Análise – Catherine (Actualização: “Full Body”)
[Actualização Catherine: Full Body]
Oito anos desde o seu lançamento na PS3, Catherine: Full Body é como um renascimento do jogo na PlayStation 4, trazendo algumas novidades para o tornar a edição definitiva deste clássico de culto da produtora Atlus.
Mas, mais que vos falar novamente do que foi o original, remasterizado é certo, mas ainda assim o mesmo jogo, vamos falar das diferenças desta nova versão. Se não conhecem este título, peço que (re)leiam a análise original em baixo, também de uma remasterização “Catherine: Classic”, nesse caso para PC. Nela falo da história, da jogabilidade e do que achei do jogo em si. Porque este jogo é virtualmente idêntico, não removendo o conteúdo original mas adicionando novos elementos, depois de se inteirarem do que é o jogo original em baixo, voltem cá acima para tomar um copo de vinho.
Não fui eu que fiz esta analogia com vinho. Foi o próprio jogo, neste caso na companhia de Trisha a apresentadora do programa fictício, Golden Playhouse. O termo “full body” é uma classificação de um tipo de vinho, que por cá é conhecido por “encorpado”. Entende-se por “vinho encorpado” como sendo, cito, “um vinho potente, com maior concentração de compostos (…) dá a sensação de ser mastigável e aveludado, com um sabor que tem maior duração na boca.” (Tintos&Tantos) Não podia inventar esta frase tão peculiar e quase filosófica, como devem calcular. Curiosamente, é uma boa analogia desta reedição do jogo.
No rigor, Full Body é uma revisita da história, condensando mais elementos, linhas de diálogo e outras adições. Por outras palavras, uma espécie de “versão alongada” ou “director’s cut” do mesmíssimo clássico de 2012. Se é “mastigável e aveludado“, duvido um pouco. Mas que tem “maior duração na boca” disso não há qualquer dúvida, nem que seja pela extensão provocada pelos novos elementos de história presentes. Entendam que esta versão tem algo mais para nos dar que a da análise original em baixo, entre o serviço que faz aos fãs, a tomada de novos rumos na história original e a adição de elementos adicionais para justificar o seu regresso nesta geração. Resta saber se cativa realmente.
Como devem imaginar, o principal elemento desta reedição é a revisão do visual do jogo, para tomar partido das capacidades da PlayStation 4. Mas, já lá vamos, porque há mais elementos a ter em conta. Para começar, temos uma nova personagem, Rin, que se insere logo nos primeiros instantes. Trata-se de uma jovem de cabelo rosa que Vincent salva do que aparenta ser um gigante opressor. Confesso que Rin me deixou confuso quanto ao seu propósito. A sua amnésia, aliada à sua ingenuidade e infantilidade, cria um contraste enorme com as duas amantes originais… Isto cria uma complexa ramificação emocional ainda mais estranha no enredo. Como se Vincent precisasse de mais complicações na vida.
Sim, Rin é o novo vértice no triângulo amoroso… um quadrado amoroso? O que significa que terá um papel diferente da possessiva Katherine ou da impetuosa Catherine. Uma vez mais, a forma como nos relacionamos com qualquer uma destas personagens (e outras), depende muito das nossas escolhas, pelo que Rin pode muito bem ter um papel mais subjectivo na vossa passagem pelo jogo. No final, achei que a personagem não adiantou muito ao jogo em si, mas entendi a “alternativa” dada a Vincent. Mesmo que a pequena jovem de cabelo rosa me perturbasse um pouco pela sua fragilidade e… idade. Felizmente, lá mais para frente, verão que não é uma menina inocente e abusada por um homem de 32 anos. Mas, a revelação de quem realmente é, não é menos… vá lá… polémica, ficam avisados.
Com Rin, temos também novas cenas intermédias, diálogos apropriados e, claro, cinco novos finais alternativos, acrescentando mais uma a duas horas de jogo, dependendo da vossa prestação, sobretudo nas infames torres de pesadelos. O que mais gostei de ver é que temos uma nova opção de dificuldade, chamada “Safety”. Com esta opção, os infames puzzles passam para “notas de rodapé”, removendo o cronómetro, alguns perigos e até os podemos passar de forma automática. Dado o interesse em repetir o jogo por causa das novas opções e fins, ficar preso num puzzle não me apelava muito. Confesso que optei por este modo umas quantas vezes só para continuar a história. Mas, atenção masoquistas, os modos de dificuldade tradicionais mantém-se, não se preocupem.
Também podem jogar os modos alternativos além da história principal, abordando as torres de puzzles, até mesmo em modos competitivos. Podem optar pelo modo Original em que jogam os puzzles na ordem e cadência clássicas ou o modo Arrange que introduz novas mecânicas para vos desafiar. Ao todo, temos cerca de 500 puzzles, o dobro do jogo original, incluindo uma nova versão dos mini-jogos Rapunzel e dos modos Babel e Colosseum, estes com possibilidade de jogar online com outros jogadores, tendo até a opção “Ranked”. E regalem-se quando o jogo vos mostra as estatísticas da vossa prestação perante jogadores de todo o mundo. Catherine competitiva é algo que não esperava.
