Análise – Call of Duty: Black Ops – Cold War
Nos anos 80/90 o mundo teve em guerra global mas muitos nem deram conta. Chamaram-lhe a Guerra Fria, opondo os países da NATO e os aliados da União Soviética. Já muitos filmes e séries se construíram em volta desta era emblemática. Chegou a vez de Call of Duty: Black Ops – Cold War falar novamente de História, numa sua porção que, para todos os efeitos, nunca aconteceu.
Para falarmos deste jogo, temos de apontar dois elementos únicos que pesam bastante no seu lançamento. O primeiro é óbvio, o jogo é lançado ao mesmo tempo que uma nova geração de consolas, o que lhe dá um importante destaque nestes dias. O outro elemento de enorme relevância é que, efectivamente, Call of Duty está actualmente isolado na liderança dos shooters de acção. Os rivais recuaram, de facto, dando-lhe uma importância inigualável. Olhando em volta, curiosamente, o único título capaz de fazer frente a este novo lançamento é mesmo o anterior Call of Duty: Modern Warfare. As vendas de Black Ops – Cold War bateram recordes nos primeiros dias, segundo a Activision. O mundo quer mesmo um novo CoD. E a Treyarch faz-vos a vontade.
Uma vez mais, o novo Call of Duty apresenta a sua fórmula tríplice: campanha, multi-jogador competitivo e o modo cooperativo com zombies, este último tendo uma pausa no título anterior (Modern Warfare teve o modo cooperativo Special Ops em substituição). Contudo, desde o último título que contamos com uma nova forma adicional de jogar, o já conhecido modo Warzone é actualizado para este novo jogo. Porque Warzone e o seu modo Battle Royale é já conhecido de todos e porque age como um título isolado gratuito, não vou abordá-lo, focando-me no que é realmente novo na oferta.
De um modo geral, não posso destacar nenhum modo em particular, uma vez que cada um tem os seus argumentos próprios. Contudo, é sempre delicado analizar Call of Duty, porque simplesmente há jogadores que dão mais valor a um modo ou a outro. O que é importante realçar é que, hoje em dia, poucos jogos possuem uma produção tão elaborada para três formas de jogar (quatro com Warzone), cada uma com uma oferta robusta e argumentos próprios. Ainda assim, desculpem-me os puristas, devo dizer que a campanha a solo foi o modo de jogo que mais me entreteve.
A Treyarch decidiu não apenas criar um punhado de missões passadas na guerra fria, por exemplo, algum grupo de mal-encarados no bloco Soviético com alvos na testa e dar-nos munição avulsa. O trabalho de produção na campanha é bastante elaborado, com muitos pormenores inéditos. Não falo apenas da aparição digital do Presidente dos Estados Unidos Ronald Reagan ou do Secretário Geral Soviético, Mikhail Gorbachev, já lá vamos à parte técnica. A história contada é uma de intriga política, de mistério numa escala mundial e até de uma reviravolta peculiar que, se calhar, até esperávamos…
Em 1981 o mundo esteve muito mais próximo de uma guerra nuclear que alguma vez foi tornado público. Os nossos conhecidos Alex Mason (o dos números, sim), Frank Woods (o da fita na testa) e Russel Adler (o dos óculos Ray-ban) estão incumbidos de caçar dois perigosos insurgentes, responsáveis pela crise de reféns na Embaixada dos EUA no Irão. Ao conseguirem interceptar nestes dois perigosos fugitivos, desvendam uma ameaça ainda maior. Um tal de Perseus está por detrás de muitos ataques pelo mundo. Esta equipa é destacada pelo próprio Presidente Reagan para caçá-lo e eliminá-lo.
Com uma nova equipa de elite composta por elementos escolhidos a dedo, vamos jogar com vários protagonistas, inclusive um novo agente obscuro ao serviço da CIA, com nome de código “Bell”. Bem cedo a equipa descobre que Perseus se infiltrou num projecto ultra-secreto norte-americano de posicionar bombas atómicas em cidades Europeias, como contra-ataque de uma possível ameaça Soviética. O perigo de roubo ou, pior, de detonação de uma bomba nuclear é real, até porque há alguns fanáticos dispostos a tudo, Perseus incluído. Contudo, nem tudo é o que parece, como imaginam.
