Análise – Hood: Outlaws & Legends
A Sumo Digital é uma empresa, deveras, prolífica. Já fez de tudo um pouco, explorando ideias e capacidades de forma arrojada. Já experimentou jogos de desporto, condução, plataformas e até passou pelos títulos sandbox. Hood: Outlaws & Legends é mais uma prova da sua capacidade de fugir a convenções.
Convenhamos que as prateleiras de jogos estão repletas de títulos de acção cooperativa online baseada em classes com habilidades diferentes. Também já temos um bom punhado de jogos com uma forte componente “stealth”. E não podemos esquecer uma oferta interessante de títulos que nos dão doses concentradas de diversão sem se perderem em grandes enredos elaborados para contexto. O que a Sumo Digital fez foi capitalizar nestes conceitos, trazendo-nos algo que é francamente familiar, tentando dar-lhe um toque pessoal. Nesta indústria, porém, as produtoras tendem a especializar-se em um ou dois géneros, não expandindo demasiado a suas capacidades. Esta produtora, pelos vistos, tem outras ideias.
O famoso conto de folclore medieval que é a saga de Robin dos Bosques já serviu de inspiração para séries, filmes e até alguns jogos, se bem que neste caso de forma indirecta. Aqui, Robin Hood é o centro das atenções, ora não tivesse o seu apelido logo no título. Esta é uma forma jeitosa de prescindir de cenas intermédias ou histórias alongadas para justificar a acção do jogo. Quem não conhece a célebre história do “ladrão que rouba os ricos para dar aos pobres”, uma frase muito usada como apologia do crime contra os poderosos. Assim, não esperem nada no formato de um enredo. Para isso, terão de ler o conto original e entender as motivações de quatro ladrões que não param de tentar roubar um tal de Xerife de Nottingham.
Aliás, neste jogo irão mesmo jogar com as quatro personagens emblemáticas deste conto. Robin Hood é o arqueiro infalível, o Ranger, a sua amada Maid Marion é a caçadora, o jovial Little John é o arruaceiro e o frade Tuck (aqui chama-se Tooke, por qualquer motivo) é o místico com poderes sobrenaturais. Não esperem, porém, o estereótipo grupo das séries e filmes. O estilo e design (assim como as suas personalidades) foram ligeiramente alterados para servir os interesses da acção. Estamos longe do bando de bandidos felizes. Embora o intuito seja o mesmo.
Este é um jogo de acção cooperativa contra a Inteligência Artificial que também nos coloca frente-a-frente com outros jogadores, igualmente a jogar em equipa. Ou seja, tem uma lógica PvPvE, colocando duas equipas de quatro ladrões contra uma IA que tudo fará para os impedir. E é lógico que as duas equipas se enfrentam também para assegurar o saque. E, sim, são só quatro personagens para os dois lados, o que fará com que Robin Hood alveje… Robin Hood… Não vimos isto nos filmes ou séries… A ideia é juntarmos 4 pessoas, cada uma com habilidades únicas e partirmos para o roubo, sabendo que temos clones algures a fazer exactamente o mesmo.
O jogo começa sempre da mesma maneira. Temos de fazer algum trabalho de exploração e investigação, de modo a descobrir e roubar uma chave ao incauto Xerife de forma furtiva (seremos mortos instantaneamente se formos descobertos). Depois, há que usar a chave para abrir a porta onde está o cofre do cobiçado tesouro. O cofre nunca está no mesmo sítio, pelo que mais alguma exploração é necessária. Uma vez descoberto e a porta aberta, é preciso carregá-lo para uma outra área onde, por qualquer motivo, temos de operar um guincho para o levar para… outro lado. Parece tudo uma grande complicação para simplesmente roubar o conteúdo de um cofre. Enfim.
