Análise – Bus Simulator 18
Embora esta seja já uma série, Bus Simulator 18 é a minha primeira abordagem a estes simuladores de condução de autocarros. O que diz bastante da sua exclusividade. Tal como outros simuladores de condução de pesados, pode não ser para todos os jogadores.
Não é que eu seja, propriamente, um novato nestas lides de simuladores de camiões. Já conhecem as minhas aventuras pelo asfalto com American Truck Simulator, por exemplo. Mas, uma coisa é transportar mercadorias de uma cidade para outra. Outra, completamente distinta, é transportar passageiros de paragem em paragem. A não ser que pertençam a uma elite social muito elevada, já todos andaram de autocarro algures na vida. Devem recordar-se da rotina chata, do trânsito, dos passageiros inoportunos, das corridas contra o relógio e dos cheiros… Bom, felizmente Bus Simulator 18 não aborda odores, mas tudo o resto está lá. Só é preciso que esta dinâmica potencialmente aborrecida tenha substância para se tornar num jogo interessante.
Como devem calcular, a base deste título é a condução. Contudo, antes de partirmos para esta actividade, precisamos falar no jogo que se constrói em volta. Em Bus Simulator 18 temos uma simples mas interessante gestão de uma companhia rodoviária. Basicamente, foi-nos dada a empreitada de fazer a circulação de autocarros numa cidade. Bom, na verdade são vários distritos, num total de 15 km² mas começamos numa área muito restrita para não abusar muito da nossa paciência. Existem diversas paragens já construídas pela autarquia e depois só temos de delinear a rota que queremos fazer. Parece simples e é mesmo. Contudo, há que maximizar o lucro com rotas inteligentes que abranjam paragens de forma linear, evitando percursos demasiado complexos ou longos.
Depois, temos uma frota para gerir. Curiosamente, o jogo parece possuir uma economia bastante descontraída. Isto permite-nos comprar diversos autocarros logo à partida. Inicialmente, só temos um modelo, um conhecido nosso Mercedes Citaro, muito usado em Portugal. Com a evolução, mais modelos são desbloqueados. O jogo tem também alguns desafios para nos oferecer autocarros, pelo que pode nem ser necessário comprá-los, pelo menos nos primeiros momentos. Contudo, com uma frota, não podemos conduzir todos os autocarros ao mesmo tempo. Para isso, temos de contratar motoristas e atribuir-lhes um autocarro e uma rota das que criámos acima. Ao fim de um tempo, começamos a lucrar e, teoricamente, nem sequer precisamos pegar no volante. Mas, onde está a piada disso?
O objectivo é gerir a empresa entre gastos e ganhos. As rotas garantem dinheiro em caixa, mas também exigem manutenção. Os autocarros também aumentam a capacidade, mas exigem um investimento em maiores e melhores modelos para atender aos objectivos. Como já disse, a economia do jogo é estranhamente flexível e cheguei a ficar com mais de 200.000€ negativos para aumentar a frota nos primeiros minutos. E cada nova rota é estranhamente generosa com umas rotas a renderem 20.000€ de uma assentada. Também os ordenados dos motoristas inexperientes são francamente baixos (600€), o que nos dá uma boa margem para lucrar facilmente. Não é mesmo o maior dos desafios e chego mesmo a pensar que tudo isto só serve para “embrulhar” o resto da oferta.
Por causa desta facilidade, comprei dois autocarros e ganhei outros dois por cumprir objectivos. O Mercedes Citaro é apenas um dos vários modelos licenciados do jogo. Temos à nossa disposição também outras máquinas lendárias (e conhecidas de nós), como o MAN Lion ou Iveco Urbanway. Não sou especialista nestes veículos, notem. Apenas andei neles muitas vezes como passageiro. E é estranhamente familiar o seu aspecto, disposição de bancos e até os sons. Podemos pintá-los com as cores que quisermos, além de podermos decorar o exterior com faixas ou publicidade (outra forma de rendimento para a empresa). Reunida a frota, porém, é ao volante que isto tudo tem de se conjugar.
