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Análise: Battlefield Hardline

É discutível se as ruas de uma cidade são apropriadas para um título Battlefield. Isto porque, ao longo da sua existência, esta série tem vindo a abordar as batalhas militares do passado, presente e futuro. Battlefield Hardline é uma aposta na mudança pela mão da Visceral Games (Dead Space) e com uma mão da DICE. Resta saber se consegue honrar os seus antecessores, trocando os soldados por polícias e ladrões.

Quem nos segue, sabe que este vosso analista é fã da série Battlefield. Longe vão os tempos dos combates na Segunda Guerra Mundial com Battlefield 1942 ou no futuro com Battlefield 2142, entre outros conflitos, como a guerra do Vietname ou os conflitos militares fictícios da saudosa série Battlefield Bad Company. Mais recentemente, visitámos palcos de guerra actuais no médio oriente com Battlefield 3 e Battlefield 4. Todos estes jogos tinham algo em comum: falavam de combate militar de infantaria e tentavam ser bem mais realistas do que outros jogo do género. Quando ouvi falar de como Battlefield Hardline troca o tema militar por um jogo policial, fiquei apreensivo.

Talvez seja para melhor que Hardline inove um pouco. Os títulos de acção na primeira pessoa estão a roçar a loucura com temas futuristas de armas e tecnologias que nem existem. Investem-se milhões em produção quase cinematográfica, apenas para repetir a dose anterior com outra casca. Hardline, ao menos, tenta inovar. Não é bem o Battlefield que conhecemos, mas nem o tenta ser. Talvez alguns pormenores vos façam lembrar a série, mas até o modo carreira é algo ao qual não estamos habituados… é interessante!

O agente da Polícia de Miami, Nick Mendoza, acabou de ser nomeado Detective. Honesto e esforçado, Mendoza fica encarregue de resolver um complexo caso de tráfico de droga que acaba por envolver um seu colega. Só que num polícial moderno não há nada simples. Mendoza e a sua parceira Khai Minh Dao terão de enfrentar inimigos improváveis e confrontar surpresas inesperadas. Esperem algumas reviravoltas e mesmo clichés previsíveis, mas não se vão aborrecer, a não ser que não gostem do género de séries e filmes policiais onde a moral e a corrupção são a ordem do dia.

Digo-vos com toda a honestidade que o enredo deste jogo surpreende por ser bem produzido e entusiasmante, uma vez que nos jogos anteriores os modos a solo são quase sempre acessórios e curtos. O facto de ser contado exactamente como uma série ou filme policial moderno (faz lembrar Hawaii Five-O ou NCIS, séries de onde até empresta alguns dos seus actores), só ajuda a empolgar o jogador para desvendar toda a trama e preparar o fim previsível do jogo. Também as personagens e actores que emprestam a voz são excelentes, numa boa produção visual, em que não falta a fiel captura de movimentos e sincronismo de lábios e expressões faciais. A dada altura parece que estamos a seguir mesmo uma série de televisão, onde nem sequer falta o genérico e a divisão das missões em “episódios”.

Em termos de acção, o jogo é bastante familiar a todos os fãs dos jogos de acção na primeira pessoa. Quando é preciso sacar da pistola, toda a gente sabe o que fazer. Entre diálogos e tiroteios, porém, o ritmo dos combates é bastante mais pausado. Aqui e ali são inseridas partes de investigação onde temos de planear estratégias e procurar provas. Para isso, usamos um pequeno aparelho que age, não só como identificador de meliantes, mas também de radar para provas que depois são catalogadas. Essas provas, já agora, vão sendo reunidas para fechar os casos principais, mas também outros casos paralelos que conferem bónus de armas novas e outros objectos. Isto aumenta a longevidade do modo carreira e convida a jogar de novo para fechar todos os casos.

Há missões para todos os gostos. Desde navegar de barco por pântanos, conduzir pelas ruas de Miami e até invadir enormes mansões de traficantes em Los Angeles, tudo passa por perseguir meliantes e andar ao tiro. Ou não! É a nossa opção em vez de atirar a matar, apenas prender os prevaricadores. O jogo até recompensa isso mesmo, havendo mesmo alguns criminosos procurados que nos dão mais pontos de carreira.