A história de CoD: Black Ops – Cold War leva-nos para vários tipos de missão em vários pontos no mundo. E, não, não teremos apenas missões de “tiro neles”. Como a história pega em elementos de espionagem, teremos missões de acção furtiva, outros de investigação e até teremos missões de infiltração e angariação de informação. O objectivo é reunir detalhes e provas para três missões importantes, uma delas, a derradeira. E saibam que há dois fins distintos nesta trama, finais de jogo que dependem de uma vossa decisão, mais ou menos moral. Ou melhor, depende da decisão do tal agente “Bell”.
O que é mais interessante é que a Treyarch implementou diversos elementos inovadores neste modo de história. Como já disse, além da missão final, temos duas missões complementares que precisam que façamos duas coisas: analisar provas e descodificar informação. Não é preciso fazer grandes cálculos dos dados para chegar a uma conclusão definitiva, mas podem acontecer erros de análise. O que nos dá um papel interessante de investigadores. Só saberemos mesmo se fomos bem sucedidos no epílogo, que faz uma espécie de resumo das nossas operações e como nos correu a investigação.
Confesso que gosto bastante deste elemento de espionagem nos anos 80. Foi uma era estranha e francamente marcante da nossa história, tendo pessoalmente crescido nesta década. As operações clandestinas da CIA, Mossad, MI6, Stasi, KGB, entre outras agências com métodos mais ou menos claros, fizeram história, muitas vezes “por baixo da mesa”. Já antes a série Black Ops abordou estas operações clandestinas com mestria. E, sim, temos novamente mais um daqueles níveis psicadélicos, cortesia da influência do infame projecto “MK Ultra” da CIA que aqui faz a sua “normal” aparição.
Esta campanha em modo cinematográfico, pejada de elementos de acção e intriga é um enorme contraste com o resto do jogo, devo dizer. De certa forma, parece deslocada do resto da oferta, esta bem mais tradicional na série. No início da campanha, algo, que me lembre, inédito, até podemos criar a personagem “Bell”, dando-lhe um nome e traços de personalidade que nos dão pequenas ajudas tácticas na jogabilidade. Depois, temos missões em que matar é perfeitamente opcional, como a missão em que jogamos como um agente duplo na sede do KGB, sem tiros (na primeira parte, pelo menos) e com muitos subterfúgios para não abortar a missão.
Esta é também uma manobra arriscada para a produção, como é óbvio. Especialmente depois da linearidade de Modern Warfare, a campanha de Black Ops – Cold War será, para muitos, bem mais “parada”. Há muitos momentos de tiroteios intensos, que só beneficiam do modo “Realism” de dificuldade, o tal que remove os elementos do HUD no ecrã. Mas, esta não é a vossa campanha habitual. Acho que os elementos de espionagem ou desencriptação poderão afastar muitos jogadores. A minha “veia” de Solid Snake, porém, adorou cada momento. E encontrar e jogar nas máquinas de arcada de antigos clássicos da Activision? Não tem preço.
Por outro lado, a campanha não será a preferência de muitos jogadores. Afinal, os modos online sempre foram o grande destaque de Call of Duty a longo prazo. E é mesmo nos modos competitivos que passarão mais tempo, independentemente de darem uma chance à campanha, que até nem é assim muito longa. Está de volta toda a jogabilidade competitiva que conhecem, aprimorada em vários títulos ao longo dos anos. Se são fãs de Call of Duty, não precisarão que vos dê argumentos para este modo em particular. Uma vez mais, nota-se a célebre cooperação entre os vários estúdios da série para criar algo polido, tendo também contribuído as várias Betas antes do lançamento.
Os modos clássicos estão de volta, naquele modelo rotativo que Modern Warfare tornou exemplar. Também o já conhecido Gunsmith permite criações de armas únicas, dando o devido nível de personalização. Todos os mapas de jogo são francamente exemplares em construção e disposição, algo que sempre disse nunca ter sido um problema para esta série. Em jeito de destaques, gostei bastante do modo Combined Arms, que faz de Call of Duty, em muitos aspectos, o tal “Battlefield” que queríamos ter (desculpa, DICE). Mas, o meu verdadeiro destaque vai para os combates em larga escala do modo Fireteams.
Em Fireteams temos 10 esquadrões de 4 jogadores a jogar num mapa enorme, mais ou menos como no modo Warzone. A diferença é que há objectivos focados para as equipas abordarem tacticamente e onde o trabalho em equipa é essencial. Claro que, se não jogarem com amigos, o mais provável é confiarem no matchmaking para preencher a equipa. E, convenhamos, assim sendo este modo é um pouco incerto, tal como os companheiros improvisados que encontraremos. Agora, se conseguirem reunir três amigos com a mesma mentalidade e partirem para este modo com vontade de o explorar, descobrirão algo mesmo divertido.
