Análise: Dead Island
Férias em locais paradisíacos são um cliché que ninguém se importa nada de repetir nas suas listas de planos para a vida. Só que a Techland fez questão de tornar esse sonho num autêntico pesadelo. Literalmente.
Os primeiros vídeos e as primeiras imagens de Dead Island eram autênticos teasers. Por um lado, imagens magníficas dignas de postais ilustrados de alguns dos destinos mais apetecíveis, por outro uma imagem macabra de um morto-vivo a aparecer na esquina a estragar o melhor dos bronzeados.
Mas convenhamos que estamos já um pouco fartos de jogos de tiro em zombies. Vejam bem a quantidade de jogos que por aí andam com essa premissa. Não confundamos jogos de Survival Horror como Silent Hillou Dead Space. Um bom jogo de zombies tem de ser visceral, sim, mas no campo da acção desmiolada com tentativas pouco claras de racionalizar o que se passa com algum vírus ou intervenção alienígena ou algo mais ou menos piroso. Se possível com alguma comédia pelo meio como Dead Rising, jogo que aliás influencia bastante este novo Dead Island.
E como viram, um bom jogo de zombie tem de ter a palavra “Dead” algures. Até nas séries de televisão isso acontece como na mítica série da Fox “The Walking Dead”.
O paraíso tornado num inferno…
Não desesperem porque não estamos a falar nalguma alegoria Dantesca. O paraíso é mesmo uma ilha fictícia chamada Banoi, situada ao largo da Papua Nova Guiné e que, pelos vistos, é um pólo de atracção turística irresistível. Praias de areia branca, água verde esmeralda, vegetação luxuriante e um extenso Hotel Luxuoso recebem personalidades e completos desconhecidos num ambiente paradisíaco.
No Palms Resort, as quatro personagens principais (sim quatro, à escolha e com diferentes enredos) estão a descansar ou a afogar (com alcool) as suas mágoas quando algo extraordinário acontece.
Extraordinário porque não é todos os dias que um paraíso magnífico se torna palco de uma infernal praga de um vírus que torna toda a gente num zombie.
E é este o enredo, basicamente. As quatro personagens tem, acima de tudo, de sobreviver. Aparentemente são os únicos imunes às investidas dos zombies, mas para os que sobrevivem ainda na ilha à custa do seu próprio esforço de evitar umas mordidelas infectadas, nem tudo está perdido com uma vacina a ser criada na cidade capital, um avião que aterrou algures na selva da ilha que promete ser o veículo de fuga e contém com uma interessante reviravolta de um tal Coronel White…
Nada de floreados. A história é crua, cumpre o requisito de justificar porque raio andamos ao pontapé, bordoada ou tiro a pessoas semi-mortas, alguma cuja indumentária é só um mero bikini…
O que vale é que tenho sempre o meu fiel cutelo…
O primeiro contacto com o jogo é simplesmente trivial. Depois de escolhermos ser uma das quatro personagens, somos logo envolvidos na historia do jogo. Estamos no hotel do Resort e a palavra de ordem é “fugir”. Desde logo somos convidados a vasculhar itens incluídos em malas, armários, gavetas, etc. E preparem-se porque uma boa parte deste jogo vai-se passar no acto de vasculhar. Depois? Bem, que fazer num jogo de zombies senão pegar na mais aguçada, longa, pesada ou agressiva peça de metal, madeira, plástico, o que seja e arremessar ao crânio de um morto-vivo que avança para nós com uma fome diabólica?
As armas e a criatividade nelas impressa é um notório tributo a todos os jogos de Zombies feitos até hoje. Falamos de tributo para não falar em plágio, mas quase roça nessa expressão. Dead Island vai buscar ao rei “Dead Rising” (acção na terceira pessoa, da Capcom) as célebres miscelâneas de armas como tacos de baseball, paus de vassoura, martelos, cutelos, machados e, claro, pistolas, mas também as combinações macabras de utensílios que bem pensados se tornam absurdos mas que só acrescentam piada. Esperem até combinarem uma pistola com uma pilha para fazerem uma arma de fogo que lança descargas de electricidade ou combinem pregos com um taco de baseball para verem o que estamos a falar e a dose destruição que podem esperar. A chave é a criatividade. Mas também podemos criar a obra-prima da destruição zombie como a mais inútil peça de armamento na mesma senda.
