Análise em Progresso: Life is Strange – Before the Storm
A responsabilidade da Deck Nine Games é enorme. Pegar no enredo de um jogo de culto, anteriormente criado pela Dontnod Entertainment e usar uma das suas personagens mais fortes. Eis Life is Strange: Before the Storm, uma prequela do primeiro jogo.
Se bem se recordam da minha análise ao primeiro Life Is Strange, uma das coisas que mais elogiei nesse título foi o seu enredo. Ao fim deste tempo, depois de o jogar uma segunda vez, também fiquei com a sensação que a construção de personagens foi o seu verdadeiro segredo. Quando soube que Chloe, uma personagem secundária do primeiro jogo tornada protagonista neste, iria regressar numa prequela e, ainda por cima, teria uma actriz de voz diferente, fiquei apreensivo. A par de Max, Chloe era a personagem mais interessante da trama. Contudo, se olharmos bem, toda uma prequela para um jogo fantástico é um risco para qualquer produtora. Ainda por cima, de um título tão aclamado. Era mesmo necessário contar a história de Chloe? Talvez, sim. Life Is Strange 2 ainda estará no futuro, por isso, nada como voltar ao passado.
O primeiro episódio “Awake”, como não podia deixar de ser, serve para dois fins: Matar saudades de Chloe e de um punhado de personagens-chave que recordamos bem e, obviamente, estabelecer uma base para a trama que se segue. Entre a recuperação pela perda do seu pai, que faleceu num acidente de viação, a sua eterna luta de adolescente problemática com a difícil inserção social (sobretudo na escola) e a recente partida da sua melhor amiga Max Caulfield, Chloe Price está à deriva. É ainda uma jovem em busca de algum propósito. E após um acto rebelde de tentar entrar num recinto, envolve-se em problemas que terminam com o encontro com uma nova pessoa na sua vida: Rachel Amber.
Sim, é verdade. Vamos reviver a história do envolvimento de Chloe com Rachel. Recordar-se-ão que Rachel e o seu misterioso desaparecimento foi um dos pontos fulcrais da história do primeiro jogo. Aliás, é mesmo nesse ponto que depois encontraremos Chloe, desesperada e em busca da sua amiga. Que eventos levaram a este desaparecimento? Que tipo de relação tiveram as duas personagens e qual a sua importância? A evolução da trama permite-nos aperceber se foi uma amizade ou algo mais. O jogador tem algum poder de decisão neste campo, eventualmente, aprofundando-o nos próximos episódios.
O receio dos fãs perante o anúncio da nova voz de Chloe mostrou-se infundado. Ashly Burch fez, de facto, um óptimo papel na rebelde de cabelo azul do primeiro Life is Strange. Rhianna DeVries, porém, conseguiu criar uma Chloe um pouco mais jovem e com menos “peso” na sua voz. Também parece amplamente justificada a existência deste jogo. Ao início, pareceu-me um certo aproveitamento de uma personagem. No entanto, justificou-se bem no final deste episódio. Apesar de sabermos muito sobre Chloe nos eventos de Life Is Strange, fica, de facto, muita coisa por contar, sobretudo perante a inegável importância da partida de Max e da chegada de Rachel. São três anos de vácuo, que agora se preenchem.
Estou certo que farão uma pergunta óbvia. Uma das principais mecânicas do primeiro jogo, eram os poderes de regressão no tempo de Max. Terá Chloe também este poder? Felizmente, não. Digo “felizmente” porque se jogaram o primeiro jogo saberão que não seria possível isso acontecer. Contudo, há algumas coisas que serão familiares, entre algumas novidades. Regressam os famosos diálogos repletos de repercussões, que nos ajudam a modelar personagens e a própria história. Regressam as decisões complicadas, os inúmeros objectos e pessoas com quem podemos interagir e não podiam faltar os momentos de humor. As principais novidades estão numa nova interacção com o ambiente e, mais importante, um novo mini-jogo de diálogos.
Chloe está constantemente munida de duas poderosas armas. Não, não é a famosa faca que sempre pediu e a mãe nunca lhe deu. A primeira é uma caneta de graffiti. Em determinados pontos nos níveis por onde passamos, podemos deixar mensagens mais ou menos profundas ou inspiradas. Não se esqueçam de explorar e interagir com tudo o que seja possível num determinado nível, sobretudo paredes. A outra arma poderosa de Chloe é a sua língua. Uma nova opção de diálogo chama-se Backtalk (que traduzido será algo como “desdizer”), que nos permite escolher opções de respostas para contrapor os interlocutores. Escolham as frases certas e avançam na conversa, numa espécie de contraponto constante. Vençam este mini-jogo (ou percam) e terão consequências profundas na narrativa.
