GoldRush (6)

Análise – Gold Rush: The Game

Quando peguei na versão de acesso antecipado de Gold Rush: The Game, fiquei com a ideia que algo positivo estava a caminho. Ainda a precisar de limar muitas arestas, parecia que tudo era algo embrionário e estava mesmo ansioso para ver o que a Code Horizon conseguia fazer com este projecto.

Quando um jogo é apresentado numa campanha de angariação de fundos, como este título foi, na verdade estamos a financiar uma ideia. E essa ideia ou conceito existe apenas na mente dos produtores ou está escrito em algum lado. O jogo em si não existe ainda. Depois, quando finalmente surge alguma coisa para testar, só podemos ver duas coisas: se a ideia tem valor e se a produtora tem capacidade para a executar. Regra geral, a primeira parte é quase sempre verdadeira ou não terá qualquer interesse no seu financiamento. A segunda parte, porém, é mais complicada. Por vezes as ideias não passam muito bem para a realidade por inexperiência, falta de meios ou simples descuido. Quero pensar que não faltou financiamento a Gold Rush. A campanha do Kickstarter foi um sucesso e o apoio do Canal Discovery também deve ter ajudado. Mas, algo não correu bem.

OK, todos sabemos que jogos baseados em filmes, séries ou documentários nunca primam pela qualidade. Gold Rush: The Game tem agora um apoio do tal Canal Discovery, colocando os mineiro do seu programa homónimo (por cá chama-se “Febre do Ouro”) no menu e tem outras referências ao programa. Confesso que não me recordo de qualquer referência a este programa de TV na tal fase antecipada. No entanto, não há qualquer problema neste patrocínio. O programa trata de como diversos mineiros extraem ouro na região do Alaska e noutras partes do mundo, com dramas reais e alguma encenação, como qualquer outro “reality show”. O que fazemos neste jogo é exactamente o que eles lá fazem: seguir um sonho, através do árduo trabalho de minagem.

Obviamente, que a ficção acaba por desvirtuar um pouco a realidade. Temos de ter consciência de que o trabalho de minagem é capaz de ser das profissões mais duras do planeta. Um jogo, mesmo que queira ser um simulador, nunca será muito realista. Contudo, havia aqui um grande potencial de tornar toda a actividade de minagem algo interessante, até mesmo didáctico. Além do trabalho com a maquinaria pesada, há também que entender como extrair minério e separar o metal precioso através de diversas técnicas e procedimentos. Depois, há também um potencial de progressão, em que começamos por uma pequena exploração alugada e acabamos a gerir uma empresa com múltiplas frentes.

Sim, esta lógica está implementada no jogo da Code Horizon. Começamos humildes, com poucos dólares na carteira e uma carrinha pickup antiga. O primeiro passo é ir ao banco para iniciar o processo de aluguer do lote de terreno para minar. Opcionalmente, também podem pedir um empréstimo para comprar o dito lote. Contudo, o mais recomendado é ter cuidado com a dívida e solicitar empréstimos pequenos só para comprar material. Depois, há que passar pelo armazém e comprar uma série de objectos úteis e maquinaria, por agora simples, para o processo de minagem. Ainda poderão passar pela gasolineira para comprar combustível, mas ignorem o stand de escavadoras, por agora. Nem a mais barata poderiam suportar, a não ser que sejam péssimos gestores e peçam empréstimos impagáveis.

Só que, logo nestes primeiros instantes, fica claro que a produção não pensou que este tipo de jogos possuem uma natureza já de si aborrecida. Pedir aos jogadores que andem de carrinha pela vila para os locais que menciono é uma tarefa monótona. Isto porque a condução, à falta de melhor expressão, é muito arcaica. As físicas não estão muito bem representadas. Regra geral, a baixa velocidade, cumpre, mas acelerem um pouco e tenha o azar de bater em algo e a carrinha fica incontrolável. Ir a pé, então, está fora de questão. Vão por mim, apesar de tudo, a carrinha é a vossa melhor amiga… ou inimiga, como quiserem. Não me importava de ter de andar de carro tantas vezes se a condução fosse interessante e se os locais tivessem animações e interiores. Ah, e que simplesmente… mais alguém existisse neste mundo…

