Análise: Firewatch
Das densas florestas do Wyoming, chega-nos Firewatch. A produtora Campo Santo conta-nos uma história que podia ser apenas mais uma de vidas destroçadas em busca de uma redenção. No entanto, acaba por nos contar uma outra de intriga e drama, tudo embrulhado numa aventura que vos vai cativar do princípio ao fim.
A história de Henry podia ser a de qualquer um de nós. Com um problema pessoal profundo, a dada altura, qualquer pessoa procura uma forma de escape. Para esta personagem foi um novo emprego. Depois de viver uma relação intensa com a sua mulher Julia, esta acaba por padecer de uma doença destrutiva que a leva a regressar à sua terra natal, a Austrália. Sozinho, Henry decide aceitar um emprego que viu num jornal para vigia de uma floresta. Parece ser uma óptima escapatória para todos os problemas. E até se torna numa inesperada reviravolta na sua solidão. É que na estação de vigia um rádio traz-lhe uma nova esperança, chamada Dalilah.
O enredo genérico deste jogo é parcialmente escrito por nós. Os diálogos possuem, na maioria dos casos, múltipla opção e assim somos nós que escolhemos o que Henry diz. O que posso dizer é que a história é mesmo a base de todo o jogo, na sua enorme imperfeição. Não há finais felizes, como na vida real são tão raros. Os assuntos tocados são muito delicados e profundos. Só não são depressivos pelos ocasionais momentos cómicos, tanto em diálogos como em momentos de jogo. Só tenho pena que o jogo tenha um ritmo tão lento ao início e depois se apresse até ao fim. E também não gostei que tenha acabado tão cedo, numa curta campanha de menos de 4 horas e sem grande convite à repetição.
A duração reduzida, no entanto, não prejudica a história que é contada. Ao longo dos meses em que Henry habita a estação de vigia de incêndios na Floresta Nacional de Shoshone, ocupa o seu tempo a conversar via rádio com Dalilah, a escrever e nas diversas tarefas de manutenção do parque. Desde impedir que um grupo de jovens use fogo-de-artifício até simplesmente limpar o lixo que deitam para o chão, há muito para fazer. Eventualmente, Henry acabará por tropeçar num denso mistério algures na floresta que dará lugar a uma intrigante investigação. Então é que o jogo realmente começa.
Esta é uma aventura que é vulgarmente etiquetada como “Walking Simulator”. Vamos explorar muito a pé os diversos trilhos da floresta, escalar escarpas, fazer rappel, entre outras tarefas para nos locomovermos pelo parque. No entanto, há áreas que inicialmente estão inacessíveis e é notório que vamos regressar mais tarde a esses locais. Gradualmente vamos encontrando novas ferramentas, como um machado para cortar árvores e outros fins, uma lanterna para explorar uma caverna e até umas cordas e ganchos para improvisar novos caminhos.
Quem sabe os utensílios mais importantes serão o mapa da região e a pequena bússola. A área não é assim muito grande, mas a pé ainda demoramos alguns minutos a percorrê-la. A questão mesmo é descobrir os caminhos e trilhos para chegar onde queremos. Como já expliquei, há zonas que estão inicialmente inacessíveis e é preciso contornar. Recorrer ao mapa é importante para descobrir trilhos, sobretudo porque as orientações de Dalilah são sempre de rumos (Norte, Sul, etc) ou zonas indicadas no mapa. Para ajudar a descobrir trilhos, procurem pequenas caixas de mantimentos que possuem um mapa de trilhos para actualizarmos o nosso.
Outro utensílio interessante para usarmos neste jogo, é uma pequena máquina fotográfica descartável. Sim, eventualmente podemos fazer fotografias do que encontramos ao longo do parque. Essas nossas fotografias irão depois figurar nos créditos finais, juntamente com uma outras que já estavam no rolo quando Henry encontra a câmara. Curiosamente, essas fotos também contam uma história, mas terão de terminar o jogo para perceberem o que digo. Saibam que na versão PC (que analisamos aqui) podem depois pedir que as fotos sejam “reveladas” e enviadas para vocês por correio (por apenas 15$ dólares e portes grátis para todo o mundo). Vejam o exemplo em cima do site Technobuffalo. Simplesmente genial.
Entretanto, os diálogos de rádio vão ficando cada vez mais densos e intensos. Há determinadas escolhas interessantes que ditam alguns momentos alternativos. Por exemplo, se irritarmos Dalilah ela desliga o rádio e já não teremos as suas preciosas dicas. De facto, a interacção com o rádio é constante e preciosa, uma vez que Dalilah conhece bem o parque e pode dar-nos orientações. Diria que é aqui que reside o segredo do sucesso para este jogo. O casting de vozes de Henry (Rich Sommer da série de TV Mad Men) e de Dalilah (Cissy Jones, uma voz conhecida de outros jogos como Fallout 4 ou GTAV) é genial. E a química dos diálogos entre estes actores proporciona óptimos momentos, tanto dramáticos como cómicos.
E a ajudar a esta qualidade narrativa e de casting, está um jogo absolutamente deslumbrante. Desde um nascer do sol até um dia chuvoso ou com fumo intenso dos incêndios, há momentos fantásticos com paletas de cores dignas de quadros lindíssimos. O motor gráfico Unity proporciona excelentes animações e modelação de terreno credível, mesmo com algumas texturas intencionalmente mais estilizadas, tipo caricatura ou cartoon. Gastei todo o rolo da tal câmara fotográfica a fazer fotografias de tudo e de nada. Penso que as imagens que partilho aqui falam por si.
Ao nível sonoro, o jogo também possui uma excelente mistura de sons e efeitos típicos de florestas. É normal que percamos alguns momentos parados a apreciar o pôr-do-sol ou a andar pelos diversos trilhos reconhecendo os sons de pássaros, água a correr em riachos, ramos a dançar ao vento e outros efeitos. A complementar esta fantástica mistura, está uma banda-sonora com um leque vasto de temas perfeitos para os vários momentos do jogo.
Veredicto
É um bonito jogo que assenta bastante nos fortes diálogos e no enredo intrincado que até possui momentos de mistério. A constante exploração só é limitada pelos trilhos que precisam ser descobertos mais tarde. A interação também é limitada ao que é estritamente essencial para a história. Mesmo assim, há muitos trilhos para andar e escarpas para escalar e descer em rappel, entre outras actividades. No final, fica um conto intencionalmente imperfeito que chegamos demasiado depressa ao fim. Diria até que esse fim chega de forma algo abrupta. De qualquer das maneiras, apesar do preço algo elevado (20€ no Steam) para a duração que possui, Firewatch merece a vossa atenção. Acho-o essencial para quem quer uma aventura entre o drama e a comédia, com relações complexas e um mistério muito bem contado.
- ProdutoraCampo Santo
- EditoraPanic
- Lançamento9 de Fevereiro 2016
- PlataformasLinux, Mac, PC, PS4
- GéneroAventura
Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.
Mais sobre a nossa pontuação- Casting de vozes e diálogos
- Arte do jogo lindíssima
- Enredo bem conseguido
- Muito curto
- Parte final sem o mesmo ritmo do início
- Preço tendo em conta a duração
Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.