FM2022 (1)

Análise – Football Manager 2022

Todos os anos temos um novo título de futebol disputado a dois. Contudo, tal como acontece no nosso campeonato em Portugal, há sempre um terceiro “grande” a disputar a atenção dos jogadores. Football Manager 2022 está aí para disputar o seu devido lugar “na final”.

Certa vez, li aí algures que Football Manager era “o jogo ideal para quem gostava de futebol e folhas de cálculo”. Não sendo propriamente uma analogia muito justa, por vezes, nem queremos ver o que se passa em campo, se as estatísticas e as tabelas parecem mais interessantes de seguir. Durante anos, este tipo de jogos ganhou uma legião de fãs, sempre ávidos por actualizações e ajustes nas lógicas de jogo a cada ano. A ideia é que a sua base de dados é tão realista, que pode mesmo ser usada para comparar com a realidade. Não me admirava nada que alguns treinadores reais usassem esta vasta base de dados, mantida e actualizada com rigor, para estudar estratégias ou até para buscar soluções de jogadores ao mercado. Se depois isso daria bom resultado, fica a dúvida. Talvez fosse uma boa explicação para as prestações de alguns clubes reais…

Na sua essência, Football Manager é um jogo que vai além da lógica do treinador. Hoje em dia, um treinador de futebol não gere a equipa da forma como este jogo retrata, misturando a gestão do que se passa no clube dentro e fora de campo. Em tempos idos, essa era uma realidade, especialmente no futebol Inglês. Hoje em dia, porém, este é um trabalho mais de equipa que de uma só pessoa, por mais hábil que seja. Às vezes, penso que os próprios treinadores gostavam de lidar com questões de finanças e contratações, ultrapassando algumas decisões administrativas menos positivas. Contudo, entendo que esse tipo de poder não poderia fazer muito bem a alguns clubes. Manager com tantas responsabilidades, só mesmo em videojogo.

Este é, portanto, um simulador de fantasia, em que se conjugam gestão e táctica. Podemos pegar numa equipa, por mais humilde que seja, fazendo-a cumprir objectivos básicos ou, simplesmente, ir às finais todas e arrebatar tudo. É este o poder deste jogo. Claro que nada é garantido. É preciso contratar, despedir, orientar e valorizar jogadores. Se quisermos ser específicos, este é um jogo de estratégia de mercado, onde pegamos num conjunto díspar de jogadores, cada um com um determinado valor de mercado e tornal o clube “rentável”. Nada de novo, portanto, já que o futebol real é, também ele, muito semelhante a um mercado de valores de compra e venda.

Obviamente, haverá maior desafio para um clube que disputa um lugar manutenção na primeira liga do seu país, do que num clube campeão. Contudo, também os objectivos e a pressão da direcção são diferentes. Para manter um clube numa divisão, basta fazer mais pontos que os últimos classificados, enquanto que num clube como o Bayern Munique é impensável não ir a uma final da Liga dos Campeões. Também a dimensão do clube tem diferentes desafios, jogando com contratações e vendas milionárias, patrocínios com exigência de resultados e outras questões mais desafiantes. É obviamente mais fácil ganhar jogos com uma equipa destas mas, ao mínimo sinal de derrota, o cargo fica em risco.

Como treinador, não apenas temos de criar uma táctica com os jogadores que temos, mas também temos de os motivar com palestras, lidar com os seus egos, gerir fadiga e lesões, ao mesmo tempo que lidamos com o scouting para novas promessas e futuras contratações. Só a negociação de contratos pode ser uma dor de cabeça, com jogadores a pedir mini-fortunas para dar uns chutos na bola, quando o orçamento para a compra de reforços não deixa margem de manobra. E ainda temos de lidar com os objectivos da direcção e outras questões paralelas, mais viradas para a gestão administrativa, inclusive na contratação e organização da equipa técnica.

Felizmente, tal como nas edições anteriores, muitas das funções podem ser delegadas a directores, técnicos e gestores que tomam conta das áreas que não queremos abordar. Confesso que tenho sempre algum receio que a IA não lide bem com tudo, obrigando-me a uma micro-gestão que me consome demasiado tempo. O meu foco inicial é sempre de treinar a equipa e conceber uma táctica ganhadora em campo. A realidade porém, é que me detenho muitas vezes a negociar contratos ou a ler estatísticas de novos jogadores. Não confio muito na IA, embora nunca me tenha dado motivos para realmente remover-lhe protagonismo. Mas, já tive momentos em que devia ter prestado mais atenção ao que fazem. A delegação é prática mas… fiquem de olho.

Dos momentos mais recompensadores em jogo, é sem dúvida descobrir uma jovem promessa e, ao fim de uns anos, vê-lo ser transferido para um clube grande e ganhar uma Liga dos Campeões. Requer um trabalho cuidado a procurá-lo, geri-lo, fazê-lo evoluir, tratar das suas mazelas e fazê-lo brilhar com uma equipa que o auxilie a chegar ao topo. Que seria de Cristiano Ronaldo ou Lionel Messi se nunca tivessem ido para um clube tão grande como os que jogaram no seu auge? E o que seria deles se os treinadores não apostassem no seu talento? Há um jogador desconhecido de 18 anos de um clube regional qualquer à espera de uma oportunidade e eu quero encontrá-lo em cada FM novo.

