FM2020 (1)

Análise – Football Manager 2020

Se há sempre uma grande discussão anual sobre qual é o simulador mais apetecível entre FIFA e PES, o futebol tem também outro concorrente menos evidente da nossa atenção. Enquanto que esses simuladores se concentram no futebol em campo, Football Manager 2020 aborda… bom, quase tudo o resto no que toca à gestão da equipa.

E todos os anos a Sports Interactive em conjunto com a SEGA fazem questão de nos trazer uma nova versão, actualizada e com melhorias que justifiquem o investimento. É possível que achem que cada novo FIFA ou PES apenas se resumem a actualizar plantéis e a dar uns polimentos gráficos, mas esta série FM não pode viver de meras actualizações de bases de dados. E o visual, mesmo havendo margem para alguns ajustes, não é propriamente o foco da atenção dos interessados. Tratando-se, para todos os efeitos, de um jogo de gestão e estratégia baseado em tabelas e estatísticas, é o interface que precisa de mais atenção a cada ano. Talvez um veterano destas lides “esteja em casa” quando corre um novo FM a cada ano, mas um novato vai sentir-se inevitavelmente intimidado. Mas, acreditem, se gostam de Futebol e querem ir mais além das “quatro linhas”, não haverá uma experiência mais próxima de um treinador e gestor de uma equipa.

Antes de continuar, quero abordar essa definição da “profissão” que assumimos aqui neste jogo. A ideia de um Manager surgiu do papel desempenhado em tempos no futebol Inglês. Não era apenas um treinador que se sentava no banco, era também um gestor e mentor de toda a equipa, tendo mesmo intervenção na gestão de vários sectores do clube. Hoje em dia, as coisas estão um pouco diferentes e isso reflecte-se neste jogo. A função que desempenhamos neste título é mais uma mistura entre treinador, dirigente e director desportivo, tendo também alguma movimentação noutras áreas como a preparação física e captação de jogadores. Na realidade, seria quase impossível este cargo nos dias que correm, havendo áreas muitos complexas e que iriam exigir demasiada dedicação.

A série Football Manager tem vindo a abordar esta complexidade de funções, deixando-nos decidir o que pretendemos fazer em várias áreas. Mas, agora permite automatizá-las. Porque elegemos técnicos para diversos sectores, podemos delegar responsabilidades em várias funções, podendo sempre ter o poder de decisão em algumas situações, como nas contratações ou scouting de jogadores. Confesso que usei e abusei desse delegar de funções porque, a dada altura, a gestão da equipa, só por si, ocupa bastante tempo (e é o que deve ocupar, na verdade). A ideia de um Manager polivalente, com palavra e intervenção em tudo, está um pouco ultrapassada. A não ser que sejam Jorge Jesus, aí acreditamos que haja energia para isso e ainda mandar recados nas conferências de imprensa.

Inevitavelmente, cada novo FM é uma evolução do anterior. Tem vindo a ser assim desde há algumas edições e não há perspectivas de nada realmente mudar ou evoluir drásticamente. Simplesmente, a SI encontrou a receita perfeita e só precisa de aprimorar os ingredientes para justificar uma nova edição. E como disse lá em cima, modernizar plantéis é esperado, mas não chega. Até porque há quem se dedique a actualizar bases de dados e, sem custos, podem ter todas as equipas actualizadas em qualquer edição de FM. Este ano, a produção decidiu trazer alguns ajustes que, embora importantes como irão ver, à superfície não parecem evidentes. Normalmente, estes ajustes resultam de feedback dos jogadores ou de polimentos necessários na jogabilidade e os jogadores agradecem.

Imaginando que são novos nesta série, recomendo vivamente que escolham a opção de seguir os tutoriais logo no arranque de uma temporada. E quando digo “seguir os tutoriais” é mesmo isso que vai acontecer. Via caixas assinaladas e texto sucinto, tudo, mesmo tudo, o que precisam saber é explicado de forma directa, no que em inglês se chama “fool proof”. Não podem alegar que não sabem o que fazer depois de passar por estes tutoriais. Embora já ande a jogar FM há alguns anos, passei por alguns destes tutoriais, mais para ver se alguma coisa tinha mudado. Mas, acabei surpreendido por algumas mecânicas e opções que não conhecia. Só por isso, valeu a pena. Se se virem atrapalhados com tanta informação, não hesitem em delegar tarefas aos técnicos, como expliquei acima.

