Análise – The Hunter: Call of the Wild
The Hunter: Call of the Wild não é um jogo recente. Só agora nos foi possível pegar na caçadeira e partir para o mato em busca de caça grossa. Algumas actualizações depois, porém, temos um jogo amadurecido e pronto para escrutínio… uma bala de cada vez.
O tema deste jogo pode criar alguma divisão na nossa audiência. Este é um simulador de caça desportiva. Se há os que defendem a caça por subsistência, matar animais para meros troféus é, obviamente, muito menos defensável. Contudo, este não é o espaço ideal para discutir esse tema. Gosto de imaginar que no mundo virtual deste jogo, cada peça de caça é vendida para consumo, como deve ser. Se servir de consolo, pelo menos aqui, nenhum animal real é sacrificado a bem de algum “desporto”. O que nos leva a falar neste título é a sua jogabilidade, o seu incentivo e a sua recompensa. Como qualquer simulador que se preze, deve replicar a realidade minimamente. Talvez a etiqueta “jogo” não se aplique tanto aqui, embora a produtora Expansive Worlds tenha criado umas mecânicas de progresso e de recompensa por exploração e cumprimento de objectivos.
Não é costume analisarmos um jogo após tanto tempo de ter sido lançado. A verdade é que este género passa-nos muitas vezes ao lado. Este é um indie editado por uma empresa mais habituada a produzir outro tipo de jogos (Avalanche Studios, produtora de jogos como Just Cause), um tema aparentemente pouco plausível para um jogo e que teve alguma falta de notoriedade. Contudo, a série The Hunter não é propriamente uma novidade. Talvez tenham ouvido falar dos títulos anteriores The Hunter Classic e The Hunter Primal, este último a levar-nos a caçar dinossauros. Se o primeiro jogo tem uma reputação mista, como free to play repleto de impopulares microtransacções, o segundo é já um clássico. Com isto em mente, perante a proposta de analisarmos este mais recente título, aceitei o desafio.
Isto de analisar um jogo alguns meses depois do seu lançamento tem os seus benefícios. Já recebeu diversas actualizações de título que foram aprimorando muitos aspectos do jogo e recebeu também uma série de itens de conteúdo adicional, sendo dois deles pagos. Este dois DLC são, na verdade, muito importantes para a jogabilidade, diria até modificadores da acção do jogo ao ponto de melhorarem a sua experiência. Um permite montar tendas em diversos locais para aguardar que os animais surjam e o outro equipa o jogador com práticas Moto4 para poder trilhar o mapa com mais velocidade. Este último DLC é muito interessante uma vez que uma das críticas que irei falar é mesmo a enorme distância que temos de percorrer entre pontos no gigante mapa. Mas, já lá vamos.
Sabem qual é o segredo de uma boa manhã ou tarde de caça? Paciência, muita paciência. São precisas doses elevadas desta qualidade para trilhar por mato mais ou menos cerrado em busca dos animais que queremos caçar. A leitura de pistas e rastos é essencial, assim como a análise de excrementos e o escutar das vocalizações dos diferentes animais. Obviamente que este tipo de pistas são complicadas de replicar em jogo, pelo que a produção preferiu criar umas representações gráficas deste tipo de rastos com ícones e animações específicas. Cada pegada, depressão no terreno ou vocalização possui uma simbologia que podemos, não só destacar, como seguir, com o jogo a ajudar apontando numa direcção e a indicar os estados dos animais em causa (em fuga, descontraídos, alertados, etc), além do tipo e sexo do animal (preferencialmente, caçam-se sempre espécimes macho, ficam a saber).
Obviamente que não podemos também andar a percorrer o campo a correr de arma em punho. É preciso pausar, escutar o ambiente, observar em distância com a mira ou com os binóculos, podendo até usar apitos e engodos para chamar alguns animais. É preferível agachar ou rastejar em alguns pontos, sobretudo quando estamos a chegar próximo da presa. Existe uma representação visual tanto do nosso perfil, se estamos muito visíveis ou escondidos, mas também do ruído que estamos a fazer. Passar pelos ramos de mato cerrado ou ao pisarmos folhas secas, por exemplo, por mais lentos que sejamos, faz sempre mais barulho que o desejável. Tudo isto serve para chegarmos perto da presa para a estudar. O tiro ainda está algo longe.
Existem imensos animais para caçar (se calhar demasiados, mas lembrem-se que isto é um jogo), cada um deles possuindo características, agressividade e comportamentos próprios. Javalis, alces, renas, raposas e muitas outras espécies autóctones das duas regiões (Alemanha e América do Norte) precisam de estratégias diferentes para serem caçados. Por isso, há que estudar comportamentos, procurar zonas de descanso ou ribeiros onde os animais bebem água e pontos altos para um bom tiro. É também muito importante que observemos o vento para que o nosso odor não nos denuncie. Acima de tudo, convém não provocar nem um ataque, nem uma debandada, senão tudo recomeça do início. O objectivo é finalmente colocar a mira no alvo e preparar o disparo certeiro.
Para isso, é importante que usem as armas mais indicadas para caçar cada presa. O jogo fornece diversas armas de fogo diferentes, entre pistolas, espingardas e caçadeiras. Caçar um javali de espingarda de longo alcance é inútil uma vez que é raro ver um deste animais à distância. Também não é muito razoável usar uma caçadeira para tiros a mais de 100 metros. As pistolas, para mim, são só mesmo úteis para caça menor. Igualmente importante é o tipo de munição usada, devendo ser carregada também consoante o tipo de animal. Notem que quanto mais danificada a presa pelo tiro, menos valiosa é a recompensa. Notem que também existem arcos para tiro silencioso, contudo a sua efectividade não é tão evidente em animais de maior porte.
