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Análise – Expeditions: A MudRunner Game

A saga iniciada pelo velhinho Spintires, continua. A última aventura na lama é Expeditions: A MudRunner Game e a Saber Interactive quer saber ainda estão entusiasmados para conduzir, não com velocidade mas com estratégia.

Honestamente, nunca pensei que MudRunner tivesse outra sequela, mesmo depois de SnowRunner ter levado o jogo para outros horizontes técnicos. É que este é um género que pode aborrecer mesmo os mais pacientes. Há algo na fórmula, realmente. Pegar num jipe ou camião e debater lama e mesmo água, neve ou gelo para chegar ao destino, não propriamente pelo caminho mais curto tem o seu “charme”. De facto, o mundo do “todo-o-terreno” tem também várias camadas de atracção e esta apela claramente aos que preferem o aspecto mais “hardcore”. Infelizmente, para os que gostam mais de fazer curvas a alta velocidade, este é um jogo que jamais os agradará. Para os que já gostavam dos jogos anteriores, esta é uma continuação, embora as novidades que a Saber Interactive tentou introduzir visem torná-lo mais “jogo”.

Na realidade, como jogo contínuo e modo de carreira em si, Spintires e MudRunner ou mesmo SnowRunner deixavam algo a desejar. Passados numa lógica sandbox num vasto mapa, o grande forte destes jogos não eram bem as missões em si, regra geral de transporte de A para B. Eram tarefas genéricas, pouco compensatórias no geral, por vezes só torturantes em distância ou locais mais complexos para lidar. O que sempre trouxe jogadores como eu de volta foi o seu constante combate com os elementos, em especial com a lama ou neve para não ficar com o veículo atolado, sendo obrigado a um resgate com outro veículo ou um humilhante respawn. Com amigos, então, a coisa tornava-se ainda mais divertida, independentemente de termos ou não os melhores veículos.

Em termos de oferta, estamos perante algo um pouco diferente com Expeditions. A diferença que saltará mais à vista é a maior variedade no tipo de missões, com um maior incentivo a explorar o mapa. Com este jogo são inseridas algumas novas actividades, como buscar tesouros ou ruínas escondidas, bem como tirar proveito do aspecto mais “glamouroso” de tirar fotografias dos espaços e usar um drone para explorar. Há aliás uma maior ênfase no aspecto “off-road”, com mais opções para ir mais longe, por vezes além do óbvio. É também maior a ênfase no planeamento, sendo agora necessário carregar combustível, recursos e pneus a mais para a viagem, podendo também fazer pequenos “outposts” pelo caminho para garantir que nada falta.

Neste último ponto, tenho de dar uma nota muito positiva. Nos jogos anteriores, combustível e peças de reparação só estavam disponíveis em pontos muito afastados uns dos outros, entre gasolineiras e oficinas. Agora, podemos fazer reparações na hora e até trocar pneus sem necessidade de nos deslocarmos por largas distâncias. Até os pequenos “jerricans” de combustível possuem uma real serventia. Também apreciei bastante o macaco hidráulico que nos ajuda a virar veículos capotados ou a nova âncora para usar o guincho de formas mais engenhosas, até subir paredes. Temos também uma nova sonda de profundidade para não sermos surpreendidos com água mais profunda e um radar de upgrades e detecção de metais muito útil.

No fundo, o jogo permite mais autonomia na exploração, quando outrora tínhamos só de sobreviver à viagem de ponto-a-ponto. O que achei uma forma engenhosa de convidar mais à exploração. Quanto mais exploramos e ganhamos dinheiro (virtual), podemos comprar veículos, expandir a base de operações e construir mais “outposts” para nos ajudar a aumentar ainda mais a autonomia. Claro que temos também muitas opções de personalização, inclusive umas novas pinturas mais vistosas para os veículos, sérios contrastes com os tons mais “pálidos” dos jogos anteriores, além de novas peças de mecânica e de tecnologia para desbloquear e nos ajudar com cada missão de expedição.

Em termos de missões, a produção foge um pouco ao transporte de carga, preferindo missões de exploração, por vezes para descobrir algo escondido, fazer um reboque de um veículo acidentado ou levar um arqueólogo a umas ruínas, passando por missões de levar equipamento científico para fazer medições, entre outras. Por cada missão passada, ganhamos dinheiro que pode ser usado num vasto leque de opções e upgrades, inclusive a contratar especialistas que ajudarão em futuras expedições com bónus. Infelizmente, continua a reinar alguma frieza em termos narrativos. As missões são mais divertidas, sem dúvida, mas a interacção do jogador com uma possível história continua remota, preferindo contar um enredo vago em cada missão.

Por outro lado… eu até gostava das missões de carga. Diria que podiam ser menos “fantasiosas” como tentar transportar troncos de árvore por um rio adentro, mas havia algo de recompensador quando realmente o conseguíamos fazer. Também a ausência de missões com atrelado faz o jogo perder um pouco do seu desafio original. O que me deu a entender, especialmente pelo título, é que este jogo pode ser visto mais como uma espécie de “spin-off”, que uma verdadeira sequela de MudRunner e SnowRunner. Se assim for, não deverá ser este o rumo desta franquia, sendo esta apenas uma “experiência” para enriquecer mais a oferta original. Há espaço para os dois tipos de jogabilidade, diria.