Só que tenho de assinalar que esta acção furtiva é sofrível. Há momentos em que roça o ridículo estarmos mesmo ao lado dos meliantes e eles não nos verem porque, simplesmente, estão a olhar em frente. E quando chegamos ao pé deles para os prender, apontamos o crachat e a pistola e dizemos “mãos ao ar”. Mesmo se forem dois, os meliantes vão largar as armas e esperar pacientemente pela sua vez de serem algemados. Se forem três há sempre um mais matreiro que começa a baixar a mão para pegar numa arma, mas somos mais rápidos a apontar a pistola e a metê-lo na ordem. Depois de algemados… adormecem. Nada realista e chega a ser cómico. Mas, pronto, é só uma opção de jogo e nem altera o enredo.

Quando o tiro é inevitável, há uma panóplia de armas à escolha que vão sendo desbloqueadas com a nossa progressão de carreira. Antes de cada missão podem escolher as armas necessárias, talvez uma pistola com supressor para uma infiltração ou uma espingarda de assalto com lanterna para uma emboscada. É também preciso usar alguns gadgets especiais como uma besta para disparar uma corda que faz de zipline, ou uma espingarda de arpão para escalar locais, de outra forma, inacessíveis.

Ao fim de umas 10 horas, divididas entre os tais 10 episódios, termina o modo de história. Se forem metódicos como eu, irão tentar a vossa sorte nas dificuldades mais elevadas e vão procurar todos os coleccionáveis. Isso, obviamente, vai expandir um pouco o tempo de jogo.

Antes de vos falar do modo que mais interessa, preciso de falar como o motor gráfico Frostbite 3 está melhor do que nunca. Tanto no modo carreira como no online, oferece animações e efeitos realistas, passando pelos famosos pedaços destrutíveis de cenário ou as dinâmicas de condução dos veículos. Fiquei muito surpreendido como, apesar de já ter mais de 2 anos, ainda consegue surpreender. Aliando a isto a sonoridade e banda sonora dignas de uma série moderna policial, onde nem faltam as faixas de hip hop nos veículos, não vão ficar desiludidos com a atmosfera deste jogo.

Contudo, é no multi-jogador que Battlefield sempre foi forte e cativou a sua legião de fãs. Só que a Visceral Games, em conjunto com a DICE, não se limitou a pegar na lógica da jogabilidade de Battlefield e meter carros de polícia e ladrões mascarados. De facto, não ter tanques ou jactos neste jogo é estranho e não soa a Battlefield. Há, no entanto, muitos outros veículos como carros musculados, motas ou helicópteros de ataque para agradar os mais nostálgicos e fãs do “combate em todas as frentes”. Alguns jogadores veteranos não apreciam o combate mais rápido com recurso à velocidade em troca da estratégia. Eu não vejo isso com o um retrocesso. Vejo como uma alternativa, ou um spin-off da série e não uma continuação. E é assim que devia ser visto. O célebre combate de infantaria regressa, já a seguir a este intervalo, com um futuro Battlefield 5.

A par do modo de carreira, os modos competitivos de Battlefield Hardline são igualmente alternativos e distintos. Além dos clássicos modos de Team Deathmatch ou Conquest, há novos modos de jogo que precisam de destaque porque mudam, de facto, o paradigma desta série.

Heist é o modo mais famoso, tendo figurado nas Betas públicas. Um cofre foi descoberto e os ladrões terão de o assaltar e levar o dinheiro até um ponto seguro, enquanto que à Polícia cabe a tarefa de os travar. É um dos modos mais divertidos de jogar que herda muito do modo clássico Rush, mas com muito mais velocidade na acção. Outro modo famoso das Betas é Blood Money. Tanto as forças da Lei como os bandidos têm de assaltar um contentor de dinheiro e transportá-lo de modo a guardá-lo no seu cofre ou esconderijo. Um modo de jogo onde conta a rapidez e onde a estratégia do uso dos veículos é essencial.