Se na análise em baixo já fui bastante extensivo a explicar que este jogo sempre foi uma excelente apresentação visual da Atlus, na PlayStation 4 esta avaliação não é diferente. Full Body também aproveita as maiores resoluções e capacidades de processamento da PS4 para nos trazer um jogo perfeitamente “encaixado” nesta geração. Não há muito a dizer contra esta remasterização, como também não houve em Catherine: Classic no PC. O jogo também não é assim tão exigente com a sua arte Manga em 2D e 3D, que pudesse ressentir-se das maiores resoluções e qualidade de modelos e texturas. Ainda assim, é visualmente apurado, como um bom vinho amadurecido (piada inevitável).
Resta-me apenas avaliar algo que nem costumo abordar muito: o valor desta reedição. Como jogo de culto, Catherine é facilmente recomendável, sobretudo aos amantes de puzzles, da Manga ou de histórias que dão que pensar. Não há dúvida que o Japão é fértil nesta oferta e a Atlus é das melhores a produzir este género de jogos. Também não há dúvida que esta geração precisa destes títulos “cerebrais”, pelo que uma reedição, com mais horas de jogo, mais conteúdo e modos offline e online, opção de vozes originais japonesas ou traduzidas, tudo devidamente embrulhado num visual revisto, tem imenso valor, sobretudo para quem não o conhece. Agora, pagar 59,99€ pelo que, para todos os efeitos, é uma remasterização de um título com 8 anos, parece algo demais, não SEGA?
Veredicto de Catherine: Full Body
Será (esperamos) a edição definitiva deste grande clássico de culto, pelo que só posso recomendar Catherine: Full Body na PlayStation 4, como facilmente recomendei Catherine: Classic no PC (em baixo). Tem muito para oferecer em conteúdo, até mesmo para os veteranos que já o conheciam, graças a uma nova personagem exclusiva e algumas novidades nos modos de jogo. Agora, é algo difícil dizer-vos que paguem o preço total por esta reedição. Ou são grandes fãs do original e querem-no já (ontem) na PS4 ou é complicado justificar o custo. Mas, mesmo que esperem por uma redução, não o percam.
[Análise “Catherine: Classic” de 17 de Janeiro de 2019]
Dizer que os títulos que nos chegam do Japão são estranhos é já um eufemismo. A produtora Atlus até já nos trouxe grandes êxitos, mas é normal que este igualmente estranho jogo vos tenha passado despercebido. Catherine Classic está aí para corrigir isso.
Para todos os efeitos, Catherine Classic é mesmo isso, um clássico, agora reeditado na versão PC com todo o conteúdo do jogo original, lançado em 2012 para a PlayStation 3 e Xbox 360. Na altura, muito possivelmente não o notaram. Este até foi um título bem recebido pela crítica mas a sua fama de “difícil” e jogabilidade pouco convencional afastou muitos jogadores. Ainda assim, é um jogo de culto, com uma base de fãs fiel e que esperava ansiosamente que a SEGA reeditasse o jogo nesta geração. Esta é a primeira aposta, fazendo-o chegar finalmente ao PC. A PlayStation 4 e a PlayStation Vita também haverão de receber uma autêntica remasterização (Edição Full Body), com direito a novo conteúdo e tudo. Por agora, vamos mergulhar novamente neste clássico, agora com teclado e rato.
É algo complicado explicar-vos o conteúdo deste jogo. No rigor, quando nos passa o controlo para as mãos, é um jogo de puzzles. Contudo, descrever este título desta forma é injusto. Como pano de fundo, vamos acompanhar Vincent, um pobre rapaz preso entre uma relação amorosa com a sua namorada Katherine e uma nova paixão por outra rapariga, chamada Catherine… com quem namora… sem saber… Pela sua indecisão, surgem estranhos sonhos em que, ainda mais estranhos, monstros o perseguem, enquanto escala uma improvável torre. O pior desta sua história, é que na vida real estão a acontecer casos de jovens da sua idade que aparecem mortos na cama, como se tivessem morrido a dormir.
Esta história tem imensos desenvolvimentos e personagens à mistura e não posso adiantar muito mais que isto. Na maior parte das vezes, tudo é contado como um simples filme de animação manga, no que parece ser um programa de televisão chamado “Golden Playhouse”. Tirando umas quantas interacções e decisões pontuais a meio da trama, o grosso da nossa participação está nas tais torres dos sonhos. De um modo geral, conseguimos apreciar a relação metafórica entre personagens e aberrações nos sonhos de Vincent, numa narrativa que… bom, dá que pensar. Mesmo a construção de personagens e eventos, tão remanescente da série Persona, dá-nos vontade de jogar mais para saber o que se passa a seguir.
