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Análise: Infamous 2: Festival of Blood

O vampirismo teve aí uma moda estranha. Os vampiros deixaram de ser monstruosos e passaram a ter ar de adolescentes suicidas. Mas foi só uma moda inspirada por aberrações cinematográficas. Os vampiros querem-se monstruosos, brutais e agressivos.

A Sucker Punch decidiu colocar os pontos nos “is” ou neste caso, colocar os dentes caninos em vampiros a sério, com aquilo a que podemos chamar de um autêntico Mod do seu jogo de sucesso Infamous 2. E que tal juntar a acção de um jovem super-herói com poderes de electricidade a uma cidade infestada de vampiros e demónios, sendo o próprio herói um vampiro em treino? Eis Festival of Blood!

Infamous entra em força nesta mitologia com um jogo bastante divertido que toma partido da arquitectura dos jogos originais com alguns resultados interessantes, reescrevendo o género de terror… felizmente…

Duas cervejas e uma estória…

A estória começa como tantas outras estórias fantásticas contadas a amigos com dois ou três copos a mais. Zeke está num bar e não resiste a travar conhecimento com uma jovem senhora. E nada melhor que aliciar a rapariga que contando as peripécias da sua amizade com Cole McGrath.

Só que Zeke conta uma estória diferente. Numa das celebrações de New Marais há um culto de uma pira de fogo que celebra a morte de uma tal “Bloody Mary” (sim, há uma bebida com esse nome e gozam com isso), a rainha do Vampiros, finalmente morta por ter sido queimada na tal pira de fogo. Só que antes de morrer lançou uma maldição e afirmou que um dia voltaria para atazanar New Marais… de novo…

Cole está na cidade aquando uma dessas celebrações e para mal dos seus pecados (e não são poucos) é atraído para uma cripta onde um bando de vampiros o captura e com o seu sangue fazem ressuscitar Bloody Mary. Nesse acto, o próprio Cole torna-se vampiro, o que, aliado aos seus poderes de Conduit (que lhe confere poderes controlando electricidade), cria um fenómeno estranho de mistura de poderes vampíricos com as descargas eléctricas do corpo de Cole.

Bloody Mary acrescenta que a partir de então Cole é “seu” e aquando do nascer do sol, dali a oito horas, Cole tornar-se-á eternamente seu escravo. Só que nesta estória, Cole é apresentado como um benfeitor (Não há escolha moral, já agora). E quando se torna vampiro, Cole tem de se alimentar de sangue humano. Não lhe dá jeito na sua categoria de bonzinho… e tal.

A busca é então por aumentar os seus poderes para enfrentar a vampira-magna. Algo repescado se pensarmos que os dois jogos anteriores seguem a mesma fórmula de aumentar poderes para enfrentar uma tal ameaça maior.

De notar que Zeke continua a narrar a estória e a dada altura há desenvolvimentos interessantes. Não esperem um enredo tão vasto como os jogos originais mas preparem-se para muita da mitologia vampírica, as vezes exagerada mesmo (como a cruz que mata vampiros feita de madeira “santa”, forjada de ferro do Rei David e abençoada pelo Papa… enfim…) e muita electricidade à mistura…

Já agora, esta estória faz-nos lembrar o Mardis Gras de Nova Orleães, cidade norte-americana real que inspira New Marais. O Mardi Gras é uma festa semelhante ao nosso carnaval e que tem origens pagãs. O culto dos mortos. Também parece inspirada na mitologia do Halloween e como até estamos próximos desta data, calha bem.

Cravando umas estacas no peito por aí…

Acabaram-se os malfeitores de gangues e surgem vampiros das mais variadas categorias e grau de fealdade. Cole é um vampiro, sim, mas odeia-os e quer matá-los todos. Por isso, quando os cravamos com a tal cruz, chamam doido a Cole… pois sim…

Em termos de jogabilidade, logicamente algumas coisas tiveram de ser alteradas. Não mais precisamos de procurar fragmentos (shards) para acumular pontos de experiência e evoluir os poderes de Cole. Agora temos de procurar vasilhas de sangue por toda a cidade. Sim, os vampiros deixam vasilhas da sua refeição por toda a cidade, e tal como Cole diz “andam crianças por ali” e ele tem de as destruir… Também já não temos de atirar nos pobres pombos para ouvir mensagens, apenas temos de encontrar desenhos nas paredes ou no chão que nos orientam para um desenho que é interpretado pelos novos poderes de Cole. Tanto as vasilhas como os símbolos são detectados por uma nova funcionalidade de Cole que é uma espécie de visão de Vampiro. Os humanos passam a ficar transparentes com o seu coração e artérias a chamar a uma refeição e as vasilhas e símbolos aparecem no mapa como pontos coloridos. Esta visão também serve para detectar vampiros disfarçados de humanos e que ao serem mortos também dão pontos.

A adição mais interessante deste jogo é um novo modo de voo em que por instantes Cole consegue literalmente levantar voo e dirigir-se a alta velocidade para onde quer que seja. Este poder mais à frente também é actualizado para em voo detectar as tais vasilhas e símbolos mais longe. Só que este poder não é infinito. Cole tem um novo medidor no lugar onde no jogo original estariam as “bombas” eléctricas. Apropriadamente tem um pequeno coração a bater com um círculo vermelho que se vai esvaziando. Este é o medidor de sede de Cole. Quanto mais voar ou passar o tempo mais se esgota este medidor. E claro, a única forma é morder uns pescoços dos incautos habitantes de New Marais.