E ainda falta falar dos Zombies, claro. Foi a própria Treyarch que inventou esta “febre” pelos mortos-vivos no velhinho CoD: World At War. E aqui está, uma vez mais, este modo cooperativo até quatro jogadores, praticamente com a mesma premissa que os capítulos anteriores. Há algumas novidades interessantes, como a possibilidade de levar as nossas armas do modo competitivo para este modo (mas, terão na mesma de comprar armas nas paredes e apostar nos powerups) e agora é até possível chamar um helicóptero para evacuar a sessão, alarmando praticamente todos os zombies da vizinhança até o heli chegar. De resto, é mais do mesmo, um formato que, confesso, já pouco faz para inovar.
Quem tem uma PlayStation 4 ou PlayStation 5, já agora, tem um modo adicional de Zombies para jogar. Chama-se Onslaught e é um exclusivo desta plataforma durante um ano. A melhor definição para este modo é recordando o mítico “horde”, neste caso para um ou dois jogadores por sessão. Achei-o francamente repetitivo e só aqueles que gostam de descarregar magazines em desmiolados aos magotes é que talvez encontrem diversão. Haviam outros elementos que se calhar seria mais apelativos como exclusivos de uma plataforma mas, enfim, temos mais zombies…
Falando na PlayStation 5 em particular, foi a minha plataforma de análise. Devo dizer que, de um modo geral, tecnicamente o jogo é deslumbrante, especialmente nas cenas intermédias do modo de campanha. Há certos elementos que notei precisarem de algum polimento, como o facto do protagonista nunca fazer sombra no cenário, algo que nunca consegui aceitar nesta série. Também tive um bug terrível numa determinada cena lá mais para o fim, em que as sombras das personagens “dançam” perante uma luz invisível. Pequenos “soluços” de um jogo lançado recentemente, claro.
Também notei algumas questões de lag online, algo que é quase uma tradição nos jogos da Treyarch. Ainda assim, não foi tão flagrante como os problemas que encontrei na Beta e que certamente recordarão. A produção parece mesmo ter levado em conta o feedback dos participantes, reduzindo (mas não eliminando totalmente, infelizmente) os problemas de detecção de danos e as falhas de sincronismo. Notei um fenómeno peculiar, ainda assim. Muitos jogadores ainda estão na PS4 a jogar e na PS5 ficamos muitas vezes à espera que carreguem o jogo do lado deles. É algo que deverá ser mitigado em breve, consoante mais jogadores cheguem à PS5.
Por último, uma nota verdadeiramente fantástica para esta plataforma PS5. Este é um daqueles jogos que tira partido do fantástico comando DualSense, o tal que na minha análise da consola demonstrei que pode ser um “game changer” e este é um bom exemplo de como usá-lo de forma inteligente. Não só usa a fantástica vibração personalizada e a coluna de som incorporada para efeitos sonoros que ajudam na imersão, como os gatilhos adaptativos variam de tensão e reacção consoante a arma. É realmente fantástica esta experiência. Mal posso esperar que o comprovem vocês mesmos.
Veredicto
Este é mais uma excelente entrada na série Call of Duty. Era difícil superar a qualidade de Modern Warfare e, para todos os efeitos, esse continuará a ser o principal (e irónico) rival de Call of Duty: Black Ops – Cold War. Mas, a Treyarch tem os seus argumentos, dando-nos uma campanha arriscadamente única, quebrando algumas convenções mas apostando na mesma qualidade do online. Não faz nada de novo nos modos competitivos multi-jogador ou cooperativos com zombie, é certo. O que faz é dar-nos uma excelente e longa oferta de jogo, que nos vai ocupar nas próximas semanas. E, nos dias de hoje, mesmo sem guerra fria, é algo que precisamos, sem dúvida.
- ProdutoraTreyarch
- EditoraActivision
- Lançamento12 de Novembro 2020
- PlataformasPC, PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series X|S
- GéneroAcção, Shooter
Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.
Mais sobre a nossa pontuação- Elementos de acção furtiva e espionagem na campanha
- A integração do comando DualSense
- A oferta tríplice de modos
- Os óculos de Adler
- Alguns problemas de lag
- Questões de polimento na campanha
Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.