Análise – Football Manager 2019
Embora os grandes títulos de futebol (FIFA e PES) também tentem entrar no complexo mundo da gestão das equipas, só há um título realmente dedicado a essa “arte”. Football Manager 2019 é a mais recente edição da série, a melhor e a única ainda capaz de surpreender neste curioso nicho.
De vez em quando, lá surge mais uma nova abordagem ao universos dos jogos “manager” de futebol. Uns mais ambiciosos que outros, é certo, mas só mesmo a Sports Interactive se mantém neste registo “de pedra e cal”. Como já disse, FIFA e PES quase que substituem estes títulos com os seus modos de treinador. Quase. Falta-lhes muito para trilhar, se um dia quiserem realmente competir a este nível. Este não é um jogo para deslumbrar nas fintas ou remates em jeito. Aqui, perdoem-me o cliché, o futebol é mesmo “mais táctico”. E a gestão é feita nos mais pequenos pormenores, quase tornando-o num RPG do chamado “desporto-rei”. O que, logicamente, limita a sua audiência.
Temos vindo a acompanhar as recentes edições desta série, pelo que, nesta, vamo-nos focar no que é novidade. Contudo, para quem não conhece o género, Football Manager é um jogo de estratégia, de gestão e de planeamento. Basicamente, é-nos colocada à frente toda a gestão de um clube de futebol. Isto significa que iremos tratar da equipa, obviamente, com toda a gestão do plantel, ao nível de recursos, valências, tácticas, etc. Contudo, também significa gerir tudo o que rodeia a equipa, no seio do clube, além da nossa própria carreira como treinador. Tudo isto é feito olhando para tabelas, estatísticas e texto avulso, como uma enorme base de dados, intrincada e complexa.
Há pouco apelo aqui para quem pensa num jogo de futebol como sendo um simulador visual do que se passa em campo. Vindo de uma febre de jogos de manager de futebol do anos 90, mesmo eu tenho alguma dificuldade em manter-me interessado perante tantas páginas e tanta matemática. No entanto, arrisco dizer que é aqui que irão ver o futebol mais fielmente replicado. Não, não estou a falar ao nível visual. Estou a falar nas prestações dos jogadores, na química de inteiras equipas e até de estilos de jogo e de estratégias em campo. Tudo é mantido por fiéis dedicados programadores e entusiastas (ainda mais via ficheiros personalizados disponíveis online). Não tenho qualquer dúvida que muitos treinadores reais usam FM para gestão das suas equipas reais. E há bons motivos.
Ao fim destes anos, porém, a produção corre um sério risco que esta seja só mais uma actualização de título, que propriamente uma nova versão. Afinal, todos os anos temos um FM e já não há muito para inventar nesta fórmula. Assim, para se manter fresco e interessante, Football Manager tem de acompanhar o que se passa no desporto real. Quando analisei os mais recentes PES e FIFA mencionei que esses jogos acompanharam a realidade do futebol. A defesa mais fechada, os passes mais curtos, a dependência de jogadores “explosivos”, o futebol mudou bastante nestes últimos anos. Também a passada mudou, assim como a inclusão do Vídeo-Árbitro trouxe novas realidades na justiça dos lances duvidosos. É óbvio que FM tem de acompanhar estas realidades.
Felizmente, FM 2019 não se limita a, simplesmente, incluir umas poucas novidades paralelas à realidade. Há mesmo novas inclusões e melhorias em vários pontos que o tornam muito mais que uma actualização anual. Melhor, desta feita encontrei muito poucos bugs ou erros de assinalar. Aliás, este lançamento foi dos que melhor correu nos últimos anos. Não diria que os anteriores tivessem erros graves, mas os primeiros dias foram sempre algo conturbados. Neste caso, com uma fase Beta para quem pré-encomendou e que permitiu limar arestas, tudo correu bem para a Sports Interactive. A produção estava comprometida a dar-nos o melhor FM de sempre.
Em termos de novidades, as mais importantes prendem-se com as duas pedras basilares do jogo: o Treino e a Táctica. Como já mencionei, a precisão das estatísticas é uma obsessão da produção. O que resultou num notório patamar estagnado de evolução em jogos anteriores. O treino, por exemplo, era meramente acessório e sem incentivo. Agora, as novas sessões de treino permitem preparar de forma concreta cada jogo, permitindo ainda desenvolver mais valias e colmatar lacunas da equipa numa táctica. Também durante a partida, temos mais instruções, muitas delas personalizáveis para criar o nosso próprio estilo. O objectivo não é “inventar a roda” mas, sim, ter mais controlo da táctica, adaptando-a a cada novo adversário, antes e durante a partida.
