Análise – Crisis Core: Final Fantasy VII – Reunion
Tal como Final Fantasy VII é um jogo muito peculiar na franquia da Square Enix, também Crisis Core foi um título singular em consequência. E também este foi alvo de uma reedição modernizada.
Ao contrário do remake de FF7, porém, esta é uma Remasterização no seu pleno sentido. Não conta com a mesma revisão profunda na história de Zack Fair e Cloud Strife. A verdadeira revisão é no visual, como é óbvio e também em alguns aspectos da jogabilidade. Os puristas e os fãs do título original de 2008 para a saudosa PlayStation Portable, porém, não ficarão descontentes com algum retratamento injusto ou alteração nos eventos. Para muitos, desde que não toquem na história, está tudo bem. Mas, numa reedição de um jogo de mais uma década, por vezes, é preciso arriscar.
O intuito de Crisis Core é contar a história que antecede a famosa rivalidade entre Cloud e Sephiroth, o eterno “duelo” teve de começar em algum lado. É um enredo peculiar que mostra que, afinal, Cloud não é bem quem pensa ser, dando-nos a conhecer Zack que é, para todos os efeitos, o seu verdadeiro protagonista. E também mostra um lado diferente do antagonista e a sua evolução para o vilão de sedoso cabelo branco e “espadalhão” que todos conhecemos. Pelo meio, introduz-nos a um punhado de personagens igualmente interessantes, no estilo único das histórias contadas por Tetsuya Nomura e companhia.
Esta história surgiu como uma prequela de Final Fantasy VII, parte de uma enorme história maior, contada noutros títulos, como o “shooter” Dirge of Cerberus para a PlayStation 2, uns quantos jogos mobile e o filme de animação Advent Children. Foi uma excelente manobra de marketing para a Square Enix, num conceito de “meta-série” para um conto de grande envergadura. No entanto, Crisis Core ficou limitado na altura a uma só plataforma, a humilde PlayStation Portable, uma clara limitação técnica e visual que só agora pode foi realmente mitigada.
Este Crisis Core: Final Fantasy VII – Reunion é, portanto, a redenção possível para uma história que, provavelmente, passou ao lado de muita gente. É que, apesar do enorme sucesso FFVII, sem dúvida a PSP não foi uma consola tão popular como as demais PlayStation. Esta remasterização é, aliás o primeiro ingresso do jogo noutras plataformas, ao contrário do jogo-base que foi várias vezes reeditado, até no PC (sem contar com o Remake). Crisis Core esteve arredado numa gaveta até alguém decidir o que fazer com o seu legado.
Mas, 15 anos depois, o hardware deu um salto tremendo em capacidades e os jogadores também ganharam outros gostos e padrões. O título original da PSP era um RPG de acção por turnos, com muito foco na estratégia. Não é que este tipo de jogos seja invulgar nos dias que correm mas a própria SE tem outros interesses, claramente criando um padrão de acção directa nos seus jogos mais recentes. Agora, temos uma quantidade de títulos virados para o hack’n’slash, mantendo alguns elementos de estratégia e Role Play mas dados à “espadeirada”. Crisis Core não é excepção mas já lá vamos.
Curiosamente, a história de Crisis Core age aqui como uma interessante ponte entre o clássico enredo de Final Fantasy VII e o seu recente Remake que veio alterar imensas linhas de enredo e desenlaces. Quem jogou o original de 2008 não se preocupe, continuará a escutar os célebres poemas de Genesis e outros “quirks” do jogo original. Pouco foi alterado no que toca à história e como se desenrola. Quem não o jogou, encontrará aqui uma série de “explicações” para algumas decisões (e aparições) no Remake. Daí dizer que há aqui uma importante ligação entre as duas histórias.
Para os dois tipos de jogadores, os veteranos dos originais ou recém-“enamorados” pelo Remake, há também imenso serviço aos fãs, explicando o passado de personagens icónicas, sem esquecer os aspectos “silly” desta trama. Sabiam que Sephiroth era boa pessoa e que até tinha um clube de fãs que fazia questão de saber qual o champô que ele usa? Sim, Crisis Core tem este tipo de detalhes absurdamente irrelevantes, numa era em que os jogos entretinham os fãs desta forma, com pequenos “nadas”.