Em termos de novidades, quero destacar a nova funcionalidade da Visão do Clube. Podemos ser excelentes treinadores, mas nunca nos enquadramos na visão que os directores do clube pretendem. Ou, pelo contrário, até lutamos pelos objectivos concretos da equipa, mas não conseguimos dar muito mais além disso. Situações dessas, são muito frequentes no mundo complexo do futebol real. Uma equipa pode ter o objectivo de ganhar o campeonato local mas pode, ainda assim, almejar as competições Europeias. Ou, pode nem sequer qualificar-se para a Liga Europa, mas ganha a Taça de Portugal, por exemplo. Se estes objectivos se enquadram na visão da direcção o treinador é convidado a renovar.

Mas, esta Visão do Clube vai mais além em FM 2020. Os objectivos são agrupados por épocas (dependendo do contrato) e podem englobar questões menos directas, como o desenvolvimento de novos jogadores no recém formado Centro de Desenvolvimento, outra novidade do jogo, sobre a qual já irei falar mais abaixo. Outros objectivos podem ser entreter o público com bom futebol ou garantir apenas a presença em competições internacionais, sem querer ir muito mais além disso. Tudo depende da dimensão do clube, obviamente, mas todos os objectivos são justos e há bastante margem para erro.

Perdendo a confiança da direcção por falhar muitos objectivos (perdendo a visão do clube, portanto) ou dividindo o balneário com as nossas reacções ou até tornando-se cáustico em conferências de imprensa, pode ditar um futuro curto no actual clube. Esta pressão é muito bem vinda e age quase como uma espécie de Role Play Game, entre decisões e rumos mais ou menos correctos. Nem todos têm resultados no palmarés para se “armarem” em José Mourinho, por exemplo. A visão do clube age como um “termómetro” da nossa prestação, permitindo corrigir erros a tempo ou simplesmente mantendo-nos na “onda”.

Já falei lá em cima do Centro de Desenvolvimento. Muitos são os clubes que apostam em academias e mostram bons resultados nesse investimento. Não é algo novo, mas parece cada vez mais “na moda”. Casos reais como o do Sport Lisboa e Benfica, que tem formado grandes jogadores como Bernardo Silva ou João Felix, são um bom exemplo dessa visão. E, a não ser que o clube seja gerido por oligarcas Russos, são uma das principais fontes de jogadores de alguns clubes, estando o mercado tão inflaccionado de valores de passes de jogadores. Esta nova funcionalidade é preciosa, podendo modelar jovens talentos, ao ponto de se tornar também uma das possíveis principais fontes de rendimento de um clube.

Infelizmente, a minha experiência com esta nova funcionalidade não foi sempre positiva. Identifiquei o problema facilmente e passo a explicar. Iniciando a carreira num clube, comecei de imediato a apostar em jovens que foram rodando na equipa B, ao mesmo tempo que o Centro de Desenvolvimento os trabalhava. Acontece que, uma vez promovidos à equipa principal, seja por demonstração de qualidade ou necessidade de preencher vagas, o jogador deixa de pertencer ao Centro e o seu progresso não é tão evidente. Não entendo porque um jogador seja assim removido, só porque está na equipa principal. Mas, isto aconteceu várias vezes. De “jovem esperança” a “dispensável” foi um passo, por mais que apostasse no jogador. Deixem os jovens desenvolver e não tenham pressa em trazê-los à Equipa A, mesmo que demonstrem qualidade.

Por outro lado, sendo responsáveis por todo, mesmo todo, o plantel, também temos acesso ao progresso e forma de jogadores que não usamos, como os que estão emprestados noutros clubes. Acaba por ser uma lógica interessante para preencher essas vagas que surgem de lesões ou de novas tácticas. Se não tivermos jogadores aptos na equipa A ou nas jovens promessas da academia, podemos sempre pedir o regresso de jogadores emprestados. Tudo isto é gestão e gosto de sentir que o leque de opções não se fica apenas pelo mercado de compra e venda de jogadores. Até porque o orçamento nunca é ilimitado e os objectivos financeiros do clube também têm de ser cumpridos.

