Análise – DCS World 2.5
Já lá vai algum tempo desde que analisámos o nosso último simulador. Na altura, falámos do Prepar3D da Lockheed Martin, um simulador de voo civil. Contudo, no campo dos simuladores de combate, há um que continua da ultrapassar barreiras. Chama-se DCS World da Eagle Dynamics e a sua mais recente actualização 2.5 é um salto monumental.
Este é um artigo de duas partes em que também entrevistamos o Produtor Sénior de DCS World, Matt “Wags” Wagner. Nesse outro artigo, temos um vislumbre do histórico da produção, assim como uma visão privilegiada do presente e futuro do simulador.
Para mim, o contacto com o DCS World foi uma transição natural dos simuladores civis. Procurei um simulador que me desse acesso a sistemas, armamento e tácticas realistas com aviação moderna ou clássica. O resultado das minhas buscas levou-me à versão 1.5 deste simulador. Após algum tempo a testar a versão base inteiramente gratuita (Free to Play), comecei a ter curiosidade de expandir a minha experiência. A principal característica deste simulador é que podemos comprar módulos individuais de aviões, cenários e outros extras. Ou seja, o nosso investimento é proporcional à nossa vontade de o explorar. O conceito não é novo, havendo jogos com modelos financeiros idênticos.
Confesso que fiquei apreensivo com a evolução técnica deste simulador. Além da versão base 1.5, haviam mais duas versões alternativas: a Open Beta 1.5 que trazia actualizações regulares numa espécie de acesso antecipado e a Open Alpha 2.0, esta uma versão embrionária do que viria a ser o 2.5, onde também foram adicionados dois novos cenários (Normandia e Nevada). Esta triplicação de versões, cada uma a ocupar vários GBs no meu PC, deixou-me confuso quanto ao rumo que a produção queria dar no desenvolvimento deste simulador. Como devem calcular, a versão unificada 2.5 veio simplificar muita coisa.
Neste momento em que escrevo estas palavras, o DCS World ainda possui duas versões: A actual versão final 1.5.8 e a Open Beta 2.5. O objectivo da ED é em breve deixar de dar suporte à versão 1.5 e passar tudo para uma versão final 2.5 e manter a Open Beta com o mesmo modelo de acesso antecipado a melhorias e actualizações. Confusos? Acreditem que ter duas versões é melhor que ter três. De qualquer modo, as versões Open Alpha e Open Beta são perfeitamente opcionais. E, como devem calcular, estas versões experimentais estão sempre repletas de problemas e bugs que a produção batalha constantemente.
No que toca ao simulador em si, será de esperar que o DCS World tenha uma boa simulação das físicas de voo e do respectivo armamento de cada aeronave. Para quem, como eu, já passou por diversas simulações, mesmo algumas de combate, estas duas componentes são verdadeiramente críticas. Uma simulação em que o comportamento do avião é sintético, facilitado ou grosseiramente impreciso, torna-o num mero jogo de arcada. Também uma simulação de armamento que não obedeça a físicas ou a limitações realistas, condena qualquer simulação de combate. No fundo, convém que o realismo seja a base de qualquer simulador que se preze. Senão, porque se chamaria “simulador”?
Fiquei francamente surpreendido com o que o DCS World me ofereceu. Os dois aviões gratuitos do jogo base, o Sukhoi SU-25 e o TF-51 Mustang são dois excelentes veículos de introdução. O primeiro é um avião de fabrico Russo de ataque ao solo que permite experimentar um vasto leque de armamento das forças armadas Russas. Fica logo claro que este simulador leva muito a sério a representação de balística, mísseis e bombas. Já o pequeno TF-51 é uma ode a um dos melhores aviões da Segunda Guerra Mundial na sua versão desarmada de treino. Ambos possuem os seus próprios desafios e limitações.
