Análise: Here They Lie
Gostam de arrepios? O género de terror é o vosso favorito? Agora imaginem que usam a realidade virtual que vos coloca literalmente no ambiente terrível de um thriller de terror. Here They Lie está aí para assustar todo os que possuem um PlayStation VR.
Na oferta de jogos de lançamento do PS VR era muito importante que a Sony que os títulos funcionassem também como showcase de capacidades. Todos sabemos que os periféricos que não tenham bons títulos que o suportem acabam por cair no esquecimento. Este primeiro trabalho da produtora Tangentlemen é um bom exemplo da capacidade imersiva de causar inúmeras sensações com a realidade virtual. Trata-se de um jogo de terror psicológico com uma clara inspiração na série Silent Hill. Este exclusivo para o PS VR, irá deixar-vos explorar um mundo monocromático para descobrir quem são vocês e qual o vosso objectivo. Isto, se conseguirem aguentar o jogo até ao fim…
A aventura começa de forma misteriosa. Sem qualquer explicação, surgimos numa estação de comboios e à nossa frente está uma voluptuosa rapariga a despedir-se de nós. O que acontece a seguir, prefiro não dizer, mas passará pelo nosso regresso a esta estação de comboios para tentar descobrir onde estamos. Mais importante é perceber quem somos e quem era aquela rapariga. Sem qualquer pista sobre o que devemos fazer, começamos a caminhar… e a caminhar…
Depois do primeiro capítulo nessa estação de comboios, acabamos numa estranha cidade com pessoas que usam máscaras de animais. O seu comportamento é, na maior parte das vezes, violento e de cariz sexual. Mas podem facilmente evitar o confronto, se não olharem directamente para elas. Sobre o cariz sexual, o que vos posso dizer é que vimos uma Hiena a fazer movimento pélvicos contra uma televisão CRT. Talvez por isso, o jogo tenha recebido a idade mínima recomendada de 18 anos. Não deixem a pequenada jogar isto, ok?
Para quem se questiona sobre a jogabilidade, diria que é muito semelhante a Everybody’s Gone to Rapture. Tal como esse aclamado “Walking Simulator”, convida-nos a explorar o seu mundo através de um caminho linear à procura de pistas para perceber o seu enredo. As pistas são, maioritariamente, fotografias e notas soltas que, ao princípio, não parecem fazer grande sentido. Contudo, esta exploração e angariação de pistas tem um propósito lógico, que mais tarde irá complementar todo o enredo.
Durante o jogo dificilmente encontrarão cores, num mundo onde tudo parece parece um estranho pesadelo cinzento e desbotado. Mesmo sendo uma escolha de estilo, acaba por tornar os cenários incrivelmente aborrecidos, também porque não parece ter havido grande cuidado com os detalhes. As únicas cores que irão ver de forma intencional, num cliché já visto e repetido noutros lados, são os vermelhos de sangue espalhado pelo chão, os objectos perigosos, como peças queimadas e incandescentes e o vestido amarelo da rapariga do início do jogo. Tudo o resto será visto a preto e branco, como um daqueles filmes clássicos de terror.
A nível de interacção, contarão com a ajuda do DualShock 4, algo bem vindo para que se sentir aventureiro e destemido ao ponto de o jogar como um tradicional first person. Por defeito, porém, irão jogar com uma opção que nos permite olhar para a direcção que pretendemos andar e bastando apenas carregar para a frente. O analógico direito, em vez de rodar livremente, é usado para rodar a nossa câmara em intervalos de 30º e usa um efeito como de lento piscar os olhos. Esta dinâmica, porém, não funciona muito bem. Quando pretendem andar mais rapidamente, o movimento da câmara não só não acompanha, como chega a quebrar o ritmo da acção.
Mas há outro efeito ainda mais negativo nesta experiência. É que, com este tipo de movimento, chegam também diversas queixas de náuseas. Até agora, este foi um dos poucos jogos que nos provocaram mais tonturas e tentámos perceber porque é que nos fez sentir assim. Já jogámos Driveclub VR e EVE: Valkyrie, que são jogos bastante rápidos e com mudanças de câmara repentinas, além de diversos efeitos estroboscópicos. No entanto, nenhum nos causou este tipo de sintomas.
Para o bem dos nossos leitores, fomos tentar perceber a causa. Chegámos à conclusão que o ritmo do jogo errático, com os lentos passos do protagonista em contraste com a velocidade que conseguimos olhar em nosso redor, provocam alguma desorientação sensorial pontual. Esta questão torna a experiência mais frustrante do que satisfatória. Na nossa opinião, este problema podia ser facilmente resolvido se a deslocação não fosse continua e tivesse um sistema semelhante ao de Batman Arkham VR, que nos teleporta de ponto em ponto sem a necessidade de “caminhar” até lá.
Talvez o mais aborrecido do jogo é o facto de ser tão linear e aborrecido. Estamos sempre em constante movimento numa série infinita de túneis e escadas numa misteriosa cidade monocromática. Os níveis alternam entre exploração e sequências de evasão. Ou seja, para além de encontrarmos as fotografias e notas para percebermos o enredo, a principal mecânica de Here They Lie baseia-se em passar pelos inimigos de forma furtiva, que geralmente não atacam se não olharmos directamente para eles. O que torna toda a oferta entediante e, por vezes, ridícula, uma vez que tentamos arranjar sempre uma forma de enganar o jogo em vez de vivermos a experiência de terror que promete.
Por outro lado, a interactividade com o meio é limitada. As portas podem ser abertas, podemos usar a lanterna (sempre com pouca bateria) para iluminar as zonas mais sombrias e, pelo caminho, podem também interagir com as ditas pistas que encontram. Qualquer outra interacção ou sequência mais complexa que estes eventos, é feita de forma automática. Seria interessante termos, por exemplo, a necessidade de nos escondermos dos inimigos, como no intenso Alien: Isolation. Também não seria mal pensado termos algum tipo de combate, nem que fosse para defesa. Mas aí, se calhar, tínhamos um jogo completamente diferente.
Veredicto
Infelizmente Here They Lie não conseguiu viver à altura do seu potencial. Nem sequer é o tal jogo de terror que nos é prometido, não passando de um Thriller psicológico. Fez-nos sentir dentro de um walking simulator com poucos sustos, à espera que o jogo se desenvolvesse, enquanto caminhávamos por vários túneis e escadas, enquanto prevalecia um sentimento de estarmos a fazer parte dos eventos. Também as tonturas pontuais devido ao ritmo inconsistente do jogo fez-nos ter a pior experiência em VR até à data ao nível fisionlógico, mesmo com as pausas que são recomendadas entre cada capítulo. Os cenários monocromáticos rapidamente se tornam repetitivos e parecem-nos bastante aquém do que é possível criar com a actual tecnologia.
- ProdutoraTangentlemen
- EditoraSony Interactive Entertainment
- Lançamento13 de Outubro 2016
- PlataformasPS4, PS4 Pro, PSVR
- GéneroThriller Psicológico
Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.
Mais sobre a nossa pontuação- História misteriosa e intrigante
- Conceito tem muito potencial
- Ritmo errático do jogo capaz de provocar náuseas
- Pistas demasiado espaçadas
- Grafismo aquém da potencialidade do PS VR
Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.