Também os espaços foram pensados para nos dar uma sensação de exploração um pouco mais aventureira. Em vez de estradas enormes, cortadas por rios ou por neve abundante, agora temos… quase nenhuma estrada. Desde os canyons do Arizona às florestas dos montes Cárpatos, há, de facto, alguns caminhos mas quase nenhum é digno de ser chamado de estrada. Isto dá-nos um espírito mais aventureiro a transitar pelo mapa, envolvendo muito mais estratégia, especialmente quando não há um caminho óbvio. Uma coisa que noto é que os terrenos são um pouco mais implacáveis, propícios a ficarmos mais presos em acidentes de terreno. Mas, hey, faz tudo parte da aventura. Na próxima, lancem o drone para ver se o veículo passa.

Em termos de condução, o jogo está igual a si próprio, usando a tracção de forma consciente e o guincho como auxiliar, além das novas ferramentas úteis da âncora e macaco hidráulico para nos tirar de situações mais delicadas. O jogo parece agora um pouco mais leniente, tendo todos os veículos tracção às quatro rodas, algo que nem todos tinham nos jogos anteriores, por exemplo. Temos também uma nova lógica de pressão nos pneus, ajustando-a para diferentes tipos de terreno. Ainda prevalece muito mais a relação peso/potência dos veículos, com os mais ligeiros a ser mais fáceis de gerir mas menos capazes de levar equipamento, enquanto que os mais pesados são mais resilientes mas também mais propensos a atolamentos.

Em termos de físicas e de realismo na condução, diria que não há aqui grandes novidades. Sempre achei esta franquia realista “quanto-baste” para um videojogo, embora alguns aspectos da condução sejam mais para “vista” que para real realismo. Continuamos a ter de fazer uma boa gestão da potência, uma vez que ligar as mudanças redutoras e estar sempre com tracção integral (4X4) leva-nos a esvaziar o tanque de combustível muito mais rapidamente. Também temos de ter cuidado com os ímpetos de acelerar desalmadamente, já que cada reparação de impactos acidentais é um problema “custoso”. Contudo a ausência de carga ou de trailers torna tudo um pouco mais simplificado a pegar no volante. Enfim, é um compromisso.

Nas áreas mais técnicas, Expeditions está em linha com o que SnowRunner já tinha atingido em termos gráficos e de performance. É um jogo por vezes lindíssimo em que nos apetece mesmo tirar proveito daquelas câmaras estilo “GoPro” que podemos instalar nos veículos ou do suave drone que controlamos à distância. A simulação de líquidos é ainda um dos pontos fortes da franquia, dando-nos momentos de espectáculo a “pintar” o carro de lama e a vencer a natureza. Num modo geral, a versão que experimentei no PC foi também bastante estável, fruto também de umas quantas actualizações de optimização lançadas entretanto. Algo que nos dias que correm é cada vez mais louvável.

Tenho só de apontar que os diversos mapas são situados em locais geográficos diferentes e temos de os carregar sempre que mudamos de região, algo que acontecia já nos jogos anteriores. Entendo o intuito de nos dar biomas diferentes mas, se calhar, uma só região gigante prevenia estes chatos ecrãs de carregamento. Aliás, sempre que iniciamos uma missão, fazemos fast-travel ou simplesmente entramos ou saímos da garagem, lá temos um ecrã de carregamento. Não são longos, é certo, mas podiam ser perfeitamente mitigados nesta era. Penso que isto será cada vez menos uma realidade com a introdução de novos motores gráficos e hardware mais potente no futuro.

Também gostaria que o jogo fizesse um melhor trabalho na indicação de pontos de interesse e objectivos a atingir, ficando algumas vezes perdido no vasto mapa. Isto é um sintoma bastante evidente logo no início. Fiquei perdido mesmo nas missões de introdução do jogo, que agem como tutoriais. Foi sempre algo que nunca gostei nos jogos anteriores mas nessa ocasião a lógica era de ir de A para B e ponto final. Aqui, temos de ir a locais específicos e, por vezes, não fica bem claro onde estão. Eventualmente, encontramo-los mas no mapa de jogo não é sempre claro e merecia algo mais intuitivo. Explorar, tudo bem, ficar perdido, nem tanto.

Veredicto

Uma vez mais, a Saber Interactive soube bem o que tinha em mãos com Expeditions: A MudRunner Game, claramente apontado para uma audiência específica. Este é um jogo mais virado para a exploração e estratégia de viagem que os antecessores, dando-nos missões mais variadas que o simples transporte e um forte incentivo a explorar e descobrir novos caminhos. Melhor que os jogos anteriores, quer ser divertido e relaxante, em vez de somente desafiante. Tem uma “queda” para nos mostrar ecrãs de carregamento e, por vezes, tem dificuldades em orientar-nos. Contudo, os amantes de todo-o-terreno, especialmente o que não se importam de subir escarpas, terão aqui um jogo à altura.

  • ProdutoraSaber Interactive
  • EditoraFocus Entertainment
  • Lançamento5 de Março 2024
  • PlataformasPC, PS4, PS5, Switch, Xbox One, Xbox Series X|S
  • GéneroCondução
b
Bom

Equilibrado e com boas ideias, os seus erros não o impedem de brilhar.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Ecrãs de carregamento abundantes
  • Ainda alguma "frieza" a contar uma história
  • Problemas com a orientação do jogador

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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