Contudo, para quem procura um desafio do combate aéreo, uma importante característica deste tipo de simulação, é a representação de sistemas. Infelizmente, o SU-25 é um modelo limitado, uma vez que o controlo da aeronave faz-se via teclado ou botões programados num joystick e não tem cockpit interactivo. Já o TF-51 introduz-nos ao que esperamos: um painel inteiramente interactivo usando o rato e também teclas e botões programáveis. Passei várias horas a voar com o pequeno Mustang de treino, só mesmo pela sensação de estar a bordo daquele aparelho tão complexo e de o controlar por completo. Subitamente, senti-me compelido a dar o salto e decidi comprar o meu primeiro módulo.
É aqui que se separa o utilizador que procura só uma experiência simples, quase Arcade, do que espera aprender inteiros manuais de centenas de páginas para chegar ao limite das capacidades do aparelho. Convenhamos que nem tudo é essencial para a operação de um avião virtual. Contudo, em muitos casos, os módulos criados pela Eagle Dynamics ou por terceiros oferecem uma recriação bastante fiel de aeronaves famosas de várias categorias. Infelizmente, há limitações ligadas à esperada protecção de informação em alguns sistemas mais modernos. Mesmo que os aviões e helicópteros recriados estejam em serviço, a chamada OPSEC (Operational Security) impede-nos de ter sistemas completos e 100% fiéis. Mas, chegamos lá perto, muito perto.
De todos os módulos à venda, Flaming Cliffs 3 será o mais famoso. Na sua terceira versão, (desde a série Lock On que nos acompanha), traz um bom punhado de aviões de várias classes, com especial destaque para a aviação Russa. Infelizmente, nenhum dos aviões deste pacote possui cockpit interactivo e só alguns possuem modelos de voo mais próximos da realidade. Portanto, quem procura o máximo realismo não o encontrará nos aparelhos deste pacote. A maior vantagem de FC3 é o seu preço acessível que nos oferece uma boa quantidade de aviões de combate ar-ar e ar-solo. São excelentes para explorar as capacidades do simulador, sim, mas não para as aprofundar.
Se quiserem algo mais substancial, a roçar o realista e a dar-vos um bom desafio, terão de olhar para os aparelhos que constam nos tops de vendas para o DCS World. Falo-vos do lendário avião de combate próximo A-10C Warthog ou o helicóptero de ataque KA-50 Blackshark. São as duas simulações mais profundas que poderão encontrar para o DCS World. O primeiro tem uma profundidade de sistemas complexa, naquele que é o melhor avião de Suporte Aéreo Próximo (CAS) de todos os tempos. O segundo porque é uma poderosa plataforma de combate ao solo num helicóptero que mistura modernidade com sistemas clássicos, ao bom estilo Russo.
Se quiserem algo mais virado para o combate aéreo e caça, nada como olhar para os módulos mais recentes. O Mirage 2000C é ainda hoje o único verdadeiro caça puro com sistemas avançados e cockpit interactivo. O combate a navios faz-se a bordo do AJS37 Viggen. Algo mais clássico, optem pelo F-5E Tiger II, um avião incrivelmente ágil e simples de operar da era da guerra do Vietnam. Se quiserem algo ainda mais clássico, voltem à Guerra Fria com a aviação dos anos 50/60, ou ainda os aparelhos da Segunda Guerra Mundial. Pelo meio ainda encontram aviões de treino como L39 Albatros e helicópteros de transporte como o UH-1 Huey ou de ataque como o SA342 Gazelle.
E se nada disto vos satisfizer, a Eagle Dynamics e os produtores externos estão a preparar grandes projectos. O AV-8B Harrier já está disponível em acesso antecipado e é o único aparelho disponível com capacidades VSTOL (descolagem e aterragem curta ou vertical). Será lançado na sua versão final ainda neste ano a cargo da protudora Razbam. Contudo, a “cereja no topo do bolo” é mesmo o muito esperado F/A-18C Hornet da ED e da Belsimtek. Será o primeiro caça realmente polivalente com cockpit interactivo no jogo. Este também irá acrescentar muitas novidades de interacção, como uma melhor operação em porta-aviões, novos sistemas inéditos e muitos avanços técnicos no próprio simulador.
