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Análise – Jump Force

A ideia era fantástica. Juntar várias franquias famosas das séries de manga da Shonen Jump, num título de combate, vindo de uma editora, a Bandai Namco que nos trouxe as séries Tekken, Ultimate Ninja Storm de Naruto ou DragonBall FighterZ. A expectativa em volta de Jump Force era, portanto, elevada.

Contudo, este jogo não foi produzido, nem pelos Bandai Namco Studios de Tekken, nem pela CyberConnect2 de Naruto ou pela Arc System Works de FigtherZ. A responsabilidade caiu sobre os algo desconhecidos Spike Chunsoft. Antes de Jump Force, este estúdio Japonês não teve grandes títulos assinaláveis, excepto na série Dragon Quest ou Draganrompa, esta pouco conhecida no Ocidente. Mais habituada a jogos de Role Play e aventura gráfica, foi com alguma surpresa que vimos este estúdio pegar num título tão importante de… combate. Jump Force seria tão importante para a Namco, como foi Smash Brothers para a Nintendo ou Dissidia foi para a Square Enix ou qualquer outro brawler com uma miscelânea de franquias famosas. Dragon Ball, Naruto, One Piece, Yu-Gi-Oh, Saint Seya e outras nas mãos de uma produtora inexperiente neste género. O que pode correr mal?

Haviam já sinais que nem tudo estava bem, logo numa Beta que chegou mesmo a ser suspensa. Problemas técnicos são normais, mas uma beta “horrível” era um mau presságio claro, que não nos ajudava a confiar na experiência desta produtora. Embora o jogo tenha sido lançado no passado dia 15, também não tivemos acesso ao mesmo no lançamento, com a Bandai Namco Ibéria a ter dificuldades em distribuir o jogo pelos meios. Ou seja, tínhamos uma sensação que, se calhar, as coisas ainda podiam tornar-se mais complicadas para este título. A situação foi quase confirmada com as primeiras análises e reacções online. Contudo, como sempre, gosto de partir “do zero” com novos jogos, mesmo os mais controversos, tentando não ser influenciado pela opinião geral. E que tal?

A comparação que faço acima com Smash Bros. ou Dissidia não podia ser mais remota. Sim, a receita pode ser mais ou menos a mesma mas esses jogos não podiam ser mais diferentes. Em primeiro lugar, não é um brawler puro, uma vez que mistura lógicas de jogos de combate directo e, estranhamente, elementos estilo RPG. Por outro lado, não faz o mesmo favor de engrandecer estas importantes e amadas franquias num jogo grande ou, de alguma forma, exemplar da qualidade destas séries de manga. Não quer dizer que seja um mau jogo, notem, tem os seus méritos em algumas questões, como irão ver. Mas, um título tão importante como este queria ser, merecia outra atenção.

Como já devem ter calculado, a história é bastante típica num “mash up”. Os vários universos das várias séries de Shonen Jump colidem com o nosso mundo. A consequência menos positiva deste evento, é que a Terra foi invadida por uns seres chamados de venoms e por uma série de vilões destas séries, liderados por Frieza. Obviamente, a humanidade está em perigo e, como um daqueles clichés que podemos ver a milhares de quilómetros de distância, cabe aos heróis das franquias lutar por defender os humanos, enfrentar estes venoms e evitar que os universos se tornem num só. E onde nos inserimos neste plano?

Logo no arranque, encontramos Goku que, com o apoio de Trunks, está a lutar contra Frieza. O herói quer prevenir que o vilão destrua a cidade de Nova Iorque. No meio do caos, um civil é apanhado no tumulto e Trunks parte para o salvar… com um cubo… Sim, um cubo… Esta é a forma do jogo nos inserir na história, porque é aqui que somos convidados para criar uma personagem que, com esse tal cubo, se torna num herói. Com características manga, claro. Agora, somos oficialmente um membro da Jump Force, uma espécie de Avengers improvisados, de cabelo espigado e traços de banda-desenhada.

Obviamente, estes enredos apenas servem para nos dar um contexto da acção e não esperava uma obra prima literária por detrás. De facto, o enredo cumpre, sendo, quanto a mim, um pouco lento a progredir e a dar-nos uma história para seguir. Isto é auxiliado por uma quantidade elevada de cenas intermédias que servem de intervalo para a pancadaria. Contudo, gostava de um modo de jogo mais directo ao assunto e não ter de seguir esta história algo lenta. A alternativa é andar com a nossa personagem por um estranho menu disfarçado de hub e pedir ao jogo que pare de nos distrair e… nos deixe lutar. O que queria era andar à pancada com estas personagens. Sou assim, um tipo simples.