Mesmo que não falhem o tiro, é possível que apenas firam o animal. Apesar de ferido, quase todos os animais conseguem fugir rapidamente, largando um rasto de sangue. É apenas humano que os persigamos para terminar o seu sofrimento, mesmo que a recompensa seja logicamente menor. O mais provável, porém, é que acertem em partes não vitais (idealmente o tiro deve ser ao coração, cervical ou crânio) ou falhem de todo, assustando os animais e obrigando a uma nova perseguição. Não é que sejam maus atiradores, mas há muitos factores a ter em conta. Um deles é o vosso ritmo cardíaco que aumenta e reduz o foco no tiro. Outro é a imprevisibilidade das presas. Aconteceu-me muitas vezes alvejar o macho de um grupo e uma fêmea cruzar-se na linha de fogo, por exemplo.
Cada tiro certeiro e cada presa caçada dá direito a dois tipos de recompensa: dinheiro virtual e pontos de experiência. O primeiro, como devem calcular, permite adquirir mais e melhor equipamento e munições para a nossa actividade. O segundo permite-nos evoluir e ganhar pontos de evolução para desbloquear bónus numa árvore de evolução. Devo dizer-vos que esta progressão é incrivelmente morosa, sobretudo porque ao início não vão encontrar muitos animais complicados de caçar. Com a exploração dos dois vastos mapas acabarão por encontrar animais mais desafiantes, mas (lá está!) precisam de armas ou munições melhores. É uma curva de aprendizagem que, aliada à obrigatória paciência para cada presa, pode tornar o jogo incrivelmente moroso e, de certa forma, aborrecido para alguns.
Como já disse, este jogo possui duas regiões, uma na Europa, outra na América do Norte. Acho que estes dois palcos compõem o que de melhor este jogo vos oferece: o seu ambiente. As florestas são repletas de vida, além das nossas presas, com cada árvore, arbusto ou relva a remexer com o vento ou com algum animal que por ali passa. A folhagem é tão credível que parece que estamos a ver um qualquer canal de televisão. Igualmente deslumbrante é o seu sistema de iluminação que é favorecido pelas sombras realistas e pelos ciclos de dia e de meteorologia credíveis. Este fantástico aspecto visual é complementado por um áudio absolutamente imersivo, com todos os ruídos de fauna e flora a roçar o real. Melhor que este jogo, só mesmo a realidade.
E melhor que deambular sozinho por estes mapas fantásticos, é fazê-lo na companhia de alguém. Sejam amigos ou desconhecidos, podem criar ou juntar a sessões até oito jogadores para partilhar a caça de forma cooperativa ou competitiva. Infelizmente, das vezes que tentei, confesso que não encontrei muitos jogadores no modo online. Eventualmente juntei-me a um amigo que me acompanhou e até ajudou em alguns momentos do jogo a procurar e a encontrar presas. Um dos locais onde mais passámos tempo, curiosamente, foi na carreira de tiro a experimentar armas e munições diferentes. É algo que sugiro que façam com frequência, sobretudo quando “comprarem” um nova arma. Aprendem muito sobre as miras e sobre a arma em si.
Com tanto louvor, porém, este está um pouco longe de ser um jogo perfeito. Já mencionei a necessidade de paciência e já notaram alguma repetição na acção, mas há algo que piora muito a experiência. O sentido de exploração dos vastíssimos mapas é ampliado pelos pontos de interesse, torres e cabanas que temos de descobrir. Estas últimas desbloqueiam pontos de fast travel para evitar ter de trilhar demasiado tempo para chegar a um determinado ponto. Contudo, mesmo assim, andar é o que mais irão fazer. Um veículo seria óptimo certo? As tais Moto4 só estão disponíveis como DLC pago, como já disse, o que não faz muito sentido quanto a mim. Um mapa tão vasto merecia um meio de transporte mais acessível no jogo base.
Também devo de assinalar a falta de um bom tutorial para os menos experientes. Muita da acção do jogo é eventualmente explicada com informações oportunas dadas pelo rádio e há outras coisas que são aprendidas com um pouco de intuição e dedicação. Mesmo assim, seria útil alguma explicação das mecânicas mais básicas do jogo. Mais importante ainda seria que o jogo nos desse alguma formação mais concreta sobre o tipo de munição ou arma adequada para cada presa. Uma vez mais, irão perceber isto após algum tempo, mas até lá, lembrem-se: não tentem caçar ursos com arco e flecha…
Veredicto
A caça grossa possui diversos desafios, na perseguição e no próprio tiro na presa. Contudo, nesta simulação o verdadeiro teste é à vossa paciência. Apesar do esquema de progressão e acesso a mais e melhor equipamento para maiores presas, é muito possível que já se tenham aborrecido a meio caminho, depois de uma longa caminhada ou ao falharem tiros e assustarem meio vale à vossa volta. Se acham que têm a paciência necessária, se não vos tocar alguma noção de moral ou se pretendem um jogo diferente e extremamente calmo (entre tiros), The Hunter: Call of the Wild é para vocês. Com um ambiente absolutamente fantástico, não vão encontrar uma melhor simulação de caça por aí.
- ProdutoraExpansive Worlds
- EditoraAvalanche Studios
- Lançamento16 de Fevereiro 2017
- PlataformasPC
- GéneroShooter, Simulação
Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.
Mais sobre a nossa pontuação- Visualmente deslumbrante
- Sonoridade imersiva
- Simulação realista quanto baste
- Modo multi-jogador
- Algo repetitivo e aborrecido para quem não tiver paciência
- Veículos para deslocação só com DLC pago
- Falta de um tutorial mais explicativo
Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.