De resto, todos os poderes e interacção do jogo original estão presentes. Podem alternar entre a já conhecida mecânica de Parkour e uso dos poderes eléctricos, com as granadas, mísseis ou tiros de electricidade e outros, com os novos poderes. A ênfase neste jogo é dada ao combate corpo-a-corpo (melée) já que Cole agora faz-se armar com uma cruz e precisa de trespassar todos os vampiros que mata com ela.

Não há nada de realmente novo na jogabilidade excepto o facto de que os poderes são constantes e não há uma decisão moral para tomar. Cole começa por ter bom karma mas passa automaticamente para o estatuto de Infamous. Ou seja, não há dualidade de critérios o que nos deixa algo tristes porque era uma característica dos dois jogos que dão nome à séria e quase cria dois jogos num só.

Entretanto, é suposto este jogo ter suporte para Playstation Move. Infelizmente não podemos usar o comando de movimentos para grande coisa, apenas disparar contra a vampiragem por alvejar com o Move e navegar normalmente com o Navigator. Não achamos boa utilização do PS Move. Se temos uma arma de ataque como é a cruz para matar vampiros deveriam ter integrado o move nos movimentos de Cole tornando esses momentos bem mais interessantes. Mas não… é só para disparar raios e bombas. Não é uma grande adição ao jogo, diga-se.

Uma novidade que não tem a ver com a jogabilidade, mas sim com o editor de missões embutido no jogo é a capacidade de criar “Cutscenes”. Embora o gestor de conteúdos do jogo não seja o forte aqui da equipa WASD, achamos que tem imenso potencial e são vastas as ferramentas para criar mapas personalizados que depois podem ser partilhados online com todos. Com este novo pacote, a Sucker Punch estreia a capacidade de criar cenas intermédias animadas. Pelo que vimos é muito interessante e enriquece muito esta capacidade “sandbox”. Notem, porém que Infamous 2, o jogo original recebe também hoje uma patch para incluir esta funcionalidade.

Estás um bocado pálido McGrath…

Graficamente, o jogo sofreu uma alteração profunda. Não estamos a falar na alteração do mapa em si, mas sim do aspecto. Começa pelo menu logicamente adaptado a uma realidade mais vampiresca, mas as alterações são mesmo dentro do jogo.

Toda a ambiência de New Marais está mais escura numa noite de Lua cheia tenebrosa. Em contraste estão as celebrações dos habitantes que queimam fogo de artifício usam fios de neons e dançam à luz de torchas e ao som de tambores. Há uma aura quase tribal em todo o jogo com piras de fogo acesas em diversos locais. A maior parte dos edifícios nas ruas principais estão decorados com luzes e pormenores de celebração, conferindo uma lúgubre imagem de celebração no meio das trevas.

As novas personagens são, logicamente, vampiros. Há diversos tipos, desde os horripilantes Firstborns que são autênticos morcegos gigantes que disparam qualquer coisa que não percebemos mas fazem a energia de Cole desaparecer rapidamente, até às monstruosas Harpies que se movem a uma velocidade alucinante estão armadas com… metralhadoras. A nível de animações as personagens adversárias são bastante realistas, para vampiros não se pode pedir muito. Os transeuntes são, como seria de esperar, acessórios (e refeição para Cole) mas existem em maior número e estão todos em festa. Alguns nem se dão conta que Cole acabou de morder o pescoço a alguém ao seu lado, mas vamos supor que estão embriagados. Faz sentido.

Cole é alvo de uma operação de cosmética discreta. Mas a mordida de Bloody Mary no seu pescoço manchou a sua outrora imaculada camisola. A par do seu aspecto de mau (infamous), Cole ganha uns potentes olhos vermelhos. Como já dissemos o karma de Cole obriga-o a largar raios laranjas dignos do seu karma.

De resto, esperem o grafismo que já conheciam de InFamous 2. Afinal o motor do jogo é o mesmo. Possui texturas quase realistas por um lado, a tirar para o Cartoon por outro. As cutscenes são mesmo com desenhos a fazer lembrar a banda desenhada. O casting de vozes é novamente excelente com as vozes originais de Infamous 2. Os sons e efeitos especiais de arrepiar por vezes com uma banda sonora digna dos melhores filmes de terror.

Veredicto

Até podem dizer que o vampirismo passou de moda. Mas o tema de terror nunca passará. Há quem goste, há quem odeie, mas usar super-poderes para desancar seres sobrenaturais nunca se tornará desactualizado. Que o digam fãs dos jogos de zombies que andam por aí.

Cole McGrath tem aqui uma pequena estória à altura. Disponível apenas na Playstation Network, achamos que pelo preço (até à data desta review não tínhamos confirmação para Portugal, mas nos EUA ronda os 10 dólares) e por não precisar do jogo original Infamous 2 para ser jogado, merece a atenção dos que gostam de jogos de aventura e têm particular interesse no género de terror.

Temos pena que seja algo curto, cerca de 4 a 5 horas totais, mas os conteúdos extra do editor de mapas com opções e ferramentas diferentes conferem uma longevidade interessante. Já agora, a título de curiosidade, não podem transitar missões criadas em Infamous 2 para Festival of Blood e vice versa, o que é pena.

  • ProdutoraSucker Punch
  • EditoraSony Computer Entertainment
  • Lançamento26 de Outubro 2011
  • PlataformasPS3
  • GéneroAcção
?
Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • PS Move podia ser usado de melhor forma
  • Torna-se bastante repetitivo
  • Opções morais inexistentes
  • Mitologia vampírica estereotipada

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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