Análise – Fae Farm
É quase impossível não sentir que já jogamos algo semelhante a Fae Farm. O jogo da equipa canadiana Phoenix Labs é apenas o mais recente numa longa lista de experiências apelidadas de “saudáveis”.
Este é um termo relativamente recente, que se refere a uma série de jogos nos quais o combate e os desafios intensos dão lugar a experiências positivas e moralmente neutras. Os simuladores de vida e agricultura representam uma parte significativa deste nicho, tendo jogos como Animal Crossing, Harvest Moon ou Stardew Valley, como exemplo, só para nomear os mais conhecidos. A promessa é sempre a mesma: desligar do stress diário, evitar a violência e dedicarmo-nos à nossa própria casa virtual, com o seu próprio jardim e talvez até aos animais de estimação. Se tiver um grafismo em jeito de livro juvenil ou filme de animação, ainda melhor.
Fazer a análise de Fae Farm deveria ser, portanto, um momento de evasão, uma actividade relaxante entre uma manhã de pesca, uma tarde a regar o jardim e uma noite a conversar com personagens digitais sorridentes. É uma pena que este alegre simulador de vida seja, paradoxalmente… algo sem vida. Seria de esperar que abordar um género consolidado fosse mais simples para qualquer produtora. Só que, fica bem claro que a ambição da produção aqui foi bem maior que a capacidade de a implementar.
A história de Fae Farm começa com um pretexto muito pouco original: o protagonista parte para visitar a ilha de Azoria, acaba num naufrágio e é salvo e acolhido pelo presidente da Câmara local, que o convida a ficar numa quinta abandonada. Quase todos os jogos deste tipo tentam chegar ao mesmo ponto em comum sem muitas justificações: é hora de trabalhar, como aqui chegámos… bem, é irrelevante.
Guiado pelas tarefas dadas pelo presidente da Câmara e pelos outros habitantes da ilha, o jogador aprende rapidamente tudo o que é possível fazer em Fae Farm. É possível preparar o solo e plantar sementes, recolher frutas e vegetais para comer ou vender. Ainda podemos apanhar peixes e insectos, além de construir ferramentas ou objetos úteis para decorar a casa. Enfim, tudo o que esperam neste género.
Onde Fae Farm se destaca é na forma como torna todas essas tarefas extremamente simples. Mudar de instrumentos requer pressionar um botão ou, no máximo, dois. A partir do mapa, é possível localizar a posição de uma personagem e chegar até ela num instante. Acima de tudo, a capacidade de correr, mergulhar e saltar mais ou menos em qualquer lugar torna a movimentação pela ilha muito mais imediata do que em muitos outros jogos semelhantes. No entanto, a liberdade de explorar é limitada por paredes de silvas e outros obstáculos, sendo necessário enfrentar pequenas masmorras para poder restaurar a área em questão.
Mesmo que essas cavernas sejam habitadas por criaturas agressivas, os momentos de exploração de masmorras em Fae Farm nunca representam um desafio exigente ou interessante, nem parecem realmente funcionais. À medida que obtemos novos itens, o desempenho na batalha também melhora, uma vez que o indicador de saúde e resistência aumenta, assim como o dano infligido. No entanto, a impressão que me dá é que as lutas foram inseridas mais para acrescentar uma actividade adicional à já longa lista de tarefas. Nas primeiras horas, não se percebe realmente quantas tarefas existem em Fae Farm, só mesmo quando começamos a alcançar novos locais e a desbloquear quintas adicionais é que se começa a ter uma ideia da sua dimensão real.
Este poderia ter sido um exemplar excepcional do seu género, se não fosse o facto da produtora ter subestimado sensacionalmente um dos aspectos mais importantes: os habitantes. Deixando de lado a estética de desenho animado muito semelhante ao estilo de MySims (que pode ou não agradar a todos, não sendo também muito original), todos os habitantes de Azoria são manequins desprovidos de uma personalidade que crie qualquer tipo de ligação connosco. Notem que têm a sua utilidade, compram e vendem objectos, atribuem missões e fornecem informações úteis. Mas…
Falta-lhes personalidade, alguma empatia… falta-lhes vida. Tendem a estar sempre alegres e condescendentes, nunca contam histórias interessantes e não parecem criados para enriquecer o mundo. Em Animal Crossing, por exemplo, os outros habitantes podem ter um dia mau, ficar tristes e partilhar pequenas histórias que fazem com que ganhemos interesse em conhecê-los. Simpatizamos com alguns e detestamos outros mas não há dúvida de que realmente tínhamos aquela envolvência necessária para justificar partilharmos a nossa vida virtual com outras personagens.Senti que, em muitos momentos, a vida em redor da minha personagem é perfeitamente irrelevante, não sentido nem a minha influência nas vidas das personagens nem a sua influência na minha. Talvez apenas num ponto, mas não é positivo, no aborrecimento. Em vez de uma construção de personagens, o jogo destaca a personalização, incluindo editor que permite mudar a estética do vosso alter ego, independentemente de qualquer distinção de género, orientações ou religião. Essa diversidade também é vista na aparência dos outros habitantes, mas falta o devido vínculo com o jogador, fruto de uma escrita tão decepcionante.
Veredicto
Sendo um simulador de vida com excelentes bases, falta “algo mais” a Fae Farm. Desde a pesca até à criação de objetos, passando pela decoração da casa e pela caça a insectos, obviamente incluindo o cuidado com o seu jardim e as lutas em cavernas, o jogo possui muitos sistemas e actividades para realizar. No entanto, sobre essa base, a produtora construiu uma experiência verdadeiramente esquecível, sobretudo por causa do enredo e personagens sem vida. No final estamos a fazer muito… literalmente sozinhos, mesmo com um mundo inteiro à volta. Será esta uma metáfora para a vida moderna de gamer? Não, é só uma falta de senso narrativo.
- ProdutoraPhoenix Labs
- EditoraPhoenix Labs
- Lançamento8 de Setembro 2023
- PlataformasPC, Switch
- GéneroAventura, Simulação
Podia ser melhor mas tem alguns pormenores positivos que podem agradar a muitos jogadores.
Mais sobre a nossa pontuação- Uma variedade de actividades para fazer
- Extremamente inclusivo no editor e na estética dos protagonistas
- Personagens completamente desprovidas de personalidade
- A exploração e combate nas masmorras não são divertidos nem interessantes
- O estilo gráfico é pouco original
Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.