Outra questão em que não fui muito bem sucedido, foi na escolha de frases para discursos com os jogadores e as infames conferências de imprensa. Como devem calcular, transmitir mensagens meramente escritas, sem dar a emoção ou a ênfase necessária, é sempre algo bastante sintético. Perder o apreço dos jogadores é fácil, sobretudo se depois de um jogo acharmos que é preciso enaltecer um grupo, os atacantes por terem marcado um golo por exemplo, ou criticar outro, como os defesas que deixaram passar muitos jogadores adversários. Se os jogadores não gostarem do que dizemos mas tivermos razão, o tempo ditará possíveis correcções. Agora o contrário é absolutamente destrutivo, com jogadores a pedirem transferência ao mínimo desentendimento.

Nas conferências de imprensa acontece um pouco do mesmo. Se bem que aqui as “tricas” tenham reverberação mas abrangente, podendo chegar a muitos mais visados, inclusive a sempre atenta direcção. Confesso que gostaria de saltar estas conferências, uma vez que se tornam francamente aborrecidas com tantas perguntas repetidas e ainda mais respostas genéricas. Não sei bem quem inventou esta interacções nos videojogos de futebol, uma vez que FIFA e PES nos seus modos manager também as têm. Mas, sem dúvida que esses outros jogos são bem mais variados em perguntas e respostas, na minha opinião.

Uma outra novidade que enche o olho, é o novo visual do jogo. A Sports Interactive tem feito um trabalho interessante para ir melhorando os menus, sem dúvida. Como é neles que passamos mais tempo, convém que sejam legíveis e intuitivos de navegar. Para um recém-chegado… bem vindos ao caos de folhas de cálculo, tabelas e texto avulso. Contudo, saibam que há um claro polimento e bastante trabalho da produção em arrumar tudo de forma lógica. Inicialmente, tudo parece igual em termos de organização mas, numa observação atenta, há uma outra mudança subtil desde o ano passado, sobretudo nas lógicas e posições de algumas tabelas e opções. E é sempre bom quando essas alterações, mesmo subtis, facilitam a nossa tarefa.

Onde também há uma importante melhoria é no visual dos elementos 3D. Começa logo com o aspecto do nosso avatar. Tudo bem, não deverá receber nenhum galardão de modelação gráfica, mas o salto qualitativo é de assinalar. E o mesmo se passa com o jogo em campo. Não terá a espectacularidade dos simuladores de futebol do momento, mas permite seguir uma partida de forma clara, mesmo entre os menus e tabelas avulsas que temos abrir a meio do jogo para gerir a equipa. Há ainda muito trabalho pela frente, obviamente, mas cumpre o objectivo de nos deixar ver o jogo a decorrer. Se não gostarem do seu aspecto, podem sempre acelerar o tempo ou ver a partida em formato de esquema táctico.

Veredicto

Como seria de esperar, Football Manager 2020 é ainda a única forma de tomar as rédeas de um clube inteiro, com muito do que se passa nos bastidores devidamente em foco. As novas funcionalidades da Visão do Clube e do Centro de Desenvolvimento, assim como as muitas novidades mais subtis, são justificações suficientes para mais uma edição de “vício”. Contudo, é ainda complicado demais para novatos, mesmo com tantos tutoriais descritivos, o que pode afastar (outra vez) novos jogadores. Pode também não deslumbrar visualmente quem quer “ver” o futebol praticado. Agora, quem quer toda a experiência Manager, não vai encontrá-la tão bem recriada em mais nenhum outro lado.

  • ProdutoraSports Interactive
  • EditoraSEGA
  • Lançamento18 de Novembro 2019
  • PlataformasPC
  • GéneroDesporto, Gestão
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Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Algumas questões com as joven promessas
  • Opções de diálogo repetitivas

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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