Análise – Football Manager 2024
A jornada desta série como a conhecemos, assegura a Sports Interactive, chegou ao fim com esta edição. Football Manager 2024 é o fim da actual fórmula que, tecnicamente, já não inova realmente há algum tempo. Felizmente, há outra no horizonte.
Digo “felizmente”, porque é sempre complicado inovar num jogo sazonal, agora imaginem um título tão técnico e estratégico como este. Os jogos manager não são criados para ser visualmente muito apelativos nas suas muitas tabelas e janelas. Mesmo assim, há já muitas novas e boas ideias no género para os tornar mais interessantes e menos aborrecidos. No que toca aos jogos de gestão de futebol, esta franquia foi sempre imbatível… mas já acusa o peso da sua idade e das suas inúmeras repetições de lógicas e de conceitos. Para terem uma ideia de quanto é preciso algo novo, a última grande inovação nesta série aconteceu em 2009, com a introdução das partidas em campo reproduzidas em 3D. É verdade, precisa-se de uma reforma ou estaremos literalmente a actualizar equipas anualmente.
Não me entendam mal. A Sports Interactive tem vindo a justificar cada edição, bem além de uma mera actualização anual de plantéis, ligas e competições. É preciso recordar que os maiores fãs deste tipo de jogos também terão uma fórmula predilecta e parece que a SI sempre soube tratar bem esses fãs, dando-lhes o que realmente interessa. As mudanças que aí vêm, portanto, terão de ser muito bem ponderadas a bem da familiaridade necessária num jogo tão complexo e com um palmarés de décadas. Além de um novo motor gráfico (o Unity) também serão introduzidas inúmeras novidades prometidas para melhorar a experiência. Espero que assim seja mas, como diz o “outro”, “prognósticos só no fim do jogo”.
Esta vigésima edição de Football Manager é, portanto, uma última afirmação desta fórmula de quase 15 anos, uma prova de longevidade, mesmo perante todas as tentativas da concorrência de fazer frente. Ou amamos, ou odiamos a sua oferta, não há um meio termo. Este não é, claramente, um jogo para todos, até mesmo entre os amantes do futebol. Cabe à produção criar as condições para os jogadores fiéis mantenham o seu interesse, mas inovando onde possível sem quebrar demasiados paradigmas. Se calhar, esta é a melhor frase para descrever o que esta edição nos traz, para o bem e para o mal.
Não vou, nem posso, explicar detalhadamente o que é um jogo de manager, muito menos um de futebol com décadas de versões e evoluções. Pensem apenas que, ao contrário dos jogos como EA Sports FC 24, este não é um simulador do desporto em si, é um título de gestão do que se passa no banco de suplentes ou no escritório de administração, de um treinador com funções de director desportivo, o tal cargo de Manager que se perdeu um pouco no tempo no mundo do futebol. Como suspeito que esta análise seja mais lida pelos fãs desta franquia, vou focar-me apenas nas novidades e na validade desta edição.
Curiosamente, o principal foco de FM2024 é uma contradição. Como disse acima, este é o último jogo neste formato, nesta apresentação e neste motor gráfico Match. Todavia, a SI decidiu apostar exactamente na simulação das partidas em si em ambiente 3D. Há agora um notório maior foco no realismo dos movimentos, nas animações e nas reacções, criando uma base de dados interna que o jogo usa para reproduzir momentos realistas em movimento do jogo. Isto dá imensa personalidade aos jogadores, outrora bastante sintéticos, dando momentos muito mais realistas, pelo menos mais próximos do que vemos numa partida na televisão, com as óbvias opções de gestão disponíveis.
Mas não esperem, obviamente que as partidas sejam tão espectaculares como noutros lados. Realmente, lado-a-lado com edições anteriores, as partidas 3D impressionam pela positiva mas não estão ainda “lá”. Talvez porque, lá está, seja preciso um motor gráfico mais potente para dar mais qualquer coisa a este modo de jogo. Não é que seja realmente importante que o visual das partidas seja rigoroso, recordando que os primeiros títulos deste género só nos davam mesmo os lançes descrito por escrito e não eram mais jogos por isso. No entanto, é inegável que um bom grafismo em campo acrescenta a desejada imersão. Aqui, está melhor, mas não é (ainda) uma simulação muito credível de um jogo de futebol.
Noutros lados, as mudanças ou melhorias são bem mais subtis. É agora possível começar a carreira em três pontos diferentes, arrancando na pré-epoca com as equipas a zeros e com o plantel tal qual estava há uns meses atrás, ou então numa realidade fictícia, com as transferências bloqueadas: Mas, a minha preferida, é a opção de arrancar na actual data real dos campeonatos simulados, com as posições e equipas recriadas. Não é algo que vá realmente mudar o modo como apreciamos este tipo de jogos mas, honestamente, dos elementos que mais me faz perder tempo é começar cada FM por fazer manualmente cada transferência mais recente, de modo a reflectir o estado actual dos clubes. Bem hajam.
