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Análise – Erica (PlayLink)

Quem diria que, em pleno 2019, iríamos receber um jogo inteiramente filmado e encenado com actores reais? Erica recupera esse ADN mas agora na PS4. É composto inteiramente por sequências de vídeo, nas quais o jogador deve tomar decisões, semelhante aos jogos interactivos dos velhinhos jogos CD-ROM ou CD-i dos anos 90.

Erica foi anunciado em 2017 como um jogo com um grande potencial para criar algo novo ou, pelo menos, revisitar um género único de videojogos. Contudo, por alguma razão que desconhecemos, após a sua apresentação e promoção extensa por parte da Sony Interactive Entertainment, até mesmo em Portugal, caiu um pouco no esquecimento. Pelo menos até ao início desta semana, quando a Sony decidiu mostrar um novo trailer. E, com imensa surpresa, disponibilizou o jogo imediatamente na PlayStation Store.

A jovem Erica Mason sempre foi assombrada pelos seus pesadelos. Neles revive as memórias traumáticas de quando encontrou o seu pai morto com um símbolo grego gravado no seu peito. Na trama ficamos a saber que o pai foi fundador da clínica privada Delphi House, em conjunto com um tal de Lucien Flowers. Certo dia, quando Erica recebe uma encomenda ensanguentada, dá-se início a uma investigação que leva directamente de volta a essa clínica. Como já devem estar a prever, nada será o que parece.

Seria muito mau da minha parte continuar a explicar-vos o enredo deste título. Não apenas pelos possíveis spoilers, mas porque todo o jogo pode ser resolvido de maneiras diferentes. Só a pessoa que o está a jogar no momento pode moldá-lo através das suas diferentes escolhas com as quais irá interagindo. No entanto, apesar dos seus múltiplos finais, a história irá sempre seguir um segmento preciso, pelo que corro o risco de estragar a experiência se falar demais. Aquilo que posso dizer é que, mesmo sem verdadeiros momentos de terror, existe sempre um sentimento de desconforto e “opressão” ao longo da história. E assim, cumpre o seu objectivo como uma história no género thriller.

Infelizmente, apesar da originalidade e da imersão inegável, a trama ocasionalmente “perde-se” um pouco, deixando de esclarecer completamente algumas das suas referências ou certos contextos de alguns desenlaces. Podemos até pensar que esta manobra é intencional, visto que este título tem a dimensão jogável de um filme, durando literalmente duas horas até vermos os créditos finais. O que até nem é de todo um ponto contra, porque Erica foi criado com a intenção de ser repetido.

Contudo, há sempre algumas pontas soltas que gostaria de ver explicado em minúcia. Isto até dá algum estímulo para voltar a jogar mais umas vezes e tentar perceber todas as diferenças nas decisões ou abordar o tais finais diferentes. Principalmente, para explorar as várias opções de diálogo e observar como as cenas variam dependendo do caminho percorrido. Contudo, no final há sempre alguma questão que não é respondida no grande esquema de coisas. O que me deixa na dúvida se é fruto de um guião tão complexo e com tantas ramificações ou possibilidades que se dispersa ou, pelo contrário, é somente alguma falha concreta no conceito geral da história.

Mas, não pensem que não gostei desta experiência. Erica é provavelmente o melhor título que poderia sugerir para definir o que se chama de “drama interactivo”. Como já expliquei, a história é contada através de uma série de sequências de vídeo, que podem e devem ser influenciadas por uma série de acções e escolhas dadas ao jogador, algumas das quais influenciam directamente a história e a resolução dos seus mistérios. A jogabilidade em si é bastante original, uma vez que a produção não se ficou apenas por opções de diálogo ou pressionar de botões no tempo certo.

Todo o controlo das acções deste jogo pode ser feito através do Touchpad do DualShock 4 ou de um ecrã de um smartphone, via aplicação do PlayLink. Não há quaisquer eventos de Quick Time ou cenas de acção sequencial, optando por se concentrar na componente de diálogo e de escolha de acções. Para interagir, será sugerido um movimento para a fazer com os dedos, enquanto que nos diálogos e observação, será pedido para mover o cursor, pressionar e soltar para seleccionar. Em determinados momentos, o simples movimento do comando ou do telemóvel até tem influência da câmara do jogo, uma opção técnica que achei particularmente interessante pelo feedback que nos dá.

Terminei este título três vezes, uma vez com o DualShock 4 e as restantes com recurso à aplicação via telemóvel. Em ambos os casos, a capacidade de resposta foi impecável, mesmo em situações mais complexas, como na assinatura de um bilhete, por exemplo. Tal como qualquer outro jogo da família PlayLink, para jogar com o telemóvel só precisam de ter a já mencionada aplicação instalada e que o telemóvel esteja na mesma rede LAN da PlayStation (ou ligada directamente à consola através da funcionalidade de hotspot).

Obviamente, a parte técnica é algo complicada de abordar. Não posso propriamente falar de grafismo, uma vez que não há aqui nenhum recurso às capacidades de renderização da PlayStation 4. Assim sendo, tenho a destacar a qualidade do design geral e da ambiência das cenas, que encaixam bem no género. E também tenho de realçar as prestação dos actores, especialmente na protagonista Erica, interpretada pela actriz Holly Earl. Pessoalmente, faz-me lembrar uma mistura da personagem Daenerys dos primeiros episódios da série Game of Thrones com um pouco da letárgica Max do primeiro jogo Life is Strange. A actriz tem um constante olhar inocente e conturbado que, quanto a mim, segura toda a trama em si. Bom casting. O que é irónico, porque a actriz original deste projecto no ano passado era outra.

Veredicto

Erica é um título difícil de avaliar porque é tão único. Sendo um thriller do estilo aventura gráfica, não tem os elementos paranormais de Life is Strange, nem a habilidade de criar pressão no jogador como Heavy Rain conseguiu, por exemplo. Ainda assim, consegue transmitir a tensão e ambiência necessária para este género. O rumo escolhido pela produção das sequências de vídeo, torna-o original, mesmo que se limite a respeitar a pura definição de “história interactiva”. No entanto, sente-se que houve uma grande paixão no trabalho árduo de desenvolvimento da Flavourworks e a actriz escolhida “vende” toda a trama. O que torna a experiência de jogo tão marcante.

  • ProdutoraFlavourworks / Sony London Studio
  • EditoraSony Interactive Entertainment Europe
  • Lançamento19 de Agosto 2019
  • PlataformasPS4, PS4 Pro
  • GéneroAventura Gráfica
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Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Não reiventa o género como pretendia
  • Alguns "buracos" no enredo

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

Comentários