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Análise: Day of the Tentacle Remastered

A produtora Double Fine Productions está a trazer grandes clássicos do nosso imaginário até à actual geração de jogadores. Depois de Grim Fandango Remastered, eis outro grande título da extinta LucasArts: Vindo directamente dos tempos áureos das aventuras “point’n’click”, eis Day of the Tentacle Remastered.

Para mim, Day of the Tentacle é um dos jogos que mais gostei do género “point’n’click”. Joguei bastantes como os divertidos títulos da série Monkey Island ou o icónico Beneath a Steel Sky. Apesar de na altura a produtora Sierra ser aclamada como “A” produtora deste tipo de jogos, a LucasArts teve sempre uma palavra a dizer. E Day of the Tentacle foi o jogo que mais me marcou, acima de tudo pela dinâmica das três personagens simultâneas e pelo omnipresente humor. Isto já para não falar das constantes referências as Star Wars e outros jogos da LucasArts como Sam & Max, por exemplo. Infelizmente, a essência destas aventuras tão específicas perdeu-se um pouco no tempo, mas a Double Fine está a tentar recuperá-las com esta e outras remasterizações.

O título original é, na verdade, uma continuação de um outro jogo de 1987. Maniac Mansion foi uma das primeiras aventuras das empresas de George Lucas, ainda nem existindo a própria LucasArts. Da mente de Ron Gilbert e Gary Winnick nasceu um jogo brilhante de terror e comédia e que precisava de uma sequela. Em 1993 chegou Day of the Tentacle, então pela mão dos lendários Dave Grossman e Tim Schafer (fundador da Double Fine). A equipa pegou na fórmula de Maniac Mansion e no seu motor gráfico SCUMM para criar um grande título cómico que junta temas como viagens no tempo, a fundação dos EUA, seres mutantes ou… sonambulismo, numa aventura intencionalmente ridícula e cheia de pormenores interessantes.

E este foi também o último jogo do género a usar um menu de comandos fixos na parte inferior do ecrã. Nos primórdios destas aventuras, tínhamos determinados comandos como Falar, Mover, Abrir, Combinar, entre outros para interagir com personagens e objectos. Os mais nostálgicos gostarão de saber que podem sempre comutar entre estes gráficos e interface originais do jogo de 1993. Na PlayStation 4 (Versão analisada) basta pressionar no touchpad e comutam entre o original e o remasterizado. Melhor! Também podem jogar o original Maniac Mansion de 1987 num quarto da mansão onde está um PC com DOS e tudo. Também podem escutar comentários da produção e consultar a arte conceptual original que desbloqueiam enquanto vão jogando.

O enredo é capaz de ser das coisas mais rocambolescas que já ouviram. Um dos dois tentáculos mutantes que residem na infame Mansão, o roxo, decide beber resíduos tóxicos vindos do laboratório do demente Dr. Fred Edison. Com isso, nascem-lhe dois braços que inspiram o Tentáculo Roxo a decidir tomar o mundo e escravizar a humanidade. Temendo o pior, o Tentáculo Verde pede ajuda ao amigo Bernard que regressa à Mansão. Cedo decidem que o melhor que há a fazer é viajar no tempo e evitar que o Tentáculo Roxo beba a água inquinada. Só que nem tudo corre bem, porque o Dr. Edison usa um diamante falso que não resiste e, ao partir-se, envia o rocker Hoagie para o passado, a tresloucada Laverne despenha-se no futuro e o betinho Bernard acaba sozinho no presente.

Parece-vos um enredo estranho? É esse o objectivo. Felizmente a jogabilidade é mais simples que as interacções dos protagonistas. Trata-se de uma aventura bi-dimensional em que usamos um cursor para navegar pelas personagens e objectos, interagindo com os mesmos, dialogando ou combinando objectos de modo a atingir objectivos. Há sempre uma lógica ou sequência a executar. E como neste jogo as três personagens viajam no tempo, é possível partilhar itens de inventário entre eles, recorrendo às três máquinas do tempo de cada personagem. Isto acrescenta diversos desafios interessantes.

Por exemplo: A dada altura, Hoagie precisa de vinagre. De modo a obtê-lo, tem de colocar vinho uma cápsula no passado. No futuro, Laverne abre essa cápsula com um abre latas enviado pela máquina do tempo de Bernard, extrai o (agora) vinagre e envia-o para Hoagie. E este é apenas um exemplo das imensas trocas de inventário que terão de fazer. Esta dinâmica pode ser a mais chata, uma vez que vão andar muitas vezes ao longo de todo o mapa só para partilhar itens. Seria óptimo poder enviar itens para as personagens sem ter de usar as máquinas do tempo, mas as mecânicas são as originais e temos de viver com isso.

Mas há muitos mais exemplos e, mesmo para mim que me lembrei de muitas das interacções e dinâmicas, levei algum tempo para me recordar de como proceder com alguns objectos. Quase todos esses objectos têm uma função, podem é não estar no inventário certo e será preciso enviar para a personagem correcta. Talvez aqui resida um outro ponto menos positivo, sobretudo para os recém-chegados a títulos deste género: a falta de orientação sobre o que fazer a seguir.

Para muitos, a falta de explicação do que fazer a seguir pode ser um factor negativo. Os jogos actuais favorecem muito o jogador com dicas, sugestões ou até com direcções. Nesta fase da história da indústria, os jogos eram jogados com intuição e lógica, temos de puxar pela cabeça. Há coisas muito óbvias, outras subtis. Por exemplo, há uma moeda presa com uma pastilha na mansão no presente que Bernie parece não conseguir arrancar do chão. Os passos para a arrancar não serão óbvios. É preciso um determinado utensílio que, por sua vez, só é obtido se ajudarmos uma personagem improvável com outro objecto que está atrás de uma porta. Parece que estamos num impasse, até que nos lembramos de algo que vimos ou falámos.

E é bom mencionar que o jogo está mesmo fiel ao original. Comutando entre a versão original e a versão remasterizada, notamos que houve um interesse em aprimorar todo o grafismo, modernizar o tal interface e até a música foi alvo de uma modernização. Mas, o jogo está praticamente como nos recordamos dele. Com muito menos píxeis ou notas MIDI, é certo, com um menu repensado para os tempos modernos (com roda de opções em voltar o cursor), mas com os mesmos diálogos, arte conceptual e animações. Só tenho pena que Maniac Mansion não tenha recebido esse tratamento modernizado, mantendo-se inteiramente original. Mas, tratando-se de um bónus, não nos podemos queixar.

Veredicto

Há muito tempo que esperava por esta remasterização. Foi (e continua a ser) um dos meus jogos preferidos, recordando-me muitas boas horas de diversão e alguma frustração, numa era em que os jogos não pretendiam ajudar ou dar dicas. Talvez por isso, estas aventuras tenham perdido um pouco o fulgor que tiveram nos anos 80 e 90. Mas, quanto a mim, é um jogo obrigatório para quem quer passar um bom bocado e resolver os seus ridículos quebra-cabeças, tanto os simples como os mais complicados. E, como muitos gostam sempre dos originais e não apreciam remasterizações, podem sempre comutar entre o gráficos arcaicos e pixelizados com o menu de comandos na parte inferior do ecrã. Seja como uma revisita nostálgica ou para experimentar uma aventura divertida, Day of the Tentacle Remastered é absolutamente essencial.

  • ProdutoraLucasArts / Double Fine Productions
  • EditoraDouble Fine Productions
  • Lançamento22 de Março 2016
  • PlataformasPC, PS4, Vita
  • GéneroAventura
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Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Algumas lógicas estão datadas
  • Maniac Mansion não está remasterizado

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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