Análise: Destiny
De todos os jogos de acção na primeira pessoa, há uma série que definiu a forma como jogamos hoje esses shooters. Chama-se Halo e, quando falamos deste Destiny e da sua produtora Bungie, é inevitável que não venha essa referência como termo de comparação. Só que, enquanto Halo foi e ainda é um marco na história dos videojogos, Destiny tem muito que batalhar para roubar esse título, mesmo com 500 milhões de dólares de produção.
O Hype em volta deste jogo foi palpável. Com lançamentos especiais à meia-noite em todo o mundo (menos em Portugal), com imensa publicidade um pouco por todo o lado (também menos em Portugal), seria de esperar o fantástico nível de vendas que obteve. Afinal a fórmula parecia quase perfeita: A criadora de Halo tinha gasto 500 milhões de dólares a produzir um Shooter Sci-Fi com promessas de grandes batalhas online, mundos gigantes e design inovador, além de uma jogabilidade infalível. Só que tendo a editora de Call of Duty (Activision) por detrás, obriga-nos a ser prudentes… vamos analisar, então, este Destiny!
Alguns séculos no futuro, na demanda da exploração espacial e da busca de tecnologia, a humanidade finalmente atinge o que se chama uma “Idade de Ouro” com a ajuda de uma entidade que se manifesta como um pequeno planeta, de nome “Traveler”. Nesse período, a colonização de planetas no nosso Sistema Solar, como Vénus e Marte, são uma realidade. Só que, no auge dessa evolução, algo surge que extingue essas colónias e remete a humanidade para o seu último reduto na Terra. O “Traveler” age então como protector do que resta da humanidade, agora quase extinta pela ameaça da misteriosa “Darkness”. Nesta fase, somos acordados por uma pequena unidade robótica de nome “Ghost” e somos informados que pertencemos a uma classe de Guerreiros chamados Guardians cuja missão é não só proteger a Terra como eliminar as ameaças extra-terrestres que surgem na vanguarda da tal Darkness.
Aqui inicia-se a nossa epopeia e somos logo levados a escolher a classe. Apesar da Bungie afirmar que cada classe possui as suas características, apenas vemos diferenças nas animações e nas armas especiais. De resto, a jogabilidade é praticamente a mesma entre classes e até a evolução da história não sofre alterações perante a nossa escolha. Os Titans são o exemplo de soldado puro e duro, com armaduras pesadas e formados para a guerra. Os Hunters são caçadores natos, dados a armas de longo alcance com uma armadura média. Os Warlocks são autênticos mestres da matéria e privilegiam movimentos rápidos aliados a poderes especiais. As diferentes armas (pistolas, armas de assalto, sniper ou lança-foguetes, entre outras) são comuns a todos e dá a sensação que apesar de terem alguns perks específicos (por exemplo, o Hunter pode arremessar facas e possui uma arma especial que se vai recarregando com 3 tiros letais), as diferenças são puramente cosméticas.
Depois, podemos criar fisicamente a nossa personagem entre três raças: Humanos (óbvio) e duas espécies extra-terrestres, uma que parecem uma mistura entre elfos e vampiros chamados Awoken e os robóticos humanóides de nome Exo. Pouco se sabe de onde surgiram estas duas raças. Nada é realmente explicado neste jogo. Existe algum lore espalhado pela web, mas justificava-se entender as origens das personagens sem ter de especular. Uma simples base de dados em jogo seria agradável. As opções de criação e personalização são algo limitadas com poucas opções mas o suficiente para alguns minutos de criatividade.
Logo a seguir somos lançados sem pára-quedas na história. Como já mencionei não há quase nenhum enredo explicado. O passado é assumido, não se explica como chegamos ali. O desenrolar do modo carreira explica algumas coisas e dá profundidade às classes e raças. Menos mal. Preparem-se para algumas horas de pressupostos e de adivinhar quem é quem, apesar de tudo. O forte deste jogo, irão ver… é mesmo a exploração e a descoberta.
Antes de falarmos das diferentes formas de jogar Destiny, tenho de dar elevado destaque à qualidade técnica do jogo. A nível gráfico, mesmo nesta geração de consolas tão potentes, é raro um jogo ser tão belo na sua vastidão e design. Apesar de aqui e ali podermos identificar algumas imagens de fundo desenhadas à mão (Bungie, não se faz!), muita da arte modelada é genial. As animações são bem conseguidas, mesmo nos momentos mais caóticos, há sempre beleza para ser presenciada. Em Vénus ou na Lua e mesmo em Marte sentimo-nos num mundo alienígena. Na Terra sentimos a desolação de uma civilização outrora magnífica. Há poucos estúdios no mundo capazes de contar uma história tão bela artisticamente como a Bungie. Não há qualquer dúvida. Mesmo a banda sonora épica com elementos electrónicos e coros de vozes encaixa muito bem.
Ainda a nível técnico, notem que este jogo é permanentemente online e isso resulta em alguns problemas inerentes a essa lógica. Nos primeiros dias de lançamento haviam alguns erros de personagens ou peças de cenário invisíveis que se materializam do nada à frente do jogador. Pequenos soluços do lançamento que a Bungie está ainda a trabalhar. Também algumas quebras de servidor têm tornado algumas sessões complicadas de executar (com perdas de ligação), mas, mesmo assim, são raras e não afectam a qualidade geral do serviço.
Jogar Destiny não é uma tarefa solitária. Como já disse, estamos permanentemente online naquilo que se pode definir como um jogo MMO (Mass Multiplayer Online). Cada sessão onde estamos, entremos com amigos ou a solo, algumas dezenas de outros jogadores estão ao nosso lado. Isto significa que sempre que nos ligamos, estamos numa sessão partilhada. Seja na base dos Guardians (Tower) ou em missão, lá estão outros jogadores humanos em modo cooperativo. Todos os alvos que partilhem num determinado raio de acção, os pontos de experiência, dinheiro de jogo e outros coleccionáveis são partilhados.
