ForzaHorizon4 (1)

Análise – Forza Horizon 4

Estamos sempre a aguardar para ver o que a Playground Games nos traz a cada novo título da série. A par de Forza Motorsport 7 da Turn 10, Forza Horizon 4 chega-nos com ganas de nos devolver a paixão pelo desporto motorizado. E como consegue…

Sempre achei que Forza Horizon era o jogo ideal para os amantes do automobilismo de lazer. Recupera fórmulas de condução que adorámos em tempos idos, piscando o olho a Test Drive ou os originais Need for Speed, com uma pitada da mestria introduzida pelos (quase) simuladores de Forza Motorsport. Não é de admirar que assim seja, uma vez que a equipa é composta por ex-membros de produtoras como a Codemasters, Criterion ou Slightly Mad Studios. O resultado foi sempre uma celebração do mundo automóvel, pelo prazer de conduzir em vastos percursos e a explorar mapas… dando sempre alguma competição pelo meio. Depois do Colorado nos EUA (FH1), França e Itália (FH2) e a Austrália (FH3), chegou a vez da série ir “para casa”. Sendo o estúdio de produção sediado na Inglaterra, é apropriado que esta nova edição vá lá parar.

https://youtu.be/FPaBK2mwd5Q

Para quem não conhece, o evento Horizon é uma festa fictícia que toma conta de uma região com diversas provas automobilísticas e uma autêntica festa do mundo automóvel. Neste ano, vamos conhecer uma enorme porção da Grã-Bretanha, parcialmente recriada para este jogo. Embora o mapa de jogo possua alguns pontos de interesse reconhecíveis, o mapa não é uma recriação fiel das províncias Inglesas. Mas, fica lá bem perto, já vou falar sobre isso. Em diversas vilas e povoações, decorrem provas, como todo-o-terreno, rally, velocidade, contra-relógio, entre outras. O festival Horizon coloca imensos bólides a circular nas estradas, competindo pelo lugar de campeão do evento bienal.

Não há uma linha de acção ou de continuidade propriamente dita. Podemos realizar as provas que quisermos na ordem que quisermos. Muitas destas provas vão surgindo a cada novo nível que ultrapassamos, outras surgem quando alcançamos notoriedade. Há ainda outras que surgem como oportunidades pontuais. Que provas completamos, é connosco, circulando pelo mapa a fim de o explorar. Notem que também não há um limite de disciplina propriamente dito. Podemos conduzir um Ferrari Enzo num prova todo o terreno ou realizar uma corrida de velocidade com um pequeno FIAT 500. Entre o caricato e o improvável, na maioria dos casos não interessa que tem o carro mais rápido, mas sim quem demonstra mais destreza.

É isto Forza Horizon num resumo sucinto: pura diversão. Mesmo em provas que nos fazem franzir o sobrolho, como as exibições em que corremos contra um… hovercraft, por exemplo. Nunca estamos aborrecidos ao volante. Em cada nova entrada na série, dou por mim a regalar o olho com cada “roadtrip” de uma cidade para outra. Há fast travel entre pontos, sim, mas quem se lembra disso? Se tivessem na vossa garagem um belo Bugatti Chiron, iam mesmo saltar a viagem? Nada disso. A par do modo de fotografia, o modo de visualização com drone e mesmo o mítico modo Forza Vista, o jogo quer que apreciemos a estética e engenharia de cada veículo. Isto, antes de o colocarmos à prova, claro.

Contudo, essa fórmula aperfeiçoada ao longo dos anos, tem aqui uma entrada de grande importância. Com a Xbox One X a precisar de jogos que puxem pelo seu hardware, surge ao lado de Forza Motorsport 7 como o segundo grande colosso visual exclusivo dos Microsoft Studios. E, para se evidenciar, traz consigo uma série de novos trunfos que visam, não só agradar aos fãs de longa data, como impressionar todos os que o experimentem tirar da garagem pela primeira vez. Ficou claro na demonstração que surgiu antes do jogo ser lançado, é ainda mais evidente no título final: Forza Horizon 4 quer impressionar todos os jogadores. Para isso, temos as deslumbrantes estações do ano.

