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Análise – Conan Exiles

Há cerca de dois anos, iniciámos um périplo interessante. Nus, sem saber bem o que fazer, o próprio Conan, o Bárbaro salvou-nos da morte. Agora, que temos a sua versão final, Conan Exiles está maior e mais ambicioso. E lá voltámos a sair do deserto para esta análise.

Ao longo destes anos todos a jogar títulos de sobrevivência e construção, já há poucas coisas que nos surpreendam. Indiscutivelmente, Conan Exiles esteve ali ombro-a-ombro com outros grandes sucessos do género, como o famoso Ark: Survival Evolved ou Rust. Uns mais que outros, plagiaram-se, evoluíram de braço dado, ajudando-se mutuamente, praticamente. Cada novidade, apareceu, de uma forma ou de outra, no jogo rival pouco depois. Contudo, nas suas fases de Acesso Antecipado e Betas, Conan Exiles tinha o seu quê de único. Já desde o nosso primeiro exílio que nos apercebemos do seu tom mais visceral e algo incorrecto. Nudez total, chacinas brutais com desmembramento, escravidão… é melhor pegarem na espada…

A premissa deste jogo é simples. Como criminosos, fomos condenados a morrer no deserto, pregados numa cruz. Só que, por qualquer motivo, o próprio Conan, o Bárbaro, figura mítica imortalizada nos tempos idos do cinema dos anos 80 por Arnold Schwarzenegger, decide poupar-nos da morte e dar-nos um propósito: viver! Claro que não temos nada que chamemos nosso e nem roupa para nos cobrir. Mas, o Bárbaro dá a ordem e nós obedecemos, nem que seja porque está armado. Saindo do deserto ao Sul, chegamos rapidamente a um oásis, onde percebemos várias coisas. Primeiro, não estamos sós e há mais exilados como nós. Segundo, a maioria deles quer-nos matar. E, terceiro, também há mais animais e outros perigos que nos querem matar.

E a morte é uma constante neste jogo. A fome, a sede, as feridas por curar, as quedas, os envenenamentos… até mesmo o calor e o frio fazem toda a tarefa mais ou menos trivial, como atravessar o deserto, uma missão complicada. Pelo caminho, apercebemo-nos que podemos apanhar pedras, ramos, folhas e outros itens para, primeiro vestir-nos e depois fazermos armas e utensílios extremamente básicos. Depois, há que procurar abrigo para que não sejamos (tão) atacados e para nos protegermos das infames tempestades de areia que nos surpreendem nos piores momentos. Há uma certa sensação de triunfo, quando fazemos o primeiro machado e a primeira tocha. Mas, ao olharmos para a gigante fortaleza do vizinho, percebemos que ainda temos muito para trilhar.

E trilhar muito foi o que este jogo fez. Convido-vos a reler a nossa antevisão do jogo no acesso antecipado, porque, de facto, explico tudo o que fiz e o que este jogo oferece. Todas as novidades posteriores, incluindo os novos territórios que surgiram, só vieram expandir o conceito do jogo. O conceito continua igual nesta fase em que é lançado, mas está francamente maior em escala e nitidamente mais ambicioso no visual e na interacção. Conan Exiles é um bom exemplo de como um jogo pode evoluir até ao produto final, sem esquecer as suas raízes. E, talvez por isso, foi um prazer regressar à acção, constatando que os servidores estão a fervilhar de actividade.

Mas, nem tudo é positivo. Já irei falar das novidades desde o acesso antecipado que, de facto, nos dão muitos motivos para jogar este MMO de sobrevivência. Mas, também tenho de assinalar que mesmo após tanto tempo, não há um tutorial decente para os recém-chegados. Tratando-se de um jogo de sobrevivência, até é interessante “emburrarmos” para descobrir por nós próprios o que fazer. Mas, infelizmente, é muito normal estancarmos a meio caminho porque não sabemos bem o que fazer a seguir, por exemplo ao nível dos ingredientes de crafting, nem sempre muito óbvios. É uma oferta incrivelmente vasta se quiserem explorar tudo o que oferece mas não é propriamente brilhante a mostrar-nos o caminho.

Contudo, o que me deixou mais apreensivo foi constatar que, a dada altura, a produtora Funcom deixou de suportar servidores personalizados gratuitos, como era possível no Early Access via Steam. Ainda podemos criar o nosso servidor privado, mas este tem de ser dedicado e somos obrigados a alugar slots de servidores pagos. A alternativa será entrar nas centenas de servidores oficiais que já estão implementados, sob pena de não conseguirmos gerir quem lá está e, pior, que um dia os desliguem e percamos todo o progresso.

Quem sabe a pior questão nestes servidores, é que são francamente instáveis. Não dá para perceber se o problema está no alojamento da sessão ou na performance do jogo em si. O que é certo é que muitas vezes há problemas de lag assinalável e muitas falhas de sincronismo. Nos servidores personalizados locais (há alguns em Portugal) isto é menos notório, mas o lag é quase uma constante. O que é inteiramente inaceitável em servidores pagos, como devem calcular. Não parecem ser problemas com o motor gráfico, honestamente. Parecem mesmo questões com o netcode ou algo semelhante. Talvez tudo seja resolvido em breve mas este não foi um arranque brilhante.

