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Análise – Harry Potter: Quidditch Champions

Mais de 20 anos desde o lançamento do primeiro livro da saga Harry Potter, o feiticeiro mais famoso continua a ser motivo de conversa. Em particular, o desporto que pratica com Harry Potter: Quidditch Champions.

A marca criada por J.K. Rowling ainda é apreciada hoje por jovens e adultos, graças também à adaptação cinematográfica que tornou Harry Potter um verdadeiro culto. Como se não bastasse, a criação da escritora inglesa também foi adaptada para o mundo dos videojogos, com muitos títulos que retomaram as aventuras de Harry e seus companheiros. Entre estes, não podemos deixar de mencionar Hogwarts Legacy, um título de 2023 que foi um grande sucesso entre os fãs da série.

E é óbvio que nesse outro jogo da série, todos notaram uma omissão de peso, a falta de uma representação do célebre Quidditch. Embora uma sequela já esteja no horizonte, a Warner Bros. decidiu fazer algo à parte, explorando a franquia com outro título. Agora pela mão dos Unbroken Studios, temos Quidditch Champions, uma outra abordagem que se foca única e exclusivamente no desporto praticado em Hogwarts. Vamos ver como se comporta.

Harry Potter: Quidditch Champions vai colocar-vos imediatamente no meio da acção, com um tutorial bastante detalhado onde são descritos os papéis de cada jogador. Cada equipa é composta por seis personagens: três caçadores, um batedor, um guarda-redes e um apanhador.

Os caçadores são o equivalente aos avançados numa equipa de futebol. A sua tarefa é lançar o “quaffle”, a bola, dentro dos três aros, que podem ser considerados como a baliza onde se deve marcar pontos. Os caçadores podem, então, passar a bola para construir uma jogada e aproximar-se dos aros adversários o mais rapidamente possível.

O batedor é, por outro lado, o responsável por dificultar a vida aos jogadores adversários. Ele pode controlar um “bludger”, uma bola de ferro, que pode lançar contra os inimigos para os derrubar. Notem que cada personagem tem uma barra de vida que diminui por esses golpes recebidos. No caso de o “bludger” não estar por perto, o batedor pode sempre seguir o adversário e carregar com o seu ombro.

Na defesa dos aros encontramos o guarda-redes, que deve ser capaz de antecipar os movimentos dos adversários para saber qual aro defender. Ele poderá mergulhar em cada círculo e chutar o quaffle para reiniciar a jogada. Como se isso não fosse suficiente, será possível criar “estratégias”, que darão aos colegas de equipa um impulso de velocidade.

O último membro da equipa, certamente não menos importante, é o Apanhador. Este é o jogador que tem a tarefa de encontrar o snitch dourado que, se apanhado, permitirá à equipa receber 30 pontos (em comparação com 10 para um “golo” normal nos aros).

Ao contrário dos filmes, portanto, capturar o snitch dourado não vai terminar o jogo atribuindo 150 pontos. Aqui uma partida termina quando são alcançados 100 pontos ou quando o tempo chega ao fim. Durante as fases com o Apanhador, o nosso objetivo será exclusivamente seguir o snitch dourado. Para facilitar a captura, teremos de atingir alguns anéis dourados, que nos darão um impulso de velocidade. Uma vez terminada a fase de perseguição, poderemos tentar capturar o dito snitch. Encontrar-nos-emos completamente desinteressados pelo resultado da partida, embora ainda devamos estar atentos para não sofrer danos do batedor adversário.

Antes de poder dominar cada tipo jogador adequadamente, terão de o testar várias vezes. Isto, porque os movimentos disponíveis são diferentes e requerem uma combinação de botões que, pelo menos nas fases iniciais do jogo, podem não ser tão fáceis de lembrar e aprender. No entanto, depois de algumas horas tudo ficará mais claro e intuitivo. Para todos os papéis, permanecem alguns movimentos comuns, como a capacidade de realizar um deslize ou um desvio ou, ainda, um mergulho ou um sprint. Neste último caso, teremos uma barra azul disponível no interface, que indicará a quantidade de “turbo” à nossa disposição.

