Análise – Avatar: Frontiers of Pandora
Pensavam que todos os AAA já tinham sido lançados, certo? Esqueceram-se de Avatar: Frontiers of Pandora, não foi? Ele aqui está e a Ubisoft espera que tenham poupado qualquer coisa para visitarem os Na’vi uma vez mais.
Enquanto o terceiro filme não chega, a mega-franquia de sucesso de James Cameron até já passou pelos videojogos. A própria Ubisoft lançou Avatar: The Game em 2009 para uma recepção algo morna. 4 anos depois, a Ubi volta a tentar novamente, agora já com um segundo filme na franquia cinematográfica cá fora, outro peso tecnológico e uma óbvia vontade de trazer algo mais significativo. Este é também um ano muito importante para a Ubisoft, depois de um interregno de quase dois anos sem lançamentos de renome, com o terceiro e derradeiro título de 2023 para tentar empurrar a empresa para 2024 com algo mais positivo. Como irão constatar, há um misto de emoções com este jogo.
Não se preocupem se não viram os filmes. Para já, o enredo situa-se entre os dois filmes e ignora completamente os eventos do segundo. Toda a trama é contada como algo paralelo, em que os eventos do primeiro filme são sucintamente contados para colocar uma perspectiva do que se passará de seguida. Só para recapitular, os eventos do jogo passam-se no planeta Pandora, pouco depois de Jake Sully no corpo de um avatar Na’vi se rebelar e liderar estes alienígenas contra os próprios humanos, agrupados numa infame organização paramilitar chamada Resources Development Administration (RDA) que quer aniquilar os nativos e roubar os recursos do planeta.
Na história do jogo, assumimos o papel de um jovem Na’vi que foi raptado e foi integrado num programa da RDA para criar Na’vi “doutrinados” pela RDA como soldados ao seu serviço. Quando a rebelião de Sully acontece, a nossa personagem e os seus colegas são colocados em criogenia por alguns anos, sendo depois despertos pelos rebeldes Na’vi que resistiram à RDA. Agora libertos, descobrem que a RDA não parou e continua a tentar capturar Pandora, extraindo os seus recursos, lentamente matando a fauna e flora do planeta. É preciso agora levar a luta contra os nefastos humanos e salvar o planeta.
Ao que tudo indica, a história deste jogo, eventualmente, vai interligar-se com a do terceiro filme. Mas, novamente, não precisam de se preocupar com isso. Toda a trama é compartimentada, sendo obviamente melhor apreciada se virem os filmes mas não sendo particularmente importante que o façam. Nenhuma personagem do jogo se integra (até ver) com os filmes, dando-nos apenas traços gerais da trama geral da série cinematográfica. Duvido sinceramente que alguém que jogue Frontiers of Pandora não se sinta tentado a ver os filmes… e vice-versa. Contudo, enquanto as películas são marcos da história do cinema pelos seus feitos a nível de entretenimento, o mesmo não podemos dizer deste jogo.
Há uma receita muito recorrente e clara nos jogos da Ubisoft, especialmente patente na franquia Far Cry. Essa fórmula é já algo batida mas ainda tem os seus adeptos. Apenas não sei se se justifica aplicá-la a cada novo jogo da Ubi como se fosse “infalível”. Um mapa gigante para ir explorando e desbloqueando novas áreas, combate furtivo e desnivelado para “conquistar” áreas, uma série de missões de história misturadas com tarefas algo aborrecidas e uma facção tresloucada em sem ponta de redenção para aniquilar. Soa a “Far Cry”, certo? Agora retirem os jogadores humanos por Na’vi e os inimigos tresloucados por humanos… tresloucados. Bem vindos a Pandora.
Basicamente, a RDA é como as forças ditadoras e opressoras de Antón Castillo Far Cry 6, com traços de loucura quase fanática como a seita de Hope County de Far Cry 5 e o líder da RDA, John Mercer, tem traços de ilusões de grandeza como Pagan Min em Far Cry 4. A opressão de Pandora faz-se através de campos mineiros que poluem uma grande áreas de jogo, onde é preciso eliminar as máquinas e devolver a vida… como aquelas célebres torres que temos de conquistar para libertar áreas de jogo. O combate é sempre desproporcional, obrigando-nos a procurar subterfúgios e ataques furtivos às bases, para não sermos cilindrados por forças inimigas.
