ContrabandPolice (hdw)

Análise – Contraband Police

Há um certo misticismo em torno do que foi a opressão do regime Soviético ou dos países que ainda insistem nessa doutrina. Contraband Police revitaliza a curiosidade pela burocracia e conspirações dessa realidade.

Se vos falar de um jogo em que somos um polícia que opera numa fronteira e lida com a entrada no país de turistas, trabalhadores e contrabandistas, que precisa consultar os seus documentos e compará-los com as regras e procedimentos do regime e ainda enfrentar uma conspiração de golpistas e um orçamento apertado… recordam-se obviamente do fenómeno Papers, Please. Este outro título da Crazy Rocks é claramente inspirado pelo jogo de sucesso de Lucas Pope mas adiciona-lhe vários pormenores, alguns deles para seu próprio prejuízo.

Já me conhecem, adoro simulações. São uma espécie de role play, ao mesmo tempo que nos colocam “lá” no centro da acção. É certo que nem todas as simulações são realistas ou pretendem ser profundas. É o caso desta, que felizmente não se chama “border patrol simulator” ou algo do género. A ideia é vivermos os dias turbulentos de um polícia de fronteira num país fictício ainda debaixo de um regime comunista de contornos Soviéticos. E é claro que vamos lidar com uma trama pelo meio.

Tal como no jogo em que se inspira, vamos também receber visitantes deste país para aprovar (ou não) a sua entrada. Inicialmente, o tutorial é brando nos procedimentos, dando-nos apenas os documentos para verificar de acordo com o seu design, discrepâncias de nome, fotografia ou validade, além da óbvia falta de documentação. Há contudo, uma variável notória que são os veículos. Aqui a fronteira é uma estrada e será preciso também inspeccionar cada carro para comparar com uma lista de carga.

Contudo, os contrabandistas são sabidos. Temos de usar uma luz ultravioleta (luz negra) para verificar se há algo mais escondido nos bandos ou até nos pneus dos carros. Temos também de verificar pacotes em busca de contrabando de droga, tabaco ou outros itens. As coisas vão-se complicando porque também teremos de comparar listas de carga e itens proibidos, não propriamente contrabando. E não podem esquecer as directrizes do governo quanto a profissões proibidas ou países embargados.

Eventualmente, as coisas vão-se complicando ainda mais, quando temos notas de suspeitos que devem ser presos de imediato, cujas pistas podem ser tão vagas como “três pneus furados no carro”. Por outro lado, as nossas acções bem sucedidas geram ganhos financeiros, enquanto que as falhas geram perdas. Felizmente, aqui não temos propriamente um temporizador para nos criar tensão na duração de cada inspecção. Contudo, há outras formas de criar pressão no jogador, já lá vamos.

De um modo geral, a jogabilidade é francamente simples e o jogo é até muito tolerante, especialmente no início. É a nossa atenção aos detalhes que fará a diferença e os jogadores mais astutos não encontrarão grandes dificuldades em entrar no ritmo. É, contudo, quando as variáveis começam a empilhar-se que o jogo se revela algo convoluto. A dada altura, são tantos os parâmetros para monitorizar que ficamos exacerbados com uma só inspecção. Os carros amontoam-se e ainda nem lidámos com o primeiro.

E ainda temos de pensar naquilo que o jogo nos manda para cima no que toca à moral. Em vários momentos podemos decidir ser fiéis ao regime ou receber subornos, ignorar ordens, participar em acções de contrabando ou até apoiar os rebeldes. A ideia é sempre ganhar dinheiro ou decidir a bem do que é razoável, não propriamente o que o regime espera de nós. Infelizmente, o tom é um pouco vago e os riscos são francamente leves. Mas, arriscam-se serem presos se forem longe demais.

Tudo o que podemos usar para inspeccionar os bens tem um desgaste. A faca para abrir embrulhos, o pé-de-cabra para abrir contentores ou o machado para esburacar caixas. Pelo que temos de constantemente andar a comprar utensílios ou corremos o risco de não conseguir inspeccionar a carga ou os próprios veículos. O que é, para mim, um elemento negativo na jogabilidade é que o desgaste destas ferramentas é demasiado rápido, criando frustração por perder uma faca em apenas três inspecções.

É que, para comprarmos mais deste equipamento, temos de fazer quilómetros para ir até uma loja e comprar uma mísera faca que custa uma autêntica fortuna. Podemos sempre chamar a carrinha do vendedor ao posto fronteiriço mas esse “domicílio” também tem um preço. Por outro lado, não entendo porque não posso usar um pé-de-cabra para abrir caixas de madeira ou furar fardos. Penso que a produção só quis introduzir mais um elemento de dificuldade que acho desnecessário.