Esses pontos de experiência permitem evoluir a personagem com alguns poderes e upgrades característicos da classe que temos. Também armas e armaduras podem ser apanhadas ou planos para a sua construção (chamados Engrams) que devem ser desbloqueados na Tower. O dinheiro do jogo serve para comprar mais equipamento (armas, armaduras, naves) e outros coleccionáveis servem para desbloquear missões específicas ou upgrades únicos.
E na tal Tower podemos ainda escolher e cumprir Bounties (missões paralelas) para ganharmos dinheiro e pontos de experiência, comprar equipamento e interagir com outros jogadores. É normal constatarem que na Tower há muita gente sentada em locais estranhos, a dançar como doidos ou simplesmente a relaxar entre missões.
Mas quando temos de ir justificar o ordenado, vamos para a órbita e formamos a nossa Fireteam (até três jogadores) ou vamos à luta a solo. Literalmente. Existem, então os modos cooperativos em cada planeta onde podemos escolher três tipos de missão: as missões de história do modo carreira, missões de Patrulha onde fazemos diversas mini-missões e as missões de Strike em que só podemos entrar com mais jogadores em equipa ou com recurso a matchmaking. Apesar dos pequenos problemas de lançamento, esta dinâmica funciona na perfeição e o jogo faz questão de nos alinhar com outros jogadores do mesmo nível. E é sempre agradável jogar com companhia porque se morrermos ainda podemos ser ressuscitados sem ter de fazer respawn.
As missões do modo carreira estão ainda agrupadas em níveis para que não tenhamos de fazer missões para níveis mais elevados se não tivermos capacidade. Se uma determinada missão é nível 15, por exemplo, mas nós só temos nível 10, podemos optar por outras mais fáceis, ganhar experiência e armas ou armaduras mais poderosas e voltar lá. De notar que existem zonas de respawn limitado em que só entramos nós e a nossa Fireteam. Se morrerem dentro dessas zonas delineadas e se os vossos companheiros não ressuscitarem e morrerem também, começam tudo de novo.
Mas ainda falta outro modo muito concorrido, um autêntico jogo, dentro do jogo. Chama-se Crucible e é o modo Competitivo de Destiny. Entre andar a desancar extra-terrestres pelo Sistema Solar, os Guardians precisam de treinar. Então o Crucible coloca-os em arenas para não só treinarem a sua arte de “tiro neles”, mas também para elevar a sua experiência e a do seu clã (criado online, já agora candidatem-se ao do WASD) e ganharem pontos de Crucible que dão direito a armas e armaduras exclusivas. Desde os modos de captura de zona ao puro Deathmatch há modos para todos gostos. Mais uma vez, o matchmaking faz um esforço por nos juntar a sessões de jogadores de nível equivalente, mas há momentos frustrantes quando estamos com um nível 10 e encontramo-nos frente a frente com um jogador de nível 20. Enfim, acontece em quase todos os jogos. Neste jogo é mais flagrante dada a diferença de equipamento entre níveis. Nem tudo é mau, porém, já que os upgrades de armas e armaduras são anulados tornando-os equivalentes no Crucible, ficam a saber.
Depois de experimentarem todos os modos de jogo, já terão uma opinião. O jogo é fantástico, bem executado e com um voice-cast impecável (que inclui a voz de Peter Dinklage, o Tyrion Lannister da popular série de TV Game of Thrones). A história é envolvente e lógica, mesmo sem o tal background, tão necessário. Mas depois… bom… depois são imensas horas de combate com inimigos esquecíveis e básicos (escondem-se sempre que disparamos e chegam mesmo a fugir) que culminam, quase sempre, com bosses irascíveis e, por vezes, demasiado difíceis, sobretudo a solo. De notar que participei nas duas outras Betas antes do lançamento deste jogo e noto que a Bungie tornou os adversários mais difíceis e os Bosses mais acessíveis, mas isso não muda a dinâmica. Pelo contrário perpetua a sensação de repetição. Mas que jogo FPS não o é?
Veredicto
Seria de esperar algo mais. Contava mesmo dar pontuação máxima a este jogo. Afinal, o investimento sério da Bungie e a publicidade da Activision (o vídeo de apresentação com actores reais que mostramos lá em cima é digno de Hollywood) trouxeram-nos um jogo que não inova quase nada na jogabilidade, afinal o que define um jogo. As missões são lineares, a interacção básica. Ao contrário de Halo que trouxe imensas inovações que são hoje a base de muitos jogos FPS, Destiny é uma compilação do que já foi feito, embrulhado num pacote muito bonito. Apesar de viciante e a convidar à evolução tipo RPG, atingir o nível máximo inicial de jogo de 20 acontece muito rápido e depois o nível de topo de 30 no exigente modo “Light” é algo que não impulsiona muita gente pelo elevado número de horas a repetir missões. O jogo torna-se curto e repetitivo passado algum tempo. Resta-nos reiniciar tudo com outra personagem criada por nós, mas até que ponto é Destiny repetível?
- ProdutoraBungie
- EditoraActivision
- Lançamento9 de Setembro 2014
- PlataformasPS3, PS4, Xbox 360, Xbox One
- GéneroFPS, MMO
Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.
Mais sobre a nossa pontuação- Arte de jogo magnífica
- Diversos modos de jogo
- Acção online e rede social
- Progressão de Carreira
- Não inova realmente
- Enredo sem background
- Repetitivo
Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.