De facto, isto é um Halo, em todos os sentidos, que tenta não ser “tanto” um Halo. Não apenas na narrativa mas também no elementos considerados “intocáveis” na interacção e também na estrutura de missões. The Weapon não é Cortana, de facto. Faz o mesmo papel, sim, mas é uma personagem totalmente nova, mais jovial, mais “quirky”, o que funciona perfeitamente como contraste perfeito do taciturno John-117. Também Echo-216 é uma importante nova cara, que nos dá tanto um bom sentido de Humanidade perante a escala da missão de Master Chief, como confere algum “comic-relief”, igualmente relevante.
Por outro lado, Infinite preserva todo o foco na jogabilidade, dando-nos combates intensos, como sempre, introduzindo uma série de pequenas mas importantes nuances na acção. Lá em cima, mencionei que vamos encontrando armaduras de soldados Spartan que nos dão equipamento especial. Temos desde arpões com corda para subir paredes, escudos temporários portáteis, sensores de inimigos e outros itens modificadores da acção. Nada é realmente profundamente revolucionário na jogabilidade mas abrem portas a mais e melhores estratégias. Até porque seremos um autêntico “one-man-army” e precisamos de toda a ajuda possível.
Como já disse, temos agora um mundo semi-aberto à exploração, com missões de história principal espalhadas num mapa e tendo bastantes outras missões secundárias como alternativas ao redor. Zeta Halo é quase um mapa “sandbox”, para abordar como bem queremos, de modo a explorar e descobrir os seus segredos no ritmo e intensidade que decidirmos. Conforme vamos libertando zonas e conquistando o anel, teremos mais armas e veículos à disposição, o que também faz com que os próprios Banished adquiram mais e melhores armas e unidades, numa constante evolução.
Entre missões de história e secundárias, temos conquistas de bases, sabotagem, salvamento de Marines e outras. Não há uma missão propriamente igual a outra, contando para isso a aleatoriedade com que as podemos executar. É claro que há alguma repetição nesta lógica, já que conquistar bases não é propriamente algo que se consiga diversificar. Contudo, por vezes temos algumas nuances e até algumas surpresas, como uma base aparentemente abandonada que, na verdade, esconde um par de elites camuflados e que emboscam Master Chief.
Um dos elementos que mais gostei neste jogo, são os veículos. Claro está que temos Warthogs à disposição e até podemos dar boleia a Marines que nos ajudam a desancar Banished. Temos uma mescla de veículos espalhados por Zeta Halo, sem esquecer os que podemos “chamar” nas FOBs. A sua condução não é a melhor, confesso. Até porque as “estradas” são horríveis e proporcionam muitas vezes autênticas cambalhotas involuntárias. Contudo, em combate os veículos que farão a diferença. Há mesmo algumas bases que serão bem mais acessíveis de atacar num veículo, preferencialmente num tanque.
Ao contrário dos jogos anteriores, há muito mais verticalidade nas zonas de combate, convidando mesmo a alguma acção mais furtiva com tácticas mais contidas, até mesmo com tiros à distância. Claro que, ao bom jeito desta série, não bem um “shooter” convencional, pelo que mirar à distância é um tanto infrutífero. Tirando algumas armas de tiro de precisão que obrigam mesmo a mirar. Basta a retícula no sítio certo para acertar nos adversários. Ame-se ou odeie-se, é assim que jogamos Halo há 20 anos. E estou certo que alterar esta lógica seria quase um anátema perante os fãs mais antigos da franquia.
Com estas palavras de apreço, concluirão que jogar Halo: Infinite neste novo formato, mantendo ao mesmo tempo tanta familiaridade na jogabilidade e uma história riquíssima e empolgante, é a melhor experiência de sempre. Bom, é e não é. Um dos efeitos “secundários” deste formato de “mapa conquistado” é que não podemos repetir missões de história. Foi algo que os jogadores receberam com alguma insatisfação, especialmente porque sempre tivemos a lista de missões concluídas para escolher e usar os célebres crânios modificadores. Era óptimas formas de jogar novamente e escolher outras opções o procurar locais que nos passaram ao lado. Enfim.
