bf1_keyart_final_1920x1080-0

Análise: Battlefield 1

Num passado não muito distante, travou-se uma das batalhas mais sangrentas e cruéis da História da Humanidade. A Primeira Guerra Mundial até foi um tema pouco interessante para criar videojogos, até agora. Pela mão da DICE chega-nos Battlefield 1 e, com ele, todo o receio desta aposta audaz, aliada aos últimos anos de dúvidas nas capacidades da produtora.

Depois do enorme sucesso de Battlefield 3, o jogo seguinte sofreu a mais dura das batalhas. Battlefield 4, também de combate moderno, teve problemas em toda a sua vida útil, com a produção e a própria editora Electronic Arts a braços com protestos que chegaram a durar meses a fio. Só ao fim de dois anos de desenvolvimento e trabalho contínuo, BF4 chegou a um nível aceitável de qualidade. Por essa altura, a Visceral Games já tinha pegado em Battlefield Hardline e a DICE tinha toda a oportunidade de se focar num próximo jogo. O anúncio de Battlefield 1 foi recebido com surpresa, dado o seu tema tão diferente de tudo o que tinha sido feito no género, inclusive na própria série. Mas a questão primordial era se a produtora seria capaz de “entregar” um jogo completo, finalizado e sem os crónicos problemas do título anterior.

Vídeos, imagens, trailers e até Betas acalmaram os fãs. A Primeira Guerra Mundial, afinal, podia ser bem retratada e o jogo parecia ter qualidade quanto baste. Claro, haviam bugs e erros típicos da produção, mas, pelo meio, havia também uma pequena pérola em potencial. O melhor de tudo era o retrato de destruição, crueldade e violência retratado com toda a crueza de uma era de muitos avanços tecnológicos na “arte” de matar. Os diversos palcos de acção, deste os planaltos Franceses às areias do Norte de África pareciam absolutamente deslumbrantes, contrastados com a incrível devastação dos conflitos. Claro que era tudo material promocional e Betas. Todos esperavam pelo dia em que podiam, finalmente, atestar toda esta qualidade.

Instalado o jogo, é inevitável que comecem pelo modo de carreira. Em primeiro lugar, porque o tema é muito diferente do resto da série, inclusive da Segunda Guerra Mundial dos primeiros títulos. Em 1914 surgiram os primeiros tanques, os primeiros aviões de combate e as primeiras armas automáticas. Longe estavam ainda as miras a laser, os velozes jactos, as carbines, os mísseis com lock, etc. Nesta guerra, cavavam-se trincheiras, disparavam-se armas rudimentares, corria-se de baioneta em riste e respirava-se gás de mostarda letal. De facto, só mesmo jogando primeiro a acessível carreira a solo, podemos conhecer e testar por todo este armamento algo primitivo e perceber que este é todo um novo mundo, fielmente reproduzido com a possível precisão histórica.

O enredo do modo de carreira divide-se em diversas histórias que individualizam os vários eventos desta Primeira Guerra Mundial. Desde a experiência de um motorista de tanque na destruída Europa Central à acção furtiva de uma Beduína lutando contra o Império Otomano no Norte de África ao lado do lendário Lawrence da Arábia, está sempre patente uma recorrente mensagem: A Guerra nunca é justa, destrói muito mais que territórios, corroendo a própria Humanidade. São várias histórias de heroísmo, mas também de ingenuidade, num conflito tão brutal e inédito na História. No final, como o próprio jogo deixa bem claro, não houve reais vencedores. Os que morreram, milhões na verdade, não são celebrados com um jogo de heróis e de vencedores. São recordados como vítimas, tal como os que sobreviveram com feridas que levaram para o túmulo.

