F123 (9)

Análise – EA Sports F1 23

A Fórmula 1 é e será sempre a grande prova do automobilismo, sem rival no que toca a popularidade e base de fãs. No que toca aos videojogos de condução, porém, EA Sports F1 23 tem de provar que ainda vale a pena.

Esta afirmação acima tem duas intenções. A primeira é mostrar que a responsabilidade de recriar uma prova real de tão grande gabarito é enorme. Todos os anos há sempre o risco de ser igual aos títulos anteriores. Por outro lado, a competição é enorme neste género, não necessariamente nas corridas de F1 mas os títulos de condução competitiva em circuito são vários, alguns de óptimo calibre. Por isso, a experiente Codemasters pegou no investimento sério que a Electronic Arts colocou em cima da mesa e trouxe-nos neste ano, provavelmente, um dos mais completos títulos da franquia, dando-lhe ainda o célebre “toque” de conteúdo típico da EA Sports. Já explico.

Como título de estreia nas mãos da EA, EA Sports F1 22 foi um bom jogo, aprimorando no que era possível na condução e no visual. Não se pode dizer que tenha sido um “grande” salto qualitativo mas foi cumpridor ao nível da condução. O mesmo não se pode dizer a nível de quantidade. F1 21 tinha introduzido importantes inovações na jogabilidade, com um destaque muito vincado no modo de campanha narrativo Braking Point. No ano passado, a opção foi deixar essa história de lado e, para todos os efeitos, cumprir calendário num jogo perfeitamente tradicional em conteúdo.

Como um grande regresso, Braking Point 2 é o destaque mais assinalável de F1 23, pegando na história praticamente onde ficou e dando-lhe a devida continuidade. Não se preocupem se o modo de carreira não é o que mais apreciam nestes jogos. Tudo o resto que procuram num jogo sazonal está lá, como irão ver. Temos aqui a devida representação fidedigna de carros, pilotos, equipas e pistas, sem esquecer as novas regras da FIA, constantemente a mudar para, em teoria, melhorar o nível de competição. E, sim, até temos uma espécie de “FIFA Ultimate Team” adaptado.

Braking Point 2 continua a história do “rookie” com potencial Aiden Jackson, na sua senda para chegar a topo da Fórmula 1, introduzindo também uma nova personagem. Não se preocupem se não jogaram F1 21, porque o jogo faz uma recapitulação dessa história, com uma passagem pelos principais detalhes. Também não se preocupem com a época passada de 2022, porque é exactamente nela que iremos começar a nova história, como uma espécie de “encher de vazio” pela sua ausência na edição do ano passado.

Não vou falar muito do enredo em si porque, previsivelmente, há aqui spoilers pelo meio e a história altera-se um pouco conforme jogam. O ritmo é igual e a fórmula e respectivos desenlaces são praticamente idênticos. Aiden tem de mostrar o que vale numa equipa modesta, ainda lidar com um companheiro de equipa problemático, ao mesmo tempo que uma novata, Callie Meyer, chega para, literalmente mudar paradigmas. Ocasionalmente, somos chamados para dar entrevistas ou, no papel de manager, lidar com assuntos de gestão da equipa e a opinião geral dos fãs.

Em termos de apreciação, Braking Point 2 não é, de facto, o típico modo de jogo neste género, como também não foi The Journey no extinto EA Sports FIFA Football. Serve como um chamariz óbvio para os casuais que não querem grande competição mas sentem-se apaixonados pelo “lore” da Fórmula 1. Temos aqui todos os ingredientes desse pretenso “glamour”, inclusive as rivalidades, egos gigantes e busca incessante pela perfeição. Contudo, nas suas cerca de oito horas de jogo, é constante a noção da coreografia e como tudo é moldado para um final perfeitamente previsível.

Também é um óptimo showcase para o jogo, permitindo-nos pegar no volante em momentos-chave, sem ter de propriamente, trabalhar para chegar lá. Não é, de facto, aqui que vamos ter a melhor experiência de condução, até porque, muitas vezes já estamos a meio de uma corrida ou algo acontece entretanto que nos impede de conduzir até aos últimos instantes. Como disse acima, tudo é bastante coreografado. E, pior, nesta edição os demais pilotos e equipas reais são meras notas de passagem, apostando numa equipa fictícia, ao contrário do que aconteceu em F1 21.

A outra grande adição que pode ou não agradar a todos é F1 World. Como já dei a entender, esta é a “versão F1” da fórmula de FUT. Trata-se de um novo hub com desafios diários e semanais para atingir um novo nível de performance, os Tech Level. Basicamente vão ganhando XP por cada corrida ou actividade, gastando-o depois com upgrades para o vosso carro e cosmética para o vosso avatar. Temos um novo álbum que compila todos os nossos feitos em jogo. E, como não podia deixar de ser, há também um modo ranked para online competitivo com divisões a pensar nos eSports.

