nunca teremos um nível igual, nunca entraremos num ritmo previsível, o jogo está sempre a tentar surpreender-nos, tornando quase impossível pousar o DualSense. Alguns níveis em particular, que envolvem os quatro símbolos da PlayStation (quadrado, triângulo, círculo e cruz) chegam mesmo a desafiar as nossas reacções. Todos estes níveis, entre os principais e secundários são desenhados de forma espectacular com uma óptima direcção de arte, muito bem estruturados para serem intuitivos quanto baste. Há umas poucas ajudas quando é preciso mas, de um modo geral, é fácil perceber o que fazer.

Isto, aliado a mais uma excelente dos gatilhos adaptativos, feedback háptico, sensores de movimento e coluna de som do comando DualSense, cria uma experiência sem igual, tanto a arregalar o olhos, como a estimular-nos a nível sensorial. Sejam os subtis pingos de chuva ou uma explosão próxima, o comando nunca pára de nos dar a devida imersão. Já vi outros jogos tirarem óptimo proveito do comando mas arrisco dizer aqui que ninguém mais explora tão bem o DualSense como a Team Asobi. Dá mesmo para perguntar porque é que ninguém mais explora tão bem estas capacidades do comando como este estúdio.

Penso que esta interacção magnífica atinge o seu verdadeiro potencial com cada boss que enfrentamos. Tudo se resume a chegar ao fim de cada nível e enfrentar algum destes gigantes seguidores do tal extraterrestre, até ele próprio ser o nosso alvo final. Como já disse, cada novo nível tem uma jogabilidade diferente e o mesmo acontece com cada boss que introduz sempre uma mecânica única para o derrotar, geralmente envolvendo um dos apetrechos especiais de cada nível. É muito raro dizer isto mas não encontrei nenhum nível, nem nenhum confronto com um boss que achasse menos elaborado ou, em particular, menos divertido.

Em cada nível há também outra tarefa, além de purgar as forças do mal. Enquanto procuramos os nossos companheiros, vamos colhendo moedas e peças de puzzle. Estas moedas poderão depois ser gastas numa máquina tipo “claw machine” que nos dá novas apresentações das personagens do Hub, novas pinturas para Astro Bot ou para a sua nave DualSense, entre outros bónus. As peças de puzzle também desbloqueiam as novas “lojas” em jogo para personalizar tudo e ainda explorar umas áreas especiais. Quando angariarem moedas e peças suficientes, verão que este hub, o planeta chamado de “Crash Site” onde a nave PS5 está ser reconstruída, é na verdade, uma enorme exposição da história da PlayStation.

Como disse lá em cima, alguns níveis forma desenhados para homenagear alguns jogos da história da PlayStation. Igualmente, também mencionei que vários dos pequenos bots estão mascarados de algumas das personagens mais icónicas desses títulos. Não vou revelar todos, mas é óbvio que Uncharted, Ratchet & Clank ou God of War estão lá. Contudo, é impossível não esboçar um sorriso por ver homenagens a Resident Evil, Metal Gear Solid ou Crash Bandicoot. Realmente, não sei como a Team Asobi se safou com tantas referências e homenagens a outros jogos para criar este autêntico museu da história da PlayStation.

Isto cria uma enorme tentação para coleccionar tudo e ver o que falta acrescentar. Sabem quantas variantes dos pequenos macacos de Ape Escape há em jogo? Ou quantas cores de Patapons estão por lá? Quantos deuses nórdicos de God of War conseguem contar? Por outro lado, a necessidade de encontrar a totalidade de bots perdidos, faz-nos regressar aos planetas para os alcançar, por isso, porque não um pequeno desvio para ver se arranjamos mais moedas e mais peças de puzzle? É um vício. Felizmente, há um pequeno pássaro que podemos adquirir para nos ajudar procurar melhor cada coleccionável.

Por fim, tenho de falar do visual e sonoridade. Sendo um título de produção interna e um óbvio título de promoção do mundo da PlayStation, não surpreende que, tecnicamente, este é um jogo visualmente deslumbrante na PlayStation 5. Tudo bem, tudo é caricaturado, sem atenção (nenhuma) ao realismo. Contudo não há nenhum momento em que vejamos uma falha na modelação, nas animações ou nos efeitos visuais. Tudo está incrivelmente polido, com enorme atenção aos detalhes, cheio de bom gosto e humor. A banda sonora é igualmente brilhante, por vezes adaptada para nos trazer interpretações dos famosos temas dos jogos que os níveis homenageiam. Genial.

Então, escuto a pergunta: o jogo é mesmo assim tão perfeito, não há aí nada para criticar? A sério que me vão obrigar a procurar questões para contrapor uma análise exemplar? Não acabei de dizer que tecnicamente este é um jogo espectacular? Ok, faço-vos a vontade. Se tiver (mesmo) de assinalar algo menos positivo, volto um pouco atrás para falar novamente da tal dificuldade oscilante. De facto, é mesmo o desafio do jogo que o torna tão interessante mas acredito que alguns níveis possuem secções um pouco exageradas falando da precisão necessária para as ultrapassar. Mas, façam como eu, dêem o comando ao miúdo ao lado que ele passa o nível sem problema… claramente, sai ao pai!

Veredicto

Há anos que não jogava um título de plataformas 3D com tão bom gosto criativo e tanto interesse em nos entreter do início ao fim como Astro Bot. Diria que está no topo de um ranking muito restrito de títulos que incluem entradas icónicas como Super Mario ou Sonic. Quase tudo neste jogo roça a perfeição, tanto a nível de jogabilidade como no visual, onde se destacam as imensas homenagens a alguns títulos que marcaram várias gerações PlayStation. É absolutamente recomendado se têm uma PlayStation 5 e querem um jogo para miúdos e graúdos apreciarem. Apenas não se frustrem muito se os miúdos tiverem mais perícia que vocês. A tal magia, lembrem-se, é para todos.

  • ProdutoraTeam Asobi
  • EditoraSony Interactive Entertainment
  • Lançamento6 de Setembro 2024
  • PlataformasPS5
  • GéneroAventura, Plataformas
e
Épico

Simplesmente imperdível, candidato a melhor do ano.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Alguns níveis precisam de bastante perícia

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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