Análise: Halo Wars 2
Mais ou menos há oito anos, por esta altura, era lançado um jogo na Xbox 360 que muitos consideravam absurdo. Halo Wars 2 está aí a dar continuidade a um debate curioso com defensores e opositores: Será que os jogos de estratégia têm lugar nas consolas?
Agora na Xbox One, Halo Wars continua a sua missão de nos trazer algo diferente nesta série. O conceito é simples: um jogo de estratégia em tempo real baseado no fantástico universo de Halo. Personagens e enredo são únicos, numa clara tentativa de separar o “lore” quase intocável de Master Chief na consola Xbox. Só que, de First Person Shooter esta série salta para a perspectiva isométrica do combate indirecto dos jogos de estratégia. O que numa consola é quase “suicídio comercial”. Sem o famoso teclado e rato, o comando da Xbox pode revelar-se escasso para todas as interacções possíveis nos títulos do género. Colmatando essa falha, Halo Wars não era muito complexo, graças às inúmeras simplificações de interacção que a Creative Assembly implementou. Mas essa mesma simplificação afastou muitos jogadores. Será que algo mudou neste segundo capítulo?
Dizer que o género RTS está confinado ao PC, hoje em dia, é muito limitador. Jogos de estratégia abundam também nas consolas. Só que este tipo de RTS, com construção de bases e gestão de exércitos, nunca vingou no mercado de consolas. E não é só pela questão já mencionada dos escassos controlos. O próprio género tem vindo a desaparecer lentamente no PC, sendo Starcraft II o estóico e indiscutível líder deste estilo que teima em não desaparecer. Na sua altura, Halo Wars atraiu alguns curiosos mas não agradou a muitos dos fãs incondicionais de Halo. Falível, foi de certeza, mas deu uma ideia muito clara que Halo pode expandir-se para outros géneros que não apenas um shooter.
Com Halo Wars 2, a produção não fugiu muito do modelo original, apostando uma vez mais na simplicidade de controlos para ajustar à realidade da operação de uma comando de consola. Só que, felizmente, esta versão é também possível jogar num PC com Windows 10 graças à funcionalidade Xbox Play Anywhere. Não só podemos comprar a versão Xbox One e jogar no PC como o contrário também é verdade e até partilhamos sessões multi-jogador e progresso de campanha entre as duas plataformas. Irão pensar que, se calhar, esta é a melhor opção para jogar Halo Wars 2, com um teclado e rato. Recordo porém, que este não é um RTS convencional.
No ano 2559, exactamente 28 anos depois da tripulação da nave Spirit of Fire ter erradicado a ameaça Covenant no jogo anterior, o Capitão James Cutter acorda do sono criogénico para descobrir que a sua nave está dada como desaparecida e à deriva perto de uma base Forerunner chamada Ark. Depois de receberem um sinal de emergência da superfície destas instalações, a forças da UNSC cedo descobrem uma nova ameaça liderada pelo infame Artiox e os seus Banidos. Sem o Covenant para os manter na linha os Brutes rebelam-se e cabe à Spirit of Fire travar os seus planos de conquista e destruição. Apesar desta situação parecer francamente oportuna, ficamos a saber que este encontro não foi nada casual e que um plano maior já estava em marcha.
Ao longo de 12 missões, que podemos jogar com outros jogadores em modo cooperativo, somos levados a diversos cenários de batalha e conquista. A história é suficientemente competente para nos manter interessados no seu desfecho. Aqui não há o espírito heróico resumido na figura de Master Chief, mas uma determinação em fazer uma força militar prevalecer perante um inimigo feroz e determinado. Ajudam muito a contar esta tensão as fantásticas cenas intermédias que nos acompanham entre missões e que novamente demonstram o cuidado especial que a Microsoft exige desta série ao nível visual.
Mas nem só de visual se pode compor um jogo, sobretudo se temos as tais questões de género. Se ignorarmos a forma como estamos a controlar o jogo, Halo Wars 2 é um RTS de combate relativamente competente que não se perde muito com procedimentos ou passos a mais para chegar ao principal objectivo que é a captura de bases para suportar a conquista de pontos, destruição de estruturas e eliminação de unidades inimigas.
Contudo, se jogarem na Xbox One, não podem mesmo ignorar os controlos. Para escolher unidades de combate, por exemplo, carregamos no botão RB. Para escolher todas as unidades em campo, carregamos duas vezes. É uma convenção relativamente simples que substitui o infame “clicar e arrastar”. Mas se quiserem dividir as unidades por tipo, então terão de carregar no RB mais uma das quatro posições do D-Pad. O que, numa situação de aperto em que é preciso reacção rápida, é, no mínimo, confuso.
No entanto, a simplificação para usar o comando até ajuda noutros pormenores. A construção de bases, unidades ou upgrades é muito mais simples que andar a escolher edifícios numa vasta lista de opções. Carregamos no botão de acção (A) e temos uma roda de selecção para escolher o que fazer. Outro pormenor simplificado é o movimento e comando de ataque. O botão X serve para ambas as situações e funciona muito bem. E ainda mais interessante nesta simplificação é o uso dos dois comandos analógicos para navegar pelo campo de batalha, com zoom e tudo. Para mim, é uma melhor opção que usar o rato nos cantos da imagem no PC. Notem porém, que escolher unidades individuais com os movimentos dos analógicos requer algum hábito.