Mas tal como Dead Rising, esperem pelo desgaste das armas. Todas elas estão sujeitas a desgaste. Podem ser aprimoradas com alguns upgrades para se tornarem mais fiáveis, mas acabam sempre por se tornar quase inúteis. Mas, embora percam efeito com o desgaste, mantém-nas no vosso inventário e assim que puderem acabam por repará-las. Menos positivas são as munições das armas. Só humanos as têm (alguns zombies usam armas brancas ou de arremesso, mas nunca armas de fogo), são raras e esgotam depressa. Mas também se querem dar tiros em zombies vão jogar Call of Duty Black Ops. Aqui é mesmo a lei da bordoada. A acção é na primeira pessoa (FPS), mas não é um shooter convencional se pensarmos que uma boa parte do jogo se prende a dar pontapés enquanto se arremessa um sabre japonês. Comparado com outros jogos do género, nota-se o cuidado da equipa de tornar as coisas equilibradas, porém. Se noutros jogos bastava um par de moto-serras agarrados a um varão para matar hordas inteiras de zombies pouco inteligentes e uniformes, em Dead Island é preciso usar as armas de forma inteligente para não a desgastarmos demasiado rápico e sermos rodeados de mortos-vivos sem qualquer hipótese de fuga. Uma coisa que gostámos é poder arremessar a maioria das armas e claro, o célebre pontapé que não só afasta os zombies como os pode derrubar.
Se as coisas estiverem mal paradas, activem o modo Rage e durante uns segundos a nossa personagem usa um ataque especial devastador e que acaba logo com a desvantagem.
Existem vários tipos de zombies, desde os mais banais Walkers que se limitam a gritar de forma histérica enquanto avançam lentamente para nós, passando pelos Infected que por acaso são os mais chatos do jogo porque correm mais que nós, até aos famigerados Butcher que pingam nojo, literalmente, e os pobres dos Suicider que explodem ao mínimo toque. Aparecem de todos os lados, flanqueiam e não vão querer mesmo ser rodeados por esta gente mal encarada. Até porque são todos feios como tudo…
“You are one ugly motherf…”
Parece um enorme desafio criar uma ilha paradisíaca conforme as imaginamos. E é mesmo. Só quando se sentarem ao volante do primeiro carro que vos é disponibilizado é que vão ver a dimensão, o detalhe e o rigor que a Techland implementou neste jogo. Este é um verdadeiro Sandbox (mundo aberto) e vão palmilhar muito para explorar os seus recantos.
Existem diversos cenários para este jogo. Começamos na parte do Resort de Luxo da ilha, mas logo iremos para a parte da cidade capital e depois noutros cenários como uma parte selvagem da selva e mesmo uma enorme prisão lá mais para o fim do jogo.
Em tudo isto, o Chrome Engine foi espremido até ao limite e, claro, cede aqui e ali mas sempre com enorme dignidade.
Já é famosa a célebre falha de render deste motor gráfico, fazendo com que na versão analisada (Playstation 3) as texturas apareçam por vezes sem definição (dito Blur) e gradualmente vão ganhando qualidade. Isto verifica-se quase sempre nas transições entre mapas e entre cutscenes.
Tirando esse ponto de optimização que julgamos jamais poder ser resolvido se o erro está na fonte, o jogo apresenta gráficos competentes nas diversas áreas com efeitos mais ou menos realistas aqui e ali, como as animações da água e das plantas ao vento, as texturas de rochas, areia e outros elementos, efeitos de reflexo do sol (por vezes exagerados, diga-se), mas claro que o que salta à vista é o enorme campo de visão que mesmo assim se aguenta muito bem a nível de fluidez de jogo.