Já nos jogos anteriores tivemos ciclos de dia e noite e meteorologia dinâmica para conferir uma dose de variedade a cada região em cada mapa. Contudo, nunca antes tivemos estações do ano que alteram tanto o panorama visual. Como devem calcular, as corridas são bastante diferentes entre si nas várias disciplinas. Agora imaginem jogar as mesmas provas também à noite ou à chuva, com todas as variáveis que essas condições trazem. Com estas estações do ano, porém, são acrescentadas ainda mais variáveis. Vemos a neve surgir na estrada e dar-nos mais trabalho de tracção. Ou as chuvas da primavera a encher as estradas de poças de água que nos podem dar algum desafio.

Obviamente, a maioria dos efeitos e alteração nas texturas de cada estação são cosméticas e visam sobretudo dar ainda mais beleza visual ao jogo. Explorando o modo de fotografia ou com o drone é a única forma de vermos em profundidade as alterações de cada estação. A neve não se limita pintar o chão de branco, tem profundidade e limita a tracção. As árvores alteram a folhagem e ficam mesmo despidas no inverno. Como as estações se vão alterando a cada nova etapa de popularidade ou nas semanas do segundo ano de jogo (já explico melhor), estamos sempre a transitar entre elas. O que dá ao jogo uma constante mudança de aspecto que aprecio bastante.

E no foco, obviamente, estão os automóveis. Cada carro que ganhamos ou compramos em jogo é uma peça de arte visual com um extremo cuidado ao nível do detalhe. Entrem no modo Forza Vista e apreciem cada parafuso no sítio certo. Na maioria dos veículos, podem abrir as portas, o capot do motor e até a bagageira. O nível de personalização, uma vez mais, é impressionante, podendo acrescentar diversas peças adicionais (jantes, spoilers, bainhas, etc), mas também mexer na mecânica e até pintar com as mais diversas cores e desenhos. O vosso carro de sonho está aqui, quase de certeza. E o jogo faz questão de o tornar uma peça de arte para apreciarmos dentro e fora do habitáculo.

De notar, porém, que muitos dos modelos não são os mais recentes, com alguns automóveis a transitar dos títulos anteriores. Podemos ter o monstruoso McLaren Senna (capa de jogo) ou o Porsche 911 GT2 RS, por exemplo, ambos modelos deste ano. Mas, estão em falta muitos outros modelos actualizados pelas marcas. Gostaria de ver o Aston Martin New Vantage, a nova Audi RS4 ou até o novíssimo Ferrari Lusso, entre outros. Embora as marcas licenciadas estejam bem representadas com veículos relativamente recentes e bastantes clássicos, é o coleccionador que há em mim que me faz realçar este “atraso” nas novidades dos modelos. Terá a ver com licenças, talvez. É pena.

Quando é hora de conduzir, é preciso recordar que tipo de jogo é este. Não estamos nas provas de pista de Forza Motorsport. Este jogo não pretende ser um simulador de condução, nem nos quer desafiar muito a encontrar o ponto perfeito de curva ou a relação perfeita da caixa de velocidades. Mesmo assim, é possível mexer nos valores de mecânica e até mesmo nos auxiliares à condução para tornar as coisas bastante mais realistas. Talvez realistas demais em algumas circunstâncias. A título de exemplo, tive de aumentar o nível de ajudas quando conduzi um Pagani Zonda R num improvável evento de rally. Simplesmente não há como controlar aquele monstro na lama.

Obviamente, o factor diversão deve ser contrabalançado com alguma razoabilidade. Se a prova for em estrada, então é óbvio que convém termos um carro rápido e excelente a curvar. Mas, em provas de rally, um todo-o-terreno com tracção às quatro rodas fará mais sentido. Convém que escolham o carro certo. No entanto, o jogo adapta-se sempre ao que escolhemos, por mais bizarro que seja. E é hilariante, por exemplo, fazermos uma corrida de contra-relógio ao volante de um “calhambeque quitado”, tendo ao lado de outras grandes máquinas do género, atingindo “estonteantes” 50km por hora.

