Os assassinatos podem ser executados das formas mais lineares, com tiros, envenenamento, estrangulamento, etc, ou das formas mais engenhosas que possam engendrar. Numa missão, por exemplo, podem assassinar um dos alvos por sabotar o seu carro de corrida ou, simplesmente, alvejar a pessoa no pódio aquando do final da corrida. O grande destaque nestes jogos é que os vários eventos vão decorrendo em tempo real e podemos agir de imediato ou esperar pelo tempo certo. Embora haja um padrão, há sempre uma dose elevada de improviso. O que é mais um motivo de jogarmos novamente para ver o que acontece se esperarmos mais um pouco à espera de uma oportunidade diferente.

Como já disse, temos seis localizações diferentes para darmos largas à imaginação. Neste novo jogo, vamos iniciar as hostilidades numa mansão à beira-mar na Nova Zelândia, passamos por terras exóticas como a Colômbia ou a Índia, lugares pacatos como um bairro abastado de subúrbio nos EUA, chegando a um místico castelo numa ilha misteriosa. Em todos estes locais, regressam os inúmeros NPCs, os imensos locais de interesse e a atenção ao detalhe por parte da produção. Isto proporciona um “palco” cheio de vida e onde não faltam momentos curiosos para estarmos atentos, alguns francamente bem humorados.

No que toca à jogabilidade, também temos diversas novidades de assinalar. Agora é possível esconder-nos por nos misturarmos na multidão ou por nos agacharmos na vegetação mais alta. Isto é perfeito para quando não temos o disfarce ideal e queremos, mesmo assim, esgueirar por um caminho vigiado. Também temos mais pontos de “blending”, onde podemos fingir ser um turista distraído a apreciar as vistas, por exemplo. Tudo serve para passarmos despercebidos dos guardas mais atentos ao nosso disfarce ou depois de fazermos algo ilícito e queremos esconder-nos. Curiosamente, alguns NPCs reagem connosco, podendo até comentar a nossa atitude.

Outras novidades prendem-se com pequenos pormenores. Um deles é bastante interessante: a pasta do Agente 47 faz aqui o seu regresso. Nunca entendi porque a IoI não a adicionou no título anterior. Em outros jogos na série, era nesta pasta que levávamos a espingarda sniper desmontada. Carregávamos a insuspeita pasta em locais onde não podíamos ser vistos armados, chegávamos a um ponto específico seguro, montávamos a espingarda e o alvo mal podia esperar. Esta lógica está de volta, mesmo que possam levar outro qualquer item escondido. A própria pasta pode ser usada como arma, podendo até ser arremessada pelo ar contra o alvo. Já não “saio de casa” sem ela.

Outros pormenores estão na maior quantidade de câmaras de segurança e no facto de agora podermos ver e estudar o movimento do seu raio de acção, recorrendo à visão de assassino disponível. Através de uma pequena imagem que surge no ecrã, as câmaras também mostram o que estão a observar se formos detectados e sempre que alguém fica alertado por algo que façamos. Este é também outro sintoma da maior dificuldade no modo Professional ou Master. Mais câmaras, mais guardas, menor tempo de detecção, entre outras adições de dificuldade… e frustração.

Contudo, tudo o resto é perfeitamente familiar. Voltamos a ter as nossas fiéis pistolas silenciadas, o garrote para aquele encontro mais próximo, as moedas para distrair os incautos, as gazuas, os comprimidos para dormir, as minas, etc. No fundo, este é o mesmo jogo, com um alargar no leque de opções. O que é uma fantástica perspectiva se o primeiro título foi tão positivo. Em conjunto com diversas opções coreografadas, como linhas de enredo opcional, podemos, não só eliminar os mesmos alvos de forma diferente, como criar diferentes desenlaces na missão que podem ajudar-nos ou prejudicar-nos. Há muitas camadas de situações com repercussões e finais diferentes.