Há também outros modos divertidos: Hotwire é a versão de Hardline para Tank Superiority de Battlefield 4, usando automóveis e motas, em vez de tanques. Em Crosshair um jogador assume o papel de VIP numa sessão de 5×5 jogadores, em que uma facção tem de o escoltar e outra tem como objectivo eliminá-lo. Já Rescue é a típica missão de resgate de reféns, onde a polícia tenta executar essa missão contra bandidos armados. Estes dois últimos modos são muito mais desafiantes que os demais, uma vez que não possuem respawn.

Todas estas missões são jogadas em mapas diversificados e extraídos de partes do modo carreira. Variam do ambiente citadino da baixa de Los Angeles, em “Downtown”, ou a ilhas paradisíacas de “Riptide”, passando pelos bairros de lata de “The Block”, mas também visitando os pântanos em “Everglades”. São, ao todo, nove mapas distintos, amplos e diversificados, muito bem balanceados e adaptados aos tipos de jogo, como só a DICE sabe fazer.

No que diz respeito à progressão e armas na carreira online, regressa a total integração com o célebre Battlelog. Aqui podemos acompanhar o progresso da personagem e alterar as armas e objectos que carregamos (loadout). É preciso ter em atenção que as armas não são todas comuns a polícias e ladrões. Algumas exigem “licença”, o que obriga a escolher loadouts diferentes para polícias ou meliantes. É uma nota interessante que confere variedade na jogabilidade. E, também, nem todas as armas estão disponíveis no arranque, assim como os seus extras, como miras ou outras peças e objectos. Vão-se tornando disponíveis com a evolução e uso regular. Mas, não pensem que é só escolher. É preciso “comprar” com o dinheiro virtual que ganhamos em jogo. Os objectos, armas, peças, pinturas e roupas mais apetecíveis, são, obviamente, também os mais caros.

Em termos de gadgets, também no multi-jogador encontramos os tais Ziplines e gancho de corda, além da sempre fantástica pistola Taser. Isto altera muito a dinâmica de jogo, abrindo ainda mais o leque de opções para atacar uma bandeira ou assaltar um cofre. Podemos simplesmente ignorar escadas ou rampas e criar novos acessos. Assim, nenhum “camper” está a salvo com estas opções e é bem provável que acabe electrizado com o Taser ou humilhado com um cassetete no pescoço. E aí, o jogo introduz uma nova dinâmica. Apanhem um jogador desprevenido e quando o prenderem ou imobilizarem podem iniciar um modo de interrogatório (interrogation). No final, o sujeito revela a localização de todos os jogadores da sua equipa à sua volta, ao jeito dos sensores de movimento que tínhamos nos jogos anteriores.

Uma nota de rodapé para o modo Commander, introduzido em Battlefield 4 que aqui é chamado de Hacker. Não é um modo muito popular, até porque só permite dois jogadores, um de cada lado. Basicamente, não combatemos mas controlamos o campo de jogo, com todo o mapa disponível, oferecendo estratégia à nossa equipa e usando algumas vantagens como câmaras de vigilância que temporariamente revelam os jogadores inimigos ou enviando boosts para esquadrões que o solicitem.

Veredicto

Com o melhor enredo desde Battlefield: Bad Company, este novo jogo consegue cativar-nos para jogar o modo de carreira até ao fim. Aliás, enquanto estava a ser instalado na consola Playstation 4, convidou-me a jogar o prólogo desse modo e acabei por percorrer toda a história antes de jogar online. Aí, no modo competitivo, fiquei surpreendido com as novas dinâmicas e lógicas de jogo, além dos novos modos como “Heist” e “Blood Money” em mapas bem feitos e diversos. Pode não ser bem o que estamos habituados, penso neste jogo como uma alternativa à série. Ao fim de umas horas a jogar online, modo carreira terminado, porém, até dei por mim a gostar de Battlefield Hardline, um jogo que, por ser tão diferente da série que tanto gosto, me trazia perspectivas sombrias.

  • ProdutoraVisceral Games
  • EditoraElectronic Arts
  • Lançamento19 de Março 2015
  • PlataformasPC, PS3, PS4, Xbox 360, Xbox One
  • GéneroFPS
?
Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Acção furtiva no modo carreira é irreal
  • Não é bem um Battlefield...

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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