Além de podermos encontrar sessões online para competir com outros, muitas das vezes com sessões improvisadas contra jogadores que encontramos em exploração, offline temos de novo os drivatars. Basicamente, são jogadores artificiais que “aprendem” com jogadores reais e se moldam à nossa condução. Continuo a achar que este sistema tem vantagens e desvantagens. Neste jogo, noto que o equilíbrio entre “domado” e agressivo é algo ténue. Parto do suposto que os jogadores humanos também não são mecânicos, dando-nos alguma imprevisibilidade em níveis mais altos de dificuldade. Mas, tive algumas situações injustas, com trajectórias fechadas e alguns “encontrões” contra paredes.

Ao fim de umas horas, concluirão que o comportamento dos carros é, portanto, mais liberto e menos regrado que o seu “irmão” Motorsport. Nunca achei que fosse condução pura de arcada, uma vez que podemos ter algum desafio nos níveis mais avançados. Contudo, porque podemos transitar de uma corrida de estrada para um autêntico cross-country, algumas cedências óbvias foram feitas. Imaginem o que faria aos pneus e à suspensão de um carro (já nem falo ao chassis), passar do asfalto para a lama e de volta ao alcatrão, subindo passeios ou destruindo obstáculos pelo caminho. Aqui é tudo “veludo”.

E esta “alma” de arcada está também presente no sistema de progressão. Já falei na reputação do jogador que vai aumentando a cada prova. Contudo, também ganhamos reputação nas proezas ao volante, desde velocidade extrema, curvas em slide, ultrapassagens, saltos em rampas, destruição de cenário, entre outros elementos. É um convite à demonstração de habilidades, onde não conta tanto a disciplina ao volante, mas a capacidade de exibição. É mais um elemento de diversão que nos agarra. Até porque, ao fim de um número determinado de pontos de habilidades, ganhamos pontos de experiência para desbloquearmos em cada carro, dando-nos bónus e até upgrades em cada bólide.

Esta evolução da personagem, já agora, é doseada de forma brilhante nas primeiras horas de jogo. Inicialmente, serão rookies à procura de um lugar de acesso ao festival. Terão a sensação que o jogo tem pouco para oferecer, com o ritmo brando inicial, quase a conta-gotas. Nesta fase, vamos sendo introduzidos lentamente a cada opção de jogo, cada disciplina e até cada porção do menu e cada novidade. É como uma preparação para um jogo muito maior. Subitamente, qualificamo-nos para o festival Horizon propriamente dito, o jogo entra no “ano 2” e abre-se por completo. Isto inclui mudanças de estação semanais em servidores sincronizados e ainda mais actividades para disputar o primeiro lugar.

Neste segundo ano, somos convidados a fazer tantas coisas que é bem possível que nos percamos. Será que vamos continuar a fazer provas para o festival? Ou vamos procurar aquele clássico perdido num celeiro para o restaurar? Ou vamos a mais uma prova todo o terreno? E aquelas câmaras de velocidade, conseguimos bater mais um recorde? Até lá, podemos parar para tirar mais uma fotografia? A liberdade de escolha de como queremos evoluir é bem vinda, em troca da vulgar linearidade dos jogos deste género.

Gosto particularmente que as disciplinas sejam agrupadas em provas concretas, com uma progressão própria em cada uma. Assim, aposto nas disciplinas que mais gosto e não fico prejudicado se não jogar tanto as demais. E gosto ainda mais das novas provas feitas à medida, as chamadas Blueprints. Estas permitem-nos escolher segmentos de carros e outras opções para criar corridas personalizadas, permitindo, por exemplo, conduzir mais o carro que mais gostamos em vez de saltar de modelo em modelo.