Mas, a dada altura, só podemos concluir que estas cenas intermédias extensas e soberbamente animadas, com contribuições de excelentes actores como Troy Baker, só existem para nos entreter da acção que se passa entre as tais infames torres. Como devem imaginar, apesar dos muitos momentos genuinamente cómicos, é impossível não ter uns quantos sorrisos “amarelos” nalgumas opções criativas da produção. Um bom exemplo, são as omnipresentes ovelhas. Representam outros jovens com o mesmo problema de Vincent e que precisam subir a torre para fugir dos seus monstros, uma mensagem evidente (mais ou menos) num animalismo e uma metáfora que daria para vários artigos sucessivos.
Só não sei se a Atlus gostaria que aprofundássemos muito a questão, sob pena de deixarmos de analisar um jogo e passarmos a análise a toda uma sociedade, sobretudo a Nipónica. Há elementos que, francamente, são algo complicados de “digerir”, sejam eles de profunda reflexão, como o compromisso e a traição numa relação (o mais óbvio), de pura comédia, arrancando alguns risos, mas também de profunda… estupidez. Não quero estragar-vos a surpresa, até porque haverão reacções diferentes em cada jogador. Reitero que é um jogo estranho e que vos pode arrebatar ou repelir com igual probabilidade. Como, aliás, acontece com muitos dos jogos vindos da Terra do Sol Nascente.
Falando do que é jogo propriamente dito, as torres são compostas por blocos que Vincent tem de subir até chegar a uma porta de saída. Os blocos podem ser fixos ou móveis, mas também podem esconder armadilhas e outras trapaças para nos criar dificuldade. Tendo em conta que temos um tempo limite para ascender ao topo e que a dificuldade vai aumentando exponencialmente, é bem possível que bem cedo se apercebam da tal dificuldade pela qual o jogo foi tão criticado. Para ajudar, temos de encontrar ou “comprar” alguns extras. Ainda assim, há momentos verdadeiramente frustrantes, como “becos sem saída”. Contudo, nunca achei que fosse assim tão difícil como dizem. Escolham um nível de dificuldade baixo se o acharem demasiado desafiante.
Quando acabarem a história, o que vos levará umas 14 horas, aproximadamente, talvez ainda tenham vontade de começar tudo de novo para verem outros dos finais alternativos. E ainda podem contar com dois outros modos de jogo para vos distrair. Babel é uma espécie de modo “desafio”, que vos permite repetir torres para conseguirem obter melhores tempos e pontuações. Já Colosseum coloca-nos a subir torres contra adversários em constante batalha. Por esta altura, ou amam, ou odeiam a jogabilidade deste jogo. O que, obviamente, ditará a longevidade destes modos adicionais.
Quanto ao seu aspecto, já mencionei uma inspiração na série Persona na construção de personagens e eventos, mas esta inspiração vai mais longe. É bem notório que Atlus tirou alguns elementos dessa sua outra série de sucesso no que toca ao visual. O design geral das personagens, os efeitos visuais, os menus, há muitos elementos familiares por aqui. Também junta animação 2D estilo manga com elementos 3D, um estilo muito próprio que a Atlus aperfeiçoou. Só lhe falta mesmo os elementos RPG e uma jogabilidade mais linear para o chamar de “uma espécie de Persona”. Não é, felizmente, fazendo deste título algo muito único e que justifica bem a quantidade de fãs à sua volta.
Notem que há muitos elementos visuais que parecem datados, afinal esta não é uma remasterização mas uma reedição para PC. Mesmo assim, há muitas melhorias nesta versão em particular. Este é um port directo da versão de 2012 para as consolas, com as melhorias expectáveis para tirar proveito do PC. Além do óbvio suporte para teclado e rato (também podem optar por um comando convencional para jogar), contem com resoluções mais altas (até 4K), FPS desbloqueados e até a opção de escolha nas vozes das personagens entre a versão dobrada ou a original em Japonês. De resto, nada foi alterado.
Veredicto
Há dois veredictos a fazer aqui. Primeiro, o do jogo propriamente dito, o original de 2012 agora reeditado no PC. Catherine é um jogo complicado de avaliar, entre a direcção artística fantástica e uma jogabilidade, no mínimo, estranha. Os puzzles tornam-se meio complicados lá mais para meio, frustrando os menos pacientes. A recompensa pela persistência é uma história rocambolesca, com elementos adultos e algo profundos, que justificam muito bem o facto de ser um jogo de culto. A outra análise é ao port feito para o PC. Este é um clássico intacto, devidamente transportado para os PCs modernos, com as melhorias esperadas. Não vos vai dar nada de novo se já jogaram o original mas, enquanto não chega a remasterização, é a melhor oportunidade de conhecer este clássico.
- ProdutoraAtlus
- EditoraSEGA
- Lançamento10 de Janeiro 2019
- PlataformasPC
- GéneroAventura Gráfica, Puzzle
Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.
Mais sobre a nossa pontuação- Os diversos momentos cómicos
- A ambiguidade da mensagem
- Jogabilidade desafiante...
- ... por vezes exageradamente difícil
- Ainda não é a remasterização prometida
Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.