Com toda esta actividade, ainda teremos de fazer com que o posto fronteiriço evolua. Não só podemos fazer melhorias no espaço, como aumentar o armazém para armazenar utensílios ou contrabando ou também alargar a prisão para albergar mais meliantes. É até possível melhorar os carros de polícia ou o equipamento dos demais polícias e contratar novos agentes, sendo essencial que tenhamos um vigilante da prisão ou um sentinela numa torre de vigia.

Isto, porque o posto está constantemente a ser atacado pelos bandidos e revoltosos. Convenhamos que este país é francamente opressor e há uma rebelião no horizonte. Aliás, muitas das directrizes que recebemos vão de encontro à prisão de suspeitos de uma conspiração a lume. Os ataques acontecem à noite no posto mas também podemos ser atacados na estrada em emboscadas. No primeiro caso, temos de equipar bem os guardas para que defendam o posto, no segundo… estamos por nossa conta.

Escusado será dizer que os tiroteios são, no mínimo, cumpridores. Não vão destronar algum “call of duty” no campo dos “shooters” na primeira pessoa. Como as munições são caras, o mais provável é que evitemos os tiros sempre que possível, só mesmo os inevitáveis. Quando vamos na estrada, por exemplo, se calhar é melhor mesmo acelerar se acontecer uma emboscada, porque não só vamos ficar rodeados muito depressa, como não vamos ter muitas munições para rechaçar esse ataque.

Contudo, é muito provável que raramente queiram ir para a estrada. É importante, de facto, ir à loja comprar items, entregar prisioneiros para trabalhos forçados (ei, regime Comunista) ou entregar contrabando no comando da Polícia, não é muito evitável, apenas esporádico. Contudo, há também uma série de “missões” paralelas de investigação, apreensão, perseguição ou ainda de cumprimento de mandatos. Mas, nenhum destes modos é interessante e até demovem um pouco a nossa vontade.

O cerne da oferta do jogo é mesmo as inspecções e a mecânica de aceitar ou rejeitar visitantes na fronteira. É isso que o jogo realmente promove no rigor e que, de certa forma, compõe a oferta mais aliciante do jogo. Tudo o resto ao redor desta lógica é uma clara distracção que quebra imenso o ritmo de jogo. Tudo bem, são actividades que complementam a acção, de outra forma tão repetitiva e até dão dinheiro extra para a gestão do posto. Mas não são actividade muito aprimoradas.

Para começar, a condução é bastante obtusa, por vezes robótica. Por outro lado, as estradas são surrealmente labirínticas e, se quiserem consultar o mapa, este ocupa todo o ecrã. Tudo em jogo é bastante longe e chegar ao destino é incerto com as emboscadas. Só mesmo entregar contrabando e prisioneiros é verdadeiramente obrigatório para não enchermos o posto. As demais missões são maioritariamente opcionais e dei por mim a rejeitá-las mais frequentemente que a aceitá-las.

No plano técnico, como seria de esperar de um pequeno Indie, não esperem um grande colosso técnico. Em muitas ocasiões, uma boa parte dos modelos, animações e efeitos visuais são algo arcaicos, sem nunca surpreenderem realmente (não se deixem enganar pelo trailer de lançamento acima). Também a física em jogo ou não é nada de especial, encontrando imensas situações em que os carros “saltam” de obstáculos ou encontramos bloqueios de objectos a andar pelos cenários.

Ainda assim, devo assinalar que o jogo está muito bem optimizado e é relativamente leve para o hardware recomendado, mesmo com as configurações visuais no máximo. E, apesar de ter perdido um completo savegame, descartando vários minutos de progresso sem explicação, o jogo mostrou-se muito estável. Enfim, só tive de passar o tutorial uma segunda vez, nada grave. Noutros lados, há uns quantos raros bugs, na sua maioria com a falível Inteligência Artificial extremamente básica.

Veredicto

Se o vosso sonho era trabalhar numa fronteira de um país profundamente Comunista, podendo decidir a vida de várias pessoas, ao mesmo tempo que decidem os destinos políticos de uma nação, Contraband Police é o jogo ideal para vocês. Não esconde a sua grande influência em Papers, Please, dando-lhe outra dimensão e ambição. A sua jogabilidade base é igualmente desafiante, com uma curva de dificuldade só mesmo ultrapassável pelos mais meticulosos. É nas suas missões paralelas, na condução e nos tiroteios que falha realmente, também sem nunca deslumbrar tecnicamente.

  • ProdutoraCrazy Rocks
  • EditoraPlayWay SA
  • Lançamento8 de Março 2023
  • PlataformasPC
  • GéneroAcção, Gestão
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Este título ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Este título ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Missões secundárias são fastidiosas
  • Condução e Tiroteios são básicos

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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