Análise – Battletoads
Depois de 26 anos, a espera finalmente acabou. Battletoads está de regresso para a Xbox One e PC com um reboot que nos devolve as peripécias dos três sapos de “combate” mais famosos dos videojogos. Só nos falta saber se este reboot recupera o espírito da estrutura original em 2D. Mas, vamos já apurar isso mesmo.
O regresso deste título de culto, leva-nos de volta para 2018, em plena E3. Foi uma revelação surpreendente da Xbox, saber que uma das séries da Rare mais desejadas estaria de regresso ainda nesta geração. A surpresa na conferência da Microsoft foi suficiente para deixar todos os fãs em empolgados. Desta vez, a produção ficou a cargo da DLaLa Studios que, segundo consta, apresentou um protótipo deste regresso à Rare, ficando a produtora original imediatamente fã do conceito apresentado. Este enorme aval permitiu a esta jovem equipa Britânica desenvolver o tão pedido reboot. E, ainda melhor, contou com a preciosa ajuda e supervisão das mentes do jogo original.
Para quem não conhece, Battletoads é um título que aborda as aventuras de três sapos antropomórficos Rash, Zitz e Pimple que se comprometeram a combater o crime. Foi inicialmente criado para rivalizar com as infames Teenage Mutant Ninja Turtles (mais conhecidas por cá como as “Tartarugas Ninja”), igualmente famosas no final dos anos 80 e início dos anos 90. No entanto, as “tartarugas” conseguiram evoluir e permanecer na consciência de todos através de desenhos animados, filmes e jogos. Os sapos não tiveram tanta sorte, infelizmente.
Os Battletoads praticamente desapareceram, ficando apenas na memória daqueles que tiveram a oportunidade de jogar o título da Rare em 1991. Lançado originalmente para a primeira consola da Nintendo, onde é considerado por muitos como o título com o grafismo mais avançado desta consola, tornou-se um autêntico jogo de culto. A sua popularidade cresceu principalmente devido à sua extrema dificuldade, o que levou a que as versões de outras plataformas passassem por várias alterações para facilitar os jogadores. Mesmo assim, é ainda hoje um dos jogos mais usados para speedruns, exactamente pela sua dificuldade inerente.
A trama desta reedição começa por brincar com esta situação de esquecimento pela franquia. Revela o estado actual destes heróis como esquecidos, acabando a fazer tarefas menores e a ter empregos que nada têm a ver com a acção que os tornou famosos. Obviamente, não demora muito até os três amigos decidirem ir em busca da redenção, lançando-se de cabeça numa nova aventura à “moda antiga”. Rapidamente, damos de caras com a Dark Queen, o último boss do primeiro título. E já adivinham o que se segue. Toda esta história é contada através de sequências de animação, bem ao género de Futurama, Rick and Morty e Final Space. O que torna a narrativa divertida e irreverente.
Tal como o original, este reboot é um Beat’em up, no género de Streets of Rage, por exemplo. No entanto, Battletoads possui algumas secções de plataformas, quebra-cabeças e até de corridas, o que lhe oferece alguma variedade e o torna imprevisível. É composto por quatro actos com um total de 25 níveis, o que nos leva sensivelmente uma longevidade de quatro horas para o terminar pela primeira vez. E ainda há lutas, fugas, crises existenciais e muita acção arcade, tudo cheio de referências aos anos 80 e 90. Todo o modo campanha pode ser jogado com dois amigos, ficando cada um responsável por um dos sapos. Para mim, esta é a forma mais divertida de jogar, com os três sapos a jogar uma espécie de ‘volei’ com os inimigos, enquanto distribuem uma quantidade considerável de pancadaria.
Quando jogado sozinho, porém, é possível trocar em qualquer altura de personagem. Assim podemos aproveitar as habilidades de cada um dos sapos. Rash, provavelmente a personagem mais conhecida dos jogos originais, é ágil e faz bom dano aos seus adversários, é o sapo mais equilibrado dos três, daí talvez a sua fama. Quanto a Zitz e Pimple, por outro lado, ficam focam-se mais em habilidades únicas. Zitz é ágil e bastante atlético mas precisa de atacar muitas vezes para derrubar um inimigo. Já Pimple, como já devem calcular, é a força bruta do grupo, tornando-o também o mais lento da trupo, francamente menos ágil.
