Análise – F1 2021
Bem vindos à nova vida da Codemasters. Agora sob alçada da Electronic Arts, lança o seu primeiro título “EA”. Contudo, este é ainda o mesmo jogo oficial do campeonato de Fórmula 1 que tanto gostamos a cada ano. F1 2021 é ainda “o” jogo da chamada “prova-raínha” do automobilismo. E este ano tem um novo argumento… literalmente.
Convenhamos que a EA tem um histórico oscilante no que toca a jogos de automóveis, sendo o caso mais flagrante a lendária franquia Need For Speed. Recordo os mais distraídos que a EA teve a sua chance na Fórmula 1 entre os anos 2000 e 2003, com jogos francamente negativos. Agora a Codemasters trouxe-lhe de volta esta importante licença, além da sua experiência de anos, desde o velhinho e inesquecível Grand Prix de 1987 (lembram-se?). Como primeiro passo de uma nova era, nada como um jogo sazonal consolidado e muito aclamado pela crítica nos últimos anos. Mas, é óbvio que a nova etiqueta na caixa do jogo precisa de um novo trunfo.
Não é que a franquia F1 da Codie precisasse de grandes mudanças. Neste caso, o jogo só tem vindo a evoluir graficamente e ao nível de opções de interacção, modos de jogo e, claro, o enorme foco nos eSports. No ano passado tivemos também a adição do modo manager de carreira, uma muito bem vinda funcionalidade para dar variedade na jogabilidade a solo. Enfim, o amadurecimento desta franquia é um caso raro em que um jogo lançado todos os anos não se limita a repetir fórmulas com outra cara, adicionando equipas e carros. Sente-se mesmo a mudança a cada ano e é só isso que os fãs pedem, além de garantir que a fidelidade se mantém, pelo menos, intacta.
Assim, também neste ano temos novidades a assinalar. Regressam todos os modos tradicionais a solo, multi-jogador e, claro, as novas épocas de campeonatos de eSports, que há data desta análise ainda não tinham arrancado. Mas, há mais para jogar. Pela primeira vez, temos um novo modo de carreira multi-jogador cooperativo para dois participantes. No fundo, os dois jogadores competem como elementos da mesma equipa, gerindo estratégias e trabalhando em conjunto para pontuar ou chegar ao pódio. É uma excelente oportunidade para dois amigos jogarem regularmente. Ainda assim, como devem imaginar, não é convidativo a casuais que se juntam esporadicamente.
Sem qualquer dúvida, a adição mais importante e vistosa deste jogo é mesmo o novíssimo modo de carreira “Braking Point”. Pensem neste modo como uma espécie de modo “The Journey” em FIFA 17. Aqui seguimos a história do rookie promissor Aiden Jackson na sua viagem ao estrelato da Fórmula 1. Aproveitando a inclusão da época 2020 da Fórmula 2, o primeiro capítulo leva-nos a conhecer as proezas de Jackson nessa fórmula preparatória, chegando depois ao “grande circo” com todos os altos e baixos possíveis. Como interacção, temos algumas opções de resposta em entrevistas, cenas intermédias e muitas chamadas telefónicas e emails para ler.
Esta é, no fundo, uma viagem coreografada à vida de um piloto profissional de fórmula com muito para provar. Pelo meio, temos rivais para lidar, como o próprio companheiro de equipa (de quatro escolhas possíveis), Casper Akkerman. O veterano dá a sua dose de competitividade, mas a verdadeira oposição vem de outro lado. Recordo que em F1 2019 a Codie experimentou este formato de carreira na Fórmula 2. Esta espécie de modo Role Play foi bem recedida, dando-nos o volante para competir em várias fases e graus de dificuldade. “Braking Point” é uma espécie de continuação desse “ensaio”, herdando até o “vilão” dessa experiência, o intragável Devon Butler (em cima). Continua a pedir um empurrão para o rail na primeira curva…
Achei esta experiência francamente divertida e entusiasmante, especialmente quando há eventos imprevistos, como pegarmos no volante depois de um furo e temos de recuperar posições após a ida às boxes. Apenas gostava que o desafio fosse um pouco maior. A nossa perícia da condução é um pouco irrelevante, para dar lugar à tal coreografia. Tudo está feito para ter um desfecho previsível, apesar de algumas decisões e acções poderem criar algumas nuances na história. Gostava mesmo de ter mais poder de decisão em alguns momentos. Mas, para isso, temos os outros modos de carreira.
“Braking Point” pode ser o “novo produto na montra”, mas F1 2021 tem muito mais “miolo”. Capitaliza muito bem nos novos argumentos e conteúdo introduzido em F1 2020, refinando um pouco a experiência. Gostei, por exemplo, que agora no modo de carreira seja possível simular as sessões de testes, quando no jogo anterior tínhamos de participar nelas para obter os bónus e avanços técnicos. No rigor, na vida real os pilotos principais não fazem estes ensaios. Para isso, têm pilotos de testes contratados exactamente para esse fim. Parece-me uma opção mais sensata, portanto. Tenham só em atenção que não terão sucesso a 100% se simularem estes testes.