E ainda há mais a caminho. Preparem-se para receber dois grandes clássicos da aviação com o poderoso F-14 Tomcat e o não menos famoso F-4 Phantom. E muitos outros projectos estão na forja com as empresas terceiras a trabalhar para nos trazer mais conteúdo nesta nova era de DCS World. E não contem apenas com aviões e helicópteros. Há também novos terrenos a chegar, começando com o próximo cenário do Golfo Pérsico. Todos os projectos actuais e futuros contam com a excelente base que a nova versão 2.5 tem vindo a oferecer, não só ao nível do código base, como de avanços no visual e nas capacidades de tirar proveito do hardware moderno.
No actual estado, o DCS World 2.5 suporta grafismo e efeitos visuais de última geração com um realismo visual absolutamente deslumbrante. Ao usar bons monitores ou até mesmo recorrendo à Realidade Virtual, a ficção confunde-se com a realidade. E, mesmo assim, apesar do salto qualitativo desde a versão 1.5, ainda há algumas coisas por fazer. O que mais saltará à vista nesta versão, é a simulação de leitos de água com efeitos a roçar a perfeição e a impressionante renderização de árvores. O mapa gratuito no Cáucaso é uma excelente representação do potencial desta versão, recriando uma parte da região que abrange a Rússia, Geórgia e Turquia em volta do Mar Negro.
Alternativamente, podem também adquirir o vasto mapa do Nevada que inclui toda a área de treinos a norte de Las Vegas onde decorre todos os anos o lendário exercício Red Flag nos EUA. Nem falta lá a mítica Área 51. Para a aviação da Segunda Guerra Mundial, nada como recriar os lendários combates aéreos entre os aliados da USAF e RAF contra a Luftwaffe em plena Normandia. Se o primeiro mapa possui bastantes áreas de deserto, premiando mais a vastidão de espaço aéreo, o segundo é uma recriação de uma inteira zona costeira, onde nem faltam as pequenas vilas e aeródromos improvisados com pistas de terra. O próximo mapa que já mencionei no Golfo Pérsico, trará uma mistura de terrenos citadinos (Dubai, por exemplo) com áreas costeiras e desérticas.
Curiosamente, o apecto destes cenários tão vastos e ricos em detalhes, dá-nos vontade de ir para o terreno. Há já algum tempo que temos um módulo chamado Combined Arms que nos dá controlo de veículos terrestres (tanques, anti-aéreas, etc) para dar luta aos aparelhos voadores. Infelizmente, a sua utilização nunca foi muito profunda, nem a ED alguma vez mexeu neste módulo ao ponto de o elevar a um maior nível de realismo. Com todas estas novidades visuais e de terreno da versão 2.5, porém, a produção já veio dizer que está a pensar trabalhar mais neste módulo, talvez trazendo mais elementos de interacção. Imaginem combate de infantaria terrestre com transporte de tropas e lutas aéreas… seria fantástico! Cuida-te Arma 3.
Aliado a todos estes aparelhos e terrenos, contem com imensas missões de combate e treino a solo. Alguns módulos possuem missões e campanhas extensas para tirar proveito dos aparelhos, mas existem para compra em separado. Contudo, notem que poderão nem precisar destes pacotes de missões. O jogo possui um robusto editor que vos permites criar as mais diversas missões com opções simples de usar e suporte para scripts avançados. E também existe uma enorme comunidade online que cria servidores para jogar online com as mais diversas missões dinâmicas ou estáticas de treino ou combate e até acrobacia. As campanhas a solo pagas são perfeitamente opcionais.
Se tudo isto vos deu vontade de experimentar o DCS World, saibam que o podem adquirir gratuitamente em dois locais: no site oficial da Eagle Dynamics ou via Steam. Depois, poderão comprar os módulos que entenderem nas duas plataformas. Notem, porém, que o Steam tem algumas desvantagens. Em primeiro lugar, esta plataforma não recebe nenhum módulo em acesso antecipado e geralmente as actualizações demoram sempre um pouco mais a lá chegar. Por outro lado, as chaves de compra via Steam deixaram de ser suportadas na versão 2.5 (em produtos mais recentes) e os produtos comprados directamente na ED não funcionam no Steam.
