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Análise – Inspector Zé e Robot Palhaço em: O Assassino do Intercidades

Para além de uma propensão para criar títulos que não cabem no nosso cabeçalho, a Nerd Monkeys tem algo que, muitas vezes, falta no mundo dos videojogos: bom humor. Talvez por isso, a nossa passagem por Inspector Zé e Robot Palhaço em: O Assassino do Intercidades fosse tão divertida.

“Made in Portugal”. Há poucas ocasiões para usarmos esta descrição pomposa e ainda menos para a usarmos com orgulho. Muitos jogos nacionais já chegaram ao mercado com relativo sucesso e um bom punhado até chegou a ganhar prémios. Contudo, esta é uma sequela de outro título da sua autoria, Inspector Zé e Robot Palhaço em: Crime no Hotel Lisboa, considerado um dos jogos Portugueses mais bem sucedidos de sempre. Ganhou a sua audiência, com uma hoste fiel de fãs assinalável. Levou-nos a um tempo bem mais simples, sem as loucuras CGI dos jogos modernos e com o intuito de nos colocar um sorriso na cara. E agora tem uma improvável sequela. Vão lá comprar o bilhete para virem comigo apanhar o Intercidades, olhem que o “pica” anda aí… vá, eu espero.

Um dos (eventuais) maiores detectives do mundo (eventualmente) está de volta. O Inspector José Justino tem agora uma nova missão: descobrir quem anda a assassinar passageiros a bordo do comboio Intercidades que liga Lisboa ao Porto. O Sargento Garcia delega ao Inspector e ao seu companheiro, o infame Robot Palhaço, a tarefa de descobrir quem é o meliante. Nem que, para isso, tenha de entrevistar toda a gente a bordo. Como diz a produção, “chatear toda a gente”. E, como se não bastasse ter de travar um sociopata, ainda terão de cuidar do filho do Sargento Garcia, o chato do Júlio Miguel.

Entre puzzles, exploração, casos paralelos, coleccionáveis e outras tarefas, a ideia é percorrer o comboio em andamento e interagir com personagens, reunir pistas e encontrar o culpado. Cada personagem tem o seu perfil único e um nível de culpabilidade que só nós podemos desvendar. Ninguém está a salvo e todos são suspeitos, notem. Até mesmo o Inspector e o seu “saidequique”. Por vezes, as conversas podem nem ser conclusivas, obrigando-nos a um “showdown” na forma de interrogatório. Enfim, este é um jogo de investigação policial, mesmo que nunca, mesmo nunca, se leve a sério.

Antes de mais, este é um jogo de caricatura. Tal como o anterior título, tudo o que é tipicamente “tuga” é passado para a tela com um refinamento próprio do “passe-vite” artístico que é a nossa língua. O que é mais curioso é que a produção mergulhou tanto na nossa cultura que, depois, teve o trabalho hercúleo de traduzir interjeições e brejeirice… para Inglês. Um feito. É muito provável que um qualquer estrangeiro nunca venha a entender bem esta nossa cultura tão única que vai passando no ecrã. No entanto, a caricatura serve-nos como uma luva e, hey, se os turistas gostam tanto de nós, hão-de perceber qualquer coisa.

Este é um género de jogo que aprecio bastante. Trata-se de uma aventura Point-And-Click no género da velha guarda. Sem diálogos falados, com balões de texto, interacção quase exclusiva com o rato e com muitos, mesmo muitos, pormenores para descobrir. Depois, tem uma dose bastante elevada de humor, mesmo que as piadas sejam muitas vezes dependentes do vosso próprio sentido de humor para funcionarem. Assim de repente, conseguimos vislumbrar muitas influências, entre as quais a mais evidente é a série Monkey Island e todos os títulos posteriores que vieram “beber” desse sucesso.