Neste primeiro episódio, pelo menos, a história demora um pouco a avançar. Como já disse, é também uma ocasião para recordar pessoas e também locais do primeiro jogo. Ou melhor, para os conhecer “antes da tempestade”. A pacata Arcadia Bay não é muito diferente do que nos lembramos, obviamente. Os eventos do primeiro jogo acontecerão só três anos mais tarde. No entanto, regressar à Academia Blackwell numa altura em que tudo parecia prosperar, ver o desenvolvimento das personalidades que descobriremos mais tarde, mesmo sabendo o que vai acontecer, cria um efeito curioso sobre os jogadores.
Entretanto, alguns eventos vão avançando e encontramos um ponto de equilíbrio interessante entre o estabelecimento bases narrativas e o avanço na história. Entre alguns momentos de exploração e alguns puzzles de diálogos (convém desbloquear respostas ou perguntas observando e explorando bem o nosso redor), estaremos sempre envolvidos em conversas que variam do relevante ao trivial. Há actividades que serão contrastantes com o que fazíamos com Max, mas que parecem encaixar-se perfeitamente com o espírito mais libertino de Chloe, como assistir a um concerto de rock, por exemplo. Isto, para mim, é uma excelente demonstração de que a Deck Nine soube extrair bem o ADN da Dontnod.
Outra confirmação que a produtora soube honrar o seu legado está no retrato que cria de Chloe. Podiam simplesmente repetir os feitos de Max, mas todos sabemos quão diferentes são estas duas personagens. Têm também o infame diário repleto de pensamentos de Chloe e que se vai preenchendo com os eventos do jogo. Também irão receber muitas mensagens via telemóvel, já agora. Contudo, tudo tem o seu aspecto próprio, com um toque mais rebelde, um sério contraste com o bom comportamento de Max. E também podemos vestir a protagonista com outros fatos mais ou menos radicais, alguns deles exclusivos. Enfim, se a vossa “cena” for entrar na vida pessoal de uma adolescente rebelde, vão ter aqui uma festa.
A nível visual e sonoro também podem ficar descansados. Este jogo parece e soa a Life Is Strange. Para o bem e para o mal diga-se. A nível gráfico, esperem o mesmo aspecto polido em jeito de banda desenhada, com cenários cheios de detalhe e com imensa qualidade. As personagens são, de certa forma caricaturadas, as animações são credíveis e bem conseguidas. Mesmo algumas novidades são subtis, com opções engenhosas e curiosas. Por exemplo, o próximo objectivo da história é escrito na mão de Chloe, como faríamos para anotar um recado que não podemos esquecer. Até a banda sonora da banda Daughter parece feita à medida (e foi mesmo).
Contudo, não sei se por homenagem ou por simples limitação da própria programação ou do motor gráfico, regressa também uma das minhas maiores críticas ao primeiro jogo: o péssimo sincronismo dos lábios das personagens. As falas nem sempre coincidem com as animações das bocas ou, então, não são muito evidentes. Seja como for, é um claro contraste com o evidente trabalho da produção para criar animações faciais credíveis, de modo a transmitir emoções. Não consigo entender como este ponto, tão amplamente criticado no primeiro jogo, não é melhorado neste outro título.
Veredicto
Se a vida de Max no primeiro jogo era estranha, faltava, de facto, contar como a de Chloe foi também fora do comum. São três anos repletos de eventos, onde Rachel Amber acabará por desaparecer. Embora só tenhamos, por agora, o primeiro episódio, duas coisas são evidentes: Life Is Strange: Before the Storm honra o seu legado, prestando um enorme serviço aos fãs de Chloe Price, ao mesmo tempo que inova de forma subtil. Tudo o que gostámos do primeiro jogo regressa. Contudo, também regressam algumas questões técnicas menos positivas. Enfim, Chloe está de volta e vejamos o que os dois próximos episódios nos reservam.
- ProdutoraDeck Nine Games
- EditoraSquare Enix
- Lançamento31 de Agosto 2017
- PlataformasPC, PS4, Xbox One
- GéneroAventura Gráfica
Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.
Mais sobre a nossa pontuação- Recriação das personagens
- Novo mini-jogo de diálogos
- Decisões complexas e com consequências
- Sincronismo de lábios
Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.