Também temos agora um editor de lances de bolas paradas para escolhermos jogadores e estratégias para lançamentos de linha lateral, cantos ou marcação de faltas. É uma espécie de “wizard” para simplificar estes momentos, ao invés de os gerir pontualmente sempre que acontecem. Apenas acho que é preciso conhecer muito bem cada jogador e as suas mais valias para, por exemplo, colocar um jogador a defender à zona num lançamento ou qual o ângulo ideal e movimento dos atacantes na marcação de um canto. Contudo, o jogo facilita por nos tirar um pouco essa responsabilidade, dando-a aos preparadores que o fazem por nós e ainda substituem jogadores para cada acção se for necessário.
Ironicamente, a nova funcionalidade que mais apreciei neste título, fez-me recordar de uma gigante lacuna que esta série sempre teve. Trata-se da capacidade de importar o savegame de FM23 para esta nova edição. Não pensem que é fácil perder todas as horas gastas a trazer o WASD FC da terceira divisão vai assim por água abaixo só porque temos uma nova versão do jogo. Aliás, nem entendo bem como é que isto nunca foi possível em edições anteriores, tornando-se um destaque neste novo jogo… que também é o último desta geração… enfim, demorou mas cá esta ela. Mais uma vez, bem hajam.
Também há algumas pequenas novidades nas lógicas de transferências. Agora há muitas mais opções durante as compras e vendas de jogadores, envolvendo muito mais os seus agentes. Estes, obviamente, terão o seu portfólio de atletas, ajudando na escolha. No fundo é um reflexo da actual realidade nas contratações, onde os agentes desportivos são quase “directores de recursos humanos” de alguns clubes. Todavia, isto também que dizer que vamos ter de lidar com intermediários para assegurar as contratações, envolvendo, claro, comissões. Apenas acho que tanta gente pelo meio torna o processo um pouco mais longo e algo complexo demais.
Outra boa adição é uma inteligência artificial mais activa no que toca aos preparadores e treinadores que constituem o nosso staff. São agora mais activos a encontrar lacunas e a apresentar soluções mais concretas. No passado, achei sempre que estes elementos eram um tanto passivos demais para o papel que deveriam cumprir. Afinal, a sua existência foi concebida para nos livrar um pouco da inevitável micro-gestão que torna tudo tão sobrecarregado. Estes elementos ainda não são reais substitutos de algumas funções mas há uma clara melhoria na sua actividade, tornando-os um pouco mais prestáveis.
Ao fim destes anos, porém, acho que a Sports Interactive ainda não encontrou o meio-termo entre diversão e imersão. Ou melhor, entre a simplificação a bem do nosso entretenimento e o realismo algo exagerado de tudo o que temos de fazer em jogo. As reuniões com o staff deveriam ser momentos mais incisivos mas acabam por ser meras chatices para tomar certas decisões meio orquestradas. Pioram a experiência quando a direcção nos bloqueia algumas decisões e temos de reformular planos. Também as conferências de imprensa são algo fastidiosas, fazendo-nos perder algum tempo a mais só para dizer quase o mesmo de cada vez.
Compreendo que isto também faça parte da profissão. Ainda assim, não há um real elemento Role Play nisto, que há muito tempo me parece que a produção quer criar nestes momentos. Tudo parece partir de umas quantas sugestões para o melhor desfecho possível, não havendo real margem para decidir algo mais radical ou mais reactivo. Gostava mesmo de talvez tentar algo “fora da caixa” tendo mais espaço de manobra que um punhado de opções mais ou menos sugeridas. Enfim, estarei talvez a querer aqui um jogo que ainda não existe. Fica a dica, Sports Interactive, dêem mais poder ao manager para realmente inovar.
Veredicto
Tantos anos de maturação para a Sports Interactive chegar a Football Manager 2024 trouxeram uma oferta novamente muito robusta, sem dúvida ainda a melhor no seu género. Houve ainda espaço para algumas novidades surpreendentes, como o motor 3D das partidas mais apurado e finalmente temos a importação de savegames do anterior FM2023. São, no entanto, novidades um tanto tardias, depois de anos de promessa. Agora que está prestes a entrar numa nova era, é um claro cumprimento de calendário, que não deixa de ser muito positivo mas… que já pede uma remodelação. Mandem lá aquecer o próximo capítulo para entrar a seguir…
- ProdutoraSports Interactive
- EditoraSEGA
- Lançamento6 de Novembro 2023
- PlataformasPC, PS5, Switch, Xbox Series X|S
- GéneroEstratégia, Manager
Equilibrado e com boas ideias, os seus erros não o impedem de brilhar.
Mais sobre a nossa pontuação- Novidades visuais nas partidas 3D
- Editor de lances de bola parada
- As melhorias e aprimoramentos na IA
- Poder dar continuidade à carreira de FM2023
- Apesar das melhorias na IA, ainda há muita micro-gestão
- Falta um pouco de profundidade nas decisões
- A produção está claramente a pensar no próximo jogo
- Dar demasiadas entrevistas
Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.