Um pormenor muito interessante é que a informação que nos chega é bastante mais esmiuçada e mais frequente. À primeira vista, pode tornar-se algo excedente. Felizmente, para quem não quer decidir cada pormenor (não aconselho), podem sempre optar por alguns templates disponíveis, cada um baseado em tácticas reais de treinadores e equipas reais. Obviamente, algumas destas tácticas podem não se ajustar aos jogadores do vosso plantel. Alguma precisam de jogadores mais resistentes, outras precisam de jogadores mais rápidos, por exemplo. Agora, podem ajustar o treino para conseguir os melhores resultados de cada elemento. Lembrem-se que tudo é uma enorme equação matemática para resolver.
As outras novidades são também importantes. A primeira e segunda ligas Alemãs, a Bundesliga e a 2. Bundesliga, estão agora licenciadas nas suas 36 equipas (jogadores, kits, emblemas, etc), assim como as competições paralelas ao campeonato Alemão. Temos, finalmente, o já mencionado Vídeo-Árbitro (VAR) finalmente implementado, assim como a tecnologia de linha de golo. Também teremos mais informações dos agentes durante as transferências de jogadores, melhores briefings antes de cada jogo, entre outras novidades ao nível de feedback, fruto do tal “esmiuçar” de informação disponível que já mencionei.
Também irão notar que a inteligência artificial em partida foi revista, tornando-se bem mais reactiva. Isto significa que os jogadores tomarão melhores decisões, como na ocasião do passe para um elemento que esteja no limite do fora-de-jogo, por exemplo. E não serão tão imprevisíveis a rematar como nos jogos anteriores. Ainda há bastantes arestas para limar, mesmo assim. Ainda testemunhei situações estranhas, como numa partida em que tive três penalties seguidos contra. Ou numa outra em que todos os lances do meu ataque terminaram com faltas para cartão amarelo no lado contrário. Nitidamente, as probabilidades dos jogadores fazerem falta precisam de um ajuste.
Uma última novidade de enorme importância, é apontada aos jogadores recém-chegados. É óbvio que FM intimida muita gente, como já disse, sobretudo os que não conhecem o género. Facilmente se perdem nos menus vastos e nas aplicações constantemente a pedir atenção. Um muito necessário (e pedido) tutorial interactivo apresenta o básico, ajudando também a delinear a progressão dos novos treinadores. Considero que este tutorial é um tanto optimista, dando apenas os pormenores fundamentais, com muito do “sumo” a surgir apenas na experiência de cada um. Contudo, é uma importante introdução que não devem perder se este é o vosso primeiro FM.
E é impossível não notarem a remodelação geral nos menus e no grafismo geral desde a última edição. Os ecrãs possuem agora um polimento na sua leitura, sobretudo em quadros mais extensos, tornando tudo bem mais agradável. O modelo visual tridimensional e a sonoridade durante as partidas, porém, continuam a não garantir nenhum prémio de proeza técnica à Sports Interactive. Não é intragável propriamente, mas também não é brilhante. Direi apenas que é cumpridor para nos dar uma representação visual de um jogo de futebol a decorrer. Mas, é só isso que consegue fazer. As animações são algo toscas, os efeitos visuais e sonoros não deslumbram, enfim, todo o espectáculo do futebol se passa noutros campos… noutros jogos…
Notem que todo o jogo está devidamente traduzido para Português, o que é uma empenho assinalável da SEGA em levar o jogo onde este é mais popular. Contudo, como já falei nisto nos demais jogos de futebol, a falta de campeonatos devidamente licenciados é gritante. Tudo bem, temos a possibilidade de personalizar quase tudo ou até de descarregar ligas inteiras devidamente recriadas por fiéis modders. Mas, não deveria de ser assim. Uma vez mais, o desporto que gera milhões, tem “receio” de ceder direitos de imagem para um videojogo tão peculiar, dedicado aos verdadeiros amantes do dito desporto. No meu ponto de vida, isto é perfeitamente irónico.
Veredicto
Arrisco dizer que Football Manager 2019 é o melhor jogo de sempre neste género. Além da experiência acumulada da Sports Interactive ao longo dos anos, as novidades introduzidas são francamente positivas. O treinador tem agora muito mais informação, opções e controlo da táctica e dos treinos que alguma vez teve. E, mesmo intimidador como sempre será, o tutorial interactivo é uma mais valia incontestável. Infelizmente, continua a não deslumbrar muito quando assistimos aos jogos em campo. Contudo, não é bem este o jogo que procuram se querem apenas “jogar à bola”. FM é um jogo de estratégia. E, aí, brilha como nunca.
- ProdutoraSports Interactive
- EditoraSEGA
- Lançamento1 de Novembro 2018
- PlataformasPC
- GéneroDesporto, Estratégia
Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.
Mais sobre a nossa pontuação- Mais controlo da táctica e do treino
- Tutorial interactivo
- Menus melhorados e polidos
- Bundesliga recriada na totalidade
- Visual e som das partidas é ainda um ponto fraco
- Ainda mais informação pode intimidar ainda mais
- Alguns erros na IA, com muitas faltas
Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.