Análise: BEYOND: Two Souls
A francesa Quantic Dream já nos habituou à sua qualidade de produção, na forma como nos envolve e como se afasta dos típicos tiroteios e dos saltos de plataformas para se focar melhor na narrativa. Adiciona algum drama com um pouco de thriller à receita e criam uma envolvência com as personagens sem igual, proporcionando assim uma experiência única a roçar o cinematográfico.
Com Heavy Rain foi assim. Com BEYOND: Two Souls não é diferente. Mas, será este o derradeiro jogo da PlayStation 3 para o final desta geração?
Com um budget de 20 milhões de dólares, a produtora Quantic Dream pôde ir mais além e recorreu a alguns actores de renome da 7ª arte para tocar num tema frágil para muitas religiões:
O que existe para além da vida?
Muitos foram os jogos que tentaram abordar este delicado tema. Muitos falharam. Há jogos que satirizam os conceitos que servem de base às principais religiões, outros tentaram adaptar para a realidade dos videojogos. BEYOND é diferente da maioria dos jogos que tentaram isso. Toca em alguns pormenores relacionados com o esoterismo mas concentra-se noutros pontos mais “terrenos”. Arriscamos dizer que Beyond vai até onde nenhum outro jogo se atreveu até hoje. E começamos com a sua história, prometendo evitar spoilers!
Em BEYOND conhecemos a história de Jodie Holmes. Interpretada pela actriz Ellen Page, Jodie descobre ainda muito jovem, que tem algo que a acompanha para onde quer que vá. O que é? Não sabemos! Pode ser um espírito, uma possessão ou até mesmo um fantasma, no jogo chama-se misteriosamente de “entidade”. Mas, enquanto não descobrimos, vamos conhecendo a vida da jovem ao longo de 15 anos, acompanhando a sua infância e adolescência até se tornar adulta.
Nem tudo é um mar de rosas. Jodie apercebe-se que esta entidade que a acompanha, e que ela chama de Aiden, intromete-se em várias situações da sua vida, por vezes até com bastante violência!
A dada altura, pode parecer uma “amizade” interessante. No entanto, quando o pai de Jodie lhe levanta a voz, Aiden entra em acção sem qualquer ordem e, a partir daqui, começam a acontecer coisas inexplicáveis. Jodie começa a ser vista como um “monstro” pelos pais e chega mesmo a ser abandonada por eles.
Ainda muito jovem, começa a ser seguida por um especialista, neste caso por Nathan Dawkins, interpretado pelo veterano de cinema Willem Dafoe. Nathan apercebe-se do potencial de Jodie e começa a ajudá-la desde muito cedo a lidar com as situações paranormais. Já na idade adulta, Jodie é treinada pela CIA em combate, tácticas e armas, pelo menos até perceber que está a ser usada e acaba tornando-se numa fugitiva imparável!
No que diz respeito à jogabilidade, BEYOND partilha a mesma mecânica de Heavy Rain. Tem bastantes Quick Time Events, os controlos são feitos quase por intuição, embora algo redundantes e as nossas escolhas tem impacto directo no desenrolar do enredo. A história de Jodie é contada de forma salteada, querendo com isto dizer que vão presenciar várias fases da sua vida de forma alternada e cabe a nós, quem está a jogar, juntar todas as peças.
Ao todo são mais de 20 finais diferentes e as escolhas ao longo do jogo não são óbvias como em Heavy Rain, uma pequena resposta ou um tiro que não devia ter sido disparado, pode alterar todo o enredo. Será interessante discutir com outros jogadores a suas experiências, mas não acredito que alguém, nem mesmo os fãs de troféus platina, se irá dedicar a 100% para ver todos os finais.
Destaque para a dinâmica da interacção entre Jodie e Aiden. Na maior parte do tempo é possível trocar entre estas personagens em qualquer altura, mas é com Aiden que tudo ganha outro interesse.
Aiden comporta-se quase como um “fantasma”, atravessando paredes e movendo-se sem ser detectado e é sob o seu controlo que vão descobrir que tipo de pessoas vocês são. Com ele é possível assustar, possuir, castigar ou até mesmo matar.
Por vezes, deixa-nos um pouco desorientados tendo em conta que pode mover-se para qualquer direcção, os cantos do ecrã estão esbatidos e desfocados. A única orientação é uma linha roxa que nos liga com Jodie e limita-nos a distância entre ela.
Jogar com a Jodie é tudo mais simplificado, misturando a clássica vista de terceira pessoa com séries de Quick Time Events, abrandando toda a acção quando é preciso um input preciso do jogador. Nas sequências de luta, o controlo é feito através do analógico direito, empurrando na direcção do movimento da Jodie. Se Jodie está a defender um murro que vem do lado esquerdo, temos de carregar com o analógico para a esquerda e o mesmo aplica-se aos seus próprios ataques. É de relembrar que aqui não existe game over, o jogo adapta-se à nossa jogabilidade. O que não confere grande desafio.
O mais impressionante é a forma como a produtora conseguiu com que a nossa reacção, fase as decisões que temos de fazer ao longo do jogo, sejam naturais e espontâneas. A narrativa e tão envolvente que nem se da pela quantidade de opções que nos são atiradas para o ecrã.
Falta só falar da questão do grafismo. Já Heavy Rain era uma excelente aposta na tecnologia que se pode espremer da Playstation 3. Mas, citando Guillaume de Fondaumière esperava-se uma “Playstation 3.5″… certo? Mais ou menos. A captura de performance dos actores, expressões faciais e alguns efeitos estão, de facto, muito interessantes e possuem um rigor técnico muito apurado. O problema só surge mesmo quando algumas das animações não correm muito bem, sobretudo nas transições de e para os Quick Time Events. Depois há toda a questão da iluminação e texturas que não são más, mas não impressionam muito. Diríamos que não se trata de um grande colosso visual na PS3. Tira bom proveito dela, mas não deita fumo.
Veredicto
BEYOND: Two Souls é uma obra cinematográfica por excelência, desde os ângulos de câmara, passando pela banda sonora composta por Hans Zimmer até aos diálogos e animações quase perfeitos!
No entanto, quem é da opinião que Heavy Rain não é bem um jogo, vai sentir o mesmo com este BEYOND: Two Souls. Não pensem nele como um jogo e verão como ficarão surpreendidos!
- ProdutoraQuantic Dream
- EditoraSony Computer Entertainment
- Lançamento9 de Outubro 2013
- PlataformasPS3
- GéneroAcção
Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.
Mais sobre a nossa pontuação- Animações e expressões faciais
- História envolvente
- Assustar pessoas com Aiden
- Experiência cinematográfica
- Ellen Page
- Desorientação no controlo de Aiden
- Demasiados finais diferentes num jogo que será jogado apenas uma vez
Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.