Dependendo dos golpes que damos nos inimigos (e quão espectaculares são os combos), é dada uma pontuação em cada luta. Os adversários mudam de nível para nível, ficando obviamente mais difíceis com o progresso. No segundo acto, por exemplo, existem lenhadores alienígenas capazes de atirar machados muito poderosos, enquanto que em outras situações há criaturas elétricas que dão choques nos líquidos presentes no cenário. Curiosamente, os Battletoads têm habilidade de transformar parte do seu corpo. Rash, ao fazer o seu ataque pesado, faz com que o seu pé fique enorme antes de pontapear o inimigo e Pimple no seu maior golpe, transforma-se num enorme comboio que “leva tudo à frente”.
Enquanto fui jogando ao longo da campanha, apercebi-me de como o género beat’em up acusa um pouco a sua idade, pelo menos em termos de conceito. Ao longo dos anos, vimos a interacção a evoluir, com melhores respostas dos controlos. Contudo, a estrutura do género em si está a ficar desactualizada. Isto nota-se na forma como, ao fim de algum tempo, a sensação de monotonia instala-se, fruto das constantes vagas de inimigos. Vamos conhecendo alguns diferentes e mais difíceis, é certo, mas não há muita variedade. Em breve, já estamos a derrotar quatro do mesmo género. Rebobinar, repetir.
Felizmente, a mudança de tipo de níveis e, por consequência, de jogabilidade quebra um pouco essa monotonia. Ainda assim, há um revés. É que também muda radicalmente a interacção. A título de exemplo, sem entrar em grandes pormenores, posso dizer-vos que no terceiro acto o beat’em up é deixado de lado por completo e só regressa no quarto acto de forma muito tímida, com as personagens a só poderem movimentar-se para a esquerda ou direita, perdendo por completo a profundidade que ficamos habituados no início. Outra forma da produção combater a monotonia é com esta novidade de jogar com amigos, como sugeri anteriormente. O frenesim instala-se e o jogo fica francamente mais divertido.
Depois de derrubarem o primeiro boss, um porco gigante, já agora, chega o temível nível das “motos”, responsável por muitas “mortes” em 1991. A grande novidade é que agora este nível infame é feito em três dimensões. Devo dizer que repeti algumas das suas fases, mas nada comparado com a dificuldade do jogo original, capaz de levar qualquer um à loucura. E também confirmo que houve um bom sentimento de nostalgia nesta fase, enquanto via a hoverbike a ficar cada vez mais rápida e não conseguir desviar-me a tempo dos obstáculos. Outros tempos, outros reflexos, bem sei. Felizmente a dificuldade foi diminuida no geral, para que todos os tipos de jogador (e todas as idades) se possam divertir com este título.
Antes de terminar, claro, temos de falar do grafismo. Como já devem ter reparado pelas imagens, é um jogo com um estilo de desenho animado. Esse design não é exclusivo dos níveis jogáveis, mantém-se inalterado nas cenas intermédias que nos contam a história. Esta estética, aliada ao seu humor muito próprio, leva-nos imediatamente para os anos 90, quando nos sentávamos de manhã no chão da sala em frente à televisão para ver os desenhos animados. Tudo isto chega com uma resolução que pode ir até 4K e com uma fluidez a girar em torno dos 60 FPS. Acho esta escolha visual simplesmente perfeita para o tipo de jogo que é.
Veredicto
Battletoads revelou-se um bom regresso às origens. Não escondo que me provocou um sentimento agri-doce. Por um lado, senti que lhe falta profundidade, com um género de jogo algo datado. Também a mudança constante de jogabilidade dá a sensação de estar fragmentado. E ainda tem uma longevidade algo curta. Se fosse apenas um rejuvenescido Beat’em Up, mesmo sendo um género algo ultrapassado, seria dos melhores da actualidade, assim parece uma compilação de mini-jogos bem feitos. Por outro lado, quem sabe o mais importante num clássico recuperado, divertiu-me bastante. Foi uma óptima surpresa poder jogar novamente com os sapos de combate, agora com dois amigos. Se calhar, só precisamos disso mesmo para que um jogo tenha sucesso: diversão!
- ProdutoraDlala Studios e Rare Studios
- Editora Xbox Game Studios
- Lançamento20 de Agosto 2020
- PlataformasPC, Xbox One
- GéneroAcção
Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.
Mais sobre a nossa pontuação- Grafismo estilo desenho animado
- O facto de cada nível ser imprevisível
- Modo cooperativo
- Jogabilidade algo fragmentada
- Muito curto
- Um género a precisar de algo realmente novo
Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.