Análise – Call of Duty: Modern Warfare 2 Remastered (Campanha)
Foi lançado sem aviso prévio, mesmo assim não foi propriamente uma surpresa que a Activision preparasse uma reedição deste jogo icónico. Call of Duty: Modern Warfare 2 Remastered chega primeiro no formato de campanha e, para já, apenas na PlayStation 4.
A avaliar pelo que aconteceu com o anterior Call of Duty: Modern Warfare Remastered, este jogo seguiria a mesma linha de raciocínio. Tratar-se-ia de uma remasterização, o que significaria uma reedição do jogo original com melhorias visuais e técnicas, mantendo a história e conteúdo originais. O timing, no meu ponto de vista, é que não é o melhor. Tento lançado recentemente o reboot de sucesso Call of Duty: Modern Warfare, não só há aqui um estranho efeito cíclico na história, sendo esse mais recente capítulo uma efectiva quarta parte na história do Capitão Price, estas remasterizações podem criar alguma confusão nos jogadores. Pior, podem causar algum “fogo cruzado” na oferta multi-jogador, motivo pelo qual a editora decidiu relançar MW2 de forma faseada (primeiro esta campanha) e temporariamente numa só plataforma, a PS4.
É impossível falar de Modern Warfare 2 e não recordar toda a polémica em torno deste jogo. Polémica que não deixa de ser injusta e algo irónica, se tivermos em conta que este é um dos jogos de maior sucesso da série Call of Duty. A primeira situação controversa surgiu nos bastidores da produção do jogo. Um conflito interno entre o director da produtora Infinity Ward Jason West e o seu braço direito Vince Zampella contra a editora Activision, ditou o afastamento destes criativos e de uma boa parte da sua equipa. Estes dois vultos da história de Call of Duty acabariam por criar uma sua produtora de sucesso, uma tal de Respawn Entertainment. Por causa desta cisão, MW2 foi para muitos o fim de uma era, a melhor de toda a franquia COD, que daí em diante teria muitos altos e baixos criativos.
A outra parte da polémica, surgiu através do seu enredo. Para todos os efeitos, a história de MW2 é relativamente simples, já tantas vezes vista em filmes, séries de TV e mesmo outros jogos. Há um conjunto de heróis que tenta salvar o dia contra os vilões, sejam pessoas, organizações ou mesmo ideais distorcidos. Acontece que, num espelho com a vida real, nem sempre estes “heróis” são mesmo o cavalheiros moralistas de outros tempos. Numa missão agora tornada infame chamada “No Russian“, este jogo enveredou pelo caminho polémico do terrorismo genocida. Infelizmente, esse nível chegou mesmo a criar debate público e a causar a proibição de vendas em alguns países, mesmo depois da produtora tornar o nível facultativo ou que seja possível passá-lo sem que o jogador dispare um único tiro.
Que história é essa que leva a um inteiro nível censurado pela sociedade? Esta é a história do Capitão Price e da sua Task Force 141, um grupo de elite ao serviço da CIA que está a lidar contra os piores grupos terroristas que ameaçam a liberdade ocidental. O costume, portanto. Acontece que depois da missão de caça a Imran Zakhaev no jogo anterior, a sua morte elevou este perigoso lunático ao estatuto de mártir para a Federação Russa. E esta potência nuclear está ao rubro, a braços com uma revolução social e um desejo de “justiça” contra os “yankees”. Entra em cena Vladimir Makarov, braço direito de Zakhaev e extremista sociopata, com uma enorme sede de vingança. Este perigoso terrorista tem ideias muito concretas para despoletar terceira guerra mundial: a provocação.
E é aqui que entra o nível “No Russian“. No início da trama, acompanhamos um soldado tornado agente da CIA, Joseph Allen. O agente tem a missão de se infiltrar na célula terrorista de Makarov de modo a travá-lo. A sua missão é bem sucedida, pelos vistos, mas o seu baptismo de fogo obrigará a um sacrifício humano. Nesta missão, Makarov e o seu grupo entram no Aeroporto de Moscovo armados com metralhadoras. O objectivo é chacinar todos os passageiros e polícias que tentam sem sucesso travar o grupo. Só que o extremista Russo consegue ver além dos planos da CIA. E, afinal, o tal sacrifício humano só fica completo com uma execução em particular… que não vou revelar, obviamente.
Já devem estar a perceber porque este jogo esteve envolto tanta polémica. Contudo, o resto da história não é tão radical assim. Os eventos levam-nos para missões bem mais convencionais, muito bem orquestradas e com aquele tom cinematográfico que esta série Modern Warfare e a própria franquia Call of Duty sempre se pautou. As várias missões vão levar-nos no papel do Ranger Americano James Ramirez a proteger os EUA da invasão vingativa dos Russos, alternando com missões no papel do Britânico Gary “Roach” Sanderson, nos seus esforços ao lado do Capitão Price e do Capitão “Soap” McTavish contra os extremistas Russos. A passada é sempre rápida, com alguns combates mais intensos pausados por cenas intermédias em jeito de briefing.