A cada nova evolução, recebem novos itens para o vosso avatar, novos veículos, bónus de dinheiro virtual, seja directamente, seja à sorte com as famosas roletas (wheelspin). Temos duas variantes, uma roleta normal para ganhar um item ou uma especial para ganhar três itens de uma só vez. Aconselho vivamente a não comprarem veículos ao início porque aqui ganham muitos automóveis de borla. Contudo, não sei bem o que se passou na minha passagem pelo jogo, mas estas roletas foram incrivelmente sovinas a dar-me prémios. Quase sempre ganhei roupas e gestos para o avatar ou montantes baixos em dinheiro virtual. Como é algo que já acontecia no jogo anterior, vou só assumir que é “azar”.

Contem também com o regresso dos objectivos temporários públicos da #Forzathon com créditos específicos para gastar na sua loja virtual dedicada. Há também uma nova fórmula para os lendários itens da “bucket list”, agora chamados de “Forza Stories” com diversos desafios adicionais para completar. E ainda podem entrar no ramo imobiliário para comprar casas que servem de base de operações e garagem. Tudo isto serve para recompensar por jogar mais e abrir portas a outras variáveis de jogo e um claro convite para regressar várias vezes em diferentes janelas de tempo. Diria que a cadência passará a ser quase semanal, o que, para um jogo claramente a apostar numa jogabilidade casual, é perfeito.

Tanta beleza e qualidade técnica tem de ser acompanhada com boa performance ou vamos sentir de imediato cada desvio na qualidade visual. Tive oportunidade de testar este jogo numa Xbox One X e, graças ao programa Xbox Play Anywhere, também no nosso PC Orion. Começando pela consola, a Xbox One X tem um modo de visualização a 60 FPS e resolução 1080p e a 30 FPS com resolução 4K. Infelizmente, notei alguns freezes pontuais e pequenas pausas momentâneas a seguir a carregamentos. Inicialmente, pensei que era uma questão relacionada com o esforço de correr em 4K, no entanto, mudando para 1080p e 30 FPS notei que estas paragens se mantinham. Podem ser questões facilmente resolvidas com alguma actualização, não sendo propriamente aborrecidas..

Já no PC, a performance é outra. Mantendo os 60FPS constantes na resolução 1080p em que jogámos e com o preset do grafismo em Ultra, Forza Horizon 4 ganha uma outra vida, num luxo visual ainda mais incrível, graças ao hardware mais potente. No PC o pormenores técnicos assumem uma qualidade quase foto-realista. Penso ser a melhor plataforma para testar este jogo. E, como temos cross-play entre as duas plataformas, os elementos online funcionam perfeitamente entre si, não se limitando nas sessões ou no número de jogadores. Só tenho pena que as cenas intermédias sejam limitadas a 30FPS, independentemente do que escolhemos no menu. Sendo cenas acessórias com animações pré-renderizadas, não é algo que considere francamente negativo. Mas, nota-se bastante a diferença.

Veredicto

Ao fim de quatro edições, seria muito difícil para a Playground Games manter o ritmo nesta série. O que posso dizer é que Forza Horizon 4, não só é o melhor jogo da série, como ainda surpreende por elevar ainda mais a fasquia para este tipo de jogos de condução em mundo aberto. Tudo é feito à medida, com uma condução diversificada e equilibrada, entre o comportamento de arcada e a simulação. O visual é absolutamente irrepreensível, levando-nos para uma Inglaterra rica em pormenores, onde o único defeito é conduzirmos no “lado errado” da estrada. Até a música é perfeita nos seus vários “sabores”. A progressão é excelente, dando-nos sempre uma evolução controlada de modos de jogo, nível de dificuldade e oferta. Nada foi deixado ao acaso, num jogo quase perfeito para os amantes do mundo automóvel.

  • ProdutoraPlayground Games
  • EditoraMicrosoft Studios
  • Lançamento2 de Outubro 2018
  • PlataformasPC, Xbox One, Xbox One X
  • GéneroCondução
?
Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Alguns modelos de carros datados
  • Quebras de performance na Xbox One X

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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