A propósito, durante os jogos a solo, teremos a possibilidade de alternar entre um jogador e outro através de uma roda de selecção. Esta escolha não me convenceu totalmente porque, a cada mudança de jogador, teremos de voltar ao centro da acção, utilizando uma abordagem totalmente diferente da que acabámos de usar. Isto pode causar alguma confusão a gerir o jogo de forma adequada. O nosso conselho é, portanto, escolher no máximo um ou dois tipos de jogador, deixando o resto estritamente para a inteligência artificial usar.

Apesar do desejo de se distanciar ao máximo dos filmes propriamente ditos, numa tentativa de mostrar que este universo pode prosperar bem além dos formatos já existentes, é óbvio que  estamos diante de um produto que também faz fan service. Por isso, vão encontrar imensas referências familiares. Mas, mesmo assim, não se pode dizer que é um título inconsequente ou descartável. Esta é uma simulação mais do que decente deste desporto tão particular, provavelmente um sonho tornado realidade para muitos que esperavam uma boa adaptação das suas regras e lógicas. Até porque os seus principais problemas estão maioritariamente ligados ao que acontece fora do campo.

Comecemos por uma premissa fundamental para enquadrar correctamente a proposta da Warner Bros.: Quidditch Champions é um jogo direccionado para os fãs. A disciplina no centro da simulação e o conteúdo criado em torno dela são projectados e dedicados a um público extremamente específico. Afinal, por mais que se possa desprezar o futebol, todos, pelo menos uma vez na vida, já viram um jogo na TV ou tentaram marcar um golo com amigos. A história é diferente para um desporto que envolve domar vassouras voadoras, lançar bolas em aros suspensos a dezenas de metros do chão… e procurar uma bola dourada com asas.

Os Unbroken Studios sempre desempenharam um papel de apoio na criação de jogos relacionados com as séries Battlefield, Call of Duty e Batman Arkham, não ignora o público de entusiastas. Com notório um amplo conhecimento, não apenas de Quidditch em si, mas também das personagens da saga, deu-lhe “armas” para criar algo significativo nesta franquia. Isso, felizmente, não implica que a jogabilidade seja descuidada ou mal tratada. Até porque este não é algum “standalone” glorificado, é um jogo por inteiro, ainda por cima oferecido no PlayStation Plus nestes dias. Uma prova de fogo para esta produção.

O menu principal é bastante esclarecedor, parecendo mostrar um jogo projectado com o modelo de negócios clássico de muitos jogos free-to-play em mente. Só que não é o caso. Tem um preço de venda fixado em 30€ (no lançamento) e, pelo menos por enquanto, nota-se a ausência das nefastas micro-transacções. Em resumo, tudo o que o que a loja do jogo e a carreira têm para oferecer, pode ser obtido exclusivamente a jogar, acumulando experiência, obtendo chaves e moedas necessárias para desbloquear os coleccionáveis e novas opções de personalização.

Não que é a loja do jogo esteja particularmente bem abastecida. Podem-se comprar chapéus, vassouras e fatos, com os quais podem mudar a estética das personagens criadas com o editor. Alternativamente, estão à vossa espera meia dúzia de personagens conhecidas dos livros e filmes, desde Cedric Diggory até Draco Malfoy, que, uma vez desbloqueados, podem usar em campo. A carreira, por outro lado, oferece recompensas até ao nível 52, entre chaves, moedas extra, vários itens de vestuário e também coleccionáveis raros, como a máscara que replica o rosto de Hagrid tal como apareceu em A Pedra Filosofal para a primeira PlayStation em 2001.