No que toca a queimar borracha (virtual) no alcatrão (virtual), F1 2021 está novamente no ápice de qualidade e realismo. Como sempre digo, dificilmente teremos a oportunidade e conduzir um carro de Fórmula 1 para formularmos uma comparação. Mas, temos pelo menos a capacidade de avaliar as físicas e reacções dos bólides, além de ver as regras e restrições devidamente recriadas em jogo. A condução é bastante reactiva, quase instintiva, transmitindo muito bem a velocidade e dinâmicas destes velozes veículos. Cada corrida necessita de mecânicas e aerodinâmicas personalizadas, é preciso lidar bem com a estratégia de ida às boxes e há uma constante atenção à gestão de pneus e combustível.
A inteligência artificial continua a dar o devido desafio, espelhando bem a qualidade de automóveis e pilotos reais. A Codemasters compromete-se este ano a actualizar a performance dos pilotos em jogo, reflectindo a sua forma e resultados em cada grande prémio da vida real. Gostarão de saber que no modo de carreira “My Team” é possível contratar grandes lendas da competição, como Ayrton Senna, Michael Schumacher ou Alain Prost. Infelizmente, estas lendas estão só disponíveis através da edição Digital Deluxe mas, se tiverem oportunidade, é um prazer vê-los a competir novamente.
No que toca à recriação da competição em jogo, temos mais uma réplica fiel da temporada actual da Fórmula 1. Pilotos e equipas replicados com o alinhamento, cores e patrocínios, inclusive algumas novidades, como a mudança de nome da equipa BWT para Aston Martin – Cognizant. Cada automóvel foi também recriado de forma exaustiva, não apenas em design e aspecto mas também em comportamento, tentando reflectir bem a performance única de cada um. Como seria de esperar, escolhendo menos ajudas à condução, é bastante difícil chegar ao pódio com um Alfa Romeo, por exemplo. Notem apeans que o modo de carreira oferece alguns bónus que poderão desvirtuar um pouco esta realidade.
Se tiver de assinalar algum elemento negativo nesta recriação da actual temporada, temos de falar do calendário. Por causa da pandemia, o calendário de provas já não reflecte a realidade. O mais evidente é que as provas de Montréal, Marina Bay e Melbourne foram canceladas na vida real mas mantém-se em jogo. Isto, além de vários outros ajustes no calendário. Também não gostei do regresso das micro-transacções num formato “premium” de itens de cosmética que, tal como ano passado, acho que não fazem nenhum favor ao jogo.
No campo visual, podem esperar a mesma qualidade aprimorada do ano passado. Desta vez, porém, o jogo também se estreou nas novas PlayStation 5 e Xbox Series X|S, elevando ainda mais a fasquia da qualidade visual nas consolas. Contudo, uma vez mais, experimentei o jogo num PC e voltei a aproveitar a robustez do hardware para elevar tudo até ao máximo. Uma vez mais, a simulação confunde-se com a realidade ao nível de efeitos visuais e na qualidade geral dos modelos de automóveis, texturas e iluminação. Também os circuitos são verdadeiramente fantásticos e cheios de pormenores de qualidade. Estamos perante um excelente título a nível técnico…
… em pista. Fora dela, porém, as coisas não são tão brilhantes. Tendo agora um modo de carreira com elementos Role Play, a fraca qualidade das personagens modeladas salta ainda mais à vista. No passado, tínhamos interacções esporádicas entre elas que já evidenciavam a sua fraca modelação e animação. Agora, com cenas intermédias mais extensas, há momentos de autêntico terror, que contrastam demasiado com todo o rigor técnico do resto da oferta. Esperem para ver uma repórter tentar sorrir numa entrevista e verão o que digo. Pede-se urgentemente um modelador/animador de personagens para a Codemasters, por favor.
Veredicto
Todos os receios que a compra da Electronic Arts pudesse alterar os destinos da Codemasters podem ser mitigados. F1 2021 é mais um excelente título de condução, simulando a exigente e intrincada competição da Fórmula 1. Traz consigo toda a qualidade reconhecida de anos anteriores, evoluindo para um novo e interessante modo de carreira com narrativa, além do modo cooperativo para dois jogadores. Este é um bom atestado de continuidade para a Codie, enquanto que a EA pode voltar à sua boa forma do passado, nesta que é uma demonstração que, doravante, é possível trazer-nos excelentes jogos de automóveis.
- ProdutoraCodemasters
- EditoraElectronic Arts
- Lançamento13 de Julho 2021
- PlataformasPC, PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series X|S
- GéneroCondução, Simulação
Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.
Mais sobre a nossa pontuação- Novos modos "Braking Point" e cooperativo
- A mesma qualidade de simulação
- Muitos modos de jogo disponíveis
- Ainda as micro-transacções
- O calendário alterado
- Modelação e animação das personagens
Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.