Muitas das histórias que acompanhamos no modo carreira são baseadas em factos verídicos. Além do já mencionado e sobejamente conhecido Lawrence da Arábia, os míticos Runners que entregavam mensagens a cavalo, os temerários pioneiros do combate aéreo ou os incompreendidos soldados negros Norte-Americanos Harlem Hellfighters que foram enviados para a guerra quase como carne para canhão, estão todos lá. O que impressiona é que todos os eventos nunca soam a vitória, mesmo que os terminemos com sucesso. E para a posteridade ficará o célebre momento em que controlamos um simples pombo-correio para chamar fogo de artilharia, depois de uma cena intensa e num dos momentos mais belos e improváveis da história dos videojogos de acção.

Falando de beleza, apreciem, não só as cenas intermédias com uma qualidade irrepreensível, mas todo um jogo como um todo. Desde as expressões faciais credíveis, movimentos e animações competentes, mas também efeitos visuais deslumbrantes de físicas realistas, é impossível não ficarem impressionados. Há algo que ninguém pode afirmar: Que a DICE não impressione a nível visual com recurso ao seu robusto motor gráfico Frostbite. Um bom exemplo já tínhamos com o seu jogo Star Wars: Battlefront, que tem pormenores visuais que roçavam a realidade. Neste Battlefield 1, acontece muitas vezes parar a meio da acção e apreciar os cenários que se destroem depois de uns minutos de batalha, os efeitos de explosões, fumo, fogo, o arvoredo detalhado e até a lama que cobre as armas depois de rastejarmos. Impecável.

E é também no modo de carreira a solo que terão a hipótese de testar todo o novo equipamento em jogo. Desde as espingardas semi-automáticas e manuais, passando pelas primitivas metralhadoras leves e pesadas, as infames granadas de gás de mostarda e, claro, as baionetas nas pontas da maiorias das armas ligeiras. Mas, se a infantaria é desafiante, esperem até testarem as armas fixas e os veículos. Os tanques são limitados, pouco manobráveis e com péssima visibilidade. Os aviões são frágeis, lentos e sem nenhuma protecção balística. Os canhões são lentos a carregar e manobrar, ao mesmo tempo que são complicados de fazer mira. Muitas destas armas eram experimentais e pioneiras, por isso, não esperem que todas funcionem como o esperado.

Todos os pormenores de qualidade e jogabilidade descritos acima transitam para os modos competitivos online. E são estes mesmos modos que justificarão as vastas horas que irão perder a jogar. Fiel ao seu ADN, este Battlefield 1 herda o melhor que a série nos trouxe ao longo de décadas, ao mesmo tempo que inova quando pode, trazendo-nos uma experiência viciante. Aqui terão todos os pormenores que sempre apreciaram na séries, modos de jogo clássicos, trabalho de equipa em esquadrões, guerra aberta de infantaria e veículos e mapas vastos para dezenas de jogadores, tudo embrulhado pelos cenários detalhados e equipamento típico do início do século XX.

Há, no entanto, diversas novidades neste jogo que precisam ser tomadas em conta. Começando pelas classes em jogo. Sempre tivemos, pelo menos, quatro classe diferentes para escolher, cada uma com um papel definido. Desta vez, também temos classes de Médico, que tem a seu cargo armas semi-automáticas, kits curativos e seringas de ressuscitação, o Suporte com as suas metralhadoras pesadas e caixas de munição e o Scout com as suas espingardas de longo alcance e armadilhas. Desaparece, porém o Engenheiro, trocado pela classe de Assalto. Esta classe não tem bem a mesma lógica. Tem metralhadoras leves e alguns explosivos, mas não chega a substituir os lança-granadas ou mísseis anti-blindado dos Engenheiros dos demais jogos da série.

Também temos agora outras classes específicas, que podem ser assumidas de forma temporária em jogo. Tratam-se das classes de condutor de tanques, piloto de aviões ou unidade de cavalaria. Além de poderem conduzir tanques, pilotar aviões ou cavalgar… bem… em cavalos, possuem uma progressão e equipamento próprios. Não são particularmente diferentes das demais unidades, mas os condutores e pilotos têm armas menos potentes quando saltam dos seus veículos. Já o soldado de cavalaria tem uma espingarda poderosa e quando está a cavalo tem uma espada absolutamente brutal capaz de matar com um só movimento. E, se não chegar, podem atropelar incautos com o próprio cavalo. Além disso, o cavaleiro está equipado com uma armadura simples que lhe dá mais resistência a danos.