A partir dessas pequenas, grandes referências, fica bem claro o quanto Harry Potter: Quidditch Champions deseja agradar aos fãs mais fervorosos, tornando isso um dos principais pilares sobre os quais espera basear o seu sucesso. Deste ponto de vista, no entanto, falta um pouco de substância. Embora a compra de todas as personagens presentes na loja exija participação num grande número de jogos, como já a quantidade de itens desbloqueáveis é estranhamente limitada. Estou certo que, com o tempo, algumas actualizações deverão enriquecer o jogo, ainda assim, no estado actual é difícil ignorar essa falta.

Outro elemento central é a personalização de cada jogador da equipa. Como mencionei, uma vez obtidos, podem colocar em campo os irmãos Weasley, Hermione, Cho Chang e companhia, mas quando iniciam o jogo pela primeira vez, terão de criar uma equipa heterogénia de seis jogadores, usando um editor rudimentar mas eficaz. Guarda-Redes, Caçadores, Batedor, Apanhador: cada um deles pode ter a aparência que preferirem, começando a partir de predefinições, é claro, porque não vão poder criar “ogres” neste universo. A ideia, depois, é irem personalizando-os com os coleccionáveis que irão obter progressivamente.

A eficiência no campo é também uma área onde será dado espaço de manobra. A vassoura, para começar, terá de ser escolhida com base no papel e na estratégia que desejam implementar. Os Caçadores precisam de meios rápidos, mas também podem optar por uma vassoura que consiga absorver os ataques dos Batedores de forma mais eficaz. Mesmo neste caso, a escolha não é tão ampla quanto gostaríamos mas, com a quantidade certa de Moonstones, é possível melhorar progressivamente as estatísticas de agilidade, velocidade e resistência da vassoura. Cada função pode contar com seis bónus passivos, que podem ser activados à medida que acumulam experiência. Nada particularmente complexo, já que não podem ignorar as melhorias predefinidas.

Até mesmo aqui fica bem claro que Harry Potter: Quidditch Champions não se destaca pela sua profundidade. Talvez a pensar num público mais juvenil, não tenta ser demasiado complexo ou com demasiadas predefinições para jogar. Oferece algumas opções de personalização, claro, mas desde o editor até à melhoria dos membros da equipa, tudo é relativamente simples, imediato, extremamente guiado. Isso é, sem dúvida, uma vantagem se pensarmos nesse público mais jovem. Ainda assim, gostaria de ver algo um pouco mais elaborado para os jogadores mais experientes que sentirão a falta de algum desafio a médio/longo prazo.

No campo, Harry Potter: Quidditch Champions marca pelo desempenho do desporto que se propõe simular, interpretando intencionalmente algumas regras para criar algo fluido, adaptando tudo a uma jogabilidade digna de um videojogo. Assim, perdoem os puristas, algumas das regras inventadas por J.K. Rowling, como já disse, foram adaptadas. Por exemplo, como já deu para reparar, os jogadores por equipa não são sete, mas seis, com apenas um Batedor de cada lado. Também já disse que a captura do Snitch dourado não termina o jogo e apenas atribui 30 pontos à equipa que o conseguir apanhar. São pequenas mudanças mas que, na prática, achei fundamentais para funcionar num jogo onde não queremos que tudo termine abruptamente.

E é óbvio que há elementos de jogo que são necessários para o devido feedback visual. Entre indicadores que sinalizam a aproximação de adversários, desvios a serem executados com o timing certo para evitar os bludgers, ícones que indicam a posição da quaffle e círculos a acertar para garantir o recarregamento instantâneo do impulso, estes são elementos gráficos necessários. Mesmo assim, no início não é tão intuitivo como acho que a produção esperava. No entanto, bastam algumas partidas contra a IA, talvez num nível de dificuldade mais moderado e lá começamos a entender o que se passa.

