Análise – Dakar Desert Rally

Dakar Desert Rally promete reproduzir com a máxima fidelidade a mais longa prova de rali do mundo num título de mundo aberto, com veículos, equipas e pilotos licenciados. É para nós ainda mais importante, já que se trata de uma produção nacional.

Três anos depois de Dakar 18, a mesma equipa da Saber Interactive Porto (a antiga Bigmoon Entertainment) traz-nos agora um novo conceito com a promessa de nos trazer a mesma emoção da mais conhecida corrida de rali do mundo. Agora, traz-nos clima dinâmico e milhares de quilómetros de terreno em mundo aberto, que não se limita a estradas ou percursos, o que significa que não faltarão oportunidades para se perderem. Poderão participar com as equipas licenciadas e construir a vossa própria garagem com uma vasta gama de carros, motas, camiões, moto 4 e muito mais. Para jogar, temos um estilo mais arcade, como também um modo de simulação para uma experiência real. No final, ainda podem entrar online com amigos num modo multi-jogador até quatro jogadores.

Seja numa simulação exigente ou numa experiência mais arcade e imediata, a equipa trabalhou para fazer deste um título capaz de recriar as emoções da prova organizada pela Amaury Sport Organization que vai ao encontro do que cada tipo de jogador procura neste género. A pensar que nem todos gostarão do mesmo tipo de condução, a produção criou três níveis de dificuldade:

Sport, este é o modo mais casual, concorremos directamente com a IA, os waypoints são revelados ao longo do percurso de forma a ajudar a encontrar o caminho e os preços da reparação dos veículos são mais em conta. Contudo, não interpretem este modo como sendo o modo mais fácil, porque os nossos adversários são, ainda assim, agressivos e imprevisíveis.

O segundo modo é o Profissional, os waypoints deixam de estar presentes no ecrã e ficam por vossa conta para navegar e tentar chegar até eles. Para tal, têm de dar muita atenção ao vosso navegador. Como devem calcular, neste nível os adversários tornam-se ainda mais implacáveis e as reparações dos veículos danificados são obviamente mais caras. Este é, para mim o modo mais equilibrado, mesmo assim, já o que terceiro pode ser considerado impróprio para casuais.

Quando se sentirem confiantes, podem experimentar o modo Simulation, onde tudo o que já foi mencionado anteriormente é mais elevado. A infame IA é praticamente imbatível, os custos de reparações são caros e ainda ficarão mais limitados na forma como devem percorrer os waypoints, já que terão de dar mesmo uso ao road book. Este modo é tão difícil que só será desbloqueado a partir do nível 25. E notem que, para chegar até lá, vão precisar de umas boas horas de jogo. Sem dúvida, é um modo certo para os mais fanáticos da mítica prova do Dakar.

Falando dessa evolução, ao terminarem as corridas ganham pontos de experiência (XP) e, por consequência, vão subindo de nível. Esta progressão desbloqueia mais veículos para comprar e mais eventos para correr. Os Pontos Dakar (DP) também são acumulados e usados para expandir e reparar a vossa frota. Como bónus adicional, se ganharem o mesmo evento com os cinco tipos de veículos, é desbloqueado um veículo clássico da história do Dakar. Só tenho pena que os resultados reais das corridas sejam separados do modo Sport do modo Profissional. Ainda que os eventos tenham o mesmo título, são separados em desafios. E, sim, terão de os passar mais uma vez se mudarem de nível.

Sem tentar ir muito a fundo na simulação, Darkar Desert Rally tem um sistema simples para reparações e personalização dos vossos bólides. Na garagem pode alterar opções variadas, como mudar os valores do ângulos de direcção, a pressão dos pneus e o nível ou dureza da suspensão, isto, só para nomear algumas das opções. Este menu, já agora, pode ser acedido tanto entre eventos, como também entre corridas. O que é particularmente útil, visto que teremos de revisitar estas configurações várias vezes para coincidir com o tipo de terreno e com estado meteorológico.

Com os diferentes obstáculos que vão encontrar ao longo das corridas, algumas peças irão sofrer algum desgaste ou, na pior das hipóteses, terão de reparar grande parte do veículo, não só por desgaste mas também devido às colisões. Também este outro menu é muito simples de usar. Podem escolher que reparações efectuar especificamente ou então, se tiverem o dinheiro suficiente, escolher a opção “Repair all”, a opção mais rápida para voltarem para a acção o mais depressa possível.

O dinheiro que ganham em jogo, se forem relativamente bons pilotos, não será grande problema para cobrir os vários gastos. Comprar novos veículos também não será complicado, nem irá demorar uma eternidade. O que é realmente importante, já que em outros jogos no género o “grind” é notório. Aqui podem rapidamente alcançar aquele novo veículo que tinham debaixo de olho, experimentando também novos tipos de veículos para descobrir qual se enquadra melhor no vosso estilo de condução.

Os carros e camiões foram para mim, a melhor experiência de condução de todas. A sua condução é perfeitamente intuitiva, de encontro ao que tínhamos já experimentado nos jogos anterior da franquia. Quanto às motas e quads, porém, a história é outra. Estes veículo são vítimas de uma física duvidosa, tendo um equilíbrio muito frágil e uma instabilidade inata que é difícil de dominar. Especialmente ao subir dunas, notei que rapidamente nos manda para o chão se não tivermos atenção ao seu equilíbrio frágil.

Com as quatro estações do ano e um ciclo de dia e noite, teremos momentos incrivelmente belos da “mãe natureza”, só possíveis nestas regiões do mundo. Entre tempestades de areia turbulentas, um sol abrasador do deserto, chuva com lama profunda e sem esquecer a neve, a meteorologia é um claro destaque neste jogo. Uma coisa é certa, não há como negar que estamos perante a um dos títulos de condução mais visualmente impressionantes na PlayStation 5 (versão analisada).

Mas, nem tudo são boas notícias. Tanta qualidade visual tem um preço que a optimização não soube aprimorar. Notei particularmente grandes quebras de performance (FPS), principalmente quando temos vários adversários no ecrã ou quando é necessário renderizar corpos de água. Algo que não deveria acontecer com o hardware da PlayStation 5, diga-se. Testemunhei também algum clipping nas rochas ou até mesmo na visão de cockpit. Penso que sejam pormenores que a Saber Porto conseguirá resolver com umas actualizações.

Por fim mas não menos importante, tenho de deixar uma nota em relação à sonoridade do jogo. A música épica tem um tom peculiar, que nos parece dons de heróis de filme de acção, a salvar o mundo uma corrida de cada vez. Este tom torna as corridas bem mais “épicas”, sem dúvida. Mas, com o passar do tempo, acabei por sentir necessidade de desligar estas trilhas. E quando o fiz, o jogo ficou “diferente”. Todos os sons de ambiente, do carro, dos helicópteros a passar, a trovoada, são pormenores que dão mais vida ao jogo. Realmente, não entendo o motivo de esconder isto com música.

 

Veredicto

Ao permitir desfrutar de uma experiência ao seu ritmo, seja por pura diversão pelas dunas da Arábia Saudita ou em busca de uma experiência realista, a navegar pelo desconhecido, Dakar Desert Rally tem acção para todos. É um título ambicioso no seu alcance e dimensão, uma clara evolução dos jogos anteriores da produtora Portuense. Contudo, era difícil ter uma experiência isenta de falhas com tanto para representar. Felizmente os problemas que encontrei podem ser resolvidos através de futuras actualizações. Espero que seja polido brevemente, para aprimorar a óptima experiência que tanto promete ser.