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Análise – Beyond Good And Evil: 20th Anniversary Edition

Mais que analisar uma reedição de um jogo, com Beyond Good And Evil: 20th Anniversary Edition vamos viajar no tempo. Esta foi uma era em que Ubisoft se mostrou promissora, com uma fórmula interessante e ambiciosa.

De facto, poucos em 2003 diriam que a Ubi se tornaria na mega-corporação que é hoje, com os seus altos e baixos. Mas, a ambição, de facto, estava lá. E é discutível dizer isto mas neste jogo que agora revisitamos consegue-se ver uma espécie de introdução de quase todos os jogos posteriores que a produtora e editora Francesa viria a conceber. Há de tudo um pouco, há uma história hiperbólica, há acção, há algumas plataformas e até uma certa dose de tiroteios, sem esquecer um mapa cheio de segredos e pequenas descobertas… Familiar? De facto, este jogo podia muito bem ser lançado nesta era e saberíamos de imediato que era um jogo Ubisoft. Esta é uma comemoração de um clássico mas também pretende ser uma espécie de recompensa por uma sequela está na forja há quase tanto tempo quanto este jogo tem de idade.

Na verdade, esta é a segunda vez que Ubi revisita este clássico, tendo lançado uma edição “HD” do jogo em 2011, então para a Xbox 360 (pouco depois também na PlayStation 3). Nessa altura, porém, a reedição limitou-se a “expandir” a imagem para caber na nova resolução 1080p como uma “recordação” de uma franquia que, já na altura, teimava em não continuar. A Ubisoft está consciente que esta é uma série com boas memórias para os fãs e persiste em reeditar o original. Agora, Beyond Good And Evil 2 é que está difícil.

A última vez que ouvimos falar nesse outro jogo, foi mesmo na promoção deste, uma vez que contém uma missão que serve de ponte para a sequela. Já vou falar mais nessa missão mas, para dizer a verdade, fico um pouco dividido quanto ao seu intuito. Por um lado, entendo que a Ubi não quer deixar “morrer” o assunto e quer mesmo que acreditemos que o segundo jogo não está arredado em alguma prateleira. Por outro, há aqui um certo aproveitamento para chamar a atenção dos veteranos para esta reedição, como um engodo que, admito, eu próprio tive a máxima curiosidade de “morder”. Agora, como irão ver, a intenção era boa mas a execução…

Para quem não conhece o original, neste título jogamos no ano 2435 no planeta Hillys, vítima da invasão de extraterrestres chamados Domz que, por mais que a ditadura militar no planeta prometa o contrário, espalham o caos sem qualquer oposição aparente. Então conhecemos Jade e o seu tio Pey’j que conseguem rechaçar um ataque destes extraterrestres no início da trama, entrando no “radar” da resistência do planeta, a IRIS Network. Então Jade, Pey’J e os demais companheiros de aventura entram numa campanha para combate os Domz, investigando ainda um mistério em torno dos agentes governamentais das Alpha Sections, usando os seus dotes de repórter para desmascarar esta organização.

Como já perceberam, esta é uma aventura de muitos desenlaces, com um arco narrativo muito amplo, como um prenúncio para as histórias que a Ubi viria a conceber nas suas demais franquias. Primeiro, encontramos estranheza em algumas das escolhas da produção, como os temas surreais e os vários seres antropomórficos presentes, começando logo com Pey’j, uma mistura de humano com javali. Depois temos vários elementos de fantasia, ficção-científica e até de espiritualidade, demonstrando que o director e argumentista original, Michél Ancel, tinha uma imaginação muito fértil. Esta é uma boa história para seguir e desvendar, sendo ao mesmo tempo bastante divertida e descontraída.

De facto, considero o enredo deste jogo como um dos seus trunfos. Aqui a Ubisoft não teve medo de “inventar” algo realmente novo e inédito, mesmo que em dados momentos, se note que umas poucas inspirações em vários jogos da altura. Entendo porque a Ubi quer mesmo muito dar continuidade a esta franquia, mesmo que uns tais Assassin’s Creed ou Far Cry sejam tão apetecíveis de criar, claramente pelo lucro que geram. Entendo porque temos esta reedição de 20 anos (na verdade 21 anos) de aniversário, com uma “lavagem de cara” muito merecida. E, sim, enquanto uma sequela não chega, é uma óptima revisita a esta boa dose de criatividade e alguma loucura.

Com os anos que nos separam, a jogabilidade, claro, é que poderá não agradar a todos. Já nesta altura se notava uma “fórmula” quase matemática na forma como o jogo é jogado e se desenvolve. O tal mundo para explorar, passando com uma nave entre ilhas, já tinha aqui aqueles célebres “nadas” que a Ubi tanto gosta de explorar ainda hoje. Nota-se que é um jogo que podia ser perfeitamente linear mas que a produção ampliou para um conceito maior, polvilhando-o com masmorras, puzzles e várias tarefas diferentes. Mas, notem, este não é um “típico colosso” da Ubi com dezenas de horas, podendo ser completado em apenas 10 a 12 horas. São mesmo outros tempos, não são, Ubisoft?