E ainda devem contar com as classes de Elite. Estas são unidades especiais que surgem com equipamentos disponíveis como um pickup e que agem com uma lógica muito parecida à dos heróis do jogo SW Battlefront. Sejam unidades de metralhadora pesada (Sentry), lança-chamas (Flamethrower) ou anti-tanque (Tank Hunter), possuem armas poderosas e os Sentry e Flamethrower também possuem um escudo muito resistente a danos. Só a espingarda anti-tanque é um trunfo, uma vez que pode matar qualquer elemento com um só tiro e efectivamente danificar veículos.  Claro que há um revés nestas unidades: Não regeneram energia e as suas munições não podem ser repostas. Mas o lança-chamas é algo que vos dará muita vantagem, porque mata inimigos mas também vos esconde atrás das suas chamas.

Falando de armas e equipamento, há uma clara aposta no equilíbrio de cada arma. Há um punhado de modelos exclusivos de cada classe, cada uma com a sua precisão, dano e alcance. Contudo, cada arma pode ter variantes, por exemplo uma para combate a média distância, outra para espaços confinados e ainda outras para longo alcance. Cada um destes modelos pode ser equipado com rudimentares miras e podemos escolher o tipo de retícula, ampliação e direcção do recuo da arma. Além disso, os novos Battlepacks podem oferecer pinturas que variam de grau de raridade e… é só mesmo isso que, para já, parecem oferecer (além de peças para um puzzle de duas armas de combate corpo-a-corpo).

Não mais terão armas desbloqueadas pela evolução. Na verdade, algumas ficam de facto disponíveis cada vez que evoluímos em cada classe, até ao décimo nível. No entanto, para as desbloquear precisamos também da divisa em jogo: Warbonds. Sempre que evoluímos, ganhamos uma determinada quantidade deste dinheiro virtual. Poupamos e compramos novas armas ou variantes. Aconselho vivamente a não se precipitarem a gastar Warbonds. Determinadas armas estão só disponíveis no nível 10, por exemplo. Poupem até lá. Além disso, há equipamento que simplesmente não vão usar, com equipamento, armas ou suas variantes francamente inúteis ou fracas.

A nível de oferta de jogo online, é do melhor que podem esperar. Os nove mapas disponíveis, que variam da Frente Ocidental na Europa, os Alpes a norte de Itália ou até na península Arábica são absolutamente fantásticos. Talvez falhem um pouco a nível de equilíbrio de spawns e posições de arranque para algumas facções. Nestes campos de batalha, vão combater nas fileiras dos Britânicos, Otomanos, Império Austro-Húngaro, Império Italiano, entre outros. O esquema de esquadrões (Squads) regressa com limite até cinco jogadores. Há, actualmente um pequeno bug que força que todos os novos esquadrões sejam privados por defeito, inibindo que os jogadores se agrupem facilmente. Algo que, espero, seja resolvido em breve.

Temos o regresso dos grandes modos clássicos de jogo até 64 jogadores com Conquest de conquista e manutenção de sectores e Rush de conquista faseada de bandeiras com uma equipa a atacar e outra a defender. Mas há um novo modo que se junta a estes dois: chama-se Operations e pode muito bem ser a evolução do regular Rush. A mecânica é muito simples: também temos conquista faseada de bandeiras com atacantes e defesas, mas o ritmo é muito mais rápido e a acção é dividida em várias fases. Cada uma dessas fases é narrada com uma pequena cena intermédia, dando um outro ambiente à acção. Pessoalmente, em paralelo com Conquest, é o modo que mais gosto de jogar.