Sim, podem jogar exclusivamente sozinhos, de facto. O jogo possui um modo a solo que não obriga a alugar servidores. Contudo, este jogo não foi criado para esse objectivo. Lutar por ideais comuns num clã, construindo o nosso império em sociedade, lutar lado a lado com amigos, é onde reside a verdadeira essência destes títulos. Até porque, muito do que aprendemos neste jogo, vem da experiência transmitida por outros jogadores, em chat escrito ou por voz e na partilha de conquistas e desafios. Limitar os servidores com pagamentos a terceiros ou pela criação de sessões em máquinas dedicadas é francamente limitador, diria.

Para experimentar esta nova versão, evitei entrar os servidores mais populares. Mesmo assim, notei que o espírito de entre-ajuda dos jogadores é de assinalar. Penso que não encontrei uma comunidade tão amistosa como neste jogo, ajudando quem precisa e sendo bastante tolerante. Claro que há excepções, sobretudo nos servidores com PvP activo, mas não me recordo de alguma situação realmente injusta que me levasse a mudar de opinião. Roubos, alguns ataques inusitados e mesmo assaltos à nossa casa, tudo faz parte da brutalidade latente e constante deste jogo, afinal. Se não querem este tipo de interacção, escolham os servidores PvE, onde estarão a salvo morrem menos.

Então e o que há de novo na jogabilidade desde o último exílio? Muita coisa. Na verdade, há inúmeras pequenas diferenças que não consigo sequer enumerar. São pequenos ajustes no crafting, na velocidade de progressão, na abundância de itens e na sua variedade. Também foram adicionadas inúmeras novas actividades, como ataques e sítios a fortalezas, novos animais gigantes, novas quests com loot e até mesmo monstros destruidores. Depois há todo um trabalho de optimização profunda no motor gráfico Unreal que cria um jogo muito interessante visualmente. Desde os desertos ao Sul até ao Norte gelado, há muitos ecossistemas para descobrir, fazendo-nos sentir autênticos exploradores.

Também houve imensos ajustes na dificuldade, tornando-se francamente mais acessível no início para os novatos, mas tornando-se implacável consoante evoluímos e exploramos o mapa. Logicamente, as zonas começam a ficar mais difíceis com a progressão para Norte. Gostei dos novos templos e dungeons para descobrir, dando-nos um desafio no combate e permitindo obter loot interessante em cada local. Também há novos eventos públicos de larga escala para enfrentar. Num deles assisti a um monstro gigante a invadir uma fortaleza e a destruir tudo e todos. Nem por sombras me envolvi na minha fraca armadura e espada de ferro. Mas, foi fantástico ver o trabalho de equipa de um clã avançado a salvar o dia.

Antes de terminar, tenho de abordar a questão de como este jogo pega numa espada e decapita impiedosamente o que é chamado de “politicamente correcto”. Como devem saber, o jogo acabou algo censurado nas consolas, removendo a controversa nudez e com alguns elementos, digamos, polidos até à versão final. Isso não demoveu a produção de manter o espírito bárbaro do jogo, bem paralelo aos filmes de Arnie, em tronco-nu e de espadalhão em riste. A nudez até é rara, muitas vezes em espírito de gozo e tantas outras vezes casual. Também a violência latente acaba por ser banal se compararmos com outros jogos bem mais viscerais (literalmente). E não sejamos tão puritanos.

Uma vez mais, teríamos aquela conversa recorrente de que Conan Exiles possui uma faixa etária bem clara, descrita nas caixas do jogo e nas classificações online. Não vou dissertar sobre esta questão outra vez. Já tanto foi dito sobre isto. Sim, há genitais ao vento, sim, há braços decepados que podemos usar como arma, sim, há vermes para comer, sim, podemos escravizar NPCs… É por isso que o jogo tem uma classificação PEGI tão alta. De facto, para mim, é esta a sua marca única que faz o jogo tão distinto no seu género. É visceral e não pede desculpa por isso. Ou ouviram alguma vez Conan, o original, a pedir desculpa pela espadeirada mortal nos meliantes?

Veredicto

Conan Exiles chega à versão final com uma forte afirmação de qualidade. De um modo geral, desde o primeiro momento que o testámos, evoluiu visualmente e expandiu a sua experiência de uma forma brilhante. Continua difícil de dominar mas refinou a sua dificuldade para quem se inicia. Podia, de facto ser mais claro nos objectivos e nas explicações. Contudo, na descoberta reside o seu “charme”. Tenho pena que os servidores online privados não sejam mais fáceis de obter e também tenho pena que a sua performance online seja instável. Mas, de um modo geral, se gostam deste género, este será dos melhores jogos que vão experimentar.

  • ProdutoraFuncom
  • EditoraFuncom / Deep Silver
  • Lançamento8 de Maio 2018
  • PlataformasPC, PS4, Xbox One
  • GéneroAventura, Survival
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Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Fim dos servidores privados gratuitos
  • Performance instável online
  • Alguma falta de rumo e explicações

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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