A lentidão com que o jogo nos deixa progredir e procurar o miolo da sua oferta, é uma clara tentativa de serviço aos fãs, com muitas chamadas e “piscar de olho” ao lore de cada uma das dezenas de personagens e mundos, o que até é de louvar. Contudo, para mim é também um sintoma da falta de profundidade técnica adequada ao tipo de jogo, forçando uma lógica RPG que não faz aqui falta nenhuma. Não bastava apenas este estranho menu que nos obriga a navegar lentamente para um ponto específico (e sem orientações) para escolher um modo de jogo, os combates parece relegados para segundo plano, parecendo que a produtora queria mais fazer um jogo de aventura que o brawler que se pedia.

Quando finalmente lá chegarem, ao desejado campo da acção, esperem combates, diria, competentes. A fórmula parece muito semelhante à dos demais jogos de combate arcade da editora, com especial destaque para os mais recentes na série Dragon Ball. A luta é sempre feita um para um, embora exista a omnipresente lógica de uma tag-team de três personagens com que podemos alternar. As arenas são tridimensionais e bastante amplas, dando espaço quanto-baste para toda a sorte de golpes mais elaborados. Temos à nossa disposição três estilos diferentes, entre as artes marciais de Goku, o estilo Ninja de Naruto e o estilo Pirata de Luffy. Cada personagem tem também ataques especiais e “ultimates”, activados com combinação de teclas.

Infelizmente, com tanto investimento em tudo o mais, não sinto que os combates sejam muito memoráveis. É discutível se ter tantas personagens enriquece de alguma forma o jogo, para constatar que nenhum pormenor das suas lutas me parece particularmente destacável. Gosto muito do estilo “arcade” e das áreas abertas que golpes de larga escala, nas não tem assim nada que diga que seja “nunca visto” ou “de cortar a respiração”. É como termos uma prateleira inteira de grandes obras literárias e escolhermos aquele livro de fininho que vinha de oferta numa revista. Cumpre, diverte, entretém mas ao lado tínhamos tanta coisa fantástica para ler. Não acredito que seja apenas a tal inexperiência no género da produtora, honestamente. Parece-me falta de foco.

É que, depois, não sei o que aconteceu com o design do jogo. Tudo bem, são universos distintos e algumas personagens e locais são algo complicados de recriar e animar num universo 3D. Mas, alguns pormenores são icónicos, com um design peculiar e francamente conhecido e apreciado, mesmo nas suas imperfeições. Todos os demais jogos da Namco tiveram os seus problemas técnicos, mas nenhum me pareceu falhar neste campo. Não sei se a ideia da Spike era criar algo único (bom, “único” é) mas alguns criadores destas séries devem ter ficado perplexos com o que fizeram com as suas obras. É que nem sei o que dizer da face de Trunks e a sua gigante testa, por exemplo.

Talvez a ideia fosse aproximar mais estes protagonistas e os seus mundos da nossa realidade, emprestando uma certa dose de “realismo”. Só que, se calhar, era bom que tentassem replicar o que já existe, sem inventar, tanto nas personagens, como nos cenários. E há opções discutíveis, como a paleta de cores, por exemplo. Porque é que se haveria de remover as cores vibrantes da manga, em troca de algo mais “realista”, se estas personagens vivem mesmo da sua “vibe” colorida? Uma incógnita. E nem me façam falar dos planos, diálogos e direcção artística das cenas intermédias que tentam fazer “demais” para contar a história e tentar envolver-nos. Diria que não conseguem e fiquemos por aí.

Veredicto

Tenho imensa pena que Jump Force não faça muito para honrar o enorme potencial que nos deu a entender que tinha. Se são fãs das séries da Shonen Jump, dêem uma chance ao jogo. É competente a divertir-nos, faz-vos um bom serviço de fãs, incluindo as vozes originais em Japonês, é muito fluído, com uma performance online e offline bem melhor que foi na Beta. Agora, se não são fãs, não há aqui muito para vos agradar. A Spike Chunsoft simplesmente não conseguiu ficar à altura das expectativas. A suas opções de design, sobretudo quando recria personagens e locais icónicos e a sua falta de foco no género, deixam-me desapontado. Estava disposto a ignorar os bugs e falhas que encontrei, nem sequer queria mencioná-las. Mas, nem assim vos consigo recomendar.

  • ProdutoraSpike Chunsoft
  • EditoraBandai Namco
  • Lançamento15 de Fevereiro 2019
  • PlataformasPC, PS4, Xbox One
  • GéneroAcção
?
Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Algumas opções de lógica
  • Design geral
  • O hub que serve de menu
  • As cutscenes no geral

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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