Ou seja, tudo o que tornou FUT tão memorável para os amantes de futebol, foi adaptado para o mundo da Fórmula 1, obviamente com algumas cedências. É ideia é criar um novo mundo viciante para jogar mais e ser recompensado por isso, obtendo novas licenças para provas ainda mais difíceis. Depois, é ir para a pista para mostrar as novidades. Não é, de facto, um modo para todos, especialmente os que sentirem que é algo forçado, uma vez que estarão sempre a ganhar XP e a receber notas que desbloquearam mais qualquer coisa.

Se, até agora, não estão impressionados, tenham calma porque o resto está intacto. O modo de carreira para piloto ou manager está de regresso. Embora não pareça introduzir nada de realmente novo, este é o modo mais desafiante a solo e, provavelmente, o que mais irão jogar, tendo ainda os tradicionais Grand Prix, corridas individuais a solo ou multi-jogador local ou online. O modo de carreira continua a ser, para mim, a melhor forma de desfrutar destes jogos, inclusive porque estamos a lutar contra equipas e pilotos de renome (virtuais, claro) com o desafio da mecânica evolutiva.

Todo este conteúdo será de menor importância, obviamente, se a experiência de condução não estiver ao nível desejado. Seja de que forma escolham jogar F1 23, convém que a física e a performance da condução seja, no mínimo, cumpridora. No meu entender, nunca, jamais, a Codemasters deixaria de trabalhar no realismo da condução, mesmo sendo uma disciplina tão única como é a Fórmula 1. Especialmente, porque as suas regras são tão peculiares e os seus motores híbridos tão específicos.

Nesta edição, a Codie introduziu o que chama de Precision Drive Technology. Como o próprio título indica, há agora uma maior ênfase na precisão dos controlos, com comportamentos um pouco mais naturais e reacções menos robóticas. Nenhum de nós (vá lá, a vasta maioria) conduziu um carro de F1 moderno real, pelo que só podemos especular como será o seu comportamento. Dentro dos vários níveis de experiência ao volante, é possível atingir um nível de exigência muito rigoroso na condução, podendo mesmo roubar milésimos de segundo em cada volta só com ligeiros ajustes.

Um bom exemplo disto é no uso dos travões. Agora há uma maior necessidade de ter atenção ao momento certo e à pressão dada para travar no instante e cadência certas. Errem e verão o carro sair mais por fora da curva ou, pelo contrário, a bloquear as rodas e ir em frente. Isto adiciona uma componente mais livre e um pouco mais imprevisível na condução, penalizando mais os erros, especialmente desligando algumas ajudas. Para ajudar, a Inteligência Artificial está mais reactiva, podendo defender melhor as posições ou, pelo contrário, abrindo ultrapassagens quando necessário.

A nível técnico, F1 23 é mais um marco visual e sonoro para a Codemasters. Na versão analisada na PlayStation 5, tive uma óptima experiência de condução, com uma performance muito consistente em todos os momentos com 60fps, não me parecendo que descesse muito daí, nem mesmo em momentos mais caóticos. O jogo tem óptimo aspecto, especialmente em momentos mais icónicos, como na condução à noite ou à chuva. Para quem não tem volante, nada a temer. Experimentei a integração com o DualSense na PC5 e é mesmo impecável, com o feedback háptico a ter um papel fundamental, com destaque para os gatilhos.

Antes de terminar, uma pequena mas significativa nota menos positiva. Conforme leram acima, o modo F1 World parece ser, de facto um modo atractivo pelo seu potencial mas, nem sempre pelos melhores motivos. Tal como em FUT, tudo o que vêem em jogo pode ser ganho em jogo mas… também pode ser comprado com dinheiro real. É já uma sina dos jogos modernos, quase incontornável, eu sei. Mas, entre o passe de época (Podium Pass) e as múltiplas compras possíveis, o tal vício que menciono pode ser outro… Dispensável, quanto a mim.

Veredicto

Este é, sem dúvida, o jogo mais preenchido desta série. EA Sports F1 23 traz tudo o que aprendemos a apreciar nesta franquia de jogos oficiais sazonais, acrescentando dois modos de jogo alternativos, um deles um regresso, o outro a proporcionar uma carreira online mais competitiva. Melhor, além da nova temporada actual devidamente replicada, traz também novidades na condução que obrigam a maior precisão nos controlos, numa escalada muito bem vinda de realismo. Infelizmente, os dois modos alternativos não serão para todos os gostos e a ênfase nas micro-transacções não lhe faz favores. Mesmo assim, arrisco dizer que é o melhor jogo de F1 dos últimos tempos.

  • ProdutoraCodemasters
  • EditoraEA Sports
  • Lançamento16 de Junho 2023
  • PlataformasPC, PS5, Xbox Series X|S
  • GéneroCondução, Simulação
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Este título ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Este título ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • F1 World é um pouco intrusivo
  • História de BP2 é "mais do mesmo"
  • Microtransacções

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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