Análise – Destiny 2 “Shadowkeep”
Para a Bungie, o dia 1 de Outubro foi mais que o dia de lançamento de uma expansão de um jogo seu. Neste dia, Destiny 2 recebeu Shadowkeep, mas também recebeu uma nova vida. Depois de anos sob alçada da Microsoft e depois da Activision, chegou a altura desta equipa se tornar independente, com todos os desafios que daí virão.
Este é também o terceiro ano dos cinco planeados para Destiny 2. Este shooter MMO deverá ser dos mais divisórios no seu género, com muitas opiniões divergentes acerca do seu conteúdo. Como acontece sempre neste tipo de jogos (e como aconteceu com o primeiro), requer dedicação dos fãs para a sua oferta fazer qualquer sentido. Ora, se essa oferta original for escassa ou dispersa e as expansões não servirem para muito mais que apenas mexer um pouco na mistura, essa dedicação torna-se pouco apetecível a longo prazo. E esta franquia é propensa a causar essa apreciação. Mas, a Bungie pode ser acusada de muitas coisas, nunca de baixar os braços. A última expansão Forsaken até pode ter sido uma experiência agri-doce, mas demonstrou as ganas da Bungie de recuperar a sua base de fãs. E o jogo aqui está, no seu terceiro ano, a mostrar que ainda tem “balas no carregador”.
Como sempre acontece com esta franquia, fazer uma análise única a um jogo tão grande é algo francamente ingrato. Não só os arranques são sempre atribulados num jogo sempre online, como há sempre inúmeros ajustes e balanceamentos que precisam de tempo para aprimorar. Regra geral, deixo sempre em aberto esta questão, falando do que o jogo é neste preciso momento, esperando que a produtora melhore nos aspectos menos positivos. Só que Destiny 2 já cá está há um tempo, não sendo possível melhorar ou alterar assim tanto, sob risco de mudar a sua fórmula. Não estou a falar de problemas técnicos, isso obviamente será sempre corrigível. Estou a falar da jogabilidade e progressão que, ame-se ou odeie-se, são imutáveis e não será nenhum DLC que vá alterar isto profundamente.
Não se preocupem se só agora vão pegar em Destiny 2. Shadowkeep é uma experiência “standalone”. Ou seja, não precisamos sequer de jogar o jogo base ou a expansão Forsaken, começando no nível 750 de poder, com ou sem personagens migradas das expansões anteriores. Mas, atenção! Começar por jogar Shadowkeep sem passar primeiro pelo resto do conteúdo, vai criar muitas situações de confusão, tanto da história como das lógicas de jogo. Tudo bem, começar do zero até chegar ao nível 750 mínimo, traduz-se em centenas de horas de grind, que nem todos estariam dispostos a apostar. Mas, aviso, chegar a Shadowkeep do zero, vai tornar muito evidente que este jogo não é muito amigável para recém-chegados ou jogadores que façam pausas na sua carreira online.
Vão lá jogar os dois primeiros anos de Destiny 2. Eu espero…
Já está? Raids e tudo? Valentes…
Se já são fãs desta série desde o primeiro título, já devem saber que a Bungie adora reciclar conteúdo. Para alguns é uma muleta técnica para reavivar conteúdo sem passar propriamente pelos processos de design e criação. Mas, para outros, é uma estratégia inteligente para apelar à nostalgia. E lá vamos nós para a Lua novamente, com todos os locais reconhecíveis deste mapa, mas com uma nova história que envolve a nossa conhecida Eris Morn e uma série de “pesadelos” que emergem das trevas. E sim, também estes “pesadelos” são imagens recicladas, alguns deles de bosses que fomos encontrando pela história do primeiro jogo, como o lendário Crota e os seus subalternos.
Nostalgia à parte, obviamente a história desenvolve e, como irão constatar, até há uma explicação mais ou menos plausível para esta reciclagem. E não, não contem com uma nova facção ou alguma espécie nova. A Lua foi tomada por estes pesadelos que mais não são que minions e bosses da facção Hive, com uma aura vermelha e imensos espinhos (depois percebem). Ao fim de tantos anos e dois jogos, ainda não foi desta que travámos conhecimento com uma espécie nova qualquer. O que numa galáxia tão vasta retratada no jogo é algo estranho, convenhamos. É inevitável o “dejá vu” constante, o que até permite que rapidamente recuperemos a memória mecânica de quase tudo. Mas, só isso.
Lá no meio do satélite da Terra, está a emblemática Scarlet Keep, o ponto nevrálgico da história do jogo. Quando lá chegamos, ficamos com a sensação que Bungie está no seu auge de contar histórias e a dar-nos a envolvência certa. A escolha da Hive, a facção mais sombria e mais misteriosa, encaixa na perfeição no novo design. Mas… o deslumbre termina pouco depois… Redescobrir a Lua é um momento interessante e dá-nos mais uma área para actividades e novos desafios, mesmo que a história nos leve momentaneamente para outros sítios. Mas, é só isso que faz, para ser sincero. Considero toda esta campanha meramente cumpridora, mais uma horas de distracção e uma narrativa algo básica.
Sim, há novas armas e equipamento para descobrir, ora não fosse este um “looter-shooter” por excelência. Como devem calcular, a evolução é rápida nas primeiras horas, mas rapidamente abranda o ritmo mais perto do nível máximo (900 por evolução da história, 960 total), confiando que, por esta altura, já dominemos a célebre lógica de upgrades e combinações de poderes da série. Pelas horas de jogo que já tenho nesta expansão, achei que as recompensas por simplesmente jogar são bem mais generosas e frequentes. Algo ainda mais evidente nas etapas da Season of the Undying, um evento que está a ocorrer nestes dias e que nos dá diversos bónus adicionais. Ainda assim, continuamos a precisar de enfrentar as actividades mais desafiantes para o melhor loot, obviamente.