Os Caçadores serão, sem dúvida, os atletas que vão jogar por mais tempo. A sua capacidade de interceptar a bludgers, roubá-la aos adversários, passar e rematar para marcar pontos, torna-os extremamente dinâmicos e mais entusiasmantes. Também destacam a qualidade do sistema de controlo que usa um analógico para avançar ou recuar e o outro para direccionar o movimento da vassoura. O Guarda-Redes será também uma boa escolha, assim que tomam a medida dos três aros a defender, traz satisfação. No momento certo, este jogador pode permitir evitar um golo praticamente certo, dando enorme satisfação.

Por outro lado, o Batedor e o Apanhador são um pouco menos dinâmicos, sendo papéis menos empolgantes. O Batedor, só consegue usar o seu taco a curta distância, tem dificuldade em ser verdadeiramente eficiente em jogadas mais rápidas e, salvo raras excepções, o seu ataque “telegrafado” com o bludger será facilmente evitado pelos adversários controlados pela IA ou por outros jogadores. O Apanhador, por outro lado, terá apenas de seguir o rasto do Snitch dourado que, uma vez identificado, segue um caminho pré-estabelecido, relativamente fácil de seguir.  Mas é algo aborrecido fazer isto, precisando de ter muito cuidado ao acertar nos círculos que recarregam o impulso e, na prática, parece estar a jogar separado de toda a acção.

No modo a solo, poderemos experimentar o jogo de forma mais pausada, dando para melhor experimentar tudo, embora dois problemas se tornem rapidamente evidentes. Em primeiro lugar, a já mencionada capacidade de trocar de funções a qualquer momento dá um certo dinamismo ao jogo mas dificilmente vão usá-la na sua plenitude, deixando de lado o Batedor e o Apanhador. Em segundo lugar, também aqui, enfrentam a escassez de conteúdo, com apenas quatro torneios disponíveis, sendo o primeiro um tutorial. A carreira vai ocupar-vos quatro ou cinco horas, no máximo, até serem nomeados campeões mundiais, escolhendo uma das 16 selecções nacionais presentes (Portugal não está entre elas, fica a nota).

Por mais que os Unbroken Studios tenham sido competentes a simular um desporto que, na verdade, não existe, embora a jogabilidade seja competente e polida, com um sistema de controlo reactivo e suficientemente preciso, falta aqui mais qualquer coisa. A própria experiência tende a ser um pouco repetitiva após apenas algumas horas de jogo. Neste sentido, o pouco conteúdo desbloqueável e o punhado de modos disponíveis, certamente não ajudam. Uma vez mais, é talvez um problema resolvido com futuras adições de DLC ou expansões mas num lançamento torna-se desapontante.

Veredicto

Com uma jogabilidade sustentada por um bom sistema de controlo, numa boa adaptação do desporto fictício, com óptimas decisões para o tornar divertido, Harry Potter: Quidditch Champions é um sonho tornado realidade para os fãs de Harry Potter. Contudo, talvez porque o próprio desporto em si é tão falível, a dinâmica de jogo funciona apenas pela metade. É divertida quando estamos na pele dos Caçadores ou dos Guarda-Redes mas torna-se muito menos emocionante e mais repetitiva quando controlamos o Batedor ou o Apanhador. Por outro lado, a actual falta de conteúdo não faz bem ao jogo. Resta-nos confiar no plano de actualizações futuras para lhe dar continuidade. O ponto de partida é suficientemente sólido, no entanto, só o tempo dirá se futuras actualizações e melhorias tornarão este título mais envolvente.

  • ProdutoraUnbroken studios
  • EditoraWarner Bros. Games
  • Lançamento3 de Setembro 2024
  • PlataformasPC, PS4, PS5, Switch, Xbox Series X|S
  • GéneroDesporto
ok
OK

Podia ser melhor mas tem alguns pormenores positivos que podem agradar a muitos jogadores.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Batedor e o Apanhador não entusiasmam
  • Pouco conteúdo desbloqueável
  • Poucos modos tanto a solo como multijogador

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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