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Análise: Just Cause 3

A bordo de um avião, saltamos em voo mesmo no momento certo, antes de um embate contra uma base inimiga e assistimos à catadupa de explosões desde a nossa suave descida de paraquedas… nem Michael Bay faria melhor. E não, não é Hollywood, é mesmo o divertido caos só possível em Just Cause 3.

A série Just Cause tem um cantinho especial para muita gente. Não será bem por causa do aspecto gráfico. Sobretudo na última geração com o segundo capítulo, o jogo não foi o que possamos chamar de colosso visual. O mundo aberto gigante, milhares de veículos à disposição e muita destruição, isso sim, é o que nos fez perder imensas horas a jogar. A dinâmica do uso do grampo no braço de Rico em que podíamos tomar de assalto veículos em movimento ou acoplar barris de combustível explosivos nos inimigos, assim como fugir de um veículo em andamento com o paraquedas, proporcionaram muitos momentos hilariantes e mesmo épicos, que desafiavam a lógica universal e mesmo as leis da física. Mas, hey, era um videojogo super divertido. Boas notícias para este terceiro capítulo: tudo isto está de volta!

Não há causa mais justa para o ex-agente da CIA Rico Rodriguez que libertar a sua própria terra Natal. O solarengo e bem disposto arquipélago fictício de Medici está a braços com um regime opressor do DRM… sim, soa (e é) uma piada às protecções digitais das plataformas de videojogos. Curiosamente, o jogo está protegido por esse mesmo DRM, o que não deixa de ser irónico. No caso de Medici, é uma força de segurança que funciona como o braço militar do antagonista, o General Sebastiano Di Ravello. Claro que Rico vai cumprir o seu papel do costume e depor mais um ditador, desta feita “em casa”. Apoiando os rebeldes (e a omnipresente CIA), vamos dar início à revolução!

Em termos de enredo, a Avalanche Studios perdeu muito mais tempo a desenvolver personagens, a criar interacções e a dar-nos mais pano de fundo para o caos de Rico. O resultado são imensas cenas intermédias e muitos diálogos, alguns incrivelmente cómicos e cheios de clichés. Uma das coisas que irão notar logo no arranque, é que o jogo não se leva a sério. Em demasiadas ocasiões o que vos parece algo piroso, é mesmo intencional. Quando ouvirem os sotaques incrivelmente forçados das personagens, que não sei bem se é Espanhol ou Italiano, com “Hey, it’sa me, Mario!”, vão entender o que digo.

O arquipélago de Medici é realmente fantástico. Hão-de reparar que os cenários são bastante mais verticais com mais escarpas e elevações que em Panau no jogo anterior. Isto porque, apesar dos inúmeros veículos, entre motas ou automóveis (até tanques) e de haverem muitos mais navios e lanchas, o foco está mesmo no ar. Além do grampo de braço de Rico sofrer algumas melhorias e aumento de potência para usarmos o paraquedas, Rico recebe bem cedo um fato de voo (Wingsuit). Aliando a isso as inúmeras aeronaves, vamos passar muito tempo ou a lançar o grampo para descolar com o paraquedas ou Wingsuit ou a destruir muita coisa de helicóptero ou avião.

O objectivo do jogo é, de facto, destruir as bases e infraestruturas do DRM e, com isso, depor o ditador Di Ravello. Só que, ao contrário do jogo anterior, a libertação de zonas tenta ser um acto menos orientado e mais “sugerido”, permitindo-nos dar largas à imaginação com a acção não linear. Mas isto não acontece nas missões da história principal e as secundárias que surgem de improviso pelo mapa. Estas são algo repetitivas e restritivas no que podemos usar. Sejam escoltas de companheiros de Rico, sejam simples assaltos, é quase sempre mais do mesmo, muitas vezes limitadas por tempo. Um claro contraste com, bom, todo o resto da acção livre do jogo. E já nem falo da (falta de) inteligência artificial das personagens com que interagimos…

Muitas das capacidades de Rico são introduzidas logo nas primeiras horas de jogo e depois somos convidados a usá-las de forma livre. Como, onde e de que forma conquistamos zonas é connosco. Libertar uma província, tanto pode ser feito com tiros e explosivos lançados de paraquedas, como podemos tomar um avião de combate e distribuir tudo com mísseis. Cada zona libertada adiciona uma nova garagem, Fast Travel pelo mapa e até novos desafios e missões. Há também a (demasiado) constante informação de tabelas mundiais dos melhores tempos, maiores pontuações ou outros feitos. Tudo para que sejamos compensados sempre que causamos o maior caos possível.