O grande foco da interacção é a câmara fotográfica de Jade, fonte financeira da protagonista e, de longe, a funcionalidade mais usada. Usamo-la para fotografar quase tudo, numa enorme lista de itens para “capturar” que, apesar de tudo, é mais um “checklist” que outra coisa. Contudo, há muitas outras tarefas para fazer, dando o meu especial destaque para as secções de acção furtiva, onde o combate directo é mesmo opcional. Já tivemos imensos jogos de acção furtiva, uns mais únicos, outros mais genéricos, mas penso que aqui a produção conseguiu um equilíbrio positivo entre dificuldade e diversão. Dada modernização dos controlos, até se consegue uma jogabilidade muito válida.

Sinceramente, entre todas as tarefas disponíveis em jogo, nada soa realmente a repetido ou fastidioso como hoje em dia o jogos da Ubi conseguem ser. Talvez porque a trama é relativamente rápida de concluir em tempo útil ou então porque tudo foi muito bem pensado e bem escrito. Com todo o mérito dos demais títulos posteriores de sucesso da produtora, este é um bom exemplo que não é preciso muita quantidade para nos satisfazer. Seria possível esticar um pouco mais a história? Sem dúvida, mas não creio que tornasse o jogo mais interessante. Se querem mais para jogar podem sempre tentar fazer 100% de todas as tarefas, embora isso não vos vá ocupar muito mais tempo.

Falemos então do que esta edição de 20 (21) anos traz em termos de novidades. A principal novidade é a nível técnico, com uma remasterização visual que inclui uma revisão de modelos, texturas e efeitos visuais. O resultado é mesmo uma “reciclagem” geral do aspecto do jogo, melhorando a sua qualidade geral, com um cuidado especial na sua iluminação, agora dinâmica. Contudo, não esperem algo ao nível de um remake, havendo secções na resolução 4K em que se nota mesmo que é um jogo de 2003. Felizmente, os controlos foram revistos para algo mais moderno e adaptado aos controlos actuais. Também houve um novo arranjo de alguns dos temas da banda-sonora, sem dúvida um dos pontos altos na concepção original.

Em termos de reais adições nesta edição, temos um modo “speedrun” para ver quem consegue terminar tudo no menor tempo possível. Talvez em 2003 poucos conseguiriam entender porque é que alguém quereria terminar o jogo o mais rápido possível. Mas, hey, isso agora existe. E fico mesmo curioso como é que se consegue diminuir ainda mais um jogo tão curto (pelos padrões actuais). Outra novidade é uma galeria de imagens de produção que mostra os bastidores da concepção do jogo, bem típico de uma reedição de aniversário, uma curiosidade para os fãs do original. E, sim, está lá, então uma nova missão paralela que liga a história deste jogo com a sua sequela eternamente em produção.

Não quero estragar a surpresa de ninguém, já que, como já falámos, muitos veteranos quererão apostar nesta reedição exactamente por causa desta missão. Apenas vou dizer que envolve descobrir recordações de Jade, mensagens da sua mãe. Infelizmente, apesar destas mensagens serem inteiramente narradas a actriz original do papel de Jade, Jodi Forrest, não participou na criação desta missão, perdendo-se um pouco de desejada uma emoção reactiva da personagem. Acho que ter algo de Beyond Good And Evil 2 é positivo, mas também acho que deveria ser algo bem mais substancial. Assim, como está, parece uma “nota de última hora” para não pensarmos que a Ubi se esqueceu.

Veredicto

Para os que jogaram o original em 2003 e a sua remasterização em 2011, a questão é se vale a pena apostar em Beyond Good And Evil: 20th Anniversary Edition. Os que nunca jogaram também poderão indagar se é uma boa compra, considerando que é uma remasterização de um jogo com 20 (21) anos. A resposta é positiva em ambos os casos. Os veteranos terão aqui a edição de um clássico que, acredito, adoraram. Os novos jogadores descobrirão uma aventura divertida, com a dimensão certa, numa era em que a Ubisoft conseguia surpreender positivamente. Só temos pena que não possamos entrar na nave “Beluga” para, de uma vez por todas, jogarmos o segundo título.

  • ProdutoraUbisoft
  • EditoraUbisoft
  • Lançamento25 de Junho 2024
  • PlataformasPC, PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series X|S
  • GéneroAcção, Aventura
b
Bom

Equilibrado e com boas ideias, os seus erros não o impedem de brilhar.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Missão que liga ao segundo jogo é algo acessória
  • Alguns momentos mostram antiguidade do original

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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