Esperem pela missão no tal bairro de subúrbio nos EUA e ficarão surpresos com a densidade da inteligência artificial. As vizinhas comentam as vidas alheias, os polícias lamentam a sua situação, até os homens do lixo falam entre si. Na missão na Colômbia, podem fazer parte de uma banda e tocar tambor. Em Mumbai negoceiam a compra de tecido enquanto disfarçados de alfaiate, ao ponto de regatear com o vendedor. Enfim, a aposta é numa ainda maior profundidade e numa credibilidade do ambiente que nos rodeia. Todo os mapas possuem uma boa dimensão, bom design e centenas de locais para explorar.

Se quiserem criar um desafio interessante nestas localizações, nada como apostarem nos modos de jogo que vos são oferecidos além do modo de carreira. Recordarão, com certeza, o modo Sniper Assassin (em cima), um modo que experimentámos na sua Beta. Basicamente, o objectivo é eliminar 3 alvos e os seus guarda-costas num espaço de 15 minutos, usando uma espingarda de sniper apenas e à distância. O mapa, infelizmente, é só um e é o mesmo da Beta. O único interesse em repeti-lo será para subir na classificação mundial. Obviamente, a IoI lançará mais missões neste modo em outras localizações.

Mas, há outro modo que parece ser francamente mais interessante. O modo Ghost (em baixo) é a versão multi-jogador da acção de Hitman 2. Num único mapa, dois jogadores têm os mesmos objectivos com tempo limitado. Contudo, estão em realidades separadas e, do outro jogador, apenas vemos o seu “fantasma”. Não podemos interferir directamente no mundo do outro jogador, excepto com pequenas interacções que visam prejudicá-lo, como lançar uma moeda na sua direcção chamando a atenção de guardas, por exemplo. Este modo está ainda em Beta mas o seu potencial de diversão é inegável.

De resto, contem com os contratos personalizados, em que podemos criar missões com alvos e prioridades específicas e até partilhar online com a comunidade. Contém também com a missões missões especiais com tempo limite “Elusive Targets”. Se acompanharam a promoção do jogo, já saberão que o primeiro alvo é o mítico actor “que morre sempre” Sean Bean. A promessa da IoI é que mais conteúdo gratuito e que mais algum conteúdo inserido no passe de época, venha a preencher melhor esta oferta. O que, aliado à expansão da jogabilidade com tantas opções e variáveis para repetir missões, dão uma boa longevidade a este título.

Falta só falar no importante plano técnico. Tive oportunidade de testar este jogo numa PlayStation 4 Pro. Se bem se recordam, experimentei o primeiro jogo no PC. Isto criou uma importante diferença visual. É lógico que há um abismo técnico entre o PC e as consolas, mesmo na poderosa PS4 Pro. Contudo, dá para perceber que este é um projecto mais ambicioso no detalhe e nas animações, com o suporte 4K HDR a evidenciar mais essa busca por qualidade visual. Numa primeira abordagem, o jogo não retrocede em nada no plano visual (tirando as tais cenas intermédias que já falei). O que a IoI fez foi apostar na mesma qualidade gráfica e sonora, dando apenas uns “retoques” modestos.

Veredicto

Para todos os efeitos, Hitman 2 era suposto ser apenas uma segunda temporada do primeiro jogo. O que, dada a qualidade do primeiro Hitman, seria, só por si, uma boa oferta. Contudo, com este jogo, a Io Interactive mostrou que, nesta sua nova vida, é capaz de expandir este fantástico mundo, dando-nos destinos incríveis e aumentando as opções ao dispor. A jogabilidade é francamente familiar, inovando um pouco mas sem nunca fugir à receita de sucesso. Os novos modos de jogo são demonstrações de possibilidades interessantes para dar outros rumos possíveis à série. Há umas poucas cedências que desapontam, como as cenas intermédias menos produzidas. No entanto, no geral, é uma confirmação que o Agente 47, a série e a própria produtora, estão no caminho certo.