Um bom modelo de condução é absolutamente essencial num jogo destes, ou não se chamasse um simulador. A gestão de empresa e frota que menciono acima é muito interessante, mas se a condução for fraca, não fará qualquer sentido. Conduzir um veículo pesado não é propriamente entusiasmante. E, neste jogo, nem sequer temos de fazer manobras de estacionamento, como no Euro Truck Simulator 2, por exemplo. Tudo é bastante linear: Conduzir pela cidade, ter atenção às regras de trânsito, cumprir a rota, parar nas paragens, abrir as portas, vender um ou outro bilhete ocasional e tentar cumprir o horário. Nada parece mais simples que isto.
Contudo, é nas nuances que este jogo se destaca ao fim de umas horas. Não, as físicas de condução não são nada desafiantes, são mesmo muito simples. Tudo é lento e sem grande complexidade. A interacção com o cockpit clicável e a que se devia esperar de um simulador de condução. Podem escolher um modelo mais avançado de condução com menos ajudas ou um mais simples com limitador de velocidade e alguns auxiliares adicionais. De resto, tudo se resume à vossa capacidade de manobrar um grande veículo numa cidade sem fazer estragos. A única maior dificuldade é manobrar curvas mais apertadas sem subir passeios e evitando embates. Exige prática e atenção aos espelhos mas, em breve, estão profissionais.
Mesmo a operação em paragens é francamente simples. Temos uma zona de paragem onde podemos abrir as portas. Os passageiros entram e por vezes pedem bilhetes que facilmente vendemos pela máquina lateral que também dá troco. Alguns passageiros com necessidades especiais pedem para baixar a rampa para entrarem. Em alguns casos, alguns passageiros precisam de levar uns raspanetes, como no caso dos espertos que ficam na zona da porta impedindo-a de fechar ou o outro jovem que não sabe ouvir música silenciosamente. Isto obriga a sair do lugar do condutor, algo que se torna aborrecidamente frequente se tivermos em conta o que já irei falar mais abaixo.
Tudo isto confere algum entretenimento para umas quantas horas. Torna-se um bom simulador de condução, algo diferente do habitual, é certo. Como nos demais simuladores, depende sempre do nosso gosto por algo menos veloz, mais monótono, mas nem por isso menos desafiante. Há sempre quem goste de algo mais pausado. E eu consigo apreciar este tipo de jogos. Contudo, há também inúmeros problemas que impedem este jogo de ser perfeito. Sob pena de anular tudo o que escrevi acima e que nos dá uma ideia de termos aqui um simulador, pelo menos, cumpridor, tenho de assinalar uma série de questões que mancham o bom trabalho dos Stillalive Studios.
Começo pelo maior dos problemas de todos. A sua Inteligência Artificial precisa de um refinamento urgente. O tráfego nas cidades é francamente sintético e sem vida. Se faço um pisca para sair da paragem todos os carros param para me deixar passar. Não me falem em civismo, é só uma mecânica claramente facilitadora. Não preferia que os condutores fossem arruaceiros, mas também não precisam ser tão “anjos”. Depois, temos engarrafamentos inusitados, como em alguns cruzamento onde há um impasse porque ninguém quer tomar a prioridade. Isto aliado às animações francamente mecânicas dos veículos, faz-nos pensar que só o nosso autocarro mereceu atenção da produção e o mundo é povoado por robots.
Mas, onde a inteligência artificial e as animações sofreram mais foi com os passageiros. Além da variedade dos modelos ser muito baixa (há muitos irmão gémeos nas nossas rotas), movem-se como autómatos e nem sempre facilitam os movimentos dos outros. Se um passageiro entra e pede bilhete, por exemplo, impede a entrada dos demais. E o pior nesta lógica está na forma como se movem dentro ou fora do autocarro. Atropelei um peão simplesmente porque, do nada, se mandou para uma passadeira. Não circulava demasiado depressa, mas também não tive tempo de parar. O resultado foram 20.000€ de indemnização, numa situação algo caricata.