Se a produção não quis mexer nestes detalhes, noutros “mandou-se de cabeça”. O que salta à vista é o visual, claro, mas o aspecto mais diferenciador desta remasterização é a sua jogabilidade. O combate é agora em tempo real, abandonando por completo a lógica por turnos mas mantendo alguma estratégia no uso de poderes, ataques e habilidades. A inspiração é claramente nos jogos recentes de Final Fantasy e outros JRPGs no mesmo género, “emprestando” lógicas e dinâmicas de títulos de combate directo. Para mim, funciona bem e não é tão enfadonho.
A roleta que roda constantemente no canto, gera alguma aleatoriedade à acção e o mesmo acontece com as materias, buffs e limit breaks, típicos desta franquia. E há muito para aprender na sua dinâmica, sem dúvida. Mas, como acontece em tantos jogos que puxam pela acção acima de tudo, temos momentos de caos que convidam ao “spam” de teclas, aliada a uma latente repetição que não agradará a todos, especialmente nas missões secundárias. A certa altura, alguns já estarão fartos de ouvir “Activate Combat Mode” e suspiram por um botão para saltar a sequência.
Visualmente, esta remasterização tira claro proveito do novo hardware, especialmente na versão testei na PlayStation 5… mas… Este trabalho de restauro da Tose Co. Ltd. é um bom trabalho de polimento, sem dúvida, com bastantes novidades e reconstrução de conceitos visuais e menus. Apenas não esperem milagres. Infelizmente, a falível construção de níveis e a sua francamente cansativa linearidade ainda cá estão. Podem sempre explorar o cenário, mas os caminhos são praticamente “em frente” com poucas excepções e não existe uma real liberdade na continuidade.
Notem que é possível em jogos lineares criar alguma emoção, apesar da repetição. Contudo, a nova jogabilidade que menciono acima pedia mais diversidade e uma exploração mais ampla. Por outro lado, constatamos que os novos modelos 3D e texturas HD, estão “colados” em animações algo datadas. Enfim, é um daqueles momentos em que recordamos que esta não é uma revisão assim tão profunda. Não me entendam mal, não sendo um remake, o restauro até foi bastante longe. Contudo, lá está, agora temos outros padrões que tornam estes detalhes bastante evidentes.
Felizmente, no áudio, a Square Enix fez questão algo muito bem feito. Optou por gravar novamente todos os diálogos das personagens com os actores mais recentes, num claro objectivo de não destoar da sonoridade do Remake. Não é que os diálogos sejam mais elaborados ou menos “cheesy” como os originais, notem, nenhuma frase foi “mexida” e mantém-se tudo tal qual. No entanto, é um empenho bem vindo no som, que também aconteceu na banda-sonora reorquestrada para trazer uma sonoridade ainda mais épica e bem menos “digitalizada” como tínhamos na PSP.
Veredicto
Imprescindível para os fãs de Final Fantasy VII e Crisis Core originais e uma excelente prequela para Final Fantasy VII- Remake. Este Crisis Core: Final Fantasy VII – Reunion é uma óptima ponte para as gerações. Os veteranos gostarão das novidades na jogabilidade, no visual e no áudio, mantendo tudo o resto intacto. Os que só agora despertam para FF7 terão aqui a oportunidade de conhecer uma história (quase) perdida no tempo e que explica muita coisa do Remake, sem ter de recuar no tempo a nível de visual ou de jogabilidade. Contudo, penso que seria bem mais interessante revendo um pouco mais alguns aspectos da sua estrutura repetitiva.
- ProdutoraSquare Enix / Tose
- EditoraSquare Enix
- Lançamento13 de Dezembro 2022
- PlataformasPC, PS4, PS5, Switch, Xbox One, Xbox Series X|S
- GéneroHack and slash, Role Playing Game
Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.
Mais sobre a nossa pontuação- Trabalho profundo de restauro visual
- Cenas intermédias praticamente intactas
- Nova jogabilidade de combate linear
- Novas vozes e banda-sonora
- Mantém-se a linearidade dos mapas e missões
- O novo combate pedia outra estrutura
- Alguns elementos datados justificariam um remake
Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.