Outros modos de jogo incluem Domination, Team Deathmatch e um novo e irónico modo chamado War Pigeons. Basicamente, as duas equipas disputam a posse e controlo de pombos-correio que depois podem libertar para chamar artilharia. Não é propriamente um modo simples e exige muita coordenação, mas é bastante inovador e divertido. Muito possivelmente a DICE vai adicionar outros modos de jogo. Gostávamos de ver modos apenas com veículos como vimos na restante série. E seria muito interessante ter modos só com cavalaria. Prometidos no menu estão os próximos modos Hardcore e Fog of War com nevoeiro permanente (adeus snipers!). Contudo, estes modos ainda não estão disponíveis.

Uma novidade que é preciso realçar é que, sobretudo nos modos de conquista de bases, há uma nova forma da equipa que está a perder dar a volta ao resultado. Chamam-se Behemoths e são máquinas de guerra com poder de destruição maciça. Basicamente, a equipa que está a perder recebe estes colossos para dar a volta ao resultado (ou tentar, pelo menos). Um gigante dirigível, um navio de guerra ou um comboio armadilhado, podem ser operados com diversos jogadores, cada um com uma arma específica que pode ser de artilharia, anti-aérea ou anti-pessoal. Digo-vos que não é raro o Behemoth fazer a diferença e já vi jogos totalmente dominados a ser revirados com o seu auxílio.

Já vos falei da jogabilidade, da qualidade visual, dos viciantes modos de jogo, o que falta falar? Como disse no início, não só o tema, mas também a qualidade geral deste jogo foi posta em causa, dada a história recente de problemas técnicos dos jogos Battlefield. É de louvar este que pode muito bem ser o jogo com menos problemas técnicos no histórico recente da DICE. Até ver, a jogabilidade, o infame netcode, as mecânicas e o matchmaking funcionaram na perfeição, dando-nos um jogo muito estável nas plataformas em que o testámos. Tecnicamente, está quase perfeito e a DICE dá aqui uma boa resposta à crítica mais negativa.

A ajudar nesta estabilidade estará, com certeza, o que foi aprendido com Battlefield 4, Battlefield Hardline e Star Wars Battlefront. Os servidores possuem agora a indicação dos países de origem (Irlanda e Holanda para a Europa) e conferem pings mais baixos e taxas de frequência na ordem dos 30Hz. Isto resulta em latências muito baixas com quebras muito raras, geralmente de jogadores que quebram a barreira regional e decidem jogar numa região remota onde não pertencem. Caso contrário, nem mesmo os infames problemas de input lag são assinaláveis, com tempos de resposta competentes e nada intrusivos. Para todos os efeitos, a DICE fez um excelente trabalho e gostamos de pensar que pudemos ajudar neste produto final com as nossas diversas participações das fases Beta.

Veredicto

Já várias vezes tentei dissertar sobre o que será um jogo de acção na primeira pessoa perfeito. Não há nada de ideal na guerra, nem queremos que o realismo se sobreponha à diversão. Afinal, são jogos. Contudo, Battlefield 1 está num patamar que muitos outros jogos do género só podem sonhar. É graficamente espectacular, tem mecânicas de jogo aprimoradas, modos multi-jogador irrepreensíveis e uma evolução online interessante. Os receios de regressar tanto no tempo dissipam-se com um conjunto de armas, equipamento e tácticas totalmente diferentes e desafiantes. Que todos os jogos do género fossem assim tão arrojados, mas também tão exemplares. Não, Battlefield 1 não é perfeito, mas é um verdadeiro Battlefield e é o regresso em grande da DICE ao seu melhor nível.

  • ProdutoraDICE
  • EditoraElectronic Arts
  • Lançamento21 de Outubro 2016
  • PlataformasPC, PS4, Xbox One
  • GéneroAcção
?
Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Algum desequilíbrio entres classes
  • Alguns mapas previsam de balanceamento
  • Jogadores que jogam fora da sua região

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

Comentários