Em termos de combate, já estamos habituados que hajam unidades adaptadas e mais indicadas para cada função. Neste jogo, isso é muito mais evidente dada a limitação no número de unidades que podemos controlar no total. Simplesmente, temos de nos adaptar às forças inimigas. A infantaria é muito mais eficaz contra unidades aéreas, as unidades aéreas são mais eficazes contra veículos pesados e estes são mais eficazes contra infantaria. Isto garante que os combates se tornam bem mais interessantes, sem que haja real vantagem em concentrar a construção de tipos específicos de unidades de combate mais fortes. Convém criar vários e diversos tipos de unidades para garantir a vitória. Sobretudo quando jogam de igual para igual com adversários com as mesmas capacidades.
Como já disse, poderão jogar toda a campanha em modo cooperativo, mas o jogo possui também alguns modos adicionais competitivos e mistos. Antes de partirem para esse tipo de acção francamente mais imprevisível, convém perderem algum tempo no modo Skirmish. Aqui podem simular sessões até 6 jogadores, com cinco adversários artificiais. Podem escolher fazer parcerias com uma ou mais unidades ou simplesmente colocar todos contra vocês. A ideia é treinar para os eventos online e dominar os comandos e diferentes estratégias possíveis. Gosto particularmente de como o inimigo artificial se adapta aos nossos planos e contrapõe de forma inteligente. Mas, por mais engenhosa que seja a inteligência artificial, nunca agirá como um humano.
Quando tudo estiver dominado, podem partir para o online cheios de coragem para enfrentar combates frenéticos. Confesso que, à data da concepção desta análise, a falta de jogadores online não me levou a tirar muito proveito nestes modos. Joguei mais o novo modo de jogo Blitz que já tinha testado na Beta recente deste jogo. Neste modo, temos um jogo tradicional de estratégia, sem construção de bases, mas sim cartas de jogo para usarmos de forma pontual. Ou seja, além da estratégia de movimentação e combate, temos cartas de unidades especiais, bónus ou ataques únicos que são atribuídas no início do jogo e podem ser jogadas uma vez. Estas cartas, já agora, são ganhas através do modo de campanha a solo ou completando diversos desafios diários.
E há outros modos online tradicionais. Deathmatch resume-se a simplesmente destruir todas as unidades e edifícios inimigos e os modos Stronghold e Domination baseiam-se no controlo de pontos específicos no mapa, ganhando a equipa que mais pontos colecciona. Apesar de possuirem todas as mecânicas tradicionais do modo de campanha, não adicionam muito mais do que já conhecemos ao jogo. Nas sessões que participei de Domination, por exemplo, ganhou sempre o jogador que soube ser mais rápido a conquistar bases e a mantê-las, independentemente do esforço de recursos e construção da base que apostou. Em Deathmatch ganha sempre o jogador mais persistente que não espera que o adversário se recomponha do último ataque. Enfim, já sabem como estes jogos se desenrolam.
Visualmente, Halo Wars 2 é o que podiam esperar deste género de jogo. Tirando as já mencionadas cenas intermédias de elevada qualidade, com personagens credíveis e animações irrepreensíveis, bem ao nível de toda a série Halo, no que toca ao grafismo em acção, não há grandes surpresas. Mesmo que haja uma clara evolução visual desde o primeiro título graças ao novo poder gráfico, quando estamos em combate as texturas e animações são, diria, cumpridoras, sem comprometerem a muito importante fluidez. Quando nos aproximamos mais das personagens, percebemos que o detalhe deu lugar à simplicidade a bem da performance. Mesmo no PC, joguei com a qualidade visual em Ultra e nunca fiquei impressionado com os modelos de jogo. Contudo, também não tive grandes solavancos ou quebras de performance. É um bom compromisso.
A outros níveis, o jogo também se mostra cumpridor. A arte do jogo é a que já conhecemos da série e a banda sonora de arranjo clássico tem lá no meio aquelas notas que acabamos sempre a trautear. Tirando uma pontual quebra nas sessões online que, suspeito, possam ter sido causadas mais pela qualidade da ligação à Internet e não propriamente pelo jogo em si, não houve quase nenhuma razão de queixa na parte técnica. Curiosamente, os ecrãs de carregamento entre cada missão são algo demorados. Mas, aqui a produção foi inteligente, colocando informação pertinente para a missão e diálogos das personagens enquanto esperamos que a missão carregue. Engenhoso e só gostava que eu outros jogos fizessem o mesmo.
Veredicto
Halo Wars 2 é uma continuação de elevada qualidade do primeiro jogo. O que quero com isto dizer é que não pretende realmente alterar muito a fórmula, mas sim evoluí-la. Traz algumas melhorias no campo visual, aproveitando o hardware mais recente e uma quantas novidades interessantes, como o modo de jogo Blitz. Contudo, mantém praticamente a mesma interacção do primeiro título, desta feita com um enredo diferente. Os amantes de RTS de acção vão gostar de Halo Wars 2. Talvez os mais exigentes o achem demasiado simplificado, mas os recém-chegados ao género terão um título mais acessível que outros jogos do género. E o melhor de tudo é que se não gostarem de o jogar na consola, a versão em Windows 10 é capaz de ser a melhor experiência de jogo.
- ProdutoraCreative Assembly / 343 Industries
- EditoraMicrosoft Studio
- Lançamento21 de Fevereiro 2017
- PlataformasPC, Xbox One
- GéneroReal Time Strategy
Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.
Mais sobre a nossa pontuação- Cenas intermédias de elevada qualidade
- Xbox Play Anywhere!
- Jogar no PC com teclado e rato
- Não impressiona muito visualmente no campo de batalha
- Interacção com comando, mesmo simplificada
Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.