É capaz de ser muito difícil criar um novo jogo de mundo aberto com elementos tão específicos de combate e exploração sem cair nestes clichés que a Ubisoft foi aprimorando durante anos. E, como já disse, há quem goste desta fórmula tão repetida, tendo alguns bons elementos de jogabilidade. Pandora tem, de facto, o seu próprio apelo, não sendo possível dizer que seja propriamente um “Far Cry: Pandora”. Mas, as similaridades estão lá, incluindo a sua inevitável repetição de ritmo e a sua questionável “acção rotineira”, especialmente se sairem fora do enredo principal e procurarem as missões e tarefas secundárias.
Mesmo a sua lógica de equipamento e armamento, inclusive com o seu esquema de raridade, upgrades e algum crafting à mistura, não é nada de realmente novo no género, notando-se até que, de certa forma, a Ubi andou a jogar Horizon: Zero Dawn/Forbidden West. Pelo menos parece em alguns elementos de interacção. Tudo isto resulta num jogo que até tem momentos de boa acção, fluida e facilmente dominável, dando também uma boa evolução de armas e equipamento, que acompanha bem a dificuldade crescente do jogo. Contudo, torna-se demasiado familiar em quase todos os momentos, sem que consiga deslumbrar em quase nenhum momento da sua oferta enquanto jogo.
Felizmente, a recriação de Pandora é algo fenomenal, trazido à vida graças ao motor gráfico actualizado proprietário da Ubisoft, o Snowdrop. Tive a oportunidade de testar este jogo na PlayStation 5 nos seus dois modos de qualidade e performance, ficando sempre positivamente surpreendido pelo seu visual arrebatador, com ciclos de dia e noite, além da sua meteorologia dinâmica. Se ficaram surpreendidos com o visual dos filmes, vão adorar a sua recriação em videojogo. Claro está que estamos um pouco aquém da fidelidade impressionante dos filmes mas a Ubi fez um óptimo trabalho com menos recursos.
Todavia, joguem umas horas, fazendo parkour pelas árvores e escarpas e bem cedo constatarão o mesmo que eu: O mapa é demasiado grande para a história que pretende contar. O deslumbre visual que sentimos inicialmente, quando descobrimos cada nova área e cada bioma, começa subitamente a enfadar. Não porque o visual desça de qualidade mas porque a vastidão sente-se nos largos minutos que passaremos a transitar pelo mapa, sem que tenhamos um caminho lógico para percorrer, ficando muitas vezes perdido a olhar para o mapa. O modo de jogo “Guided” não melhora muito as coisas, porque os marcadores que coloca no campo de visão dissipam-se rapidamente. Enfim.
As coisas melhoram um pouco quando desbloqueiam os emblemáticos Direhorses e, sobretudo os Ikran, répteis voadores que nos ajudam bastante a transitar pelo mapa. Especialmente naqueles pontos de interesse no topo de montanhas, em que o caminho para lá chegar não é imediatamente óbvio (algo que acontece demasiadas vezes). Mesmo assim, este réptil parece demasiado lento a viajar pelos vastos biomas. Talvez porque tudo é, simplesmente longínquo neste mapa que podia ser para aí um terço do que é realmente para conter todas as missões que oferece. Subitamente, olhamos para aqueles veículos da RDA e apetece-nos desertar para os humanos. Aquilo sim é viajar com estilo e velocidade.
Veredicto
Visualmente deslumbrante… até que nos apercebemos da vastidão algo exagerada do mapa. Um combate furtivo muito interessante… até que nos apercebemos que é quase uma cópia da acção de Far Cry. Uma história potencialmente entusiasmante… até que percebemos que é uma reciclagem de outras histórias já batidas. Enfim, Avatar: Frontiers of Pandora é um bom jogo mas nota-se demasiado que é um jogo da Ubisoft, sem qualquer ambição de inventar algo novo, apenas reutilizar uma receita já conhecida, numa franquia que tem “nome” suficiente para vender relativamente bem. Se adoram os filmes, vão gostar do jogo. Se procuram algo inovador neste género, não se aborreçam muito.
- ProdutoraUbisoft Massive
- EditoraUbisoft
- Lançamento7 de Dezembro 2023
- PlataformasPC, PS5, Xbox Series X|S
- GéneroAventura, Mundo Aberto
Equilibrado e com boas ideias, os seus erros não o impedem de brilhar.
Mais sobre a nossa pontuação- Óptimos momentos visuais
- Fidelidade à arte e lore dos filmes de James Cameron
- Voar com o Ikran
- Fazer parkour pelas canópias de árvores e escarpas
- "Reciclagem" da familiar fórmula Far Cry
- Mapa demasiado grande para a acção que oferece
- Locomoção podia ser mais rápida no vasto mapa
Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.