Solitário e sempre ao volante, porém, não é por aí que o jogo me desapontou. Já na minha visita no acesso antecipado, evidenciei algumas questões que considero negativas. Uma delas é o facto de apenas podermos transportar um objecto de cada vez. Pensei que era algo que a produção iria acabar por resolver, talvez com um inventário ou algo semelhante. Não só não melhoraram, temos mesmo de carregar um balde de cada vez, como parece que pioraram muita coisa. Há objectos que quando pegamos nos tapam o ecrã quase completamente. A sério, quem é que pensou nisto? Como é que eu coloco o objecto na mala da carrinha se não vejo onde ela está? Também não podemos rodar o objecto para o colocar à nossa maneira, por exemplo.

Pior ainda é que quando vamos ao armazém comprar equipamento, só podemos comprar objectos que caibam em slots limitados. Depois quando os carregamos, vai tudo ao monte na carrinha. Porque não inventar um esquema de slots fixos, estilo inventário para arrumar tudo como deve será? Acabo sempre com a carrinha carregada e basta um salto no chão para os objectos saírem a voar pelo cenário. E, por favor, porque é que tenho de carregar um balde de cada vez? São dos objectos mais importantes do jogo e acabo por comprar uma boa quantidade… para os transportar um a um!

Transporte de objectos à parte, ainda não falámos sequer da minagem, afinal o foco do jogo. Como devem calcular, existem diversas formas de extrair minério. Neste jogo podemos usar ou simples plataformas de lavagem de pedras, em que simplesmente usamos uma pá e uns baldes de água, até complexas e gigantes maquinas semi-automáticas de lavagem, em que temos de as alimentar de minério com escavadoras. Obviamente que tudo isto está proporcional à vossa vontade de evoluir e ganhar dinheiro por cada barra de ouro vendida. Só assim poderão investir em mais e melhor equipamento. O que, para mim, torna o jogo interessante, nem que seja para vermos como podemos melhorar a linha de extracção com automatismos.

Pelo meio, há que pensar em alimentar as máquinas com energia e água, tratar da iluminação e abastecer o combustível. Há que fazer também alguma manutenção a veículos e máquinas que podem sofrer desgaste. Podemos até contratar ajudantes que vão fazendo algum do trabalho por nós. Contudo, sempre que precisarem de novo equipamento ou de alguma peça para reparar alguma coisa, terão de pegar na carrinha e ir à cidade carregá-la de compras. E todo aquele processo de carregar peça-a-peça e condução irregular recomeça. É que mesmo na nossa mina, andamos constantemente de um lado para o outro e não há atalhos para rigorosamente nada.

Estou certo que esta lógica é intencional. A produção quis mesmo que os jogadores entendessem que a minagem é complicada e morosa. Mas, há limites nesta intenção. Num pequeno tablet na nossa tenda, temos as opções de comprar equipamento e maquinaria “online” para que seja entregue na nossa mina. Mas, essas opções, até à data, estão inoperativas com a indicação “coming soon” (brevemente). O objectivo será que os jogadores não tenham tudo de uma vez ou então a produção ainda não conseguiu completar este módulo. Seja como for, é bom que se apressem porque eu não quero voltar à cidade tantas vezes…

No fundo, é tudo uma questão de facilitismo. De facto, nada é facilitado neste jogo. Temos de levar os cabos do gerador à máquina, as cordas do gancho ao reboque, o balde do extractor para a bacia de lavagem. Se não se importarem com estas mecânicas, este jogo oferece umas boas horas de distracção. Até porque usar as escavadoras e os reboques é realmente interessante. Certa vez, a minha carrinha ficou imobilizada num buraco ao lado da estrada. O meu primeiro instinto foi desligar o jogo por frustração. Mas, depois pensei melhor. Andei uns quilómetros de volta à mina, peguei na escavadora, trouxe uns cabos de gancho e acabei por desempanar a carrinha. Engenho é tudo, afinal.