Também ainda não temos a opção de jogar a campanha em modo cooperativo, outro elemento que sempre me atraiu em Halo, tão bem implementado nos últimos jogos. Há mesmo algumas secções que quase jurava foram criadas para mais que um jogador. Tudo é jogável a solo, notem, apenas acho que o factor “diversão” só ficaria completo com mais um amigo ao lado. Para ambos os casos, a 343i promete novidades. No caso das missões repetíveis, é algo que planeia rever no futuro e a opção de jogar a campanha em modo cooperativo será adicionada durante o próximo ano.
Se não se renderam também ao “vício”, há umas semanas atrás poderão ter notado que os vossos amigos já estavam a jogar Halo: Infinite. Bom, não propriamente este modo de campanha que falei até agora mas, sim, o seu modo online, como já mencionei, “Free to Play”. Não havia melhor forma de arrancar a celebração destes 20 anos de franquia, que oferecer aos jogadores a sua componente competitiva online. Desde que foi lançado, este modo online tem sofrido imensos refinamentos e melhorias, num trabalho contínuo para criar a melhor experiência online possível.
Convenhamos que nestes dias, o que não faltam é jogos online gratuitos para entreter toda a gente. Contudo, a 343i fugiu à tendência da actualidade de criar (mais) um jogo “battle royale”, para nos dar um completo e robustíssimo conjunto de modos de jogo competitivos online, entre modos clássicos e novidades para todos os gostos. E a adesão dos jogadores foi notória. Apesar de alguns problemas na progressão online, entretanto já mitigados, a sua popularidade é inquestionável e não me recordo de ver tantos jogadores da minha lista de amigos entretidos com este jogo. É grátis, bem sei, mas não é propriamente descartável.
O ritmo continua frenético como sempre, com os mesmos golpes e movimentos a alta velocidade a testar os reflexos de toda a gente. Halo continua a ser um jogo de reacção, de movimentos súbitos, de emboscadas. É quase impossível “acampar” (há sempre quem consiga, obviamente), obrigando-nos a jogar no topo das nossas capacidades. É assim há anos e está melhor que nunca em Infinite. Apenas acho que os jogadores dependem demasiado do arpão e corda, “saltitando” ainda mais pelo mapa numa estranha “dança” caricata. Mas, é algo que consigo digerir muito bem.
Boas notícias para quem chegar agora à “cena” online de Halo, a Academy é o local que devem apostar. Como o nome indica, é mesmo uma academia que serve de tutorial para os jogadores menos familiarizados com as mecânicas desta franquia. Em vez de jogadores, enfrentam Bots e experimentam armas na segurança de um ambiente controlado. É também possível participar em mini-jogos para verificar a nossa destreza. De facto, todos os jogos deviam ter uma área assim, até ajuda a melhorar prestações, que no online são tão difíceis de aperfeiçoar.
Tive a oportunidade soberana de jogar Infinite tanto na sua versão Xbox Series X, como numa versão “cheia de sumo” no PC. O que posso relatar é um constante deslumbre em ambas as versões, com particular destaque para a versão de consola, que faz um óptimo trabalho de puxar tudo para um patamar elevado sem se ressentir. No PC, obviamente, é onde o jogo mais brilha, mesmo que notasse que as cenas intermédias e algumas porções da jogabilidade offline têm ligeiras perdas de performance pontuais, especialmente nos presets mais elevados. Também notei alguns ecrãs de carregamento mais longos que o habitual mas nada de especial. De um modo geral, este é Halo mais deslumbrante de sempre.
Veredicto
Sem qualquer demérito para tudo o que Bungie fez pela série, sinto que o que a 343 Industries trouxe em Halo: Infinite é a “melhor coisa” que podia acontecer a esta franquia. É uma autêntica mudança de direcção, sempre com o devido cuidado para não alterar demasiado a fórmula que aprendemos a gostar desde há 20 anos atrás. O modo de carreira é como uma revolução “controlada”, o modo online é uma aposta forte na abrangência, cheio de argumentos para entusiasmar, sem propriamente cair em estereótipos. É o jogo de acção do momento que todos deviam jogar, para mim um dos melhores deste ano.