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Análise – eFootball 2022

Se uma análise a um jogo fosse apenas baseada na sua popularidade no momento, a Konami teria de fechar portas. A tarefa de eFootball 2022 não é simples: pegar no legado de Wining Eleven e Pro Evolution Soccer para criar algo novo. Há aqui interesse em mudar um paradigma. E todos sabemos quão dolorosas podem ser essas mudanças.

Analisar eFootball requer um aviso prévio: Esta não é a versão final deste jogo. A Konami deixou bem claro que devemos encarar este lançamento como uma espécie de “demonstração” de algo bem maior que planeia. Como sabem, podem desde já descarregar o jogo no formato “Free To Play”, com um conteúdo meramente demonstrativo. No futuro próximo, a produtora espera lançar uma série de pacotes de conteúdo adicional, tentando de fazer desta nova franquia uma espécie de “jogo como serviço”. Se esta fosse uma série de acção, como um MMO por exemplo, seria perfeitamente justificável. Como simulador de futebol, com anos de legado num formato mais “tradicional”, é um pouco mais difícil de justificar. Ainda assim, todos sabemos que este género explora bem as micro-transacções e pacotes adicionais pagos. Pelo que vejo bem o que é pretendido.

Há, então, espaço para uma desmarcação do que é tradicional. Se considerarmos que o jogo base é gratuito, há aqui alguma justiça. Assim, os jogadores poderão apenas comprar os pacotes que lhes interessam, em vez de um jogo repleto de conteúdo que talvez nem joguem. Imaginamos que, se a moda pega, também o rival FIFA podia muito bem apostar num formato semelhante. Afinal, o que dá realmente rendimento a essa outra série é o modo FUT, não tanto as vendas directas. Também os jogos mobile possuem esta mesmíssima lógica, gratuitos na sua base, apostando forte em micro-transacções. Podem discordar deste formato comercial, é perfeitamente subjectivo. É, ainda assim, um formato válido e que dá suporte aos jogos por vários anos.

Mas, como em todas as mudanças profundas, discutíveis ou não, é preciso que o produto não fique aquém no que toca aos seus alicerces. É preciso que não tenhamos saudades de PES, portanto. E aí, de facto, a Konami não atingiu o objectivo. É que este jogo foi publicitado como uma evolução técnica. No marketing está escrito que tem, cito, “grafismo e jogabilidade melhorada”. Para isso, a produção recriou o seu jogo no novo Unreal Engine, deixando de lado o datado Fox Engine, criado nos tempos de Hideo Kojima. A Konami mostrou jogadores como André Iniesta e outros a fazerem captura de movimentos, declarando que esta seria a melhor versão de sempre do seu simulador.

Sem dúvida, algo falhou pelo caminho. E isso ficou bem claro, nem tanto por experimentar o jogo com antecipação, porque só o pude fazer mesmo no dia de lançamento, mas sim pela reacção da audiência. Aqui estava um jogo gratuito, com pouco conteúdo, é certo, mas certamente preparado para dar a melhor experiência possível. Ou, assim eu pensei. Só quando o joguei finalmente é que entendi todas as críticas. Não é que sinta que este é outro jogo senão um PES com outro nome. Os menus estão diferentes, sim, o conteúdo é bem mais esquelético, sim, soa a diferente… Mas, é um PES, para todos os efeitos. Onde o jogo se perde, é nos pormenores. E todos sabemos quão importantes são estes pormenores neste género.

A pior das novidades que encontrei neste jogo é que a bola é pesada, muito pesada. Nem carregando no botão ao máximo para chutar, senti que a bola “voasse” com mais força. Isto, tanto no passe, como no remate. Ironicamente, há momentos em que passes mais próximos acabam por “voar” com mais facilidade, com o jogo a decidir criar um “balão” quando não o pedia. O jogo de pés, os dribbles, as fintas estão todas lá, no “jogo bonito” que esta série nos habituou. Mas, tudo é mais lento, mais compassado e a bola teima em ir devagar para onde quer que seja. Podia ser apenas uma questão de hábito na forma como jogamos, eu sei, mas não é apenas este o problema.

Nota-se que houve uma importante mexida em quase todas as mecânicas e animações. Por vezes, o realismo é palpável e cheio de atenção ao detalhe, com camisolas agarradas, perdas de equilíbrio e outros pormenores. Mas, depois, nota-se que os cortes na defesa são demasiado “8 ou 80”. Ou cortamos sempre a bola ou fazemos sempre falta. E essa falta é quase sempre para cartão amarelo. Por causa da inerente lentidão da bola, também falhamos muitos passes em profundidade ou atiramos “ao boneco” no remate. A julgar pelo tutorial no início que enfatiza-o tão bem, notei que o dribble é muito dependente de toques laterais e “pentear” a bola. Há mais movimentos para driblar, sim, mas a IA (e os jogadores online) usam e abusam desta mecânica, uma vez que desequilibra sempre o adversário. E quando digo “sempre”, é mesmo sempre.

Mesmo sabendo que a sua falta de conteúdo é intencional, partilho da opinião dos jogadores: também não a consigo ultrapassar. Só podemos jogar eFootball em partidas singulares ou em pequenos desafios online contra outros jogadores. E, para isso, apenas temos 9 equipas para escolher (Barcelona, Bayern Munique, Juventus, Man. United, Arsenal, Corinthians, Flamengo, São Paulo e River Plate) e seis estádios (Camp Nou, Old Trafford, Allianz Stadium, Emirates Stadium, Allianz Arena e o eFootball Stadium). Os tais jogos online são compostos por desafios para ganhar divisa de jogo, contando com eventos semanais online. Acabei de descrever tudo o que o jogo tem agora. Não há mais modos de jogo, nem torneios ou ligas. É pouco para um “novo PES”.