Se jogaram o título anterior, já sabem o que esperar. Todos os ingredientes de sucesso desse outro jogo estão presentes. Mesmo assim, há algumas mecânicas novas. Por exemplo, no interrogatórios, havendo mesmo opções de desenlace que só se tornam disponíveis se reunirmos pistas e as usarmos de forma lógica. Por exemplo, uma das personagens precisa que reunamos todos os bigodes que encontremos no comboio de modo a prosseguir com o interrogatório. Dá-nos mais motivos para explorar o cenário e até ajuda ampliar a sua longevidade. Mesmo que nem sempre seja algo intuitivo.

Se forem daqueles que, por qualquer motivo, querem jogar este tipo de jogos com comandos de consola, não se preocupem. A produção trabalhou arduamente para integrar estes comandos como fonte de controlo. Confesso que não sou grande apreciador desta opção de interacção, mas entendo o seu alcance. Os analógicos são usados para movimentar a personagem e para mover a retícula, com os diferentes botões a accionarem as várias opções de objectos e personagens. Nem sempre o movimento da retícula é tão preciso como o rato, mas é uma questão de hábito.

A nível visual, O Assassino do Intercidades é também uma homenagem a essa era mais simples, onde o entretenimento era mais importante que aquele render de um herói anatomicamente perfeito. Com uma resolução nativa de apenas 256×192 (o vosso monitor 4K não vai servir de muito aqui, lamento), a mesma de um ZX Spectrum, não era possível emular nada melhor que uns quantos píxeis organizados e animados. O resultado é uma arte puramente retro e que nos recorda os grandes clássicos deste género. Diria que a LucasArts ficaria francamente orgulhosa do que a Nerd Monkeys fez aqui.

É bem possível que, um dia, possamos ter um remake/reboot/remaster destes jogos em 3D, quem sabe até na realidade virtual com CGI e garotas perfeitas. Mas, não é esse o ADN desta obra. Até porque, nesta era dos videojogos a apostar no realismo visual, nem tudo tem de ser vistoso para ter qualidade. Essa é, talvez, uma das maiores discussões dos videojogos modernos. O Assassino do Intercidades surge ali no meio dos colossos gráficos do momento com um manguito pixelizado. E é por isso que, tanto eu, como tantos outros gostamos tanto deste jogo. A tal ponto que o jogo anterior chegou a vender mais de 120.000 unidades. Tem de haver um motivo, não culpem só os saldos do Steam.

Porque a boa disposição não é tudo, há questões que não posso deixar de assinalar como menos positivas. Achei a aventura um tanto curta. Excluindo os largos minutos que podemos gastar a procurar bigodes e dentes postiços, acabei esta história em cerca de quatro horas. Para uma aventura deste calibre é, vá lá, aceitável. Esperava um pouco mais, mesmo assim. Até porque o enredo termina de forma algo abrupta, como se a malta de Nerd Monkeys quisesse sair na próxima estação. Não esperava algo gigantesco, logicamente, mas mais uma porção de enredo não ficava mal na última parte do jogo.

Veredicto

Inspector Zé e Robot Palhaço em: O Assassino do Intercidades só precisa de umas poucas centenas de megabytes no vosso disco rígido. Só vai ocupar um dos cantos do vosso ultra-mega-hiper monitor UHD 4K. Não tem diálogos falados, nem grafismo complexo. Contudo, é uma prova de que os jogos podem ser peças artísticas, criadas com cuidado e cujo objectivo é entreter com a sua boa disposição. É também um regresso ao passado, permeado com muita criatividade e pejado da nossa típica cultura “tuga”. E até conta com uma banda-sonora “altamente”. Por tudo isto, devem apanhar este comboio e só sair na estação terminal.

  • ProdutoraNerd Monkeys
  • EditoraNerd Monkeys
  • Lançamento19 de Julho 2018
  • PlataformasMac, PC
  • GéneroAventura Gráfica
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Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Algo curto
  • As piadas nem sempre funcionam

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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