Há desafios especiais que são eventos preparados para nos premiarem com gears (engrenagens). Quantas mais gears ganharem em cada evento, mais upgrades (mods) podem ser desbloqueados e ampliar a jogabilidade. Mesmo que não façam 100% dos desafios, convém não passar ao lado deles, uma vez que adicionam muita coisa interessante à condução, voo, armas, etc. Quanto atingirem um determinado nível de engrenagens, é-vos dada a chance de evoluir um único nível de cada equipamento. A começar no grampo de braço, mas principalmente no wingsuit e operação de veículos, convém evoluir bem cedo estas peças de modo a terem a melhor experiência possível. Por exemplo, colocar nitro nos automóveis que conduzimos ou simplesmente ter mais granadas disponíveis, faz toda a diferença.

De facto, é possível perdermos imenso tempo simplesmente a experimentar novas formas de espalhar caos, esquecendo facilmente o restrito e repetitivo enredo. Entre libertar cidades em cada região de cada ilha, rebentar silos de combustível, altifalantes de propaganda ou simplesmente invadir bases do DRM. Porque haveria de entrar nessa base a pé? Porque não disparar o grampo num helicóptero e ligá-lo a um tanque, descolar com o helicóptero, saltar deste por cima da base para o dito tanque, entrar nele e despegar o cabo caindo de forma épica bem no centro da base, distribuindo fogo-de-artifício? É este o valor de Just Cause 3, total liberdade e loucura com um Rico Rodriguez a representar o herói de acção que sempre quisermos ser (menos o gel e sotaque forçado).

De vez em quando, parem e apreciem a paisagem. A Avalanche Studios tirou pleno proveito das capacidades técnicas da versão analisada (Xbox One). Desde as escarpas montanhosas, o mar convidativo, as vilas pacatas, os campos repletos de flores em ciclos de dia e noite e meteorologia dinâmica. Claro que o destaque são os efeitos especiais, sobretudo das omnipresentes explosões. Entre cada missão, é impossível ficar indiferente à qualidade gráfica do jogo. Notei que a distância de desenho (Draw Distance) pedia um pouco mais de flexibilidade. Os objectos parecem “surgir” do nada no horizonte, sobretudo quando estamos a voar em jactos a alta velocidade. O pior mesmo, por vezes, é que essa beleza do jogo fique comprometida com alguns problemas técnicos.

Pelo menos na versão que analisei, o jogo precisa de alguns ajustes. Para começar, os aborrecidos Loading Screens, persistentes entre cada cena intermédia e sempre que a missão muda. Nos dias que correm, ter tantos ecrãs de carregamento, alguns demasiado longos, já não faz sentido, mesmo neste tipo de jogos em mundo aberto. São, no mínimo, aborrecidos e quebram demasiado o ritmo. A sério, numa missão contei 4 loading screens entre três cutscenes e a acção propriamente dita. No entanto, o pior mesmo são os outros problemas técnicos causados por bugs, glitches e erros de lógica.

Desde dois freezes que me obrigaram a sair do jogo para a Dashboard, quebras de framerate e inúmeras paragens súbitas e momentâneas, o jogo parece precisar de uma actualização urgente. Adicionalmente, inúmeros erros de físicas fazem com que muitas vezes os objectos se comportem de forma estranha. Certa vez uma explosão lançou Rico pelo ar e não consegui abrir o paraquedas caindo por um precipício sem poder fazer rigorosamente nada. Outra vez, ao entrar numa lancha, Rico ficou preso “no ar” e controlei apenas a lancha vazia. E num caricato episódio, a descer uma montanha como wingsuit morri instantaneamente sem qualquer razão. Enfim, não são erros incomuns em jogos tão complexos e esperamos uma correcção para breve que nos ajude a não quebrar o ritmo da diversão que é este jogo.

Veredicto

Num cenário que dá mesmo de vontade de passar umas férias, a terra natal de Rico Rodriguez é o palco para uma das mais fantásticas aventuras deste ano. Não está isento de falhas, como qualquer título desta dimensão, além de ter um enredo meramente acessório. Porém, Just Cause 3 consegue fazer esquecer esse enredo fraco e restritivo e até os problemas técnicos e de físicas, com um convite apetecível de sermos um super-herói moderno. Numa mescla dos maiores clichés de heróis de acção, temos aqui mais um jogo de mundo aberto para espalhar o caos de forma épica e nada aborrecida… só aborrece mesmo nos Loading Screens

  • ProdutoraAvalanche Studios
  • EditoraSquare Enix
  • Lançamento1 de Dezembro 2015
  • PlataformasPC, PS4, Xbox One
  • GéneroAventura
?
Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Loading Screens
  • Enredo acessório
  • Alguns problemas técnicos e de físicas

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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