E será assim durante algum tempo. Para Novembro, a Konami já tem planeado um pacote de conteúdo adicional pago. Chama-se “eFootball 2022 Premium Player Pack” e já está em pré-encomenda. Mas, não quer dizer que seja, desde já, algo apetecível para expandir o jogo. Trata-se apenas de um pacote de “oportunidades” para adquirir jogadores de grande nível para o vosso clube online e um extra em moedas de jogo. A mítica Master League e outros modos serão adicionados nos próximos meses em… pacotes pagos. Uma vez mais, podem não gostar do formato, mas, pelo menos, só pagam pelo que querem jogar. Isto, se a Konami não exagerar nos preços, claro.

Com tão pouco para jogar, portanto, era muito bom que tecnicamente não deixasse também a desejar. Já falei do desapontamento na interacção, agora é a vez de outro pormenor menos positivo: o visual. Certamente haveriam pequenas questões técnicas que a Konami iria aprimorar nos dias seguintes ao lançamento. Não há jogos perfeitos, afinal. Contudo, recordo que o jogo levou mais de dois anos a conceber, levando a produtora a adiar o lançamento de um novo PES no ano passado, preferindo uma “actualização de equipas“. Por outro lado, já tivemos uma misteriosa demonstração do jogo que deveria ter servido para testar alguns pormenores da jogabilidade e do visual. Não parece que tenha servido de muito.

Tive a oportunidade de testar o jogo na sua versão PC, esperando que fosse a melhor versão deste título. Devo dizer que, de facto, há um ligeiro retrocesso visual em jogo, tendo jogado os títulos anteriores na mesma plataforma. Não estou a falar das cenas intermédias de entrada em campo, nos intervalos e até nas animações gerais dos campos. Tudo isso está criado com uma incrível atenção ao detalhe, muitas vezes a roçar o realismo, como se de uma exibição na televisão se tratasse. eFootball tem ganas de ser visualmente deslumbrante e, em certos momentos, consegue-o. O problema é quando olhamos mais atentamente para as animações, quando vemos uma repetição de um lance ou, simplesmente, quando a câmara se aproxima da acção.

As expressões faciais, as animações no geral e alguns efeitos, são francamente estranhos. Vejam só Cristiano Ronaldo (acima) a celebrar um golo… não sabemos o que se passou ali… Será que veio jogar depois de uma visita a um dentista? E há muitas outras aberrações em planos mais próximos, até mesmo com anatomia estranha nos jogadores. Depois, temos imensos bugs, como jogadores a simplesmente desaparecerem e ficar só o uniforme a correr. Ou então jogadores estáticos a contemplar o infinito. E não vou sequer contabilizar a quantidade de vezes que vi falhas de optimização e de texturas. Consigo ver porque alguns jogadores afirmam que o jogo parece um port de uma versão mobile. Não iria tão longe mas entendo que falta aqui bastante polimento para um jogo que pretendia ser “next-gen”.

Antes o meu veredicto, vou só avançar uma teoria. A Konami não podia simplesmente esperar mais um ano para implementar o seu jogo no novo motor gráfico. A sua data de lançamento a coincidir com a do rival, também não é inocente. Não querendo fazer conjecturas (mas inevitavelmente fazendo-as), eFootball foi apressado para tentar “roubar” audiência a FIFA com um jogo gratuito. E essa pressa latente prejudicou o jogo. A vontade de apostar nos eSports é de louvar, a alteração de modelo comercial é discutível mas até é compreensível mas, o que não é aceitável é esta vontade de lançar cá para fora algo incompleto. Posso estar enganado mas a Konami foi vítima da sua ansiedade e está a “correr atrás do prejuízo”.

Um outro pormenor desapontante é que neste ano não temos tantas licenças disponíveis, pelo menos até agora. Em anos anteriores, as duas maiores franquias disputaram licenças dos principais clubes a nível mundial, com PES a ganhar contratos exclusivos com equipas e jogadores de renome. Este ano, uma boa parte dos jogadores aparecem “desfigurados” nas promoções, com uniformes fictícios. Pode ser que tudo mude com os pacotes adicionais, mas honestamente não parece. A aposta está nos eSports e nos clubes online, não tanto em competições oficiais reproduzidas. Se assim for, dá a entender que a Konami desistiu de fazer frente aos rivais. O que é também algo que poderá dividir a comunidade de fãs.

Veredicto

Tal como está neste momento, eFootball é visualmente pouco polido e tem mecânicas a precisar de muitos ajustes. Isso até é algo que a Konami poderá colmatar em futuras actualizações. Nota-se, porém, que este jogo não teve o devido carinho que tiveram os últimos PES, uma série que achei estar numa notória ascensão de qualidade e quantidade. O seu principal problema, quanto a mim, é que soa a apressado, chegando escasso em conteúdo, algo que, a julgar pelos planos anunciados, tão depressa não será colmatado. Assim, só o tempo dirá se este modelo “free-to-play” é o “murro na mesa” que faltava neste género. Por agora, é para mim um “remate” para fora… bem para fora… para lá da bandeirola de canto… e a acertar no fiscal de linha em cheio…

Embora a Konami declare que este é um título lançado, dado o novo formato de conteúdo adicional lançado em vários meses, contamos regressar ao jogo dentro de algum tempo para rever com estará nessa altura. Fiquem atentos a futuras actualizações nesta análise. 
  • ProdutoraKonami
  • EditoraKonami
  • Lançamento30 de Setembro 2021
  • PlataformasPC, PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series X|S
  • GéneroDesporto
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Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Algumas animações e expressões faciais
  • Bola demasiado "pesada"
  • Inconsistências em mecânicas de jogo
  • A precisar de muito polimento visual

Esta análise foi realizada com uma cópia adquirida pela redacção.

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