Há mais questões para levantar. Ainda no caso dos passageiros, a vasta maioria entram sem pagar bilhete. Temos de assumir que alguns compraram bilhetes noutra viagem e outros possuem passes semanais ou de várias viagens. Mesmo assim, é possível saírem do vosso assento e perguntar aos passageiros pelo seu título de transporte. Não me parece um trabalho para o motorista, na verdade. Não sei bem como é noutros países mas, por cá, há máquinas automáticas e em tempos tínhamos mesmo um revisor que entrava a bordo. Tal como no caso em que é preciso admoestar passageiros, não parece francamente prático sairmos do volante, mas é a única forma de resolver estas questões.
E admoestar é o que mais me apetece às vezes. Há momentos em que preferia que ninguém estivesse a bordo de todo. Isto porque, ao volante, ouvimos as suas conversas e estas são, à falta de melhor expressão, dispensáveis. Ora falam de programas de televisão, ora dizem que se esqueceram de algo, por vezes são inconsequentes, outras vezes dão “demasiada informação”. Seja como for, estão longe dos comentários xenófobos, racistas ou anti-sociais das nossas carreiras nacionais. O pior é que estes comentários são profundamente repetitivos e interpretados por actores pouco inspirados. Mais vale ignorar o que dizem. Ah! Saudades de transportar carga…
Por fim, a parte técnica. Convenhamos que um jogo desta envergadura não tem muita margem para ser um colosso visual. A aposta no Unreal Engine 4 para este simulador parece apontar para uma busca por realismo visual. E a julgar pelas imagens de promoção que partilho aqui, esse realismo parece garantido. Contudo, em jogo, as coisas não são assim tão bonitas. Apesar de, em alguns momentos, o jogo ter óptimo aspecto, há muitas falhas de optimização em modelos e objectos, a iluminação nem sempre funciona bem e os efeitos atmosféricos também precisavam de umas melhorias. O limpa-para-brisas, por exemplo, limpa a água primeiro que a escova. Magia?
Considero que tudo isto é passível de melhorias com umas actualizações. A Stillalive já tinha trabalhado na edição de 2016, com imensos problemas de optimização que parecem mitigados nesta nova edição. Há esperança para este jogo, portanto. Só espero que não tenha de esperar mais dois anos para uma nova edição com correcções. Entretanto, os mods via Steam Workshop poderão ajudar em vários campos. Infelizmente, o modo multi-jogador que poderia ajudar a dar-lhe longevidade não é a melhor aposta. Não porque não funcione mas porque não há muita gente a procurar sessões online. É pena porque o potencial está lá, podendo ter até 3 jogadores a trabalhar em conjunto nas nossas rotas.
Veredicto
Este Bus Simulator 18 não é um jogo perfeito. Apesar da sua condução competente nos dar um sentido de estarmos mesmo ao volante de um autocarro, a inteligência artificial dos veículos e peões é demasiado mecânica para nos dar o realismo pretendido. Graficamente, mostra-se ambicioso mas não chega ao patamar de outros títulos do género. Mesmo assim, na sua imperfeição, cumpre o que promete, num simulador de transportes públicos com algum desafio pelo meio. É óbvio que precisam de gostar de simuladores de condução, de gestão de empresas e de não se importar de levar com alguma monotonia pelo meio. Se for o vosso caso, deem uma oportunidade a este título.
- ProdutoraStillalive Studios
- EditoraAstragon Entertainment
- Lançamento13 de Junho 2018
- PlataformasPC
- GéneroCondução
Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.
Mais sobre a nossa pontuação- Condução competetente de pesados
- Cockpits interactivos
- Gestão da empresa é simples e intuitiva
- Mods podem expandir o jogo ainda mais
- Comentários dos passageiros
- Inteligência Artificial
- Grafismo e animações pouco polidos
Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.