A minha sugestão é que instalem e comprem tudo no site oficial no instalador standalone. Se argumentarem que o Steam tem aquelas apetecíveis campanhas de desconto, saibam que também a ED também realiza diversas campanhas de desconto assinaláveis. Além disso, possui um sistema de fidelidade que permite juntar dinheiro em cada compra para gastar em descontos de futuras compras. O Steam oferece, de facto, uma boa plataforma de gestão de jogos e isso leva muita gente a ignorar o instalador da ED. Contudo, porque existe a tal discrepância de lançamentos, os utilizadores do Steam não conseguem acompanhar os demais jogadores.
Nestes dias, a versão 2.5 está ainda em Open Beta tanto no standalone como no Steam e por lá deve ficar por mais umas semanas. Já teve três Hotfixes desde o seu lançamento e mais deverão chegar, uma vez que os utilizadores enchem os fóruns com questões e bugs constantes. De acordo com a entrevista a Matt Wagner, só haverá uma versão estável final quando todos os bugs forem mitigados. Muitos dos erros que surgiram já foram corrigidos, mas há um que parece persistir. Um problema de gestão de memória chamado de Memory Leak que pode causar alguns CTDs (crash to desktop). Conforme nos disse o Matt, é para isto mesmo que servem as Betas, para identificar e “esmagar bugs”.
Como em todos os simuladores, sobretudo depois de falar de problemas técnicos, por esta altura surge sempre aquela pergunta do costume: É exigente no hardware? A resposta tem dois alvos, na realidade. O primeiro alvo é o de quem quer experimentar algo e só quer saber se pode ter o mínimo de qualidade. Aí a resposta é, sim, podem experimentar o DCS World em praticamente qualquer PC com o mínimo de qualidade. Já vi este simulador correr nas definições mínimas em PCs muito limitados. Contudo, esta não é a experiência ideal para quem quer tirar proveito deste simulador, ainda por cima com a fidelidade visual que já descrevi e demonstrei em imagens. Aí, entramos no segundo alvo da resposta.
Em qualquer simulador que se preze, seja de automóveis, aviões militares ou civis ou até de barcos, tudo é proporcional ao vosso entusiasmo e… carteira. No seu pleno, DCS World exige um PC francamente potente para atingir a melhor qualidade possível. Ainda mais se usarem resoluções elevadas (4K) ou a Realidade Virtual (Oculus Rift, HTC Vive, etc). A versão 2.5 é particularmente exigente por causa das inúmeras opções visuais que adicionam efeitos e qualidade extra. Poderão desligar algumas destas opções e voar na mesma, com a certeza, porém, que poderão não conseguirão reproduzir as imagens que mostro aqui. Pior ainda é quando quiserem investir em joysticks e outros extras de controlo. Quando chegarem a esse ponto crítico, verão que não é só o simulador que voa, o dinheiro também.
Veredicto
O Digital Combat Simulator World já cá anda há uns anos ou há décadas, se contarmos com o legado deixado por Lock On e outros simuladores desta equipa. Contudo, com esta nova vida trazida pela versão 2.5, parece estar melhor que nunca. Como produto-base gratuito é das melhores experiências possíveis de qualidade/preço que terão em simuladores de voo. E os módulos que podemos adquirir em separado oferecem uma imersão inigualável. Ainda há muito para fazer para o elevar à qualidade desejável, faltando também alguns módulos muito esperados. O presente é fantástico para o DCS World, mas o futuro será ainda melhor.
Se desejarem conhecer a pequena comunidade Portuguesa que treina e voa regularmente no DCS World, visitem a pagina DCS World – Portugal no Facebook e o canal de Discord da Esquadra 701. Uma boa parte das imagens que usamos neste artigo foram criadas neste grupo.
- ProdutoraEagle Dynamics
- EditoraEagle Dynamics / The Fighter Collection
- Lançamento30 de Janeiro 2018
- PlataformasPC
- GéneroSimulação
Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.
Mais sobre a nossa pontuaçãoEsta análise foi realizada com uma cópia adquirida pela redacção.