As personagens em si são relativamente bem animadas. Dizemos isto porque só mesmo os zombies mereceram um bom esqueleto de movimento, o que não deixa de ser irónico. Porque as personagens humanas são quase robóticas e pouco nos interessa sequer falar do sincronismos das falas com o movimento dos lábios porque é quase inexistente.
A nível de som, julgamos estar bem assente na nossa análise que isto é um jogo de terror. Contem com música lúgubre, sempre, sempre, sempre com berros, gritos e grunhidos das centenas de zombies que nos rodeiam. O som das armas a decapitar os pobres Walkers ou das bordoadas das pás de bote nas costas de um irritante Infected é qualquer coisa que vos fará sorrir ou ficar mal disposto, depende do jantar que tiveram e do estado de espírito.
Já agora um ponto muito positivo para o contraste de luz quando temos de jogar de lanterna em espaços escuros. Gostamos de mandar uns saltos de susto neste tipo de jogo. Num túnel de esgoto a correr de um zombie enfurecido, pode acontecer que mergulhem na escuridão, de repente. A lanterna tem um tempo limite de uso. E quando estiver escuro e ouvirem um grito estridente… vão perceber o que dizemos.
Eu mato zombies e os meus amigos também!
Dead Island foi concebido para ser jogado online. Sim! É muito mais divertido decapitar zombies na companhia de três outros amigos.
Porém, o sistema de matchmaking deste jogo até possibilita jogarmos sempre com alguém no nosso nível e avanço na carreira, mas isso depois obriga-nos a coincidir a nossa evolução com outros o que nem sempre é fácil. Mas lá se consegue.
Podem escolher que a vossa sessão seja pública, por convite ou LAN e assim poderão jogar com amigos ou completos desconhecidos por convite ou sem qualquer pré-aviso. As pessoas entram e saem da nossa sessão a seu bel-prazer e o único objectivo é jogarem as mesmas missões que nós. Os pontos são repartidos e isso aumenta a necessidade de entreajuda. De um modo geral, a acção online é divertida porque é sempre divertido matar zombies “com a malta”, mas claro que podia ser uma coisa bem mais interessante se tivesse um pouco de competitividade como em outros jogos. A acção é puramente cooperativa, baseada no enredo do modo de carreira, sem opção de escolher o tipo de missão (simplesmente seguimos a missão que o Host está a disponibilizar) e ainda por cima o que ganharmos ou perdermos conta apenas de forma individual para as nossas estatísticas.
Gostamos de modos cooperativos, mas achamos que quando acabarmos a estória do jogo, ou fazemos as outras três personagens só para termos as diferentes características destes ou então não será fácil pegar em Dead Island para jogar online tão depressa. Porque pela lógica, daqui a umas semanas uma vasta maioria já acabou o jogo e não vai voltar atrás só para ajudar outros a progredir.
Veredicto
Não foi propriamente uma surpresa porque já prometia. Desde a polémica da capa na versão europeia que contém um zombie enforcado a fazer a letra “I” da palavra Island que foi censurado nos EUA obrigando a um lettering diferente, até a integração de estereótipos demasiado polémicos nas quatro personagens à escolha (um rapper afro-americano, um ex-futebolista Australiano, uma Concierge Asiática e uma amazona ex-polícia, todos carregados de exageros de personalidade), o jogo chamou logo a atenção, mesmo que só bastasse os gráficos que na fase de concepção parecem sempre deslumbrantes.
Dead Island é muito recomendado para quem gosta do género. Tiro, pontapé, cacetada, murros, atropelamento, electrocussão ou imolação de zombies, tudo vale. Eles estão mortos mesmo, não é?
- ProdutoraTechland
- EditoraDeep Silver
- Lançamento9 de Setembro 2011
- PlataformasPC, PS3, Xbox 360
- GéneroFPS
Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.
Mais sobre a nossa pontuação- Estilo sandbox aberto a exploração
- Criatividade na criação de armas
- Para um jogo desmiolado até conta boa estória
- Modo cooperativo online
- Zombies de Bikini
- Chrome Engine e as suas falhas
- Falta sumo no online
- Animações algo toscas
Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.