Ok, “magia de lado”, vamos ao conteúdo mais técnico. Acho que para muitos as novidades de FM 2022 serão subtis. Sem dúvida que a simulação do jogo em campo saltará mais à vista. Teve uma importante actualização visual, parecendo agora bem mais apurado. Mas, calma. Mesmo mais bonito, ainda assim, não vence nenhum prémio técnico a nível visual. Serve perfeitamente para acompanharmos o jogo, com lances de importante detalhe, especialmente com os “malabarismos” dos jogadores mais técnicos. Há alguns momentos que ainda frustram, com faltas inexistentes e outras decisões estranhas dos árbitros. Enfim, em Portugal estamos habituados a árbitros falíveis, pelo que, na realidade, não me incomodou.

O grande destaque deste ano para mim, porém, nem é o jogo em campo. É, sem dúvida, o centro de dados. Num só local podemos ter uma leitura rápida da equipa, em especial para vermos se a nossa táctica funciona, se os jogadores estão em forma ou outros dados pertinentes, usando aquilo que o jogo afirma serem “métricas e métodos de relatório que os clubes reais utilizam”. Não sei se é realmente assim, mas gostei bastante desta nova tabela. Facilita observar que, por exemplo, a frente de ataque está ineficaz ou temos um meio campo disperso que falha transições. Melhor, podemos solicitar algumas daquelas estatísticas que os comentadores tanto gostam, como as percentagens de bolas perdidas ou de remates ao lado.

A grande questão com este centro de dados é que temos de ter a capacidade de ler estes dados todos e agir em consequência. A dada altura, especialmente com jogadores menos experientes, suspeito que seja demasiada informação. Afinal, este é um jogo cheio de tabelas. Mais uma, parece contraproducente, de facto. É muito fácil desperceber a utilidade desta nova funcionalidade. Mas, reafirmo, é para mim o grande destaque desta nova edição e aprecio bastante a forma como a informação é processada e mostrada.

Noutros lados, nesta edição temos um maior foco nos últimos dias de transferências, oferecendo aquele “drama” esperado de uma contratação de última hora. A produção fala de alguma imprevisibilidade nos últimos momentos e, de facto, embora não propriamente com as minhas equipas, vi algumas surpresas de última hora, com contratações sonantes no último momento e, por vezes, quase impossíveis. Também temos melhorias nas reuniões com a equipa técnica, melhoria nos “olheiros”, temos um novo motor de criação do avatar com bastantes mais opções de personalização e outros pequenos detalhes.

Visual rejuvenescido em campo, melhorias na gestão e outros pormenores, parece que Football Manager está melhor que nunca. Contudo, há algumas questões que me pareceram menos positivas. Por mais que as reuniões com a equipa técnica de fisioterapeutas tenham sido melhoradas, ironicamente, os jogadores parecem-me lesionar-se mais facilmente, especialmente quando temos muitas partidas seguidas. Nas minhas sessões, aconteceu-me três vezes contratar um jogador de topo e vê-lo lesionar-se ao fim de umas poucas partidas. Não é preciso explicar a frustração de ter várias lesões de jogadores-chave da equipa que me obrigam a improvisar demais.

Outro detalhes que mais uma vez me deixa desapontado é a ausência de várias ligas e equipas licenciadas. Tudo bem, é também um problema noutros jogos de futebol que, espero, nos próximos anos seja mitigado por uma nova abordagem da FIFA às suas licenças. Mas, neste ano temos novamente ligas fictícias ou parcialmente recriadas. A Liga Portugal, por exemplo, conta só com o Benfica, Sporting e Porto licenciados. As restantes equipas estão lá mas com equipamentos e símbolos “parecidos”. Nada que mods não possam resolver mas continuo a achar que o rigor da produção é tão elevado que já merecia licenças completas.

Veredicto

É perfeitamente discutível se Football Manager 2022 é o melhor jogo de futebol do ano. Para muitos, o que conta é o visual e nesse campo, por mais que tenha dado passos muito grandes, ainda está um pouco longe da concorrência. Contudo, para outros, a essência do futebol é a estratégia e a gestão. Nesse caso, então, este é de facto o jogo que procuram. Nesta nova época, há importantes melhorias e aprimoramentos, com o especial destaque para o novo Centro de Dados. Continua a ser a melhor simulação de gestão de futebol que poderão encontrar.

  • ProdutoraSports Interactive
  • EditoraSEGA
  • Lançamento9 de Novembro 2021
  • PlataformasPC
  • GéneroEstratégia
?
Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Continuamos com ligas fictícias
  • Maior propensão aparente de lesões
  • Ainda não dá para confiar totalmente na IA

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

Comentários