 

Por esta altura, deverão achar que eu sou um especialista de extracção de ouro. Obviamente que não sou. Por mais que assistisse o programa no Discovery ou que tenha alguma experiência com simuladores de maquinaria pesada, nada disso me dá qualquer especialidade. No entanto, por qualquer motivo, o jogo parece achar que sou mineiro de carreira. Durante as fases de desenvolvimento, chegou a haver um tutorial para ajudar a entender os passos necessários. Infelizmente, esse tutorial foi completamente removido. No seu lugar, há um diário com dicas e passos, mas é tão sucinto e pouco explanatório que acabei inúmeras vezes a consultar vídeos na internet ou a perguntar em fóruns sobre o que fazer a seguir.

Na maior parte dos casos, o uso do material é perfeitamente intuitivo. A peneira final, onde finalmente encontramos o ouro acaba por ser um jogo de lavagem e de uso de uma pinça para apanhar pepitas. Mas, como é que encho o tanque de combustível móvel que comprei? Como arrasto a nova estação de lavagem que acabou de chegar? E, já agora, como se liga a sua tubagem hidráulica e de energia? Pois é… numa fase inicial até poderão “adivinhar” muita coisa, mas um tutorial, preferencialmente visual, fazia muita falta. Eventualmente, acabarão por conseguir criar uma mina completa, com trabalhadores a fazer uma boa parte do trabalho e até poderão comprar ou alugar outros lotes. Tornados magnatas do ouro, com muito dinheiro em caixa, terão chegado ao limite do jogo, uma boa parte do tempo com base nessa intuição. Isto se sobreviverem aos seus problemas técnicos.

Visualmente, achei que a fase de acesso antecipado me deixava antever um jogo bonito e cumpridor. Contudo, havia espaço para melhorias óbvias e alguns ajustes. Agora com o jogo final, tenho… exactamente o mesmo visual. Não consigo ver nenhuma melhoria significativa neste campo, tanto ao nível de texturas, modelos ou até de animações. Mesmo colocando as opções visuais no máximo, não há grande vantagem. Não esperava muito mais que isto, sinceramente. Talbez alguma optimização de modelos e texturas, talvez alguns efeitos visuais mais refinados e mais realistas. Não vou dizer que o visual é, de alguma forma, negativo propriamente. Diria que é apenas mediano, dando alguns momentos de deslumbre com as paisagens fantásticas do Alasca. Não é por aí que o jogo desaponta ao nível técnico.

Experimentem conduzir a carrinha mais rapidamente e terão freezes constantes para que o jogo renderize o resto do cenário. Quem sabe se é por isso que há um convite para conduzir devagar. Salvem o jogo frequentemente porque vão ficar presos em diversos locais e nas mais diversas situações. Fico muitas vezes preso a, simplesmente, engatar um reboque na carrinha, por exemplo. Também me parece que há um bloqueio de fotogramas por segundo, já para não falar em inúmeros “stutters” e pequeno bloqueios, mais evidentes em muitos dos movimentos mais rápidos. A produção promete muitos ajustes e resoluções para estes e outros problemas. Contudo, também já o prometia no acesso antecipado.

Veredicto

Sob risco de soar muito duro, quero só terminar por dizer que qualquer projecto tem de ter margem para se desenvolver mas, não é muito aceitável que se lancem jogos com tantos problemas. Sobretudo depois de um acesso antecipado e com tantas pessoas a reportar estas e outras observações. Este Gold Rush: The Game tem inúmeras questões de jogabilidade, de lógicas, de mecânicas e de optimização que até poderão ser resolvidas, mas que pertencem a fases de desenvolvimento e não a jogo final. Talvez tenha esperado demais deste título. Continuo a apreciá-lo onde posso, mas fico desapontado com o que a produção acabou por lançar.

  • ProdutoraCode Horizon
  • EditoraCode Horizon
  • Lançamento13 de Outubro 2017
  • PlataformasPC
  • GéneroSimulação
?
Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Pouca evolução visual desde acesso antecipado
  • Diversos problemas técnicos
  • Algumas lógicas e mecânicas de jogo

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

Comentários