Uma novidade importante na interacção, tem a ver com o sistema de navegação. Agora, ao invés de podermos comutar o foco no botão dedicado ao nosso Ghost, temos um separador dedicado no Director, com todas as missões disponíveis e onde podemos escolher três de cada vez para agir como “waypoints”. Acho uma importante reorganização, sim, mas só aumenta o número de passos para colocar uma missão ou tarefa no foco. Era bem mais simples através do Ghost, quanto a mim. Até porque, quando as missões possuem objectivos múltiplos, torna-se confuso de usar, porque cada sub-missão é tida como uma quest diferente. Esta é, felizmente, a novidade mais profunda no interface, já agora.
Outra novidade de menor importância, até é uma boa adição para a espectacularidade. Os “Finishing Moves” são golpes finalizadores de um adversário enfraquecido. Tirem a sua energia até uma determinada percentagem e aparece uma pequena bola amarela sobre a barra de energia. Pressionem o botão de melee e há uma animação indefensável e finalizadora. Como disse, adiciona um pouco à espectacularidade dos confrontos, não é particularmente modificadora da jogabilidade mas até nos ajuda a “limpar” a área imediata de combate quando precisamos. Cada especialidade de Guardian e cada poder do mesmo, possuem “Finishing Moves” próprios.
De resto, honestamente, este é o mesmo Destiny 2 que já conhecíamos, uma observação que tem tanto de negativo, como de positivo. Além de um novo Raid “Garden of Salvation” em Marte (estreia amanhã dia 5 de Outubro) e novos Strikes e outras actividades secundárias, tanto o Crucible (modos PvP) como os elementos cooperativos multi-jogador, estão francamente intactos. Sim, há uma revisita ao esquema de armaduras, com uma lógica de energia e mods que demorei um pouco a entender. Mas, para mim, as armas continuam a ser perfeitamente “esquecíveis” até encontrarmos as grandes armas poderosas mais raras ou exóticas.
Mas, mesmo com tanta reciclagem e reaproveitamento de lógicas, adorei voltar a Destiny 2 para esta expansão. Já tinha saudades das suas excelentes mecânicas dos tiroteios e do uso de poderes. Aqui, de facto, a Bungie é exímia, desde a série Halo que temos pelas suas mãos shooters sólidos e cheios de carácter. Alie-se a isso um aprimoramento técnico, fruto de meses e anos de melhorias e optimizações e temos em mãos um jogo francamente bom para (re)descobrir num género tão exigente. O seu conceito base, como já falei, pode ser falível desde o primeiro dia, mas há um motivo para tanta gente ainda o jogar.
Por fim, tenho de falar desta nova era de Destiny 2, mas não propriamente de Shadowkeep. Em paralelo com esta expansão, a Bungie também relançou o jogo base com o nome de Destiny 2: New Light. Nesta versão, todo o primeiro ano de conteúdo até à expansão Forsaken fica inteiramente gratuito numa lógica Free to Play. Esta arrojada aposta permite que mais pessoas descubram o jogo e invistam nele, ao mesmo tempo que trazem mais população para os servidores. Obviamente, isto também traz muitos jogadores inexperientes e que irão enfrentar as idiossincrasias de um jogo falível. Felizmente, no nível 750 estamos escudados deste abismo de proficiência.
Mas, o que mesmo destaque é desta nova era de produtora independente para a Bungie. Agora livre de obrigações contratuais com terceiros (que se saiba), a produtora pode finalmente apostar na jogabilidade, na narrativa e no conteúdo de forma livre. Esta expansão, para dizer a verdade, é um pouco desapontante no que toca às inúmeras possibilidades que produção tinha para “dar um chuto” no conceito. Mas, o futuro é promissor. Estou perfeitamente convicto que esta é só a primeira etapa de uma renovação profunda de conteúdo. Isto, obviamente, assumindo que muitas das decisões mais controversas não fossem da sua autoria. Mas, havendo a loja do Eververse e ainda termos de comprar um passe de época, fico um pouco de pé atrás, confesso.
Veredicto
Destiny 2 entra no terceiro ano com uma nova campanha e uma nova era criativa e comercial para a Bungie, agora no papel de produtora Indie. Shadowkeep não é propriamente uma expansão arrojada com muitas novidades ou alterações profundas de conteúdo. Não esperava que fosse, para dizer a verdade, afinal ainda agora a produção começou este caminho independente. Fica um pouco a desejar com tanta reciclagem, muita dela a apelar a uma certa nostalgia. Ainda assim, voltar a Destiny 2 é sempre um prazer. E desancar extraterrestres na Lua, mais ainda. Mal posso esperar para ver o que este terceiro ano de criação independente irá trazer a este jogo. Esta é mesmo a melhor oportunidade de sempre para o (re)descobrir esta franquia, sem dúvida.
- ProdutoraBungie
- EditoraBungie
- Lançamento1 de Outubro 2019
- PlataformasPC, PS4, Xbox One
- GéneroAcção
Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.
Mais sobre a nossa pontuação- Revisitar a Lua
- Desancar Crota (outra vez) nunca fica fora de moda
- Novos "Finishing Moves"
- Versão "New Light" grátis para novos jogadores
- Enredo podia ser melhor
- Muita reciclagem de conteúdo
- Ainda é pouco amigo de jogadores casuais
Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.