Em termos de interacção, cada personagem possui a sua habilidade única. Robin privilegia o ataque em distância com o seu arco e tem umas bombas para atordoar inimigos. Marion pode ficar invisível temporariamente, Tooke pode marcar inimigos à distância e o enorme John pode levantar os portais ou desancar multidões com o seu martelo gigante. A jogabilidade altera-se consoante a personagem que escolhamos,sim, mas não sinto que confira a devida variedade, já que a maioria dos ataques são em distância e o combate próximo está reservado quase exclusivamente a John. É aliás frequentemente frustrante dar de caras com um inimigo em proximidade, porque nenhuma outra personagem é suficientemente forte para fazer frente.
Como oposição, claro, temos todos os guardas do Xerife, prontos para reaver o tesouro. Contudo, o verdadeiro desafio vem da outra equipa que está a tentar roubar exactamente o mesmo cofre. Se uma equipa consegue primeiro a chave, a outra passa a ter como objectivo roubar-lhe o tesouro. Já diz o ditado “ladrão que rouba ladrão, tem 100 anos de perdão”. Neste caso, “ladrão que rouba ladrão… ganha o jogo”. O que pode causar alguma injustiça para quem quer extrair o tesouro depois de tanto trabalho. Pode ver o cofre levado pela outra equipa que simplesmente preferiu esperar para emboscar a outra, deixando de lado todo o trabalho inicial.
Infelizmente, ao fim de uma ou duas horas de jogo, terão percebido tudo o que o jogo tem para oferecer. Se é que não perceberam já durante o sucinto tutorial que explica as dinâmicas de jogo. Considero que a oferta é francamente reduzida, para a penas um tipo de assalto, praticamente idêntico em cada sessão, alterando apenas a localização e alguns elementos. Soa a pouco. Também é extremamente complicado aproveitar este jogo se não for jogado com amigos. Mesmo que entremos em sessões com desconhecidos, se não houver uma coordenação mínima, será quase uma perda de tempo para todos. Considerando também que o jogo não é assim tão popular, boa sorte a formar uma equipa completa em sessões anónimas.
Por outro lado, acho a recompensa por cada missão ganha algo desmotivante. O incentivo para continuar a progredir parece-me escasso. Os pontos de experiência ganhos permitem-nos fazer melhorias à personagem, ao covil e ao jogador. O que vale a pena são as habilidades das personagens, que podem ser melhoradas. De resto, pouco mais. Isto, porque quase tudo é cosmético e francamente confuso. Seria positivo apenas ter uma ou duas “avenidas” para evoluir as personagens e os itens cosméticos podiam muito bem ser desbloqueados a cada nível. Assim, parece-nos que o convite ao grind é demasiado forçado e pouco compensador a médio prazo.
O que é pena, porque a Sumo Digital fez um óptimo trabalho no campo técnico. Havia aqui imenso potencial de criar um jogo brilhante, com uma acção que tinha tudo para ser igualmente interessante. A atmosfera é perfeita, com ambientes e cenários muito bem modelados, com alguns efeitos soberbos, assim como umas quantas mecânicas de jogo muito polidas e bastante inventivas. Em alguns momentos, verdadeiramente, faz-nos desejar ter mais para jogar. Gostava de ver, talvez, um modo de história a solo ou, simplesmente mais variedade nas actividades disponíveis.
Veredicto
Bonito visualmente, incrivelmente escasso em conteúdo. Parece que a Sumo Digital se perdeu a criar um bom conceito de jogo, com imenso potencial para algo, pelo menos, mais vasto. Contudo, Hood: Oulaws & Legends fica muito aquém do que esperámos, oferecendo um modo de jogo apenas e uma progressão confusa. Infelizmente, não consegue inovar muito a médio prazo, tornando-se demasiado repetitivo. É óptimo para jogar com amigos de forma descontraída mas… não por muito tempo.
- ProdutoraSumo Digital
- EditoraFocus Home Interactive
- Lançamento10 de Maio 2021
- PlataformasPC, PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series X|S
- GéneroAcção, Estratégia
Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.
Mais sobre a nossa pontuação- Visual interessante
- Algumas boas mecânicas de acção furtiva
- Extremamente repetitivo
- Muito pouco conteúdo para jogar
- Apenas um modo online além do tutorial
Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.