Vamos viajar desde o Afeganistão à Rússia, passando pelas favelas do Rio de Janeiro no Brasil e pela capital dos EUA, Washington DC. Entre as missões mais icónicas deste jogo, está o mítico assalto a uma prisão Gulag na Rússia ou um assalto à Casa Branca devastada pelos Russos. Não faltam autênticos momentos épicos nesta história. Mas, claro que há um único momento que representa também umas das reviravoltas mais inesperadas nesta série, o momento em que percebemos que o líder da TF 141, o General Shepard não está a ser… vá lá… completamente honesto com os seus ideais. Não quero mesmo explicar como, convém jogar, obviamente. Mas, no final, irão perceber porque esta é uma das séries que mais recomendamos jogar, agora numa versão francamente melhorada.
Embora a série Call of Duty seja hoje em dia mais conhecida pelos seus viciantes modos online, foram sem dúvida estas suas campanhas que mais marcaram este género de acção na primeira pessoa. Quando tivermos acesso aos modos competitivos e cooperativos contidos nesta Remasterização, havemos de falar deles com enorme entusiasmo, sendo esses modos tão icónicos e geradores de modas, inspirando tantos outros títulos de acção. No que toca a esta campanha, porém, tirando alguns elementos que nunca gostei e que esta reedição não fez questão de mitigar, como o spawn infinito de inimigos até avançarmos no mapa, algumas das missões aqui contidas, são ainda hoje das melhores cenas de tiroteios jamais criadas num videojogo.
Não é que sejam propriamente recriações realistas de conflitos armados. Há algum foco no realismo, mas a acção não o pretende ser em todos os momentos. Contudo, há imensos detalhes na jogabilidade marcaram esta geração de jogos de acção. O salto que a imagem dá, perdendo mira, quando estamos sob fogo de supressão, o ecrã a ficar rodeado de sangue sempre que somos atingidos, as dinâmicas de uso de escudo balístico, entrar numa sala em assalto com explosivos e em câmara lenta, estas e muitas outras mecânicas que hoje são quase “garantidas” em alguns jogos, estrearam-se aqui. Felizmente, a jogabilidade está praticamente igual ao original nesta remasterização da autoria da Beenox. Há, de facto, alguns pequenos pormenores, ligeiros ajustes, só perceptíveis aos mais atentos, mas nada que tire o brilho indiscutível desta pérola da equipa original da Infinity Ward.
Assim, a novidade mais visível nesta reedição é mesmo todo o trabalho de remodelação visual. Aqui sim, nota-se uma evolução técnica de elevadíssima qualidade desde o velhote motor gráfico IW 4.0. Por coincidência, tive a oportunidade de voltar a jogar o MW2 original há umas semanas, revisitando-o no PC. Assim, foi possível notar com particular rigor as principais diferenças técnicas. Notei que esta versão que joguei na PlayStation 4 Pro, o jogo apresenta inúmeros ajustes também na iluminação e sombras, chegando mesmo a modificar o ambiente de diversas cenas. Assim, não é apenas um mero upgrade de texturas e resolução. Também houve uma remodelação de objectos e personagens, sendo notório o “upgrade” nas faces dos protagonistas.
De resto, o jogo está francamente igual ao original, desde o conceito à jogabilidade. Nota-se apenas um novo menu, na linha dos mais recentes jogos da franquia Call of Duty. Continua a contar com um fantástico casting de vozes com a contribuição do eterno Billy Murray como Capitão Price, mas também dos míticos Troy Baker (Allen), Barry Pepper (Dunn), Keith David (Sargento Foley) e, claro, incontornável Lance Henriksen como General Shepard. São as suas contribuições que enriquecem muitos dos melhores momentos em jogo, sem dúvida. E não podemos esquecer a também excelente banda sonora com a contribuição do famoso compositor Hans Zimmer.
Impressões da Campanha
No fundo, Call of Duty: Modern Warfare 2 Remastered é um trabalho dedicado de polimento, num jogo que, já nas velhinhas PS3 e X360, impressionava. O trabalho da produtora Beenox foi realmente de melhorar o jogo da Infinity Ward, elevando a qualidade a nível de texturas, modelos, efeitos visuais e optimização. O objectivo era trazer este clássico para as resoluções 4K a 60FPS e suporte HDR, sem comprometer nenhum elemento visual ou alterar a acção. O resultado é francamente positivo, num jogo que “envelhece” muito bem e mostra de forma exemplar a visão original deste clássico de culto. Agora, só precisamos dos modos online para o confirmar como um excelente regresso.
(O veredicto final e os “prós” e “contras” serão publicados quando recebermos o restante do jogo. Isso deverá acontecer no final de Abril de 2020 ou próximo).
- ProdutoraBeenox / Infinity Ward
- EditoraActivision
- Lançamento31 de Março 2020
- PlataformasPS4 Pro
- GéneroAcção
Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.
Mais sobre a nossa pontuaçãoEsta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.